Organização defensiva e marcação no Galo
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Por: Antônio Carlos (Galo Análises)
Uma das coisas que observamos no atual time do Galo é a dificuldade em alguns momentos de organização defensiva, quando a equipe está sem a bola. O Galo tenta marcar o adversário em bloco alto, exercendo uma pressão inicial na saída de bola; mas em alguns destes momentos os encaixes individuais não se mostram sincronizados e os saltos de pressão desconectados. Isso faz com que um erro inicial de tomada de decisão nessa marcação seja potencializado e sucedido de algumas tentativas (também erradas) de se compensar esse primeiro erro, comprometendo também a recomposição. Quando o adversário consegue romper essa pressão inicial, costuma ter campo livre para correr, pois o controle de profundidade da última linha precisa melhorar, com os zagueiros eventualmente mais distantes dos volantes, deixando espaço no entrelinhas. Além disso, em bloco baixo apresenta algumas características, discutidas mais adiante, que parecem causar dúvidas nos jogadores, sobre “quem marca quem” e quando saltar em pressão no adversário.
Tudo pode ser ainda ajustado. Em determinadas situações, contra alguns adversários (acostumados a jogar pressionados), a equipe não precisa marcar o tempo todo em bloco alto, pois também possuiu uma boa transição e ganha campo pra percorrer se estiver com o bloco um pouco mais baixo no campo. Outro ajuste possível seria uma mudança no sistema de marcação. Qualquer que seja o sistema de marcação, os seus objetivos são simples e óbvios: recuperar a posse de bola, conter o avanço do adversário e defender o seu próprio gol. Mas antes de falar do nosso, vamos tentar entender quais os sistemas de marcação existentes. Podemos identificar atualmente três sistemas de marcação mais utilizados (existem outros, claro): zona, encaixes e marcação mista.
Na marcação por zona a referência é o espaço e a ideia é diminuir o espaço do campo para o adversário, sem diminuir o seu espaço individual. Os jogadores movimentam-se coletivamente, buscando manter a organização defensiva, com as linhas sempre visíveis; a marcação zonal é um processo coletivo que mantém a estrutura tática da equipe e provoca menos desgaste físico.
Na marcação por encaixes a ideia é diminuir o campo individual do jogador adversário (e não o campo total) através dos encaixes de marcação. Esses encaixes podem ser um pouco mais setorizados, onde a perseguição acontece até um determinado limite e depois é “transferida” para outro companheiro, ou podem ser um pouco mais individuais, quando as perseguições permanecem até que a jogada se finalize, mesmo que sejam percorridas distâncias maiores. É um tipo de marcação de maior exigência física e que gera mais desgaste, mas diante da sequência de jogos e o pouco treino para treinar de calendários como o nosso, a alternativa dos encaixes individuais permite resolver problemas de maneira mais simples do que seria exigido em uma marcação por zona, que necessita de um nível de entendimento mais elaborado.
A marcação mista, que vem sendo muito utilizada atualmente, traz elementos da marcação zonal e individual. É o que faz por exemplo o Palmeiras de Abel Ferreira, que utiliza uma marcação que pode ser considerada mista, onde no corredor da bola marca por encaixe individual e no lado oposto da bola marca por zona.
Apenas para facilitar o entendimento, lembro que com o Sampaoli o Galo fazia uma marcação em bloco alto com encaixes individuais na saída de bola adversária, mas quando se defendia em bloco baixo, buscava uma marcação mais zonal.
Já o Cuca é um grande admirador dos encaixes de marcação e por isso, o Galo treinado por ele exercia uma marcação baseada nesses encaixes individuais, com muita intensidade, resultando em uma equipe muito forte tanto nos duelos ofensivos quanto nos defensivos.
Cada treinador adota um sistema de marcação que acredita se encaixar melhor no seu modelo de jogo e, a princípio, não existe um pior ou melhor que o outro. Tanto os encaixes quanto a zona são sistemas eficientes, que possuem virtudes e vulnerabilidades e que precisam ser bem treinados e assimilados pelos jogadores para que funcionem adequadamente.
Mas afinal, como é o sistema de marcação atual da equipe? O Galo de Mohamed também apresenta uma ideia de marcação mais mista, com pressão em bloco alto baseada em encaixes individuais na saída de bola adversária; já quando se posiciona em bloco baixo, mostra traços de uma marcação mais zonal com encaixes individuais no corredor lateral, além de alguns encaixes específicos em determinados jogos.
Como dissemos no início, em bloco baixo esse sistema tem criado momentos de dúvida e indecisão, principalmente sobre quem marcar e quando saltar em pressão. Esses saltos de pressão e a decisão sobre “quem pega quem” devem ser automáticos, pois se o jogador parar um milésimo de segundo para pensar, a jogada já aconteceu. Por isso talvez seja interessante uma tentativa de marcação mais encaixada, de melhor assimilação pelos jogadores por ser mais intuitiva, ainda que não faça parte do repertório do atual treinador. Afinal, para um time jogar com marcação mais zonal precisa de umas sessões a mais de treino que o nosso calendário não permite.