Provocações, dúvidas e reflexões
Foto: Bruno Cantini
Correção: Ruth Martins
Por: Max Pereira
12/05/2020 – 11h
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Aprendi com o velho Abujamra o quão deliciosa, libertadora e iluminadora é a provocação e o quanto é provocadora a arte de duvidar.
Para quem não se lembra, Antônio Abujamra foi um dos maiores atores e diretores do teatro brasileiro. Abu, como era chamado pelos amigos e colegas, também era filósofo e apresentador.
Mestre na arte de provocar, o grande e saudoso mestre marcou profundamente meu aprendizado e me ensinou o divino exercício da dúvida.
Não existe melhor forma de aprendizado do que o exercício da dúvida. Ao duvidar, você se obriga a refletir, a checar novas possibilidades, a diversificar e a ampliar o seu conhecimento, a buscar novas informações e, principalmente, a buscar mais e mais o novo e a sair de sua zona de conforto.
Tem gente que só enxerga a árvore e não a floresta. E, mais do que enxergar a floresta, nela se embrenhar e conhecer os seus mistérios, além de fazer uma viagem lúdica, é conhecer a essência da própria vida.
Enquanto a bola não rola, entre reprises das reprises e buscando driblar as “notícias” e o tédio do isolamento, me vi imaginando o Atlético em campo, realizando sua primeira partida pós-pandemia.
O jogo começou e o que eu via era um filme já visto e rodado à exaustão: de um lado o Atlético, um time em crise, pressionado, proibido de errar e de perder, em formação e com problemas naturais de falta de ajuste e de entrosamento. O eterno pesadelo em preto e branco. De outro lado…
Uma notícia me fez voltar à triste realidade. Ilce Rocha, prefeita de Vespasiano, confirmava em entrevista à jornalista Isabelly Morais que o Atlético estava autorizado a voltar aos treinos na Cidade do Galo. “Com todas as medidas de segurança já traçadas com o documento que o Atlético nos encaminhou e nossas exigências dos decretos locais, eles vão retornar na semana que vem.”, declarou a prefeita.
Mas, como? O Brasil acaba de bater, mais uma vez, o recorde trágico de mortes por Covid-19. E mais: mortes por síndrome respiratória cresceram 278% em Minas durante pandemia.
Outra manchete também chamava a atenção: ‘Esse vírus ainda é um desconhecido’, diz presidente da Fiocruz.
Várias autoridades na área de epidemiologia e virologia, mais uma vez, alertavam: “O isolamento é a melhor medida que temos disponível para frear a disseminação da doença e esse isolamento mais rigoroso é o que pode evitar um longo período de falta de leitos, médicos e equipamentos. Como sabemos, os efeitos das atitudes que tomamos hoje serão sentidos em uma ou duas semanas, que é o tempo entre o contágio e a evolução do quadro da doença”.
E nunca é demais lembrar que os números oficiais evidenciam flagrante sub-notificação.
É verdade que o Atlético elencou uma série de normas que terá que seguir para retomar as atividades no CT. Confira:
– Avaliação na portaria com aferição de temperatura corporal;
– Preenchimento de questionário elaborado pela equipe médica;
– Testagem dos atletas, comissão técnica, departamento médico e funcionários que lidam diretamente com os atletas;
– Posto de vacinação contra Influenza;
– Treinamento em pequenos grupos;
– Biossegurança, higienização e utilização de máscaras para todos os indivíduos presentes no treinamento, exceto atletas que estiverem em treinamento físico.
Mas, se estamos diante de um vírus desconhecido, sem remédio para cura, sem vacina e, principalmente, sem informações suficientes e conclusivas, o protocolo alvinegro é realmente seguro é suficiente?
Seguro morreu de velho.
