Coluna Preto no Branco: Quem não se comunica, se “trumbica”
ESTE TEXTO E DE RESPONSABILIDADE DO AUTOR, NAO REFLETE, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO PORTAL.
Por: Max Pereira, colaborador independente do FalaGalo
Já dizia o Velho Guerreiro. Abelardo Barbosa, o Chacrinha, um dos maiores comunicadores da história da televisão brasileira não cansava de repetir que, quem não se comunica, se “trumbica”. Ou seja, se dá mal. E se comunicar é de fato uma arte.
Depois de tantos artigos sobre os mais variados temas e de outras tantas contribuições em livros, ora como co-autor, ora prefaciando, ora contribuindo com capítulos, poesias, contos, crônicas, etc., até hoje me vejo capturado por mil e uma expectativas a cada texto que publico, imaginando como ele será recebido e que reações provocará. Aprendi que, uma vez publicado, o artigo, o conto, a poesia, a crônica, o livro não mais pertencem ao seu autor e que se transformam em infinitos outros textos e ensaios, cada qual com a forma, a força ou o impacto que quem os lê, os recepciona, os vê e os absorve lhes imprime, i.e., da forma como repercutem em cada um que os consome e do jeito como estes também os ecoam.
Parece absurdo, mas já fui xingado e criticado de forma extremamente rude por coisas que jamais escrevi ou escreveria e também já fui elogiado e afagado por coisas que também não disse e sequer pensei em escrever ou defender. Aprendi também que isso faz parte do ofício apaixonante de escrever e que tem que ser, por mim e por qualquer articulista, absorvido e compreendido como aprendizado.
Aliás, é assim também nas artes cênicas. Quem faz teatro, por exemplo, sabe que, embora encenada um sem número de vezes, cada vez que uma peça ganha vida em um palco é algo diferente. Da mesma forma que no futebol não existe um jogo igual ao outro, na ribalta não existe uma encenação igual à outra. Cada plateia reage e interage com os atores e com a encenação de uma forma peculiar e só isso basta para termos sempre um espetáculo diferente, ainda que a história contada seja a mesma. Ou não? Afinal, quem conta um conto sempre aumenta um ponto, dizem os antigos. E quem o ouve, sempre escuta o que quer e do jeito que quer. Felizes são aqueles que se deixam provocar e contestar.
O mundo corporativo descobriu na segunda metade do século passado a importância da comunicação. Afinal, a propaganda, como dizem os experts da área, é a alma do negócio. O marketing, ferramenta poderosa, veio para ficar e alavancou um sem número de produtos, empresas, candidaturas, marcas, vendas, faturamentos e outros tipos de negócios. Não foi surpresa ver desdentados comprarem cremes dentais na esperança de seduzir uma mulher linda e sensual e dela ganhar um beijo na boca, como as peças publicitárias mostravam e incendiavam a imaginação e o desejo de tantos quantos se deixavam levar pelo seu apelo midiático.
E é essa a palavra mágica que move o mundo e, particularmente, dá cores, forma e força à comunicação: desejo. Eu, você e qualquer um de nós sempre recebemos bem ou mal determinado conteúdo dependendo do que gostaríamos de ouvir ou de ler. Assim, se o texto, seja por sorte de quem o escreveu, seja por competência midiática de quem o produziu, se identificou com algum desejo acalentado ou uma fantasia guardada a sete chaves, o sucesso diante de determinados olhos se torna explosivo e incontrolável. O Marketing explora, quase sempre com maestria absurda, o desejo, as fantasias, os sonhos.
E o que um clube de futebol como o Atlético tem a ver com tudo isso? Muito mais do que pode imaginar a vã filosofia de um torcedor que ainda não percebeu a importância da comunicação e do marketing institucionais no mundo da bola. Mas, o aficionado do futebol que ainda não se deu conta da importância destes dois instrumentos no negócio futebol e, portanto, na vida e nos projetos de seu clube do coração não está sozinho. Muitos dirigentes também ainda não se tocaram e, por isso, os seus clubes vêm perdendo oportunidades gigantescas de crescimento de sua marca e, em consequência, de alavancarem as suas receitas.
O próprio Atlético é um “case” do que não se deve fazer em relação a isso. Durante dois anos e meio o Galo teve sob contrato o maior fenômeno do marketing esportivo do planeta nos últimos 30 anos, Ronaldinho Gaúcho, e nunca desenvolveu uma estratégia para associar a sua marca à do grande astro que, não só vestiu o manto sagrado, mas foi a alavanca da conquista dos títulos que marcaram o biênio 2013/2014 na história do clube. Entre muitos acertos, entre os quais apostar no insight de Cuca e contratar R10, e alguns erros, o então presidente Alexandre Kalil não se cansava de dizer que marketing no futebol era “bola na casinha”. Ele, infelizmente, não sabia ou não conseguia compreender que era e é muito mais que isso.
Passados 9 anos da conquista daquela apoteótica Libertadores que teve de tudo, desde a arte e a genialidade do Bruxo até milagres de um santo goleiro, o Atlético ainda não aprendeu a explorar como devia a força de sua marca e a de seu poderoso mascote. Até que o Galo Doido, em suas recorrentes aparições para alavancar as obras e as ações de benemerência do Instituto Galo, criação inovadora, feliz e muito interessante do atual presidente Sérgio Coelho, tem cumprido um excelente papel na divulgação da marca Atlético ao cravar a sua emblemática figura no imaginário de muitas e muitas crianças. O Galo Doido é indiscutivelmente o mais forte e carismático mascote do futebol brasileiro. A sinonímia entre Galo e Atlético Mineiro que já rompeu as fronteiras do país é também um instrumento poderoso.
