Coluna Preto no Branco: Mal o clássico terminou…

Por Max Pereira, do Portal Mais Galo, em Belo Horizonte

Mal o clássico terminou uma manchete me chamou a atenção: “O Atlético vence o clássico de virada e se consolida na liderança do campeonato mineiro”. Verdade. A fase inicial do campeonato mineiro se aproxima do fim e o Galo, na tabela de classificação, ocupa a posição que reflete seu atual protagonismo no esporte bretão no Estado e no próprio país, torna-se o primeiro clube matematicamente classificado para a etapa subsequente da competição, dono da melhor campanha e detentor dos melhores números do certame.

Mas, nem por isso a sua massa torcedora está inteiramente feliz com o rendimento da equipe em campo. E, ao mesmo tempo, o atleticano vem se açulando, ora positiva, ora negativamente, com o pipocar de notícias sobre os bastidores do clube.

Em um clima de beligerância, onde a violência está sendo banalizada, vulgarizada e normalizada e o pouco de humanidade que resta no planeta pulverizado, é natural que as cobranças sejam contaminadas pela emoção e pelo ranço e, por isso, pouco ou nenhum resultado prático podem produzir.

Há terra arrasada? Claro que não. Mas, como não perceber e não se incomodar com os desajustes táticos da equipe e, tampouco, com os desequilíbrios físicos, explicitados nos rendimentos muito abaixo das expectativas e do ideal de alguns jogadores como Godín, Nacho e Mariano? E como não enxergar que, mesmo sendo o ambiente intramuros da Cidade do Galo muito bom e elogiado pelos próprios atletas, alguns jogadores estão mostrando em campo algum desconforto emocional que está colocando em xeque o aspecto motivacional.

Assim, mesmo reconhecendo que Mohamed ainda está implantando a sua filosofia de trabalho, conhecendo o grupo, que estamos em início de temporada e que nenhum time se monta ou chega ao auge da noite para o dia, não há porque não se preocupar com estes fatos e não fazer críticas pontuais e construtivas.

Da mesma forma, me parece algo bastante óbvio e, até mesmo urgente, reconhecer a necessidade de o clube fornecer maiores esclarecimentos aos seus torcedores, conselheiros ou não, e buscar envolvê-los em debates amplos e profundos em relação ao futuro que está sendo projetado para o clube.

Mal o clássico terminou, confesso ter me flagrado feliz e preocupado ao mesmo tempo. Alegre e irritado, tudo junto e misturado. O Atlético venceu mais um clássico de virada e nos instantes finais da partida, o que marcou o jogo e a vitória alvinegra com aqueles ingredientes dramáticos, próprios da história desse confronto.

O Galo lutou até mesmo contra si próprio, mostrou mais uma vez aquelas já costumeiras capacidades de superação e vontade de vencer, que vêm sendo a marca do time atleticano nesses últimos tempos e derrotou o seu mais tradicional rival de forma epopeica, mas definitivamente não encantou ao seu torcedor.

Diego Tardelli que decidiu inúmeros clássicos para o Atlético, torcedor ilustre neste último confronto, declarou, ao deixar o Mineirão e, sem esconder a felicidade com a vitória atleticana, que o Galo honrou mais uma vez a sua tradição. Teve inúmeras dificuldades, mas, ao final, saiu vencedor, proclamou o eterno ídolo. E, como não poderia ser diferente, muitos atleticanos, mal o clássico terminou, ecoaram aqui e ali aquele velho e rançoso mantra: “se não for sofrido não é Atlético Mineiro”.

Mal o clássico terminou, críticas a arbitragem surgiram aqui e ali. Do lado derrotado o chororô tradicional de quem perde para o maior rival e, como ou sem razão, sempre busca fazer de quem foi o dono do apito o bode expiatório de suas misérias.

Mas, o que mais chamou a atenção foi o vozerio raivoso e orquestrado de quem, dentro e fora dessas Minas Gerais, se aproveitando da marcação de um pênalti a favor do Atlético, buscava potencializar uma campanha sórdida que vem sendo inflada contra o Galo mais famoso e mais amado do mundo, com o claro objetivo de pressionar os árbitros e deixá-los desconfortáveis e receosos de assinalar o que quer que seja a favor do alvinegro das Montanhas. Seguramente, o Atlético terá uma vida muito difícil nas próximas competições nacionais. Afinal, o supercampeão, aquele time que ganhou praticamente tudo o que disputou na temporada passada e no início desse ano, é o time a ser batido e não importam as armas.

Em sua entrevista coletiva, pontuada de vários problemas técnicos, El Turco, visivelmente desconfortável com algumas perguntas sobre a atuação de sua equipe e, embora tenha reconhecido que o time teve muitos problemas, foi apenas protocolar nas respostas ao ser questionado em relação aos desajustes táticos e as consequentes dificuldades de transição e de articulação.

Ao contrário do que Mohamed defendeu em uma de suas respostas, o fato de o Atlético, ao contrário do adversário, ter criado várias chances do gol e ter buscado a vitória até o fim, não significa o que o time tenha jogado bem.

Por isso mesmo, respostas protocolares como a do treinador atleticano, assim como as informações padronizadas que o Atlético vem distribuindo em relação aos passos que clube vai dando em direção à constituição de sua SAF e medidas afins, têm deixado insatisfeito um número cada vez maior de atleticanos.

E, esse velho torcedor, que já viveu, gargalhou e sofreu em inúmeros clássicos durante os seus mais de sessenta anos acompanhando o Atlético, ainda comemorando e festejando essa deliciosa e saborosa virada contra o time azul, mal o clássico terminou, já se preocupava em fazer um alerta: QUALQUER VITÓRIA SOBRE O MAIOR RIVAL, ASSIM COMO A CONQUISTA DE QUAQUER TÍTULO, POR MAIOR E MAIS EMBLEMATICO QUE SEJA, NÃO PODEM ESCONDER UM JOGO RUIM DO TIME E, TAMPOUCO, LEVAR O TORCEDOR A LEGITIMAR ACRITICAMENTE QUALQUER MEDIDA, AÇÃO OU DECISÃO DE SUES PRÓCERES.

Ah! E, mal o clássico terminou, muitos atleticanos já se perguntavam quem, em razão da contusão muscular de Mariano e da suspensão de Guga por causa do terceiro cartão amarelo, vai ocupar a lateral direita no próximo jogo? Coisas de atleticano.