EXCLUSIVO! Gritaram as manchetes em letras garrafais. Seis jogadores do Atlético deverão estar ausentes na 2ª feira para realização de testes da Covid-19. Motivo: todos estão fora dos planos do técnico Sampaoli. São eles: Ricardo Oliveira, Franco Di Santo, Edinho, Zé Welison, Ramon Martínez e Lucas Hernández.
A notícia de uma lista de dispensa por decisão de Sampaoli contrasta radicalmente com outra informação que circulou menos de 24h antes, segundo a qual o treinador atleticano teria, em razão da pandemia e da crise decorrente, reconsiderado as saídas e daria chance aos preteridos.
Essa mudança de atitude do treinador, que agora parece não ter se confirmado, indicaria que, em razão da crise gerada pelo vírus, o projeto inicial de atender aos seus pedidos de contratação estaria, pelo menos temporariamente, suspenso. Êta samba do crioulo doido.
Esta lista de jogadores preteridos por Sampaoli é uma história muito mal contada. Em menos de 24h, notícias opostas sobre o aproveitamento desses atletas foram divulgadas por veículos diferentes da mídia convencional. A reação de Ricardo Oliveira demonstra que o Galo está conduzindo muito mal esse processo.
Uma lista inicial apontava que seis jogadores estavam fora dos planos de Sampaoli e não se reapresentariam na Cidade do Galo para se submeterem aos testes de Covid-19. De repente, surge também o nome de Clayton, reintegrado ao elenco há pouco tempo com a promessa de que seria observado e reavaliado. Em outra nota, Mansur e Lucas Cândido, que já treinavam em separado, também são incluídos na lista dos dispensados. Especulação? Fato?
A habilidade dos diretores do Atlético vai ser testada na rescisão desses contratos. Se falharem, e as rescisões forem onerosas para o clube, é sinal que a emenda saiu pior que o soneto.
A surpresa de Ricardo Oliveira com a sua “dispensa” sinaliza problemas sérios para o clube. O atacante disse em entrevista ao jornalista Ademir Quintino que foi surpreendido com a notícia. Mas, segundo alguns veículos, ele não teria ficado sabendo da dispensa pela imprensa. Segundo estas mesmas fontes, todos os atletas que estão fora dos planos de Sampaoli teriam sido avisados pela diretoria do Galo.
No entanto, em momento algum, o atacante deu a entender que fora avisado pelo clube. E o tom de sua fala revela, além da surpresa, muita insatisfação. Além disso, ficou claro que o contrato do jogador ainda está em vigor, que ele pretende cumpri-lo até o final e que, portanto, há uma negociação que precisa ser conduzida pelo clube com bastante cuidado. Erro claro do Atlético na forma que essas dispensas foram noticiadas e no modo como esses atletas estão sendo tratados.
Redução de folha e de gastos ou prejuízo e problemas à vista? O Atlético se silencia e ninguém sabe ao certo os termos das rescisões “anunciadas”. Descartados é uma forma chula e agressiva de se referir a esses atletas e o clube pode pagar caro por isso. Coisas do Atlético.
O Fortaleza teria interesse em Edinho e, ao que tudo indica, deverá fazer uma proposta por empréstimo para contar com o jogador. E o Atlético pediria que o clube cearense arcasse com, no mínimo, 70% dos salários ou desse outra contrapartida para viabilizar a negociação. Pelo menos, é o que reza a lenda.
Outro jogador que teria sido analisado pela diretoria do Leão foi José Welison, mas o nome teria sido imediatamente recusado por Rogério Ceni. Teria, teria, pediria, deveria, teria…
O fato certo é que só existem especulações e nada de concreto. A situação de todos eles permanece indefinida, com seus valores de mercado caindo dia após dia.
Um solitário torcedor atleticano, solidário com os “renegados”, postou a seguinte mensagem no Twitter:
“Nível de compaixão alto c/ os “dispensados” do Galo.
Ninguém lembra q são seres humanos não?
O @Atletico aí não foi profissional e não se preocupou c/ pessoas e famílias.
