Fisiologia e casuísmo, o coronavírus do futebol!

IMAGEM: REPRODUÇÃO/WHATSAPP

Por: Max Pereira / Revisado: Malu Precioso
24/03/2020 – 06h13
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Independentemente do que acontecer, daqui pra frente o Brasil e o mundo nunca mais serão os mesmos. E o futebol também. Quem sobreviver, verá!

O planeta inteiro está se contorcendo e vendo os seus mais arraigados valores colocados em xeque por uma pandemia sem precedentes no mundo moderno e globalizado.

Nem os países do chamado primeiro mundo estão passando incólumes. Ao contrário, vêem, como a Itália e outros, os seus sistemas de saúde falirem, ao mesmo tempo em que contabilizam um número assustador de infectados e de mortos.

Alguns nem sistema de saúde pública possuem e estão se vendo obrigados a reformular suas concepções quanto a isso.

No Brasil, não obstante a pandemia ainda não ter chegado ao pico por aqui, o que deverá ocorrer a partir das próximas semanas não é e nem será diferente.

Apesar de termos o SUS, único e revolucionário sistema de saúde pública universal do planeta, não podemos nos permitir relaxar e nem brincar com este vírus e, muito menos, desprezar os efeitos maléficos da praga.

Não se pode desconsiderar o fato do Brasil, antes mesmo do vírus surgir, já ser uma economia cambaleante, onde suas estruturas carcomidas já não conseguiam suprir as demandas da sociedade.

E o SUS, já comprometido e maltratado ao longo dos tempos por políticas públicas equivocadas, obviamente já se vê impotente diante do maior desafio de sua história.

Nesse cenário, é de se esperar que, além de um número alarmante de infectados e de mortos, dentro de algum tempo vá ocorrer um número faraônico de falências, insolvências, desempregos e uma queda brutal da qualidade de vida de uma parcela significativa da população. Ou seja, o que já era preocupante, vai se tornar desesperador.

Ainda que a China miraculosamente já dê indícios de recuperação econômica auspiciosa, o caos econômico é mundial e de tal monta que, não só já balança a gigante economia norte americana como também vai requerer um tempo ainda bastante longo para que a crise seja inteiramente superada e os seus reflexos já não sejam mais sentidos em qualquer rincão do planeta.

E a violência pode explodir e chegar a níveis insuportáveis. É preciso que as pessoas, independentemente de status social, cor da pele, sexo, nível cultural, orientação sexual, religião, ideologia, etnia, origem e idade, se conscientizem da gravidade do momento e entendam que estamos todos no mesmo Titanic e que, se o transatlântico da humanidade afundar, estaremos todos, SEM EXCEÇÃO, mortos.

O que eu estou querendo dizer é que essa pandemia já força a todos a pensarem de forma coletiva, solidária e comunitária, embora ainda subsistam muitos que irresponsavelmente continuam desprezando o que está acontecendo, pensando e agindo exclusivamente em torno do seu umbigo.

Parece surreal, mas vê-se, aqui e ali, um “esperto” preso porque estava vendendo álcool gel falsificado, outros sendo detidos por estarem aplicando o tal golpe do Corona Vírus. Muitos não só desprezam o perigo, mas também estimulam outros mais a fazerem o mesmo.

Claro, isso é reflexo desses tempos modernos onde a insensibilidade é predicado. A dor, o sofrimento e a morte, farão muitos repensarem suas vidas, seus valores e conceitos. Mas, até lá…

É assim no país, é assim no futebol, é assim no seu clube de coração.

Em um país com crescimento econômico zero ou bem próximo disso, se não for negativo, com quedas de receita e faturamento irrecuperáveis a curto e médio prazos, não precisa ser paranormal para antever que todos os clubes brasileiros, SEM EXCEÇÃO, já estão com os seus orçamentos de 2020 irremediavelmente comprometidos e os de 2021 terrivelmente afetados.

Quedas expressivas de receitas tradicionais como cotas de transmissão televisiva, patrocínios, sócio torcedor e bilheteria zero, são os fantasmas que passam a assombrar os clubes brasileiros. Isso sem falar na perda de receita das vendas de produtos licenciados e no risco de que o agravamento da saúde financeira dos clubes os forcem a fazer maus negócios, se desfazendo de seus principais jogadores por valores que, em condições normais, jamais praticariam.

Não precisa ser nenhum gênio para vaticinar que muitos clubes pequenos e médios se inviabilizarão e deixarão de existir. Antes mesmo da crise se instalar, esse fenômeno já merecia atenção e cuidados. Sobre isso, fiz referência em meu último artigo publicado nessa coluna, “PROTAGONISTA OU COADJUVANTE? SER OU NÃO SER CAMPEÃO E VENCEDOR. EIS A QUESTÃO!

Também não é preciso ser vidente para perceber que nem os chamados clubes grandes estão a salvo de um debacle significativo, cuja reversão demandaria talvez décadas.

Recomendo acessar o Canal do Nicola (acesse aqui) onde o jornalista Jorge Nicola tece, com maestria, considerações sobre os reflexos maléficos do COVID-19 sobre a já crônica e extremamente combalida saúde financeira da maioria absoluta dos clubes brasileiros, o Atlético entre eles.

Ainda sobre os reflexos da pandemia no futebol é obrigatório ler o artigo “Os impactos do COVID-19 no futebol” de autoria do Prof. Denílson Rocha, publicado aqui no Fala Galo.

