É mais que uma ideia de jogo!

Foto: Flickr oficial do Atlético

 

 

Max Pereira
13/10/2020 – 16h
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Sampaoli, ao mesmo tempo em que vem frisando em suas coletivas que os jogadores atleticanos vêm, aos poucos, entendendo a sua ideia de jogo, também vem alertando que ainda falta muito para que a equipe chegue ao ideal.

Ele e quem acompanha e conhece os caminhos tortuosos do futebol sabem que tropeços vão acontecer e que um time de futebol não se ajusta da noite para o dia. E é também verdade que, tendo em vista a proposta de jogo de jogo do treinador, inovadora no futebol brasileiro, o time atleticano já mostra um nível de evolução bem interessante.

E, reconhecer essa evolução não significa desconsiderar os problemas, as deficiências e as dificuldades que o Atlético vem enfrentando em seus jogos.

Jogo a jogo Sampaoli também vai percebendo quais são os limites do material humano que tem á sua disposição, i.e., o que pode e o que não deve explorar de seus jogadores.

A linha entre o poder e o dever tem que ser observada em qualquer atividade humana. Nem sempre querer é poder.

Contra o Fortaleza Sampaoli foi ao limite do que vários jogadores podiam oferecer, seja porque alguns atuaram fora de suas zonas de conforto (Hyoran, Fábio Santos e Marquinhos, por exemplo), seja porque outros sentiram a falta de ritmo (Mariano, Bueno), seja também porque o time entrou em campo muito modificado seja ainda porque é impossível a qualquer atleta manter indefinidamente o nível de intensidade exigido pelo treinador e, em consequência, o desgaste físico e mental é natural, como Jair, principalmente, vem acusando.

Já diante do Goiás a historia foi diferente. Enquanto o tricolor Cearense teve pela frente um time anestesiado pelos seus próprios problemas, o Esmeraldino enfrentou um Atlético que, entendendo os limites de seus atletas, fez um jogo que, se não intenso como o de outras vezes, buscou o controle da partida, sem riscos desnecessários.

Sampaoli mostrou que conhece os seus jogadores e, à exceção da inversão de Rever com Igor Rabello na zaga, o que trouxe certo desconforto calculado para este ultimo, não expôs mais ninguém ao incômodo de jogar fora de sua zona de conforto. Até as suas alterações diante do Goiás respeitaram esse primado, o que não se verificou contra o Fortaleza. Allan entrou, foi para a cabeça da área e Jair passou a ocupar o espeço de Nathan que saiu para ser preservado.

Não tenho dúvidas que Sampaoli veio inaugurar uma nova e promissora era. Embora os jogadores, em sua maioria mostrem que já vêm assimilando e bem a nova metodologia de trabalho, o fato é que o modelo ainda é novo e as oscilações por isso naturais.

O Galo dos últimos anos e dos últimos treinadores, à exceção do biênio 2031/2014, quase nunca mostrou uma mentalidade vencedora como vemos agora.

A ideia de jogo de Sampaoli parte de uma estrutura posicional, algo bem diferente do que vem sendo praticado no futebol brasileiro e, por si só, já tira os atletas não habituados com esta proposta de sua zona de conforto. E é aqui o calcanhar de Aquiles do Atlético.

Nem tudo é preto no branco. Errar ou acertar faz parte. Um erro ou um acerto não define se o jogador ou o treinador servem ou não. Já pensou se tudo fosse desse jeito em nossas vidas. Seria insuportável viver. Decretar, por exemplo, o fim da passagem de marquinho pelo Atlético não é apenas algo precipitado e temerário, é uma covardia para com o garoto que, lançado do lado direito, joga fora de sua zona de conforto.

O torcedor atleticano só se faz hoje uma pergunta: “o que é preciso para sermos campeões, para que o titulo não escape das garras do Galo?”.

“Há! Tragam fulano que jogaria fácil nesse ataque do Galo”, sugere alguém. “Contratem fulano. É bom e barato”, propõe outro atleticanos. “O Atlético precisa de um camisa 10 e de um 9. Aí ninguém segura o Galão”, profetiza um atleticano que apenas potencializa uma crença cada vez mais forte nos corações e mentes atleticanos.

“Tira sicrano do time e mandem embora do meu Galo. Depois é só comemorar”, grita um galista enfurecido.

Nem tanto ao mar nem tanto a terra. Claro que reforçar o elenco e o time não deixa de ser interessante e promissor, mas o futebol é mais que uma ideia de jogo, mesmo sendo a revolucionaria e intensa proposta de Sampaoli.

Da mesma forma que é preciso trabalho, cuidado e discernimento para melhor aproveitar as potencialidades do grupo, é fundamental cuidar da transição dos garotos da base. Soluções drásticas, fruto da emoção, que indicam, por exemplo, o fechamento das categorias de base do clube e a dispensa de todos os profissionais que lá trabalham, devem ficar apenas no imaginário passional do torcedor.

A mesma expertise deve pautar a prospecção, a analise e a escolha de possíveis e necessários reforços pontuais. Sampaoli, por exemplo, fala, com justa razão, da necessidade de agregar experiência ao grupo. E eu, por exemplo, já escrevi sobre a importância de encorpar o time com um gênio criativo, alguém que faça o diferente e subverta, quando necessário, a ordem pré-estabelecida. Ou seja, alguém que se some ao futebol excepcionalmente tático de Nathan.

E, ao contrário do que muitos acreditam, trazer um craque de reconhecimento internacional é factível, desde que haja planejamento e que, a exemplo de Ronaldinho Gaúcho, sua contratação seja bem “vendida” pela diretoria e “comprada” pelo elenco. Mas isso é apenas uma ideia.

E o sucesso do Atlético, claro, vai muito além de uma ideia.