Entre o sonho e a realidade

Foto: Pedro Souza

 

Por Max Pereira

A regularidade é o pulo do gato em competições de tiro longo como o Brasilerão. Nada mais antigo e sabido no futebol. E, ainda que permita recuperações ao longo da caminhada, ao final da jornada quem errar e oscilar menos fatalmente chegará à frente de todos os concorrentes e beberá água limpa.

Mas, para que o sonho se transforme em realidade é preciso percorrer um caminho geralmente espinhoso que exige de quem realmente pretende disputar o título para valer trabalho, discernimento, expertise, tirocínio, conhecimento profundo do universo do futebol e percepção de que no esporte bretão o jogo dos bastidores é tão importante e decisivo quanto aquele disputado nas quatro linhas.

Depois de quase 50 anos de um jejum doloroso para a sua torcida e recortado por episódios de triste lembrança, nesse 2021 o Atlético vem se apresentando, senão como o mais forte candidato ao título, com a campanha mais autoritária e estruturada que o clube realizou neste meio século de frustrações. Mas, a conquista do tão sonhado título vai depender de como o Atlético irá se postar, agir e jogar daqui para frente.

Internamente, salta aos olhos até do mais incauto dos observadores a qualidade do trabalho que está sendo desenvolvido intramuros da Cidade do Galo. Ainda assim, é forçoso reconhecer que a construção de um time campeão, i.e., o cozimento de um caráter de campeão, perpassa também pela aprendizagem e amadurecimento do clube, desde os seus próceres até aqueles responsáveis pelo trabalho de campo.

Tenho defendido aqui e em outros espaços que este momento de final de temporada exige foco total e erro zero. E se erro zero é meta inatingível porquanto estamos falando de seres humanos falíveis, paradoxalmente é objetivo a ser perseguido incansavelmente.

Nenhum processo de maturação de um caráter de campeão é retilíneo. Mas, os tropeços ainda que naturais, podem ser minimizados e, em sua grande maioria, até mesmo evitados à medida que o clube aprenda com os erros e entenda como o jogo é jogado e o lambari é pescado no futebol brasileiro.

Se jogo a jogo cabe ao Cuca, comissão técnica e, claro, à diretoria de futebol cuidar do elenco, colocando em campo o melhor time para o confronto do momento, cabe ao comando, diretoria executiva e gestores-mecenas, dar o clube, além de estrutura e apoio logístico ao futebol, condições, respeitabilidade e suporte político para que o Glorioso jogue com efetividade e, de uma forma ímpar em sua história, o jogo dos bastidores, tradicionalmente bastante perverso e cruel para si.

Causa e efeito. Se é verdade que o extracampo, ao longo de décadas, ceifou várias oportunidades de título, também é verdadeiro que o clube pecou pela omissão e pela fragilidade política na defesa de seus interesses.

Muito se fala em um projeto que, ao final de seu curso, terá transformado o Atlético em uma potência mundial. Palavras saborosas de Rubens Menin. E isso não se constrói da noite para o dia. É, a exemplo desta caminhada rumo ao título do Brasileirão, um processo de construção, de aprendizagem, de erros e de acertos.

Muito se fala, também, que, em se tornando um clube viável, econômica e financeiramente forte, automaticamente o Atlético será, mais que um candidato natural a todo e qualquer título que disputar, um colecionador de troféus. Advirto, porém, que para que esse sonho se torne realidade, é preciso que este poderio seja refletido politicamente. À mulher do Imperador de Roma não bastava ser honesta. Tinha que parecer honesta. Ao Atlético não basta ser forte, é essencial parecer, se mostrar forte.

Nestes tempos pandêmicos, de aflições e perrengues, demarcados por uma infindável crise econômica, o atleticano vive um 2021 surreal e, dia após dia, se vê mais e mais engolido por uma ansiedade indescritível. Uma ansiedade que, em hipótese alguma deve e pode ser compartilhada pelo e com o elenco e que traz em seu bojo um alerta: o Atlético só perde o Brasileirão este ano se fizer muita BOBAGEM. Entre o sonho e a realidade está o realizar, o construir, o concretizar. E é aí que a porca torce o rabo.