Reminiscências em preto e branco: Histórias, fatos, mitos, lendas, causos, curiosidades e muitas saudades

 

Por: Max Pereira 
07/04/2020 – 07h00
Clique e siga nosso Instagram
Clique e siga nosso Twitter
Clique e siga nosso YouTube

Clique e siga nosso Facebook

Há 62 anos assisti, pela primeira vez em minha vida, o Atlético jogar ao vivo, sentado nos ombros do meu velho e saudoso pai. Era uma noite fresca e com ar de chuva de uma quarta-feira que lá vai distante. Onde? No velho estádio Antônio Carlos, onde hoje se ergue o Shopping Diamond Mall.

O Galo venceu por 2 x 0, com dois gols de Tomazinho em dois arremates potentes e certeiros de fora da área. O adversário? Não me lembro e não importa. O que interessa é que foi ali que aconteceu o meu batismo em preto e branco. Ali entendi o que significava aquele brilho nos olhos do meu pai, todas as vezes que o Atlético era o centro de sua atenção.

O craque goiano da camisa 10, meu primeiro ídolo, foi quem desenhou com o seu talento e seus gols a palavra GALO no meu coração. Aquela palavra que o meu pai já soprava no meu ouvido e com a qual já costurava em meu espírito uma paixão louca, imorredoura e imensurável.

Naquela época, 95% da população de BH era atleticana. Por isso, e até hoje, Galo e povo é uma coisa só. Para mim e para todo o sempre, amém. Embora os tempos sejam outros, com crescimento e diversificação da população, a massa do Galo continua absoluta em Minas. E a paixão cada vez mais desmedida e inexplicável.

O vermelho foi sempre uma cor que me chamou a atenção. Sempre foi a cor de minha preferência. Meu lápis de cor preferido era vermelho. E o casamento com o preto e branco tatuado em meu coração foi perfeito. Afinal, qual é a cor da crista do Galo? Vermelha, claro.

Bola e o preto e branco eram e sempre foram para mim uma simbiose perfeita. Paixão é Galo, uma sinonímia mais que perfeita.

O que levaria um professor, jornalista, desenhista, pintor e torcedor do América a fazer parte da história do maior e mais emblemático clube de Minas? Fernando Pierucetti, que na época era chargista do extinto jornal Folha de Minas, foi quem criou o mascote atleticano que, não por acaso, se confunde até mesmo com o nome do time.

Mangabeira contava que a inspiração para o símbolo do Atlético veio das famosas rinhas que existiam na capital mineira, que tinham um galo carijó, de cores preto e branco em comum, que era imbatível nas lutas. 

Daí, surgiu naturalmente o complemento gritado e cantado pelo torcedor atleticano: forte e vingador. Um dia, naquele mesmo antigo Estádio Antônio Carlos, onde fui apresentado ao Galo, Mangabeira chorou ao ouvir a massa gritando “Galôôô, Galôôô”. Nessa época, o então capitão do time, Zé do Monte, entrava em campo erguendo a ave.

Nesse mesmo ano em que me deputei nos estádios de futebol, o Brasil se sagrou campeão do mundo na Suécia e uma polêmica tomava todas as discussões quando o assunto era futebol: quem era melhor, Pelé ou Garrincha?

Para mim pouco ou nada interessava definir ou saber quem era o melhor. O que era importante era o fato de que os dois deuses do futebol vestiam preto e branco. Mané brilhava e fazia a alegria do povo com a camisa alvinegra do Botafogo e Pelé reinava com o manto preto e branco do Santos.

No artigo “QUANDO OS DEUSES DO FUTEBOL DESCERAM DO OLIMPO, VESTIRAM PRETO E BRANCO E CALÇARAM CHUTEIRAS”, já contei como descobri que magia e futebol tinham tudo a ver.

Pelé e Garrincha, vestidos de preto e branco, me mostraram que dois deuses do Olimpo haviam se materializado calçados de chuteiras. Para muitos demônios, para outros anjos. Para mim e outros mais, esses caras eram de outro planeta.

