Coluna Preto no Branco: o que começa errado só pode acabar mal!
Max Pereira
01/02/2020 – 06h35
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Assim podem ser resumidas praticamente todas as histórias do Atlético.
O episódio Sette Câmara x Tardelli, além de desnecessário e absurdo, não é raro na vida do clube e já ocorreu várias e várias outras vezes com versões e cores igualmente toscas. É mais um, entre muitos, que acaba mal para o clube.
Não, não falo apenas pela possibilidade de que o fato possa ter inviabilizado de vez a volta do polêmico ídolo. Falo da imagem do clube, mais uma vez arranhada.
De declaração infeliz em declaração infeliz, os atuais dirigentes atleticanos vêm se especializando em desvalorizar e em desrespeitar os atletas do clube e, agora, também em se referir a outros de fora de maneira nada elogiosa.
Fake ou não, fora de contexto ou não, brincadeira ou não, Sette Câmara e a comunicação institucional do clube não se manifestaram de imediato, como deveriam ter feito, sobre o vídeo absurdo que, postado com claras segundas intenções, infelizmente viralizou nas redes sociais e foi fartamente reproduzido pela mídia tradicional, sempre ávida por este tipo de material. É o Atlético.
O jogador, de forma respeitosa e fleumática, deu um primor de recado ao dirigente máximo do Atlético.
E, como não poderia ser diferente, o tal vídeo suscitou inúmeras manifestações de torcedores, algumas igualmente estapafúrdias.
Houve até quem propusesse que Tardelli, o agredido, se retratasse perante o agressor.
O vice-presidente, em uma entrevista a Rádio da Massa, tentou minimizar o episódio mas, sem ser convincente, não o conseguiu de todo.
O presidente, antes tarde do que nunca, veio a público e fez o que já deveria ter feito tão logo o caso veio à tona. De pouco adiantou. O estrago à imagem do clube já estava feito.
Particularmente, não tenho dúvida nenhuma de que quem divulgou o malfadado vídeo (pode ou não ser a mesma pessoa que o gravou) obteve pleno êxito na intenção de tumultuar a vida do Atlético e talvez tenha conseguido fazer melar de vez a possível e, esperada por muitos, volta de Tardelli ao clube.
Mas, obteve também, sucesso total em desviar o foco da torcida de outros assuntos, estes sim de real importância para o Atlético.
Falo desse Atlético que realmente se mostra renovado e ainda em construção dentro do campo e que continua a requerer muitos cuidados e vigilância fora das quatro linhas.
Dentro de campo, e não podia ser diferente, o time não está encantando. Muito mexido em relação ao ano passado e sob novo comando é natural que o time tenha altos e baixos.
“Ainhhnnn tem que usar o Mineiro pra testar jogadores” “Mimimi, Pipipi Popopô! primeiro empate… “
“Time de merda” “Nenhum Jogador vale nada”
Esse post publicado nas redes sociais tão logo o árbitro apitou o final do jogo contra o Coimbra resume o conturbado espírito atleticano e o quanto os humores da torcida flutuam
Outra postagem deixa isso bastante claro:
“Torcida do Galo com a chegada do Dudamel: Vamos deixar ele trabalhar e apoiar!”
“Torcida no terceiro jogo: uuuuuuuhh”
“Tá de sacanagem esses modinha que frequentam o campo!”
Mas parecem ter existido manifestações que foram vistas com otimismo, pois teriam revelado parcimônia e visão crítica em relação ao tradicional açodamento raivoso do atleticano.
“Muito bom a reação da maioria da minha TL, inclusive vários ‘influencers’, que tb ficaram incomodados com as vaias de ontem”.
“Quem sabe a gente não volta a ser o que era, percebendo que a tal ‘cobrança’ exagerada além de não ajudar, chegou num nível deprimente?”
Vi gente jogando a responsabilidade nas costas dos garotos que vêm entrando durante os jogos. Sacanagem. O que começa errado, só pode acabar mal. Nesses três primeiros jogos da temporada vi um time conservador, frio, sem intensidade. Vi Allan e Jair muito mal, apanharem do esquema, novidade tática e funcional para eles.
