Coluna Preto no Branco: O Galo ganhou de novo e 2022 está só começando…
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Por Max Pereira, colaborador do Fala Galo, em Belo Horizonte
O Galo ganhou de novo e faço minhas as palavras daquele velho mineirinho que mora no mais longínquo dos grotões destas Gerais que deve estar repetindo para si mesmo e dizendo para tantos quantos passarem à sua frente “E não é que o Galo ‘coisou’ de novo!!!” E “coisou” mesmo.
O Atlético iniciou a atual temporada ratificando tudo aquilo que conquistou no ano mágico de 2021. O jogo diante do Flamengo foi mítico e teve todos os ingredientes de uma superfinal. Se a partida antes de sua realização esteve no limite de uma desmoralização e foi sacudida por mil e uma polêmicas, outras tantas provocações de lado a lado e muitas críticas, algumas procedentes, outras nem tanto, os jogadores que foram a campo, o trio de arbitragem e o VAR honraram os seus papéis e compuseram um espetáculo grandioso, renhido, intenso, disputado e que, certamente, encheu os olhos de qualquer amante do esporte bretão.
As duas torcidas, então, se regalaram e quem viu o jogo tem muita história para contar para as gerações futuras. Os altos e baixos das duas equipes durante os 90 minutos que incrivelmente se reproduziram naquela quase interminável disputa de pênaltis, deram o tom mágico e vibrante da decisão sem, contudo, comprometer o conceito de qualidade que os dois times de forma muita justa, conseguiram amealhar nestes últimos tempos. E, ao final, a sorte sorriu e a competência premiou aquele clube que desde o ano passado já era o legítimo dono do título de supercampeão. Festa em preto e branco em todos os lugares do planeta onde estiver pulsando um coração galista.
Mas, 2022 está apenas começando. Se Atlético e Flamengo irão decidir a Libertadores ou farão a final da Copa do Brasil nesta temporada ou ainda, a exemplo do ano passado, disputarão o título do Brasileirão até as rodadas finais, mais uma vez polarizando as atenções do mundo futebol, é um exercício de futurologia que não ousarei fazer. Quem viver verá.
Mas, uma coisa é certa. Assim, como o Atlético viveu bons e maus momentos durante os 90 minutos dessa decisão da Supercopa e durante as cobranças de pênalti que decidiram o título a seu favor, os caminhos que o clube deverá percorrer daqui em diante também serão cheios de altos e baixos, prenhes de armadilhas e repletos de pedras que os inimigos certamente espalharão jogo a jogo, decisão por decisão.
Para muitos foi apenas a sorte que levou o Galo a conquistar o título. Para outros, ainda que claudicando aqui e ali, o time atleticano foi mais competente que o rival. Para mim, tudo isso junto, misturado e temperado com aquela velha e conhecida vontade vencer e de ser campeão e demarcado pela imorredoura capacidade de resiliência e de superação que o time exibiu a larga no ano passado. Mas, tudo isso persistirá até o final da temporada? Há riscos de descontinuidade?
Não basta um simples SIM ou um sonoro NÃO para responder a estas duas perguntas. E, tampouco, enveredar pelos caminhos das premonições ou adivinhações cabalísticas, sejam elas positivas ou não.
Assim, como no jogo contra o Flamengo uma série de variáveis ao fim se conjugaram favoravelmente aos interesses do Atlético, durante o restante desse 2022 vários e vários fatores deverão se combinar e interferir, ora positivamente, ora negativamente, nos projetos atleticanos. Cabe ao Atlético trabalhar para que os bons momentos perdurem o máximo possível e para que os maus ventos passem voando rapidamente.
Tudo na vida depende de nossas escolhas. A cada opção, um caminho diferente. E uma consequência direta e inevitável. Não, não é um tratado de física quântica, embora ela sinalize exatamente isso. Nada como um dia após o outro. Novos desafios e muitas escolhas.
Assim, como o Atlético não foi campeão simplesmente porque Gabigol não bateu aquele fatídico pênalti para o Flamengo ou porque faltou ao time rubro-negro fome de título, desculpas esfarrapadas de perdedores, o Galo só não conseguirá realizar os seus objetivos no restante dessa temporada se fizer escolhas que o levem a um caminho sem volta.
Chegar ao topo pode parecer complicado, até improvável, mas é sempre possível e muito mais fácil do que se manter lá. Difícil mesmo é se manter na prateleira de cima. O próprio Atlético já deve ter aprendido isso. Com R10 chegou lá, mas permanecer foram outros quinhentos.
Da mesma que o Atlético já chegou ao patamar atual e sabe o que foi preciso mudar, o quanto teve que se transformar e até cortar na própria carne para chegar aonde chegou, seguir em frente requer uma jornada ainda mais penosa e desafiadora. E, dependendo das escolhas feitas, a descontinuidade pode ser brutal.
Saber escolher o que dizer, o que fazer, o que não dizer, o que não fazer. Dentro das quatro linhas quem faz as escolhas sobre quem deve ou não jogar, sobre quem deve fazer o quê, sobre que esquema utilizar, é o treinador. Fora delas, são os homens que hoje têm a responsabilidade de comandar o clube quem devem dar o norte ao clube, inspirar confiança internamente e passar credibilidade para o público externo.
O Galo foi campeão de novo e 2022 está só começando. Este discurso, reproduzido recorrentemente pela mídia convencional e repetido por um número cada vez maior de perfis nas redes sociais, indicando que o Atlético, não obstante tudo o que aconteceu esportiva e financeiramente ano passado de positivo para o clube, necessita vender, vender e vender jogadores, cumprindo assim essa sua meta orçamentaria e também alienar a toda pressa os 49,9% restantes do Shopping, sob pena de se inviabilizar tem tudo para ser um tremendo tiro no pé.
Dizem os religiosos que você pode pecar por pensamentos, palavras e obras. Os dirigentes podem jogar o clube no abismo se errarem em seus pensamentos e particularmente pelas palavras que proferirem, pelo que fizerem de errado e pelas suas omissões.
E nós torcedores também. Aqui não custa repetir que ficar apenas esperando que os resultados, os títulos e o sucesso caiam dos céus em seu colo, contando tão somente com a sorte ou agindo acriticamente em relação a tudo o que acontece no clube, é uma estratégia furada e que não leva a nada. Vigiar e cobrar é a palavra de ordem.
Cabe a todos nós atleticanos, de dentro e de fora do clube, todos juntos, cada qual à sua maneira e, dentro de seus limites e poderes, ser partícipe da construção do futuro que todos queremos. 2022 está só começando e, mais do que nunca, o Atlético precisa de que todos os seus torcedores joguem juntos com ele em todos os momentos e não somente quando a bola estiver rolando.