Coluna do Silas: Para bons entendedores!

Foto: Edição Rodrigo Mayrink

 

Por: Silas Gouveia / @silasgouveia17

Às vezes lemos ou ouvimos algumas entrevistas e não conseguimos perceber de imediato o significado de algumas palavras ou frases no contexto em que foram ditas. Alguns exemplos disto podem ser verificados nas entrevistas do Vice-Presidente do Atlético, Dr. Murilo Procópio, e do Diretor de futebol, Rodrigo Caetano, ambas dadas ao Portal Fala Galo recentemente. Vamos, então, tentar mostrar uma visão ampla e contextualizada de ambas as falas.

Na entrevista do Dr. Murilo Procópio, ele falou diversas vezes sobre “exemplos” que esta diretoria quer dar a todos. Citou inclusive um fato em que o Presidente, ao receber uma camisa do Clube em um evento de lançamento da coleção 2021, perguntou a quem o presenteou: “quanto custa?” E fez questão de pagar pela camisa. O exemplo foi então seguido por todos que haviam sido agraciados pela camisa. Exemplo! Este é o recado!

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A entrevista girou em torno dos recentes acordos sobre dívidas do Atlético. Como eles estavam tratando esta questão e como foram as negociações entre o clube e um dos principais e mais antigos credores, o ex-presidente Ricardo Guimarães (pessoa física e não jurídica). O acordo, segundo levantamento feito pelo próprio Murilo Procópio, trouxe uma economia gigante aos cofres do clube, com uma redução drástica dos valores que estavam sendo lançados anualmente nos balanços do clube. O percentual de desconto na dívida principal varia dependendo da forma e valores que se utiliza como referência. Mas de qualquer forma, não há como negar que houve, sim, um enorme desconto.

Mas por que foram buscar um acordo logo com o Ricardo Guimarães, tendo em vista que estas dívidas não estavam sendo cobradas e os juros pagos neste montante não eram os maiores e nem estavam entre os principais problemas das dívidas do Atlético? Afinal, como credor pessoa física, os juros permitidos pelo mercado e governo são fixados pela taxa SELIC, um dos menores indicadores de mercado. A questão então não era a urgência e nem tampouco a necessidade de diminuir o endividamento e, sim, mais uma vez, o exemplo!

Com esta atitude e a força dos números apresentados frente a um acordo com um grande credor do Atlético, mesmo que este seja um dos principais investidores do clube na atualidade (um dos 4 R’s), fica claro que este é mais um exemplo que o clube quer dar ao mercado. O exemplo e o recado foram: “queremos e vamos pagar, mas não o que você acha ou quer receber. Queremos e sabemos que é possível ter um bom desconto neste montante final que estamos sendo cobrados.” Tão simples como as negociações que nós, cidadãos comuns, fazemos com os agentes financeiros ou operadoras de cartão de crédito que nos cobram uma dívida absurda e praticamente impagável da forma como são cobradas por estas eles. Sentamos à mesa e discutimos com estas empresas um abatimento e uma forma razoável e viável de conseguirmos pagar aquela dívida que vem sendo cobrada há tempos e que eles já davam quase por perdida. O Atlético, com a força do exemplo que deu nas negociações com Ricardo Guimarães, passa o mesmo recado a todos os credores. Se quer mesmo receber, me conceda um bom desconto e vamos parcelar de forma factível. Não vamos dar calote em ninguém! Bem diferente do recado dado por outras pessoas de outros clubes por aí.

Já na fala do diretor Rodrigo Caetano, o exemplo pode não ter sido a questão de ordem. Mas também ficou claro em suas palavras de que o clube não está disposto a pagar nada além daquilo que seja justo para trazer um jogador. Também não irão fazer loucuras e vender bons atletas a um preço irrisório – e apresentou justificativa, inclusive, para a recente negociação do Léo Sena. Talvez possamos entender como exemplo em sua fala, que o Atlético não vai criar mais dívidas para “ajudar” outros clubes e tampouco está com o “pires na mão” disposto a vender a qualquer preço seus ativos.

Entretanto, é bom percebermos nesta fala do Caetano que algumas coisas estavam presentes por conta de um passado recente do próprio clube. Em 2020, no auge da pandemia e recessão no mercado, o clube foi às compras e praticamente comprou sozinho e sem muita concorrência, grandes nomes do futebol como foram os casos de Hulk e Nacho Fernández. Passou a ideia de que o clube estava rico e, a partir daí, todos os demais clubes e empresários queriam dar uma “beliscada” na grana do Atlético. Rodrigo Caetano foi incisivo: “Não vamos gastar sem poder e não vamos vender a preço de banana. Não vamos nos endividar para ajudar os outros. Vamos comprar e pagar. Vamos vender e querer receber adequadamente” .

Para a torcida, pode ter ficado um sentimento de frustração. Mas, para o mercado, a sinalização foi clara e isto fará a diferença nas negociações daqui pra frente. Não somos um clube rico, mas queremos ser daqui a pouco. Temos uma criteriosa gestão e não vamos agir como amadores em quaisquer negociações que possamos entrar. Querem comprar ou vender atletas? Vamos negociar preços justos. Estamos abertos a este tipo de negociação, mas sem pressa ou aperto.

Nos dois casos, ficou evidente o trabalho de gestão que o clube vem construindo ao longo destes últimos anos, mas, em especial, nesta atual gestão. Estamos equacionando as principais dívidas do clube. Pagamos um valor considerável de dívidas junto à FIFA e pretendemos quitar todos os débitos existentes naquela entidade ainda este ano. Depois disto nunca mais queremos ter dívidas que tenham de ser cobradas por esta entidade. O Atlético quer mostrar que cumpre acordos, quer recuperar a credibilidade no mercado. Este novo Atlético honra seus compromissos. Não somos um clube rico, mas não somos caloteiros!