Dias de Galo. Dias insanos!
Fotos: Flickr oficial do Atlético / Lucas Porto
Por Max Pereira / @pretono46871088 @MaxGuaramax2012
Nessa era dominada pelas fake news e temperada pelo ódio e pela intolerância, nada mais natural que sejam desferidos aqui e ali ataques virulentos, covardes e odiosos, como estes dirigidos ao Everson e sua esposa.
E dirigidos aqui tem sentido amplo. Além de identificar o alvo, a direção, essa palavra também quer dizer que tudo indica que estes ataques são coordenados e não apenas expressão de ódio e de intolerância por parte de quem têm raiva da própria vida. Estes apenas pegam carona no trem da maldade orquestrada.
Ou alguém dúvida que os ataques a Everson/esposa e a campanha dirigida contra Sampaoli visando tirar o treinador argentino do clube são uma coisa só e bem maior? Tudo indica que o objetivo dessas campanhas insidiosas é minar este processo que, segundo se anuncia, visa transformar o clube em uma potência Internacional.
Ainda que ninguém possa afirmar com segurança que projeto é esse, vez que transparência nunca foi virtude do Atlético, as contratações já efetivadas, com destaque para Hulk, as especulações de outras possíveis e que já estariam a caminho, a transição administrativa envolvendo a saída e a chegada de diretores, o enxugamento da máquina, a equalização das dívidas, as auditorias e a indicação de que o clube busca inovar e implantar uma gestão moderna e profissional, já deixam atleticanos, antiatleticanos e muita gente “boa” completamente ouriçados.
A simples perspectiva da construção de um Atlético cada vez mais forte, saneado, vencedor e campeão, que ameace concretamente o protagonismo dos poderosos do eixo Rio São Paulo, desagrada a gregos e troianos.
O futebol é hoje um negócio multibilionário e o esporte bretão no Brasil, assim como no mundo, constitui um sistema complexo, no qual interagem, com graus de influência e poder variados, diversos atores e interesses.
É lógico que esse novo Atlético seja visto com desconfiança e, principalmente, como ameaça por muitos. Um Atlético transformado na potência preconizada pelos mecenas e pelo atual presidente certamente exigiria uma nova correlação de forças no futebol e no mercado publicitário brasileiros e, ainda, quebraria a hegemonia do eixo Rio / São Paulo.
Isso sem falar no âmbito doméstico onde essa ideia de um Atlético protagonista já seria insuportável para muitos em condições normais de temperatura e pressão. Ainda mais quando o rival se afunda e se inviabiliza cada vez mais.
E nada mais fértil que as redes sociais, um território inóspito e que aceita tudo, para que estes ataques floresçam e se potencializem e os seus objetivos sempre inconfessáveis sejam atingidos.
E nesta terra de ninguém, onde pululam recados com endereço certo e a quem mais possa interessar, inclusive do próprio clube, surgem todos os dias perfis de todos os tipos. Muitos deles anônimos. E outros tão falsos quanto uma nota de três reais. Infelizmente muitos perfis ditos atleticanos e que infelizmente têm muita audiência e, paradoxalmente, gozam de prestígio e credibilidade junto a parcela significativa da Massa, são falsos, i.e., foram criados e são mantidos por gente que não torce verdadeiramente para o Atlético.
Estes perfis fakes são criados e explorados com a óbvia e clara intenção de manipular o emocional já normalmente convulsionado do atleticano, gerar ondas, crises, desestabilizar o ambiente interno do clube, zoar e corromper o sentimento de atleticanidade. Paralelamente, alguns canais e perfis, criados e mantidos por atleticanos autênticos, acabam também por prestar um imenso desserviço ao clube, vez que, no afã de obterem reconhecimento e audiência, exploram quase sempre o lado panfletário e nem sempre fidedigno da notícia.
Não sem surpresa assistimos, por vezes, estes últimos se alimentarem da maldade, do veneno e dos factoides destilados pelos perfis de falsos atleticanos, enquanto estes se locupletam com o histrionismo midiático daqueles.
Em meio a tudo isso, vários perfis atrelados a segmentos da mídia tradicional buscam, além de espaço, transmitir uma narrativa geralmente hegemônica e de interesse do status quo.
E é neste universo sistêmico midiático, normalmente hostil e selvagem, que um novo Atlético parece buscar, mais que espaço, vencer e protagonizar. Mas, para alcançar este objetivo o Atlético tem que derrotar outro inimigo terrivelmente poderoso e que precisa ser desconstruído: ele próprio.
