“Habemus” técnico! Mas, que time o Atlético terá?
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Por Max Pereira / @pretono46871088 @MaxGuaramax2012
A volta de Cuca está cercada de varias expectativas. Para muitos Cuca fará renascer o Galo Doido. Para outros será o rompimento definitivo com aquele Atlético que assombrou o Brasil e o mundo no inicio da passagem de Sampaoli pelo alvinegro das Gerais. “É a volta do Cucabol!”, comemoram alguns e temem outros.
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Não, não pretendo ficar em cima do muro. Mas, antes de ousar fazer qualquer prognóstico sobre o que será a nova era Cuca no Galo, tenho que falar desse time alternativo que está disputando o campeonato mineiro desta temporada.
Mesmo antes da definição e do anuncio oficial da volta do técnico campeão da Libertadores 2013, a equipe alternativa do Atlético, sob o comando do interino Lucas Gonçalves, auxiliado por Eder Aleixo, sem deixar de lado a preocupação de manter a posse de bola e fazer o jogo propositivo, com marcação alta e buscando o gol a todo o momento, vinha mostrando um futebol leve, de muita movimentação, mais fluido e vertical em relação àquele que vinha sendo executado nos últimos jogos da equipe principal sob a batuta de Sampaoli.
Assim, não é exagero afirmar que, livre das amarras táticas do treinador argentino e jogando em um nível de pressão e exigência bem menor, não é de se estranhar ver um time leve, solto, ousando mais o passe longo sem perder a qualidade. E quando falo em nível de pressão e de exigência menor não quero me referir apenas à baixa qualidade dos adversários no certame mineiro, mas, também, e principalmente, a influência que uma troca de comando pode ter sobre um grupo de jogadores.
Além desse futebol gostoso de ver jogar, algumas boas surpresas também estão aquecendo o coração atleticano. O renascimento de Tardelli para a alegria daqueles que veem o futebol pelo lado afetivo e a estreia do “incrível” Hulk, com direito a uma assistência primorosa exatamente para DT9 marcar e um chega prá lá no adversário que não deixou nada a dever para os efeitos especiais que molduram os feitos do herói verde na telona, por si só já bastariam para fazer o galista mais exigente e cético acreditar que o futuro dos sonhos pode mesmo estar mais perto do que a sua vã filosofia poderia imaginar.
O desabrochar de Zaracho, o maestro insuspeito, o despontar de Calebe, Júlio Cesar, Felipe, Echaporã, Rubens e Mateus Lima, a afirmação de Marrony e de Savinho, a evolução de Dodô e a personalidade de Mariano que, a par das criticas e da desconfiança em torno de seu futebol, mostra que pode sim ser útil ao time e ao Atlético, são outros dividendos de valor incalculável que o Atlético obtém deste experimento no campeonato mineiro. E é este Atlético, rico em opções, que está sendo entregue a Cuca e, não tão somente, aquele Atlético traumatizado e robotizado legado por Sampaoli por razões mais do que já dissecadas aqui e ali.
Coincidentemente e, isso pode ser um trunfo a favor do treinador e do clube, Cuca já substituiu Sampaoli no Peixe. Ou seja, ele não terá dificuldades para identificar o que precisa ser mantido e o que precisa ser ajustado, melhorado, modificado. E mais: vai pegar um trabalho já iniciado por Lucas Gonçalves com essa equipe alternativa, onde já se vê essa preocupação demarcada no futebol que está sendo jogado.
Ainda que Dylan Borrero não tenha desabrochado e jogado todo aquele futebol que ele costuma mostrar nas seleções de base da Colômbia, o tripé de meio de campo deste time com ele, Zaracho e Calebe, tem sido um bom aperitivo para quem deseja ver um setor de criação dinâmico, fluido, que marca e que constrói, que recompõe e que se infiltra, que se movimenta e que verticaliza o jogo, que alterna com qualidade os passes curtos e os lançamentos longos, que quebra as linhas adversárias e que aparece para finalizar.
O jogo posicional de Sampaoli aos poucos passa a ser apenas referência de um ponto de partida. O trio ofensivo, por exemplo, e independentemente de sua formação, vem mostrando exatamente isso. Aliás, dadas as características dos jogadores que vêm sendo utilizados no ataque atleticano seria uma violência para com eles e um tiro no pé para o time se eles tivessem jogado de modo diferente. Tardelli cresceu e mostrou que ainda pode ser muito útil, exatamente porque jogou dentro de sua zona de conforto explorando o que melhor ele sabe fazer: movimentar-se, cair para um lado, cair para o outro, voltar e buscar a bola, infiltrar.
Aqui é preciso dizer que o jogo de Tardelli apareceu e luziu mais ainda porque os seus companheiros de time também tiveram liberdade para se movimentar, triangularem e alternarem posições, o que facilitou ao time romper as linhas do adversário. Os gols contra o Uberlândia, por exemplo, saíram em consequência disso. Depois de um primeiro tempo ainda relativamente moroso e amarrado, o time se soltou na etapa complementar e deu no que deu.