Falei também de outros seres iluminados, ungidos dos céus, que vestiram e abençoaram a bola também vestidos de preto e branco. E o melhor de tudo, fazendo o Galo cantar alto e levando o nome do Mineiro a todos os continentes.

Não atoa, Laci, a Pérola Negra, o Rei Reinaldo, o bruxo Ronaldinho Gaúcho e o Pelezares equatoriano, se fizeram pretos e brancos. Se fizeram Atlético.

Se lembrei de Laci, tenho que falar do Rei Dadá, o mais folclórico e mítico artilheiro da história do Atlético. O mais iluminado artilheiro da história do futebol. O homem que, rompendo barreiras e preconceitos, elevou a estima da torcida atleticana e a fez, em 1971, soltar o grito de: É CAMPEÃO DO BRASIL. O PEITO DE AÇO.

O grande Dadá Maravilha, que recentemente completou 74 anos, foi o autor do gol que deu o título do Campeonato Brasileiro ao Galo em 1971, naquela memorável decisão contra o Botafogo no Maracanã. Entre 1968 e 1979, Dadá teve três passagens pelo Galo, onde jogou 290 jogos e marcou 211 gols.

Quer saber mais sobre Dario José dos Santos? Acesse, então, camisadoze.net/cronicas/.

Um texto para você ler e conhecer a história do homem que viu sua mãe morrer queimada, jogou por um prato de comida e levou o Atlético, mesmo sem saber jogar futebol, ao seu primeiro campeonato brasileiro.

Isolado e em quarentena, uma de minhas distrações preferidas tem sido exercitar a minha memória e rever, em pensamento, muitas histórias e fatos, alguns pitorescos, outros bastante curiosos e alguns outros doloridos.

E como esquecer aquele 29 de março de 1967, estreia do mago Dom Fleitas Solich no comando técnico do Atlético. Na ocasião, o Galo bateu o Palmeiras por 4 a 2.

O mestre uruguaio foi técnico do Galo nas temporadas de 1967 e 1968 e comandou o time em 65 jogos.

Recordar é viver e aprender. O Atlético viveu muitas temporadas de altos e baixos e de muitas crises internas. E, como sempre, permitiu que momentos conturbados influíssem negativamente dentro de campo. Aqueles que não conseguem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo, seja para o bem, seja para o mal. 

Quantas vezes disse para mim mesmo: “Sem chororô!!! Mas que foi duro de ver o homem do apito, isso foi”.

Se muitas arbitragens facciosas e outro tanto de ações heterodoxas de agentes externos conduziram o Atlético ao fracasso, não é menos verdade que o próprio clube derrotou a si mesmo várias vezes. 

Por sorte, alguns vídeos e posts fortuitos e alguns registros antigos que possuo vão incorporando essa minha pesquisa afetiva.

Lembrar da história do Atlético, principalmente dos fatos testemunhados, é sempre uma aventura lúdica.

“Ele tem estrela”. Quantas vezes isso foi dito e repetido por milhões de vozes a respeito de um jogador que havia estreado bem e depois…, depois nada. Causa e efeito é um binômio natural da vida, nos ensina a física, no que é acompanhada por várias religiões. Mas, quem disse que o atleticano quer saber porque esses jogadores acabaram não dando em nada? Ou melhor, não entregando aquilo que deles se esperava?

Não, não vou citar nomes. Apenas digo que suas histórias são parecidas com as tortas trajetórias dos famosos “foguetes molhados da base”, aqueles que eram promessa e que, lançados no time de cima, nada, nada, nada. Alguns, chegaram a brilhar por pouco tempo ou a enganar como diz aquele galista raivoso. 

No artigo “FUTEBOL DE BASE. NEGÓCIOS SEM BASE. DO SONHO AO LIMBO E DO CÉU AO INFERNO. MAS, RESSURGIR DOS MORTOS É POSSÍVEL”, escrevi sobre um vácuo, muitas vezes letal para muitos e muitos garotos, na passagem deles para o profissional.

Dei a esse vácuo o nome de limbo, um lugar no qual, historicamente, os garotos egressos da base são lançados à sua própria sorte, vez que os homens que os comandavam nas divisões inferiores já não se sentem mais responsáveis e compromissados com eles, enquanto a direção profissional, que mal os conhece, vida de regra também não os recepciona como deveria ser.