E isso quer dizer que o Atlético tem que se metamorfosear. Melhor, como bem disse o atleticano, publicitário e protetor dos animais Fernando Gregori, ou apenas Ferds, em seu iluminado ensaio “O ATLÉTICO QUE CONHECEMOS PRECISA ACABAR”, o Galo tem que se reformular como instituição. Ou seja, se reformular como “quer ser reconhecido no mundo do futebol. Como um clube vencedor, uma potência ou como um cavalo paraguaio eterno que entrega as vitórias sem resistência?”
Para não ser repetitivo e convidando a todos que acessem o link acima e leiam o citado artigo, reforço apenas que é preciso criar no clube a cultura de vencedor. E é essa cultura que vai dizer onde o Atlético pode chegar, pois definirá a sua missão e as metas que o levarão ao futuro colimado.
Não atoa, a massa atleticana há anos vem repetindo e querendo acreditar que disputar título é para os outros, que pintar o manto da santa nos amaldiçoou, que tudo tem que ser sofrido. E, de uns tempos para cá, o próprio atleticano passou a fazer piada com a própria desgraça, uma autodefesa estéril e enganosa.
O diagnóstico do Fernando Gregori é aterrador, confesso, dói como toda a verdade, mas não dá mais para fugir: “Isso tudo é reflexo da falta de uma mentalidade vencedora, da falta de um DNA de Campeão que o clube perdeu ao longo de seus mais de 100 anos e incontáveis vexames em campo e fora dele”.
Se nada for feito se tornará inviável para qualquer profissional de ponta trabalhar no Atlético, pois, além do clube tornar inglório qualquer trabalho e projeto, a sua relação com a sua massa torcedora torna-se cada vez mais doentia e o Glorioso antipatizado.
Por que trabalhar em clube onde vou ser constantemente fritado pelas torcidas organizadas e sufocado pelo peso de décadas sem o maior título nacional, onde não há transparência e não sou blindado, onde nenhum projeto pode florescer de verdade porque na verdade não existe DNA de vencedor e nada é feito de concreto para construí-lo? E por que continuar torcendo por um time que não ganha nada?
Esta última pergunta feita ao longo dos anos por falsos atleticanos e repercutida por segmentos da mídia que não conseguem esconder o desejo de conspurcar o espírito de atleticanidade, de tanto repetida aqui e ali, já começa a repicar em vários corações alvinegros, algo do tipo “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”.
Embora Sampaoli com o seu temperamento irascível, com suas experiências temerárias ao escalar e substituir e, por isso correr sempre o risco de perder o grupo, tenha contribuído para gerar enorme rejeição a ele em parte significativa da massa que, como sempre, se deixou manipular pelos inimigos do clube, é fato inquestionável que as diretorias, a que saiu e a que entrou, e o grupo gestor, também pecaram e têm a sua parte nisso tudo. Falta de habilidade, de transparência e de comando são marcas endêmicas do Atlético que, entra ano, sai ano, fazem estragos, alguns às vezes insanáveis.
Com treinador, comissão técnica e parte dos jogadores estrangeiros e vindos de vários países o Atlético se tornou uma legião estrangeira, o choque cultural é natural e as diferenças, se mal administradas, podem comprometer o trabalho. Está claro que faltou a todas as partes envolvidas maior clareza sobre isso.
O Glorioso sempre foi um caldeirão explosivo de emoções e incompetência. Não, não há perfeição, me lembrou o grande atleticano Marco Coelho que ainda nos ensina que o que se deve sempre é buscar minimizar os erros e aprender a administra-los. Aprendi, também, que estamos muito longe, se é que um dia chegaremos lá, de termos no Brasil uma gestão profissional e qualificada que consiga nos proporcionar regularidade. Assim, tudo o que for feito na direção de dotar o clube de uma gestão moderna, profissional e transparente deve ser apoiado. Mas, atenção: não esperem nada fácil e de imediato.
É bom lembrar que torcida, mídia e nova mídia são parte indissociáveis disso. E podem tanto ajudar como atrapalhar. Em entrevista ao Fala Galo o Diretor do Atlético Rodrigo Caetano chamou bastante a atenção ao dizer que em 18 anos de carreira nunca tinha visto tanta especulação como tem aqui no Galo. E isso é ruim, muito ruim.
O Atlético vive um dos períodos mais insanos de sua historia. E a torcida, como sempre, irracional, irreflexiva e nada esperta, está mais uma vez atrapalhando.
O último bastião do Atlético e garantia de sua imortalidade é a sua fantástica, passional e ímpar torcida. E, por isso, ela também é alvo e precisa ser defendida e aprender a se defender. A artilharia inimiga é implacável e não descansa um segundo sequer. Sempre é tempo para aprender e nunca é tarde para ajudar. O Atlético agradecerá. Pode acreditar.