Somente de grão em grão é que o Galo enche o papo…
Foto: Reprodução / Pedro Souza
Por Max Pereira @Pretono46871088 @MaxGuaramax2012
Para muitos atleticanos é irresistível não comparar o Atlético de 2013/2014 com o Atlético atual. E, claro, o Cuca daquela época, com o Cuca de hoje. Nas redes sociais, circulam as mais diversas e curiosas comparações. Há quem continua repercutindo a hasteg #ForaCuca se utilizando do subterfúgio da comparação para sacar que o time atual não vai a lugar algum graças ao CucaBol que, para estes, deixa claro que o treinador não evoluiu e continua insistindo em fórmulas ultrapassadas.
Há quem, elogiando ou não, aprovando ou não, o trabalho que vem sendo executado, que compare até a movimentação de Vargas com a função que Tardelli exercia. E é a partir destes exercícios de análise tática, consistentes ou não, que, neste ensaio, vou compartilhar o que o Atlético de hoje vem me passando e fazendo conjecturar.
Inicialmente, devo lembrar que contestei a contratação de Cuca e, no artigo “O PÉRIPLO DE CUCA: NO LUGAR ERRADO E NA HORA ERRADA”, publicado nessa coluna em 15 de abril passado, escrevi com todas as letras que entendia que a sua volta ao clube naquele momento era um erro que teria consequências dolorosas e irreparáveis.
O reinício de Cuca no Atlético foi, de fato, calamitoso e preocupante. E o que se via era uma sucessão de erros que resultavam dentro das quatro linhas em um antifutebol que se traduzia naquela recorrente e irritante ligação direta, o tradicional chutão, revivendo os velhos tempos do Cucabol, com algumas diferenças perversas e fatais, pois o time não dispunha de jogadores com as características que esse tipo de jogo exige, não havia tido tempo para treinar e adaptar os atletas a essa forma de jogar e, nem tampouco, respeito ao perfil do elenco atual.
Não sem razão, o Atlético e o elenco, em particular, viveram dias tensos. O prognóstico era o pior possível. Muita coisa aconteceu e muita água passou por debaixo da ponte. Um super-herói salvou o mundo atleticano em um roteiro de fazer inveja às melhores produções da Marvel e da Disney, treinador e jogadores se harmonizaram e Cuca, de forma absolutamente insuspeita para mim, confesso, deu a volta por cima, exorcizou seus demônios, enxergou e está sabendo utilizar com maestria o potencial e as características do material humano, técnico e tático que tem em mãos.
Ah! Mas o Atlético ainda erra passes em demasia como aconteceu, por exemplo, neste último jogo pelo Brasileirão diante do Fortaleza, tem dificuldades de transição, carece de ajustes táticos e algumas peças ainda oscilam de forma preocupante, como Nacho Fernández. Verdades verdadeiras, mas, como em todo processo, a evolução é demarcada por idas e vindas, avanços e recuos. Afinal, não é de grão em grão que o Galo enche o papo?
Se o Atlético vai ganhar todas as competições que está disputando no momento não ousaria cravar. O futebol sempre foi uma caixinha de surpresas e por isso, para mim e milhões e milhões de outros aficcionados mundo afora, o esporte mais fascinante e empolgante entre todos os praticados neste planeta.
Embora seja um candidato potencial ao cetro máximo destas três competições em disputa, muitos cuidados, dentro e fora das quatro linhas, devem estar na ordem do dia do clube e, conforme escrevi no artigo “A PARTIR DE AGORA É FOCO TOTAL E ERRO ZERO”, publicado em 25 de agosto deste ano, escrevi que, não obstante até agora o Galo ter sido capaz de sustentar estas campanhas, os títulos só virão se, a partir de agora, o clube adotar a postura do erro zero e do foco total e absoluto, vez que, no futebol dos dias atuais, ou no futebol moderno como queiram, não se ganha apenas dentro de campo. É imprescindível ganhar fora dele também.
Sem cair na armadilha das comparações afetivas entre o grupo e o elenco de 2013/2014 e os atuais, vou logo repetindo o que venho defendendo aqui e ali: naquele biênio memorável as condições objetivas, estruturais, empíricas e emocionais eram bem diferentes das atuais.
