E aí, qual é a obrigação do Atlético? Ser CAMpeão ou apenas brigar pelo título?

Foto: Flickr oficial do Atlético

 

 

Max Pereira
29/10/2020 – 11h05
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Mal o jogo contra o Sport terminou e as redes sociais atleticanas já estavam pipocando com mensagens e posts que espelhavam o que ia pelos corações e almas machucados de torcedores que, ora externavam as suas frustrações e jogavam a toalha, ora buscavam, até no sobrenatural de Almeida, explicações sobre o oscilante desempenho do time atleticano.

Teve galista revoltado que iniciou mais uma daquelas caças às bruxas nada recomendáveis e exigiu uma faxina ampla e geral. Afinal, “são 50 anos sem títulos e nunca se pôs tanto dinheiro lá”, alfinetou.

“Será que já é permitido criticar o Mattos que jogou fora quase 200 milhões contratando jogadores nota 5?”, questionou outro torcedor certamente enfurecido com a queda de produção e as más atuações que vêm marcando os últimos jogos do Atlético.

Mas uma pergunta se destacou no emaranhado de manifestações que se seguiram àquele empate com sabor de derrota: O Atlético tem obrigação de ser campeão?

Apaixonado e irracional o atleticano geralmente impõe a si mesmo uma amnesia em relação a historia do clube que tanto ama e venera e, quase nunca, busca analisar em profundidade e com parcimônia as razões dos debacles técnico, físico e emocional do time alvinegro ao longo dos tempos.

Afinal, por que, entra ano, sai ano, os times do Atlético acabam sendo atropelados por momentos de instabilidade que têm, ao longo dos tempos, inviabilizado o sonho do tão acalentado bi no campeonato nacional?

Para responder a estas questões vou buscar fugir daquele discurso apocalíptico e derrotista, tão característico de quase todo atleticano.

O diretor Alexandre Mattos, vacinado em relação às armadilhas do futebol, disse com todas as letras quando o Atlético ainda liderava com folga o Brasileirão que o projeto é novo e tende a oscilar. E ainda fez questão de lembrar que ele só ganhou títulos no Palmeiras e no rival no seu segundo ano de trabalho.

Mattos sabe que o futebol não é ciência exata e que, nesse esporte, expectativa e realidade podem andar distantes, vez que as oscilações são naturais.

Sem trabalho e sem cuidados especiais de nada adianta ter diretor, treinador e Comissão Técnica de ponta, ter o melhor Centro de Treinamentos, investimento de quase 200 milhões em jogadores, elenco qualificado, não estar disputando outro torneio, ter apenas dois ou três adversários para superar, estar motivado a não completar 50 anos sem ganhar o Brasileirão, estar construindo seu estádio próprio, contar com uma torcida que, mesmo em casa, está apoiando o time e o técnico de forma absurda e apaixonada e ainda ver o seu principal rival na serie B e em absoluta derrocada o que, claro, motiva e estimula.

A bordo de sua imensa experiência Murici Santana disse recentemente em uma transmissão do Sport TV que “a parte tática é muito importante, mas a qualidade é fundamental”. Para o ex-jogador, e atual comentarista Paulo Nunes, a criatividade, a inventiva e a capacidade de improvisar e fazer diferente é um diferencial essencial e transformador. E é exatamente isso que falta ao Atlético atual.

Certamente incomodado com a falta de inspiração do time atleticano e, em especial de alguns jogadores, o companheiro Betinho Marques percebeu que Atlético, neste fatídico empate diante do Sport, deixou Keno e Savarino lutando contra marcação ora dupla, ora tripla do adversário. Com isso, diagnosticou, o time ficou alçando bola de longe e que, diferentemente de partidas anteriores, os homens de meio não apareceram mais para o jogo e nem realizaram aquelas infiltrações mortais. Betinho sabe que quem define o jogo e também o amarra por falta de inspiração é o meio-campo.

O jogo entre Inter e Flamengo chamou a atenção por mostrar muitos recursos técnicos envolvidos. E parece que falta ao Atlético exatamente isso: recursos técnicos. Quem podia oferecer isso ao time foi escorraçado. A bola pune. Quando defendi dar oportunidade a Cazares eu já enxergava a falta de imaginação do time atleticano.

Se é verdade que o time do Atlético está sendo montado, tem jogador chegando, e que o elenco está perigosamente reduzido, também é fato que falta um gênio criativo e jogador(es) mais maduro(s).

O que está pesando no Atlético é um conjunto de variáveis que estão afetando o rendimento da equipe. A instabilidade cármica e o extracampo se somam à passionalidade da massa e o clube paga por tudo isso.

O Atlético tem que exorcizar seus demônios. Diria um místico que o time do Atlético está amarrado e que fizeram um trabalho de macumba pesado. E diria o homem simples do interior que o time do Atlético está “piado”, expressão popular que significa pouco eficiente, impotente.

Adaptando um tradicional e conhecido dito popular ao Atlético de hoje eu diria que, agua mole em pedra dura tanto bate até a fonte secar e não furar (o gol). Sem inspiração, sem imaginação, sem energia, sem lucidez, monotônico e tocando um samba de uma nota só, o time do Atlético parece enfiado em uma camisa de força.

A solução dos problemas do Atlético vai além das variações táticas ou da troca deste ou daquele jogador por outro do atual elenco.

No artigo “É MAIS QUE UMA IDEIA DE JOGO!”, escrevi que “Sampaoli, ao mesmo tempo em que vem frisando em suas coletivas que os jogadores atleticanos vêm, aos poucos, entendendo a sua ideia de jogo, também vem alertando que ainda falta muito para que a equipe chegue ao ideal”. E ainda frisei que “ele, Sampaoli, e quem acompanha e conhece os caminhos tortuosos do futebol sabem que tropeços vão acontecer e que um time de futebol não se ajusta da noite para o dia”.

E o sucesso do Atlético, claro, vai muito além de uma ideia de jogo. Para o bem do Glorioso quero acreditar que o genioso treinador argentino já tenha se apercebido disso.

E mais que criar uma ideia de jogo, é obrigação do Atlético cultivar o espirito de campeão. Brigar pelo titulo deve ser práxis natural. E ganhar, apenas uma consequência.