Preto no Branco: caminhando contra o vento

Por Max Pereira @Pretono46871088 @MaxGuaramax2012

A primeira estrofe e o refrão da letra da premiadíssima composição de Caetano Veloso “Alegria, Alegria” parecem ter sido escritos para definir em verso e música o momento atual do Atlético. Seria uma premonição do talentosíssimo e genial músico baiano?

Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou

Por que não, por que não?
Por que não, por que não?
Por que não, por que não?

Enquanto o Atlético busca construir o sonho maior e mais do que esperado pela sua apaixonada torcida, o futebol brasileiro vai escrevendo uma de suas páginas mais surreais e, ao mesmo tempo, mais autoexplicativas de sua história. Entre decisões bizarras e outras curiosas e surpreendentemente acertadas da arbitragem de campo e do VAR, umas e outras sempre acompanhadas de reações extremadas, desesperadas e, quase sempre, patéticas, daqueles que ora se julgam prejudicados, ora fingem não perceber que foram clara e ostensivamente beneficiados por resoluções, mais que equivocadas, condenáveis e injustificadas, seja de quem tem o apito, seja de quem tem a obrigação de revisar o que foi incorretamente assinalado, o Atlético sabe que só resta a ele, jogo a jogo, desenhar o seu próprio caminho.

A cada episódio dantesco que coloca não só a arbitragem nacional em cheque, como o próprio futebol brasileiro, cujo comando há algum tempo se mostra claramente perdido em uma crise que parece sem solução, fica claro que o esporte mais popular do país e do mundo carece de uma profunda reformulação em sua gestão e em sua organização. Cada vez mais fica induvidoso que os pilares nos quais o sistema futebol brasileiro está fincado estão ruindo. E os novos tempos já estão a exigir novos métodos e concepções.

Aliás, é exatamente por estar antenado com o que está a acontecer no planeta bola é o que o Atlético está a passar por esta revolução em sua estrutura de governança e a sinalizar que o gigante que já despertou e que as correlações de força no futebol brasileiro nunca mais serão os mesmos. É aí que a vaca tosse e o bicho torce o rabo. Não à toa, o caminho do Atlético ser constantemente sacudido por tempestades e até tsunamis.

Mas, o que é isto para quem cunhou a sua paixão derrotando o vento? E o que são estas pedras jogadas no caminho do Glorioso para quem cuja paixão foi moldada na resiliência, no estoicismo, no acreditar e na capacidade de estar sempre e incondicionalmente ao lado do time do seu coração contra tudo e contra todos.

Assim, como aquele galo carijó que nunca fugia das antigas rinhas de Belo Horizonte e derrotava todo e qualquer adversário que o desafiasse, o Galo forte Vingador, um ente que é uma mistura de clube, time e torcida, está, não só a reescrever a sua própria história, como a mudar de vez e para sempre o esporte bretão nessas terras tupiniquins.

Uma frase já está ficando muito batida, mas retrata fielmente o espírito do atleticano nesse ano da graça de 2021 e, mais precisamente, nesta reta final de temporada: Galo escaldado tem medo de água fria. E, o adversário da vez foi, curiosamente, um furacão. E pior, o confronto se deu nas terras inóspitas do adversário em um terreno artificial, escorregadio e traiçoeiro.

E era exatamente o gramado artificial da Arena da Baixada, para muitos galistas, o maior adversário que o Atlético encontraria em Curitiba. Não se apercebiam estes que o maior adversário do Atlético, sem nunca desprezar e deixar de respeitar o Xará paranaense, é, era, sempre foi e o será ainda por tempo indeterminado, uma junção entre a conjuntura e o momento atuais, absolutamente hostis e perversos ao Galo, em razão do significado, não só da conquista do título pelo Glorioso depois de quase 50 anos de jejum, como e, principalmente, pelo agigantamento irrefreável do alvinegro das Gerais e os inevitáveis efeitos desse processo no futebol brasileiro.

Mas, como não podia e, muito menos, não devia ser diferente, o Galo sabe que o caminho das pedras lhe impõe construir o sonho jogo a jogo, para, por fim, fazer com que a sua torcida solte aquele grito represado em sua garganta. E, contra o Furacão o que se viu em campo foi, guardas as particularidades intrínsecas de cada partida, um repeteco daquele jogo tenso, pegado, nervoso, marcado e, até certo ponto, violento que o Atlético tem enfrentado na maioria das vezes.

Mesmo jogando com um time reserva para preservar os titulares para a grande final da Sul-americana contra o Bragantino, o Athletico Paranaense vendeu caro a derrota. E contou com a passividade do péssimo arbitro para, quando quis, praticar o antijogo, com faltas, algumas com violência reprovável, como os pisões de Zé Ivaldo que sequer foi advertido. Ou o que falar do atleta do Furacão que após fazer falta grosseira em Allan, agrediu e jogou Jair no solo e, também, não mereceu qualquer admoestação do arbitro e nem revisão do VAR?

O Galo, por sua vez, foi driblando todas as dificuldades impostas pelo adversário e, também, o desgaste físico, emocional e mental que os seus jogadores não conseguem mais esconder. Fiel à forma de jogar que vem adotando nesta temporada, o time atleticano soube controlar o jogo sem se expor e sem correr riscos importantes. Soube ainda evitar maiores desgastes. E, para isso, fez a bola girar com muita competência, não obstante, em razão do placar minguado, o jogo ter permanecido aberto até o final.

Mais uma pedra foi removida do caminho e mais próximo do título o Atlético ficou, o que significa que o trabalho está sendo bem feito, que nada ainda está ganho e que não existe outro meio para transformar o sonho em realidade, se não for construir o título jogo a jogo. O próximo jogo contra o Juventude passa ser o mais importante e o mais difícil. E por isso, parafraseando o que Caetano compôs e cantou, o meu coração está gritando:

Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir VENCENDO, amor
Eu vou
Por que não, por que não?
Por que não, por que não?
Por que não, por que não?