Vi um time que, não obstante busque dar mais amplitude, não vem conseguindo dar profundidade ao seu jogo, mesmo porque, como ficou bastante evidente diante do Coimbra, não conseguiu fazer o que principalmente essa partida exigia: fazer ultrapassagens para quebrar as linhas de marcação do adversário. Em sua coletiva, Dudamel reconheceu tudo isso.
Méritos ao Coimbra que fez um ótimo trabalho defensivo, utilizando duas linhas bem postadas, a primeira, à frente frente do goleiro, com cinco marcadores e a segunda com quatro, com variações constantes, ora para um 4,5, 1, ora para um 6, 3, 1, buscando sempre uma superioridade numérica no meio campo e garantindo sempre um losango de marcadores sobre o homem atleticano que tivesse a posse de bola em sua intermediária defensiva.
Vi um time sem um articulador nato e aí fica difícil. Vi e ouvi perguntarem: Cadê o Cazares?
Vi que o que aconteceu com Cazares desde que ele chegou aqui compõe uma sinfonia de erros. Erros dele, erros da diretoria, erros dos treinadores que o comandaram e erros da torcida que o odiou. E o que começou e continuou errado só poderia acabar mal. Ele só poderia querer sair e vai sair mal vendido.
“O problema é um dos volantes ser o Zé Welison, principalmente em casa. Vamos ver se com as voltas do Nathan e do Blanco isso muda. Por fim, turma que apoia a saída do Cazares ainda vai chorar lágrimas de sangue…”, vaticina alguém, evidentemente mordido com a iminente saída do equatoriano.
E olha que, em meio a acertada exaltação do talento contida na menção aos nomes de Nathan, Blanco e Cazares, considerar Zé Welison problema é uma tremenda injustiça para quem tem sido o melhor e o mais lúcido jogador do time nesses três primeiros jogos, com menção honrosa para Gabriel, outra figura de destaque.
“O Atlético precisa de um 10”, bradam muitos. “O Atlético precisa de um 9”, protestam outros tantos.
“Bruninho tem que ser emprestado”. “Marquinhos vai sofrer sem um 10 pra jogar no vazio”. “Três volantes não é problema. Esses 3 pra jogar contra o Coimbra, sim”. “Dudamel pode ser ótimo. Mas é defensivo”, diz com alto índice de acerto um amigo atleticano
Particularmente, não tenho dúvida nenhuma de que Dudamel, se não for essa a sua característica natural, tem sido até aqui extremamente conservador.
É forçoso reconhecer que essa postura do treinador, que se reflete no time retirando-lhe a intensidade e a profundidade, pode ser consequência do fato de que dirigir um gigante brasileiro, com todas as peculiaridades emocionais que demarcam o cargo e a tarefa, é total novidade para ele, além do fato de sua nacionalidade já ser motivo de rejeição para muitos, seja em razão da pouca tradição da Venezuela no futebol, seja em razão do regime bolivariano (que hoje vige naquele país) ser mal visto pela ala conservadora da torcida.
Dudamel iniciou seu trabalho há apenas 20 e poucos dias. Muito pouco para se exigir que ele mostre um time voando, na ponta dos cascos.
Ah! E Dudamel nem está transformando a Cidade do Galo em um campo de refugiados venezuelanos e nem está comandando o grupo atleticano de forma totalitária, ditatorial, “bolivariana”, rachando e desagradando ao elenco, como maldosamente alguém que, certamente, não gosta do Atlético e só quer desestabilizar o clube andou sacando nas redes sociais.
“Ainhhnnn” digo eu agora. O Atlético precisa de vigilância e cobrança com muito tato, com muita diligência e com muita parcimônia. Esse olhar deve ser dirigido com o mesmo interesse, cuidado e constância, tanto para dentro do campo quanto para fora dele. Caso contrário, 2020 acabará muito mal, assim como muitas outras histórias na vida do Atlético.