Isso não significa que o trabalho de Cuca já deu certo e que o Atlético tem aquela famosa e perniciosa obrigação de ganhar todos os jogos e competições que disputar. Não, nem uma coisa e nem outra. Futebol não é ciência exata. Vencer, perder ou empatar faz parte do jogo. O Atlético tem sim, a obrigação de jogar sempre para vencer, para buscar a vitória, em todos os seus jogos, dentro e fora de casa, independentemente da competição e do adversário. Os gols e o resultado positivo serão consequência da postura adotada. Se vai vencer ou não, são outros quinhentos. Mas, se não tiver atitude raramente vencerá.
“Habemus” técnico e é Cuca. Mas, que time o Atlético terá dentro de algum tempo, nem o próprio treinador saberá responder. Primeiro, porque não se forma e nem se ajusta um time de futebol de um dia para o outro. Segundo, porque, ainda que um time treinado por Sampaoli não seja novidade para o novo treinador do Galo, cada grupo e cada atleta tem o seu “timing” próprio para assimilar mudanças e se adaptar a uma nova realidade.
Terceiro, porque Cuca vai promover ajustes na equipe, seja porque alguns deles são necessários, seja porque outros também são precisos para que o time jogue da maneira que ele quer. Será assim com Cuca, seria assim com qualquer outro treinador.
Um desafio interessante para Cuca e seria também para qualquer outro técnico serve para mostrar a multiplicidade de caminhos táticos que podem ser desenhados e desenvolvidos a partir de agora: como atuarão os nossos laterais? Guga e Arana manterão os posicionamentos e as funções táticas que executavam com Sampaoli e que os levaram a serem destaques do Atlético no Brasileirão? Ou passarão a jogar como Mariano e Dodô têm jogado no time alternativo?
É inegável a evolução de Guga com Sampaoli e não foi atoa que Arana foi eleito, aqui e ali, o melhor lateral esquerdo do Brasileirão. E tudo isso tem indubitavelmente o dedo de Sampaoli. Ao contrario do que muitos andam dizendo por ai, Cuca é sim um técnico ofensivo. E também já mostrou saber utilizar as peças buriladas por Sampaoli e extrair o melhor delas. Marinho que foi destaque e principal arma do Santos de Cuca não cansa de repetir que aprendeu a jogar futebol com Sampaoli.
Dentro de campo os maiores desafios de Cuca serão táticos e passarão, além de definição ou redefinição de funções e posicionamentos, também e, por exemplo, por resolver um dilema do qual Sampaoli passou batido: como conjugar o futebol impositivo, propositivo, com o mínimo de velocidade necessária para romper retrancas e linhas dos adversários? Contra o Uberlândia o Atlético até que deu uma palhinha do que é preciso fazer. O desafio é tornar isso perene.
Aliás, o Atlético não deixou o time do triângulo respirar durante os 90 minutos. Mas, isso evidenciou déficits físicos no time que precisam ser trabalhados. É absolutamente normal que os garotos egressos da base e do time de transição sentissem o ritmo e a intensidade do jogo do próprio time. E, além deles, a falta de ritmo de jogo de Mariano, Dodô e Hulk também se fizeram notar.
Isso nos faz lembrar que um dos principais problemas de Sampaoli foi o desequilíbrio físico do grupo que tinha à sua disposição. Jogadores saíram e jogadores chegaram com condicionamentos físicos diferentes, dificuldades individualizadas e naturais de adaptação. E, como se não bastasse tudo isso, um surto de Covid devastou o elenco.
Nesse sentido, a situação de Cuca é bem mais confortável. Jogadores continuam vindo e outros podem sair. Mas, ele terá a seu dispor um elenco mais encorpado, diversificado e rico tanto em quantidade, como em qualidade. Para um clube que pretende disputar em alto rendimento e com expectativa de titulo todas as competições que tem pela frente, não deixa de ser um ponto altamente positivo.
Fala-se muito na necessidade de mais um ou dois zagueiros, de um volante pegador e que também saiba sair jogando, de mais um lateral direito, mais um atacante velocista, mais sei lá o quê. Mas não se fala em paz para que o trabalho, com ou sem estes reforços, surta o resultado esperado.
Se dentro das quatro linhas é isso que espera o treinador e se espera dele, fora delas os desafios não são menores, mesmo porque o sucesso no campo de jogo prescinde, e como prescinde, da qualidade da gestão do futebol e dos cuidados com o extracampo. Ou seja, para se ganhar um campeonato é preciso também, além de garantir estrutura e logística, vencer o jogo das relações interpessoais intramuros e o dos bastidores fora do clube.
Quer saber que time o Atlético montará e com ele carregará os seus sonhos? Eu também. Por enquanto, só sei que o caminho é longo, cheio de armadilhas e que, se o Atlético puder contar com a vigilância e o apoio crítico de seu torcedor, melhor desempenhará a sua missão.