Fred, hoje jogador do Manchester United manifestou recentemente o desejo de retornar ao Atlético. Ele não é o primeiro e nem o único jogador que saiu da base atleticana de forma heterodoxa que confessa publicamente o desejo de voltar para a casa.

Sua saída do Atlético para o Inter foi pouco convencional e merece reflexão. Não foi um caso isolado. Casos que não podem mais se repetir. Ah! Não é porque saiu do clube do jeito que saiu, que ele está obrigado a voltar e a arrebentar. Se vier, ótimo. Seria muito bem-vindo.

No artigo “OS CAZARES DO FUTEBOL SÃO VÁRIOS. OS CAZARES DA HISTÓRIA DO ATLÉTICO SÃO MUITOS, DE TODAS AS CORES E DE MUITAS DORES E DISSABORES”, “fiel à ideia da importância de se desenvolver uma análise sociológica do Atletico e, por meio dela, conhecer o melhor possível a instituição, a alma atleticana e, claro, a ímpar e esquizofrênica relação da torcida com o clube”, me propus “a falar mais especificamente de um perfil de jogadores que, a exemplo do equatoriano Cazares, puseram as suas carreiras em risco ou mesmo as frustraram de vez, em razão de seus comportamentos heterodoxos, em um processo autofágico, que sempre contou com a omissão e o despreparo dos dirigentes” e, claro, com os maus bofes da massa.

Mas, nem tudo são cravos. A força do Atlético e a paixão de sua torcida são tão grandes que jogadores, estrelas de outros clubes, já disseram por mais de uma vez e, em diversos microfones, que só tinham uma frustração em sua carreira: não terem jogado no Atlético e não terem tido o seu nome gritado pela massa nas arquibancadas.

Os casos mais emblemáticos são o de Valter Casagrande e Vampeta. Este último chegou a declarar o seu amor ao Galo e a cantar o hino do clube. “Tenho um sonho de ir ao Mineirão ver um jogo do Galo, comer um tropeirão, que estão tentando acabar com as tradições e quero ver um jogo do Galo Forte Vingador, porque eu torço mesmo para o Galo”, emendou o velho Vampa.

Quem conseguiu realizar esse sonho, por exemplo, foi Robinho. Lembram-se daquele vídeo que viralizou nas redes sociais, no qual o Pedalada zoava o centroavante Fred nos seus tempos de seleção brasileira? Por ironia, quiseram os deuses do futebol que ele viesse para o Galo e aqui se reencontrasse exatamente com o atacante.

Muitos jogadores passaram pelo Atlético e deixaram um gostinho de quero mais: Paulo Egídio, Ricardinho, Petkovic, Caíque, Felipe, Nunes, Jobson, Bianchini, Renato Gaúcho, Neto, Roni, Suoer Ézio, Robert, Cleisson, Ramón Menezes, Muriqui, Alexandre, Otamendi, Evair, Valdeir, Luís Carlos Winck e muitos outros.

Pena que Almir e Jorginho, por exemplo, não ficaram muito tempo no Atlético. Jorginho foi o grande nome da Conmebol 97. Almir foi um atacante de velocidade, inteligente e de rara habilidade. Passaram rápido e honraram o manto. Como muitos outros, poderiam ter ficado muito mais tempo. Coisas do Galo.

Não, não me esqueci de Negrini e do primeiro título internacional oficial do Atlético.

Souza e Paulinho são dois geniais camisas 10 que passaram pelo Galo. O primeiro é aquele que brilhou no Corinthians e jogou aqui duas vezes, mal aproveitado em ambas. O segundo, revelado na base, era uma promessa extraordinária. Mal orientado e não cuidado, jogou a carreira no lixo.

A geração de Cerezo, Reinaldo, Paulo Isidoro, Danival, Ângelo e Marcelo foi, sem dúvida, a melhor safra da base atleticana na história do clube. Os títulos nacionais e a Libertadores não vieram por razões sabidas por todos e que doem até hoje. Quando Luisinho, Palhinha, Éder Aleixo, Chicão, Orlando, Valença e Osmar Guarnelli se juntaram a alguns craques remanescentes desse grupo, o Atlético, para muitos, montou o melhor time de sua história.