Durante o mandato de Daniel Nepomuceno o Atlético até que desenvolveu peças publicitárias curiosas que colocaram a sua marca em evidência e mostraram ao mundo que Belo Horizonte é a cidade do Galo. O aeroporto internacional de Confins e a rodoviária de Belo Horizonte, por exemplo, receberam e deram boas vindas aos visitantes da capital mineira em preto e branco. Sette Câmara, porém, não deu continuidade a essa politica durante o seu mandato e Sérgio Coelho tem se limitado às ações do Instituto Galo. A exemplo do que não fez com R10, o Galo ainda é muito tímido quando o negócio é explorar o potencial e a força midiática do incrível Hulk.
Mas, não é só com o marketing que o clube tem que se preocupar. A comunicação institucional também tem que ser alvo de cuidados recorrentes quanto à sua forma e conteúdo. Muito se tem cobrado do Atlético ao longo dos tempos em relação à transparência dos atos de suas diretorias e dos fatos de sua vida intestina. Afinal, a transparência é a mãe da credibilidade sem a qual não existe confiança e nenhum ambiente consegue se manter sadio e os bons negócios proliferar. Não atoa, muitos atleticanos dizem que transparência no Atlético é peça de ficção.
Aqui um desafio se impõe: como conciliar a necessária e vital transparência com a preservação e a blindagem das informações estratégicas do clube, ou seja, dos famosos e sagrados segredos do negócio? O que pode e deve ser informado e que o não pode e nem deve ser publicizado? Salários dos funcionários, atletas e dirigentes, por exemplo, é coisa que, em nome da segurança dos profissionais e de suas famílias, jamais devem vir a público.
E, claro, as investidas no mercado da bola e as negociações decorrentes também devem ser preservadas, uma vez que a sua publicidade geralmente as fazem frustrar. Se a propaganda é a alma do negócio, o segredo quase sempre é a garantia de seu sucesso.
Quem não se comunica se “trumbica” nos ensinou o velho mestre da comunicação. E, historicamente, o Atlético tem se notabilizado por uma comunicação institucional que deixa a desejar. Se o clube se comunica mal, não pode se surpreender com determinadas reações decorrentes e nem com as cobranças que lhe são feitas.
A venda dos 49,9% restantes do shopping, por exemplo, dividiu a opinião dos torcedores atleticanos gerou polêmicas e críticas positivas e negativas. E, se de um lado, foi aprovada por um número expressivo de atleticanos, alguns até de forma absoluta e absurdamente acrítica, de outro, deixou muitas dúvidas e apreensões quanto aos desdobramentos da alienação de um patrimônio tão valioso e em relação ao futuro do Glorioso.
E por que as justificativas do clube agradaram tanto a gregos e desagradaram imensamente a outro tanto de troianos? Deficiência de sua comunicação institucional? Ou a diferença de opiniões e da forma de ver o negócio decorre da heterogeneidade da massa atleticana? Para mim, estes dois fatores estão igualmente presentes e respondem em conjunto pela diversidade de opiniões que esta venda gerou e também pelas costumeiras polêmicas que sacodem o mundo atleticano.
Uma torcida tão heterogênea, passional e explosiva como a do Atlético certamente irá, diante de qualquer notícia, informação, fato e claro, atuação do time alvinegro em campo, gerar um sem número de reações díspares e polêmicas, além de controvérsias mil. E esse público alvo exige da fonte da informação habilidade, tato, cuidados quanto ao conteúdo e à forma que lhe possibilite inspirar junto a esse consumidor credibilidade e confiança. Aqui, ao desenvolver uma política de controles internos (compliance) o Galo acerta em cheio e só merece aplausos.
Se a primeira etapa foi vencida, que foi a aprovação pelo Conselho da tão propalada e polêmica venda do que ainda resta ao Atlético do Shopping, o trabalho da comunicação institucional do clube está longe de ter chegado ao fim, pois caberá a ela possibilitar aos conselheiros e ao torcedor atleticano em geral, acompanharem, passo a passo, não só o desfecho desse negócio, todas as suas nuances e desdobramentos, mas também tudo o que advirá a partir do seu fechamento. E isso vale, claro, para as coisas do futebol.
O Atlético de hoje já é bem diferente do clube de alguns anos atrás. E é fato que, no geral, mudou para melhor. Mas, este é um processo que está longe de chegar ao fim, mesmo porque ele é contínuo e infinito. Assim, sempre andando no fio da navalha, espera-se da comunicação institucional do Atlético e do próprio clube que, sabendo blindar e blindando o que tem que ser blindado, façam com que a tão sonhada transparência se torne de vez a marca registrada do clube.
E o que fazer com a informação recebida? Checa-la, sopesá-la, analisá-la, dissecá-la, debatê-la, confrontá-la, contrabalança-la, uma, duas, três, várias vezes. E, se necessário, pedir mais e mais explicações. Quantas vezes for preciso. Isso é vigiar e cobrar. Isso é jogar junto. Isso é participar. Isso é um direito e um dever. Afinal, Afinal, quem não se comunica se “trumbica”, não é mesmo, velho Guerreiro?