Ainda que o biênio 2013/2014, iluminado pelo magia do Bruxo, abençoado por São Victor e ungido pela energia do “Eu Acredito” tenha sido um período, até então, sem igual na história do clube, não tem como deixar de reconhecer que o futuro que está sendo desenhado para Glorioso, dentro e fora dos gramados, é extraordinário e sem par nestes 113 anos de glória e de absurdas efervescências deste gigante preto e branco que surgiu no já distante 1908, fruto do sonho de um grupo de garotos visionários.
Por isso, não tenho nenhum pejo em afirmar que o Galo vai disputar todos estes títulos para vencer de uma forma, creio eu, ímpar em sua história. E mais, independentemente de quantos títulos se somarem a já extensa galeria de conquistas do Glorioso, será apenas o início de uma nova era.
Mas, para chegar de vez a este patamar e, principalmente, nele permanecer solidamente, é preciso trabalho, organização e formatação de condições objetivas que deem lastro a estas metas. Já disse, escrevi e não canso de repetir que salta aos olhos até do mais incauto dos observadores que o Atlético de hoje está dando passos largos nessa direção.
Mas, assim como Cuca tem dado mostras inquestionáveis de que também tem evoluído e alargado os seus horizontes táticos, tendo montado, talvez, o time defensivamente mais consistente da história do clube, é preciso ainda ao Atlético mostrar, com efetividade, consistência no perverso jogo de bastidores, onde o Galo tem sido historicamente goleado.
Assim como tem sido muito difícil aos adversários marcar gols naquela que é uma das melhores defesas do Brasileirão na versão de pontos corridos, cabe ao Atlético, fora das quatro linhas, dar robustez à sua defesa no jogo político que, por muitas vezes, tem se mostrado indesejável e cruelmente decisivo à revelia dos interesses atleticanos.
Assim como o Atlético se transformou no mais indigesto visitante neste Brasileirão, o clube tem que ser, também, um adversário difícil de digerir no jogo dos bastidores e assim como o treinador campeão da Libertadores 2013 se permitiu enxergar e experimentar novas possibilidades táticas e sabe que mais ajustes são sempre necessários, é preciso que os próceres atleticanos inaugurem uma nova relação com os poderes do futebol brasileiro.
Assim, como os craques que calçam chuteiras têm mostrado qualidade, talento, jogo coletivo e vontade para fazer os gols que têm mantido o Atlético na liderança do Brasileirão e feito o time atleticano se aproximar cada vez mais das grandes finais da Copa do Brasil e da Libertadores, aqueles que vestem paletó e gravata devem usar de toda a sua inventividade e tirocínio para produzir e garantir, fora das quatro linhas, os resultados necessários.
Assim como Zaracho, um intruso na área cearense na hora certa e no lugar certo, antes de fazer o gol que começou a encaminhar a vitória diante do Fortaleza, deu um corta-luz maravilhoso para que a bola cruzada por Hulk chegasse até Vargas e esse lhe devolvesse magistralmente a gorduchinha e assim como Alonso no primeiro pau selou a vitória atleticana depois de receber uma assistência com açúcar e com afeto do cérebro portenho, é preciso que os homens que estão conduzindo os destinos atleticanos entendam a importância de jogar para vencer o jogo dos bastidores.
Nesse contexto, remeto o leitor ao artigo “O ATLÉTICO, A LIGA E O SISTEMA…”, publicado aqui no Preto no Branco, na quinta-feira passada, dia 9 de setembro, onde alertei ao comando alvinegro sobre a importância de refletir em relação à organização do esporte bretão nestas terras tupiniquins, ao resgate do respeito e à potencialização do cacife político do clube, elementos fundamentais à construção desse Atlético campeão e vencedor colimado pelos milhões e milhões de atleticanos espalhados pelo mundo.
Somente com trabalho, dentro e fora do campo, e com fortalecimento político do clube, o Galo, de grão em grão, encherá o papo e assumirá de uma vez por todas e para sempre o seu lugar de direito no esporte bretão no país e no mundo, i.e., aquele que a sua história, tradição e gigantismo natural sempre o vocacionaram. Devagar se vai ao longe, mas, sempre com segurança e cuidados. Dentro de campo, com tática, técnica, vontade e saúde física. Fora dele, com estratégia, argúcia, competência e força política.