Um time que deixou saudades e que só não foi campeão brasileiro, da Libertadores e do mundo porque o extra-campo não deixou, materializado naquelas arbitragens facciosas que se colocaram no caminho do Galo. Os jogos finais do Brasileiro de 80 e o escândalo do Serra Dourada em 81 até hoje doem na alma atleticana.

O clube que já havia revelado de uma só vez Laci, Lola, Beto Bom de Bola, Adilson Bibi e Vanderlei Paiva e antes deles Buiao, o Garrincha de Minas,  com a fornada que gerou o Rei e sua trupe, se superou. E olha que, entre uma geração e outra, surgiram ainda Campos, o Peitinho de Aço e Marinho da Betânia, um diamante bruto que o Atlético não soube polir.

Quem não se lembra também de um time que tinha Sérgio Araújo, Paulo Isidoro, Nelinho, Luisinho, João Leite, Everton, Éder Aleixo e o Rei Reinaldo, um dos melhores da história do Atlético? Quando Reinaldo e Éder deixaram o Galo, veio um tal de Nunes para o seu lugar e o saudoso Edivaldo, o Pepe Legal, assumiu a ponta esquerda. E não ficou só nisso, chegou também um meia de nome Zenon que, como só podiam jogar 11, ilustrava, por vezes, o banco atleticano. Um super elenco. Um timaço.

Um “dream team” se transformou em pesadelo na Vila olímpica. Falta de comando, desorganização e vaidades mal administradas fez aquele que deveria ter sido um dos times mais fortes da história do futebol brasileiro naufragar estrepitosamente.

Uma curiosidade sobre Kanapkis, o zagueirão uruguaio daquela “selegalo”. Na seleção uruguaia ele fazia dupla com Canals, zagueiro de qualidade. Reza a lenda que o Atlético mirou no segundo e trouxe o primeiro que se notabilizou por levar um drible desconcertante do tal Ronaldo Fenômeno, em um clássico de triste lembrança e que foi marcado, também, por uma arbitragem desastrosa para o Atlético. Por ironia, Cerezo comandou a vitória do rival. O fato é que foi mesmo uma passagem infeliz do zagueiro uruguaio.

Aquele time também ficou marcado pelas passagens apagadas de Winck, Neto, Renato Gaúcho e do centro avante Gaúcho. Adilson (Batista), Éder Aleixo, Valdir Todinho, Darci e Paulo Roberto Prestes sobreviveram, ao lado do garoto Reinaldo Segundo.

Com a chegada de Levir Culpi, pela primeira vez, técnico do Atlético, o time chegou às fases decisivas do Brasileirão daquele ano, sendo eliminado na semi-final pelo Corinthians pelos critérios de desempate. No primeiro jogo uma vitória atleticana no Mineirão por 3 x 2, depois de estar vencendo por 3 x 0, com show de Reinaldo Segundo. Uma falha do goleiro Humberto no Pacaembú no jogo da volta, foi capital.

Um momento lúdico do Atlético e que tinha tudo para ser campeão brasileiro, foi aquele que o time tinha Marques, Guilherme, Ramón Menezes, Felipe, Valdo, Gilberto Silva, Djair, Alexandre, Cicinho dentre outros. Liderou o Brasileirão com autoridade e até facilidade. Perdeu o campeonato em um dilúvio em São Caetano. Na verdade e, como sempre, perdeu para si mesmo.

Antes disso, o Galo viveu momentos inesquecíveis com Euller, o filho do Vento, Renaldo, o baiano que veio do Paraná e, um pouco depois com Marques e Valdir do Bigode.

Valdir Bigode, centroavante diferenciado e artilheiro nato também amargou a intolerância da massa. Saiu do Atlético xingado por muitos e até hoje não esconde o carinho que sente pelo Galo. Ao que dizem as boas línguas, nunca foi à justiça cobrar o que o clube lhe devia. Com Marques e Guilherme chegou a fazer um ataque avassalador que foi proibido pelo ódio e pelo medo dos inimigos do clube.