Eu,no lugar deles,desta forma,cobrava até o ÚLTIMO CENTAVO de multa pq tem e muita nessa decisão!
JUVENIS!”
Tento voltar aos meus devaneios e me refugiar nas lembranças de um passado mais tranquilo e sou, novamente, sacudido por outras notícias pandêmicas:
1) Jogadores de outros clubes brasileiros e do exterior, inclusive de gigantes do futebol europeu, já foram testados e deram positivo para o vírus. No Brasil, jogadores de ponta do Flamengo e do Grêmio estão entre os contaminados. No Urubu, um membro da comissão técnica também contraiu o vírus. Muitos deles, assintomáticos.
O Flamengo blindou e preservou os nomes de seus jogadores e funcionários que contraíram o vírus, inibindo, inclusive, qualquer especulação quanto ao como e quando se deu o contágio. Por que só aqui no Atlético os nossos jogadores ficam expostos e são massacrados, inclusive pelo fogo amigo?
2) Presidente de gigante brasileiro afirma: “Se futebol não voltar até o fim do ano, o clube não sobreviverá!” Gente, esse gigante se chama Grêmio e é chamado de imortal.
3) Atlético-MG definiu a contrapartida para quitar o crédito contraído com a família Menin e Ricardo Guimarães para pagar a compra de Maicosuel:
* O empréstimo de cerca de R$ 4,4 milhões será pago com juros aos credores.
* Não haverá cessão de direitos econômicos de jogadores no negócio.
* As partes não confirmam, mas o valor será quitado como empréstimo direto.
* Há uma cláusula de confidencialidade que impede a divulgação dos termos discutidos em contrato.
E mais: o clube confia na possibilidade de renegociação tranquila e parcimoniosa com os credores, se necessário.
Ih! Que s… ! Sempre as tais cláusulas de confidencialidade. Muitos, eu inclusive, sempre criticaram o clube pela falta de transparência, característica cármica de um dos clubes mais fechados do Brasil.
Mas, se as irritantes cláusulas de confidencialidade têm amparo legal no ordenamento jurídico vigente, como ser transparente e, ao mesmo tempo, se ver obrigado a ocultar detalhes dos contratos de sua massa torcedora?
A resposta pode ser mais simples do que a vã filosofia do torcedor possa imaginar. A profissionalização do clube com a criação de fóruns onde conselheiros e sócios torcedores, aqueles que injetam dinheiro na instituição, possam participar, interagir e até decidir, de forma regrada e definida em normas claras e transparentes, pode ser o primeiro passo para a solução desse impasse.
Menos mal que um dos parceiros confirmou que nenhuma cessão de direitos econômicos de jogadores é pré-condição para a efetivação do empréstimo para o Atlético. Que os deuses do futebol divagam (divagam ou digam?) amém.
4) Zé Welison e Mansur aparecem em campo em pelada com amigos. Ambos não fazem parte dos planos de Sampaoli. Por isso, diferentemente de Cazares e Otero, os dois não serão testados para a Covid-19 pelo Galo, teria informado o próprio Atlético.
Não era o caso do clube testá-los também, vez que, além de ainda serem jogadores do clube, não seria estúpido, além de indecoroso, correr o risco de colocar jogadores contaminados no mercado? Seria o mesmo que um comerciante colocar mercadorias podres ou vencidas em sua prateleira.
Tudo teria sido mais simples e melhor para todas as partes envolvidas, se o processo de dispensas desses atletas estivesse ocorrendo de forma profissional e respeitosa, sem essa especulação constrangedora.
Isso me fez lembrar que o Atlético teria tido cerca de 90 treinadores nos últimos 30 anos. Uma média de três treinadores por ano, o que é um absurdo e, seguramente, um dos maiores problemas do clube. Essa estúpida rotatividade, além de evidenciar uma crônica falta de planejamento, fez com que o Atlético pagasse milhões a jogadores e comissões técnicas que ficam apenas meses, são trocados de forma irracional, rescindem contratos e viram dívidas milionárias.
