Coluna Preto no Branco: um clássico de 100 anos
Foto: Daniel Oliveira
Por Max Pereira (@pretono46871088 @MaxGuaramax2012)
“Se durante uma tempestade, houver uma camisa preta e branca, pendurada em um varal, o atleticano torce contra o vento”. E, esteja onde estiver, o grande e saudoso escritor e jornalista atleticano que cunhou esta frase já percebeu que o vento perdeu.
Roberto Drummond não só definiu genialmente a alma e a essência atleticanas, como também conseguiu explicar o que aconteceu nesses últimos 100 anos em vários e vários clássicos épicos que levaram o atleticano ao êxtase supremo e ao deleite que só o galista consegue experimentar.
É verdade que alguns desses clássicos foram sofridos. Mas, é verdade, também, que o atleticano saiu deles mais forte, não vencido em sua fé, inquebrantável em sua força e pronto para vencer outras batalhas.
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A superioridade atleticana no confronto direto com o seu maior rival é marcante e autoexplicativa. Maior número de vitorias, maior número de gols marcados, maior artilheiro do confronto (o Rei Reinaldo), maior número de atletas com o emblemático HAT-TRICK (Obina, Tardelli, Tucho, Said, Mario de Castro e outros). Além de ser o maior campeão estadual, o Galo também leva vantagem sobre o rival em competições nacionais e em amistosos.
O embate entre o Atlético e o rival ganhou a dimensão de um superclássico apenas de alguns anos para cá. Antes da era Mineirão o jogo Atlético x América era conhecido como o clássico das multidões, pois congregava as duas maiores paixões das Gerais, enquanto os confrontos com o time azul desde a era do velho Palestra, ainda que já marcados por alguma rivalidade, não tinham a dimensão que têm hoje. Ou seja, o principal rival do Galo era o Coelho.
O Mineirão foi um marco no futebol mineiro. A partir de 1965, ano de sua inauguração, o time azul experimentou um crescimento, até então insuspeito, desbancou o Coelho e tornou-se o maior rival do Atlético.
O último clássico no velho Horto e o primeiro no então novo Mineirão acabaram antes da hora, graças a incidentes entre jogadores do Atlético e efetivos da Policia Militar. Sem entrar no mérito desses acontecimentos e, misticismo à parte, entendo hoje que esses episódios, na verdade, marcaram não só o fim de uma era no futebol mineiro, como também o início de um novo tempo no qual a hegemonia atleticana seria, definitivamente e, para sempre, colocada em cheque.
Foi sem dúvida um rompimento da forma de se ver, organizar e sentir o esporte bretão em terras mineiras. Ali nasceu o discurso do “Maior de Minas”, até hoje vendido pela torcida rival e potencializado pelos propagadores e multiplicadores das bandeiras azuis. Mas, ainda que o futebol mineiro tenha mudado radicalmente com o surgimento do Mineirão, o Atlético jamais deixou de reivindicar o seu protagonismo no esporte. O seu gigantismo natural, alicerçado pela paixão imensurável e ímpar de sua massa torcedora, o manteve altivo e capaz de protagonizar páginas heroicas, como descrevi em dois ensaios que relembro a seguir.
No artigo “REMINISCÊNCIAS EM PRETO E BRANCO: HISTÓRIAS, FATOS, MITOS, LENDAS, CAUSOS, CURIOSIDADES E MUITAS SAUDADES”, publicado nesta coluna em 7.4.2020, escrevi que há mais de sessenta anos, no velho estádio Antônio Carlos, onde hoje está situado o Shopping Diamond Mall, assisti, pela primeira vez em minha vida, o Atlético jogar ao vivo, sentado nos ombros do meu velho e saudoso pai. Relembrei, ainda, que naquela época 95% da população de BH era atleticana, que por isso, e até hoje, Galo e povo são uma coisa só e que, embora os tempos sejam outros, com o crescimento e a diversificação da população mineira, a massa do Galo continua absoluta em Minas e a paixão do atleticano cada vez mais desmedida e inexplicável.
Para exemplificar, relembrei e descrevi alguns momentos mágicos do Atlético, incluindo clássicos emblemáticos contra o rival e curiosidades sobre alguns heróis atleticanos e, por fim, divaguei por algumas reminiscências que, com certeza, não embalam somente os meus sonhos, mas, também, os de milhões de atleticanos.
No artigo “MARCAS DE UMA PAIXÃO EM PRETO E BRANCO: HISTÓRIAS OU ESTÓRIAS? QUEM SABE?”, publicado também aqui no “Preto no Branco” em 14 de abril do ano passado, contei “causos” que, segundo a reza lenda, teriam acontecido e ratificariam na pratica a emblemática frase de Roberto Drummond.
Dentre as várias “historias” surreais que ali narrei estão, e, não poderia ser diferente, situações vividas no limite da paixão e que têm como pano de fundo o superclássico.
Não custa repetir o que destaquei nesse último ensaio: “muitas vezes eu li e escutei que o atleticano precisa ser estudado. E já o foi. Teses antropológicas, cujo tema central era o torcedor do Atlético e sua paixão ímpar, já foram defendidas. Vale a pena pesquisar e ler”.
Diferentemente de outros clássicos Brasil afora, o derby mineiro não ganhou um apelido. Na realidade ele tem nome próprio. E a expressão “superclássico” dá a dimensão que o confronto entre os dois rivais atingiu.
No próximo domingo eles se enfrentarão em um jogo absolutamente impar na história desse superclássico, vez que os dois rivais vivem momentos de suas vidas absolutamente díspares. Mas, clássico é clássico já diziam os antigos.
Independentemente da tipicidade desse jogo e do que esse superclássico possa significar para o rival, ao Atlético não pode faltar o respeito ao adversário, o que, em última análise, significa materializar em campo aquele espirito de time do mundo, vencedor e campeão tão apregoado e perseguido pelo clube nesses últimos tempos. Ou seja, o que se espera é o que o Atlético mostre dentro das quatro linhas um futebol competitivo, intenso, focado e em busca do gol durante os noventa minutos.
E, para que isso aconteça, é fundamental que o clube, em todas as suas dimensões e níveis esteja efetivamente em harmonia com esse pensamento. Já defendi a exaustão que tudo o que acontece dentro de campo é reflexo e consequência direta do que acontece fora dele, inclusive com o que a sua massa torcedora por ventura venha a instigar, provocar ou induzir.
Como lembrei no ensaio publicado em 7 de abril do ano passado e mencionado acima, “Atlético e massa são um só. Se o gigante acordar e souber aquilatar a força que tem, o Galo se converterá de vez em um time do mundo, vencedor e campeão como poucos. E ser esse despertador é função de qualquer atleticano. E essa possibilidade aterroriza a gregos e troianos. Essa perspectiva assusta e é a razão, não só dessa raiva incontrolada de várias vozes da mídia do eixo e da própria imprensa local, mas dos ataques e prejuízos históricos que o Galo vem sofrendo há anos”.
O clássico de domingo não deve, claro, ser considerado pelos atleticanos, torcida, jogadores, comissão técnica, diretoria e gestores/mecenas, como um jogo qualquer, de um Golias contra um Davi qualquer, mas como um jogo onde o clube deve mostrar que é de fato um gigante verdadeiro e que, como tal, sabe se portar em campo.