O saudoso jornalista e escritor Roberto Drummond liderou uma campanha para que os três fossem escalados e jogassem juntos. Em vão. Venceram a intolerância e os que não gostavam do clube.

Em 1995, o controverso Dinho marcou um golaço no time azul, seu ex-clube!!! Atlético 2 x 0 Cru, campeonato brasileiro.

Em 1999 aconteceram dois jogos emblemáticos contra o rival. Teve comentarista e torcedor que afirmaram que o GALO não ganharia 2 partidas contra o seu mais tradicional adversário. Para muitos, ou este duelo não aconteceria ou, se acontecesse, era favas contadas. O time azul eliminaria o Atlético, tão certo como era dois mais dois igual a quatro.

Ledo engano… Quatro, aliás, foi o número de gols que o Glorioso fez no primeiro jogo. Foi um 4 x 2 autoritário e acachapante. Dois gols de Marques e dois de Guilherme.

E com direito a gol de escudo do Guilherme o Atlético fez 3 x 2 no segundo jogo. Guilherme fez mais um e o outro foi de Adriano.

Acharam que não teria o clássico, né? Impiedoso e empurrado pela Massa, o GALO de 1999 não tomou conhecimento do Cruzeiro nas quartas de final do Brasileirão e mandou o rival pra casa. (Alexandre) Gallo foi o grande capitão.

Guilherme Alves foi um centroavante diferenciado. Um artilheiro nato. E a massa “pagou” tudo o que ele fez com a camisa do Atlético com ódio e intolerância. Saiu escorraçado e, não sem razão, bastante magoado. Mesmo assim, perdoou uma dívida que o clube tinha para com ele. E é atleticano. Alguém ainda duvida?

Memória puxando memória e as lembranças vão brotando…

Um clássico diferente. Brilhante, Tucho fez três gols e entrou para a história. O, não sem razão, magoado Guilherme Alves, então de azul, fez dois para o rival e ainda provocou. Reza a lenda que ele vestia por baixo uma camisa da Máfia Azul. Alex Mineiro, ex-rival, completou a goleada alvinegra.

Há 32 anos o Atlético sagrou-se campeão mineiro em cima do time azul jogando com um time praticamente de reservas. A maioria dos titulares não pode jogar. Contusões e suspensões. Telê foi genial e o Galo engoliu o adversário do outro lado da Lagoa.

Atlético MG 4 x 2 São Paulo,  1985, campeonato brasileiro… Oliveira, Nelinho, Sérgio Araújo e Éder fizeram para o GALO,  Márcio Araújo, que anos mais tarde seria técnico do Atlético, e Careca fizeram para os São Paulinos. Ah! Embora fosse também volante, esse Marcio Araújo não é aquele maranhense que jogou no Galo e passou por Palmeiras e Flamengo.

Sempre vale a pena recordar. Em 1982, com gols de Reinaldo (Rei), Éder Aleixo e do saudoso Renato Morungaba, o Atlético bateu o Flamengo no Mineirão: 3 x 1.

Mesmo sem o Rei, que não pôde jogar, o Galo calou o Beira Rio e dobrou o Internacional de Falcão e companhia, na época tri-campeão brasileiro. Um 3 x 0 para ninguém botar defeito.

E em 2004, o Atlético depenou o Urubu com uma goleada histórica no Ipatingão… Atlético 6 x 1 Flamengo. Ze Antônio,  Márcio Mexerica, Renato, Wagner e Alex Mineiro duas vezes anotaram para o GALO!!!!

Dátolo nunca foi unanimidade no seio da massa. Sempre o considerei craque. Muitas vezes, mesmo mal escalado, conseguiu se sobressair. Foi fundamental na CB 2014 e fez um golaço histórico contra o Flamengo no Horto. Eu estava lá e me emociono todas as vezes que vejo esse gol.

Eu que vi o talento ímpar e genial do craque que mais se aproximou de Pelé, o Rei Reinaldo, eu que gargalhei inúmeras vezes com as suas jogadas divinas e com os seus gols geniais, eu que sofri e chorei com as suas contusões, vi também o Bruxo R10 vestido de preto e branco. Eu que vi o Rei se tornar o maior artilheiro da história do Atlético, vi Ronaldinho Gaúcho vestir o manto sagrado.

