A calma de “El Turco” Mohamed

ESTE TEXTO E DE RESPONSABILIDADE DO AUTOR, NAO REFLETE, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO PORTAL.

Por: Antônio Carlos (Galo Análises)

A GaloTV acabou de lançar um programa chamado “Especial El Turco”, que consiste de uma entrevista, ou um papo descontraído de quase 30 minutos com o nosso treinador. Antônio Mohamed nos conta um pouco de sua vida, fala da infância, de suas origens, distância da família e relação com os filhos, fala sobre a sua trajetória no futebol, da amizade com Maradona e, claro, sobre o Galo. Vale a pena assistir, para conhecer e entender um pouco mais “El Turco”.

Uma passagem interessante foi quando, ao ser perguntado se seu estilo era “mais humano”, Mohamed responde que sim, “muito mais humano” e faz algumas considerações sobre isso. Entre outras coisas, afirma que para ele é muito mais importante a relação humana do que cobrar bem um escanteio, isso seria ter uma boa gestão. Para ele o mais importante é que, não importa quanto tempo depois, ao encontrar com algum ex-jogador seu em qualquer parte do mundo ou em algum campo de futebol, possam se dar um abraço; esse seria o melhor legado que poderia deixar.

Ser considerado um bom ou um mau treinador, ganhar ou perder títulos, isso fica na história e nada mais. O que ele gostaria mesmo é que, no futuro, ele possa vir ao CT do Galo e ser lembrado e abraçado por todos; ou então que se um dia, um filho dele visitar a Cidade do Galo, não lhe falem apenas de títulos conquistados, mas que pessoas como Boquinha (roupeiro do Galo) e outros lhe perguntem “como está seu pai, sentimos saudades, é uma grande pessoa!”
Achei bem interessante.

Ainda mais se levarmos em conta que uma das críticas feitas ao nosso treinador diz respeito ao seu comportamento e temperamento. O Turco é criticado por supostamente “rir demais”, ou por um inexistente comportamento de ficar sentado no banco o jogo inteiro, ou ainda por se vestir de forma extravagante. Uma mentira repetida mil vezes vira verdade, mas quem já foi ao campo assistir a um jogo do Galo e prestou atenção no comportamento do nosso treinador à beira do campo, sabe que nada disso procede. Ele acompanha, orienta, eventualmente senta no banco, geralmente para conversar com alguém, volta para a área técnica, ou seja, trabalha normalmente, longe da apatia que muitos tentam lhe imputar. Quanto à sua maneira de vestir, na entrevista o treinador revela que sempre gostou de se vestir de maneira extravagante, de mudar estilo e cor de cabelo, roupa, enfim; ele gosta. Além do mais, não existe nada mais infantil que julgar o trabalho de alguém pela aparência ou maneira como esse alguém se veste; é julgar o livro pela capa.

Quanto ao temperamento, o Turco é realmente mais calmo, mais tranquilo, mais paciente e isso com certeza tem a ver com sua visão de mundo, com o lado “humano” que ele faz questão que seja sempre o mais importante, seja no trato com os jogadores ou com as pessoas em geral. Isso está longe de ser um problema. Existem muitos treinadores que se comportam de maneira diferente, tem um temperamento oposto na beira do gramado, gritam, gesticulam, são inquietos e espalhafatosos e penso que isso também não é um problema, embora eu tenha a impressão de que os jogadores em geral não gostam muito de quem grita e sim de quem conversa.
Carlo Ancelotti, um treinador consagrado, quatro vezes campeão da Champions League, duas vezes campeão mundial de clubes, campeão italiano, inglês e espanhol, entre tantos outros títulos, diz em seu livro coisas interessantes sobre o seu comportamento e temperamento, que têm alguma semelhança (guardadas as devidas proporções) com o nosso Antônio Mohamed.

A abordagem de Ancelotti no vestiário, nos treinos e na beira do gramado com os jogadores é (quase) sempre tranquila, se caracterizando por ser um treinador que sempre optou por ficar mais próximo dos jogadores, fazendo com que se sintam sempre confortáveis na sua presença. Ele mesmo diz que muitas vezes é contratado graças à sua capacidade de acalmar a situação da equipe, construindo um relacionamento com os jogadores, sendo esta uma de suas maiores qualidades. Mas de maneira irônica, ele também lembra que vive muitas vezes um paradoxo, pois o contratam para ser gentil e calmo com os atletas e quando começam a acontecer problemas na temporada (resultados ruins) são essas mesmas características que imprensa e dirigentes passam a apontar como problemáticas. Ou seja, quando ele está vencendo é porque é calmo; mas do mesmo modo, se está perdendo é porque é calmo.

Por aqui não é diferente. Ao primeiro sinal de problema, no primeiro percalço, no primeiro tropeço, o problema é que “esse Mohamed sorri demais”, ou “quase não grita na beira do campo”. Ao menor sinal de descontentamento, as virtudes viram defeitos, as qualidades viram problema.

A abordagem de Antônio Mohamed com os jogadores é realmente tranquila. Alguns técnicos gritam e gesticulam para mostrar autoridade, enquanto outros possuem autoridade simplesmente porque os jogadores os respeitam. A tranquilidade que ele transmite faz com que os atletas fiquem calmos e não percam o controle em situações complicadas, a confiança que ele desperta leva os jogadores a jogarem por ele, e isso no futebol faz toda a diferença. Por isso penso que essa é uma de suas maiores virtudes e qualidades.