Entram e saem do clube sem nunca conseguirem entregar nada de interessante. Em meses, nova demissão e o ciclo vicioso se repete.
A atual gestão do Atlético, por exemplo, já gastou mais de R$ 20 milhões com esses atletas que, agora, não estariam nos planos de Sampaoli. E deverá gastar muito mais. É o tal barato que sai caro.
5) Ora batendo nos cravos, ora na ferradura, o Atlético deu uma dentro e o grande atleticano Betinho Marques, companheiro do Fala Galo, resumiu com maestria:
“Num momento de ostracismo e reflexões, marcou um GALAÇO ao permitir uma válvula de escape criativa aos ‘artistas’ que desenharem o novo manto. Nota máxima para esta interação com seu povo. Este é o CARINHO que faz PULSAR! Isto é alimentar o PERTENCIMENTO.”
Sei que já devo ter desagradado algum leitor. No Brasil de hoje é proibido pensar diferente. E, muitas vezes, nem lhe é dado o direito de se explicar.
Curioso: chegamos a tal ponto que, às vezes, é preciso até explicar porque se defende a vida e, pior, ainda assim isso nem sempre é possível.
Respeitar a vida humana é condição sine qua non de humanismo. Quem relativizar a vida humana de qualquer semelhante deixa em cheque a sua própria humanidade. E, nesse mundo virado de ponta cabeça, você ainda tem que explicar e justificar isso.
Pertencimento, palavra chave nesses dias de isolamento e de desesperança e sofrimento para tantos quantos, ou têm alguém doente, ou tenham perdido algum ente querido.
E não é que o compartilhamento das “criações” de uma nova camisa para o Galo tem provocado um interminável disse me disse, por vezes virulento, outras vezes disparatado. É que alguns “estilistas” de plantão estão tendo o desplante, segundo alguns galistas conservadores, de introduzir outras cores que não o tradicional preto e branco. Até mesmo o vermelho, cor da crista do Galo, foi amaldiçoado.
E o que eu acho? Sou preto e branco na alma, no coração e no sangue. Sou preto no branco. Mas, um espaço para o desenho de uma crista bem vermelha viria bem a calhar.
Aliás, já respondi isso no artigo “REMINISCÊNCIAS EM PRETO E BRANCO. HISTÓRIAS, FATOS, MITOS, LENDAS, CAUSOS, CURIOSIDADES E MUITAS SAUDADES”.
Quem foi mesmo que disse que o atleticano precisa ser estudado? Afinal, ele, além de ter derrotado o vento, já fez e faz coisas que até Deus duvida.
E se você ainda duvida disso, leia o artigo “MARCAS DE UMA PAIXÃO EM PRETO E BRANCO. HISTÓRIAS OU ESTÓRIAS? QUEM SABE?” Nele você vai ler coisas do arco da velha. Coisas de atleticano.
Provocando e duvidando.
É assim que vou debulhando esse rol de matérias sobre o Atlético que, ora de forma sutil, ora de forma escancarada e, quase sempre, evidenciando coisa arranjada e uma intenção inconfessável, vão explorando a delicada situação financeira do clube, os muitos erros e os poucos acertos da diretoria.
Provocando e duvidando.
É assim que vejo as redes sociais atleticanas que, usando ou não as mesmas palavras, vão replicando essas notícias, na maioria das vezes de forma irreflexiva e, claro, sem fazer uma análise acurada e responsável como o tema requer.
O Atlético tem um compromisso com as vitórias, com os títulos, com a alegria e com a felicidade de sua extraordinária torcida. Quem disse que o Atlético não precisa de títulos? Quem disse que só o rival tem este direito?
E é em razão desse compromisso, que deve ser sonho de todo atleticano, é que eu provoco, lanço as minhas dúvidas e convido você, de quarenta, eu espero, ou não, a refletir.