Eu que vi com o Rei que para um gênio nada é impossível, que transcender é tão normal quanto sentir sede e beber água, que subverter a ordem natural das coisas é para os deuses do futebol algo comezinho e simples, vi também Ronaldinho Gaúcho e com ele aquele time que nos deu a Libertadores de 2013 e depois, já sem ele, mas abençoado por ele, a Copa do Brasil de 2014.

As defesas de São Victor, o chute certeiro de Guilherme, a cabeçada de Léo Silva e o gol de pé direito de Jô na final, a escorregada do atacante do Olímpia na hora de fazer o gol que nos tiraria o título, as luzes apagadas no Horto, os gols de Tardelli, Bernard, Alecsandro e de Luan, empatando um jogo que estava perdido, o bailado de R10 no gramado sintético no México e a regência do maestro bruxo na altitude, indicam que, por tudo o que aconteceu, aquela Libertadores estava destinada ao Atlético. E a história se fez. Mítica, mística, passional, lúdica e emblemática.

A generosidade e o reconhecimento de R10 à dedicação e ao esforço de Berola em um jogo duro contra o Grêmio na Arena do Jacaré não saiu de minha memória. O baiano pode dizer: joguei ao lado do bruxo, dei assistência para ele e fui aplaudido, carregado e reverenciado por ele. Cada um deles, grande na sua dimensão e no respeito e entrega com a camisa do Galo.

Em 2014 a mística e a fé se fizeram presentes mais uma vez. As viradas emblemáticas contra Flamengo e Corinthians e a conquista do título com duas vitórias sobre o rival vão para sempre aquecer o meu coração.

E a bola parada? Nos tempos do “dream team” cinco jogadores faziam os torcedores que, aos montes, iam assistir os treinos na Vila Olímpica, gozarem de puro prazer. Adilson, Renato Gaúcho, Valdir Todinho, Neto e Éder Aleixo. Em campo, jogo valendo, esse arsenal jamais foi aproveitado pelo Atlético. Eh! Atlético! Como é e foi possível?

Oldair Barchi, Éder Aleixo e Nelinho foram notáveis. R10 mágico. Valdir Todinho mortal. Cazares e Otero, ferinos. Capri, potência e precisão.

E os gringos que ficaram marcados na história? Cincunegui o Deus da raça, Olivera, o sangue uruguaio, Cáceres, o xerife paraguaio, Pratto, o Urso argentino, Dátolo, o Galo hermano, Galvan, a alma dos pampas, Ladislao Mazurkiewicz, o Aranha portenho, o gigante Otamendi e o mítico Ortiz. Gente, Pelezares é do Atlético. E o Grande Otero é nosso.

Com diversas vozes, em diversos tons, como é bom rememorar, comemorar de novo e vibrar novamente com os gols do Galo através dos tempos. E como são divertidas aquelas narrações onde o locutor tentou anular algum gol do Atlético, de preferência contra o rival.

Não atleticanos de várias partes do país e do exterior sempre reconheceram a força e a paixão ímpar da massa atleticana e a sua capacidade de até reverter resultados tidos impossíveis de serem revertidos.

O “Eu acredito” nunca foi fruto do acaso e, sim, um insight natural, talvez imperceptível para muitos, mas seguramente resultante da percepção, ainda que inconsciente para grande parcela da massa, da força da paixão galista que, de há muito, já aterrorizava os adversários. E isso ficou claro em um jogo em particular.

Quem viu nunca esquecerá um Atlético e Flamengo no Mineirão. Um episódio emblemático, por um Brasileirão que já vai distante, exemplifica o que a força e a paixão do atleticano é capaz de fazer acontecer.

15, 20 minutos da tapa complementar, o Flamengo, que já havia empatado o jogo logo no reinício da partida, se agigantava, enquanto o Atlético, acuado, perdia força e ficava cada vez mais à mercê do adversário.