Nesse ensaio, o Prof. Denílson, de forma didática e clara, mostra que, em meio a essa crise de proporções ainda incalculáveis, as receitas gradualmente sofrerão impactos negativos, enquanto vários custos seguirão caminho inverso, tornando muitos clubes inviáveis, ainda que algumas despesas forçosamente até deixem de existir como alerta o nobre articulista:

“É importante ressaltar que diversos custos são reduzidos: manutenção do CT, transporte, alimentação, hospedagem, custos operacionais dos jogos (bilheteria, estrutura dos estádios, segurança…),” Mas, essa redução é absolutamente insignificante se considerarmos os salários dos atletas e outras despesas decorrentes de encargos, juros, dívidas, etc…

Denílson ainda nos faz um alerta que merece muita reflexão e atenção, inclusive de nossas autoridades: “O momento requer atenção a situações muito mais relevantes. A previsão inicial é de que quase 25 milhões de pessoas, mundo afora, perderão o emprego durante o período da pandemia. E milhares já perderam a vida em função do vírus, que ainda levará outras milhares de vidas”.

E, conforme já observamos acima, as agruras na saúde pública e o caos econômico estão longe de serem resolvidos nestas terras tupiniquins. Nesse cenário de futuro absolutamente incerto, o futebol será duramente afetado.

Com o Atlético não é e nem pode ser diferente.

A crise econômica que já deteriorava o país tende a se agudizar cada vez mais e, óbvio, as sucessivas altas do dólar e do euro recomendam não apenas prudência, como até mesmo a refluir e a repensar negócios atrelados a estas moedas e a quaisquer outras. Quanto maior é a desvalorização do real, maior dispêndio da moeda brasileira para a realização de um negócio vinculado a qualquer moeda estrangeira.

Assim, mais que pueril, seria uma rematada sandice exigir da diretoria do Atlético que, nesse momento, buscasse efetivar contratações como a de Roger Guedes. O caixa do clube, já combalido por dívidas acumuladas ao longo dos anos graças a uma sucessão de gestões desastrosas, não permite tais aventuras. E duvido, também, que os parceiros estejam dispostos a bancar tais negócios.

Mais do que nunca é preciso que o atleticano se mantenha vigilante e disposto a participar de forma responsável e proativa da vida do clube.

Se antes dessa crise epidêmica muitos já defendiam a cessão de ativos do clube, como os 50,1% restantes do Shopping e até o tradicional edifício da sede de Lourdes, para quitar as dívidas que já tinham chegado a patamares mais do que preocupantes, agora mais do que nunca é necessário cuidar para que o Atlético seja submetido a uma engenharia financeira inteligente e responsável e conduzido de forma profissional, diligente, segura e transparente, segundo conceitos e métodos modernos de governança e Compliance, o que tornaria o Glorioso imune a soluções que respaldem apenas interesses alienígenas.

Ou seja, se o momento é delicado e o mar não está para peixe, também é verdade que não deixa de estar propício para jogadas casuísticas, fisiológicas e golpes vários em todos os setores da vida, inclusive e, por óbvio, no futebol.

Talvez em algum momento o clube perceba que é necessário cortar na própria carne, mas que isso seja feito com o máximo de cuidados e estudos possíveis. Nada que seja no interesse de terceiros. Nada ao sabor de interesses casuísticos.

E olhando mais uma vez para fora do Atlético e no interesse do clube, cabe mais um alerta:

É inevitável que o futebol sofra mudanças que, talvez, mudem a sua fisionomia daqui para frente. Até mesmo porque será necessário tomar medidas de ordem coletiva e emergencial para garantir a sustentabilidade das agremiações e do próprio negócio futebol, vez que não está descartada a hipótese de uma quebradeira sem precedentes no seio dos clubes brasileiros.

Mas que nada venha ao encontro de interesses heterodoxos, fisiológicos. Nada de viradas de mesa como nas entrelinhas já dizem, aqui e ali, que poderia acontecer visando salvar um determinado clube que até o ano passado era “Incaível”. Nada que venha beneficiar A em detrimento de B. Nada que tenha endereço certo. Nada que seja espúrio.

Nada que venha “perdoar” ou “fazer esquecer” crimes e delitos cometidos, cometimento de infrações dolosas à legislação vigente, gestões intencionalmente temerárias e dívidas irresponsavelmente acumuladas para sustentar concorrência desleal. Nada disso deve ser esquecido e “perdoado”.

A fisiologia e o casuísmo são e sempre foram o Corona Vírus do Brasil e do futebol em particular. Para vencer essa pandemia mortal, é preciso, antes de mais nada, erradicar esses vírus morais que vem corroendo tudo e quase todos faz tempo.

Aprendi que há males que vêm para o bem. Sou otimista por natureza e acredito que algo de bom pode resultar de toda essa tragédia humanitária.

Assim como o mundo está aprendendo que tem repensar os seus sistemas de saúde pública e o trato com as questões sociais, no universo do esporte bretão, dirigentes, aficionados e demais agentes que compõem o chamado sistema futebol, irão aprender que os métodos e concepções de gestão também deverão ser reconfigurados de modo a perenizar a saúde financeira dos clubes, tornado-os sustentáveis e resistentes a futuras crises.

Mas o momento é de luta e a luta é de todos. Para começar, que fiquemos em nossas casas. Que todos entendamos que esse sacrifício é feito por todos. O isolamento social, além da assepsia, higiene pessoal e cuidado com os idosos e com a gente dos grupos de risco, é medida essencial no combate desta pandemia. Se eu me mantenho em casa e, isolado socialmente, eu estou protegendo não só a mim como a você também.

Se entendermos isso, não só venceremos o vírus, como mudaremos o mundo. E, claro, também o futebol, que é parte lúdica e apaixonante desse mundo pandêmico, alucinado e muito maltratado.