A virada do rubro-negro era questão de tempo. O técnico Procópio Cardoso Neto, um dos mais emblemáticos treinadores da história do Atlético e também um de seus mais viscerais zagueiros, lançou mão, então, da mais temível arma que tinha à sua disposição: a massa atleticana.

Pegou uma camisa preto e branca e pôs-se na beirada do gramado a pular e a brandir freneticamente o manto sagrado. E assim ficou até o fim da partida.

Sob o comando do emblemático treinador, a massa começou a repetir o seu gesto. As estruturas do Mineirão balançaram e o rubro-negro tremeu.

Os jogadores atleticanos tirando uma força, até então insuspeita, de onde nem eles mesmos sabiam, foram para cima do rival carioca que, atarantado, viu o, então, garoto Cairo fazer o gol da vitória.

Quando soou o apito final, Procópio ajoelhou-se e, em prantos, agradeceu aos céus aquela vitória conquistada na paixão, no amor e na força de uma torcida sem igual, como recentemente o técnico Paulo Atuori e o ex-jogador Pedrinho reconheceram em entrevista ao jornalista Rica Perrone. Uma vitória com a marca do grande comandante, o homem que conhece, experimentou e vivenciou essa paixão alvinegra, dentro e fora do campo. Muito obrigado por tudo que você, Procópio, fez pelo nosso Galo.

Quantas e quantas vezes adversários exaltaram a massa atleticana e disseram, com todas as letras, que foram derrotados por ela?

Atlético e massa são um só. Se o gigante acordar e souber aquilatar a força que tem, o Atlético se converterá de vez em um time do mundo, vencedor e campeão como poucos. E ser esse despertador é função de qualquer atleticano.

E essa possibilidade aterroriza a gregos e troianos. Essa perspectiva assusta e é a razão, não só dessa raiva incontrolada de várias vozes da mídia do eixo e da própria imprensa local, mas dos ataques e prejuízos históricos que o Galo vem sofrendo há anos.

Por fim, as reminiscências que embalam os meus sonhos: Os dribles de Buião e de Sérgio Araújo, o queixo no peito e no ombro do Beija-Flor Dadá, a genialidade do Rei, os gols espíritas de Ubaldo Miranda, o Miquica, o talento e a classe de Djalma Dias, Luisinho, Normandes, Ziza (PE), Beto Bom de Bola, Marcelo (Oliveira), Fifi, Danival, Bugleaux e Renato Morungaba, os chutes de Nelinho e Éder Aleixo, os lançamentos certeiros de Tião Cavadinha, a liderança de Léo Silva, Bueno, Oldair Barchi e (Alexandre) Gallo, o futebol visceral de Procópio, Willian, Vanderlei Paiva, Doriva e Gilberto Costa, o carão de Getúlio, a excelência e a lucidez tática de Cerezo, o Monstro da Bola, Gilberto Silva e Ricardinho, as bruxarias de R10, a velocidade de Euler, o Filho do Vento, as assistências iluminadas do xodó Marques, o futebol divino de Laci, Lola e Cazares, a elegância de Adilson Bibi e Rafael Carioca, o talento explosivo de Paulo Isidoro, Ângelo, Bernard, Danilinho, Rodrigo Fabri, Campos, Bianchini e Luan, o Menino Maluquinho, a raça de Cincunegui, Olivera, Toninho Catimba, Cláudio Mineiro, Jorge Valença, Pierre e Donizete, as defesas de São Victor, Veloso, Taffarel, Marcial, Luiz Pérez, Renato, Veludo, Careca, Mussula e Hélio, os pênaltis defendidos por João Leite, o Goleiro de Deus, a mística de Ortiz, os momentos decisivos de Negrini e Jorginho, a alegria cheia de talento de Robinho e os gols de Nilson, o Calcanhar de Vidro, Roberto Mauro, Noventa, Valdir do Bigode, Gerson, Guilherme Alves, Obina, Tardelli, Jô, Lucas Prato, Roni, Marinho, o artilheiro na Série B, Renaldo, o Baiano que veio do Paraná e, claro, aqueles dois golaços de Tomazinho, os primeiros que vi e jamais esquecerei.