Por Max Pereira, correspondente do Fala Galo, em Belo Horizonte
Tenho dito aqui e ali que o Atlético, turbulento e convulsivo por natureza, atravessou mais uma semana tipicamente atleticana, onde praticamente aconteceu de tudo, todas aquelas coisas próprias do Galo mais famoso e querido do mundo. Supercampeão no domingo, sacudido e chacoalhado nos dias que se seguiram à conquista da Supercopa graças a uma matéria explosiva, respondida com a nota oficial mais virulenta e pesada de sua história.
Muito disse me disse, entrevistas contundentes, ilações mil, acusações diversas, explorações politicas e a revelação, para muitos não surpreendente, de que o Atlético vive sentado em um vulcão que pode entrar em erupção a qualquer momento com consequências imprevisíveis. E, aqui entre nós, ver comprovado uma vez mais que o mundo politico alvinegro é plural, que existem pensamentos divergentes intramuros do clube é, de certa forma, muito bom. O exercício democrático é sempre salutar. A crítica e a oposição construtivas, o diferente, nos deixam alertas, nos tiram da zona de conforto e nos tornam melhores.
Uma cavalgada do presidente Sergio Coelho rumo ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, no interior de São Paulo, para agradecer a conquista dos títulos pelo Atlético e um jogo surpreendente diante de um supermotivado e elétrico lanterna do campeonato mineiro em Pouso Alegre, decidido a favor do Galo nos instantes finais e marcado pelo falecimento, momentos antes da partida se iniciar, de um torcedor atleticano que se preparava para, pela primeira vez em seus 70 anos de vida, ver em um estádio o seu time do coração, fecharam esta semana marcadamente alvinegra. Quis o destino que o coração daquele velho torcedor parasse subitamente antes mesmo que pudesse ver o Galo entrar em campo. Coisas da vida.
E, por falar em vida, enquanto o Brasil “pula” o mais chocho carnaval de sua história, o ódio e a intolerância parecem dissolver o pouco de humanidade que ainda nos resta. A guerra eclode no velho continente e aqui nestas terras tupiniquins está ficando cada vez mais claro que a capacidade de sublimação e catarse de muitos em relação às agruras e às frustrações do dia a dia está ficando cada vez menor e explosões de violência começam a ser vistas aqui e ali.
Ônibus transportando jogadores estão sendo apedrejados e atacados com bombas, ora por torcedores rivais, hora por aficcionados do próprio time. Invasões de campo e agressões a jogadores também preencheram os noticiários nestes últimos dias. E, não atoa, as redes sociais voltaram a ficar infestadas de vídeos com cenas de violência extrema, de selvageria absoluta, compartilhados e repercutidos como se fossem esquetes de humor. Nada é mais terrível do que a normalização da violência.
Em meio a tudo isso, o atleticano e o Atlético continuam dançando em um ritmo muito peculiar e bastante conhecido no mundo galista: O SAMBA DO ATLETICANO DOIDO. Composto por mil e uma mãos este samba alvinegro, longe de transparecer o talento e a criatividade do saudoso Sérgio Porto, o imortal Stanislaw Ponte Preta, claramente impregnados no antológico “SAMBA DO CRIOULO DOIDO”, a mais genial sátira já produzida neste país, traduz com rara perfeição as turbulências do universo atleticano, esta constante travessia de seu torcedor da agonia para o êxtase e do encantamento para a angústia, este obsessivo 8 ou 80 com que as coisas desse Galo maluco são levadas e tratadas.
Nem bem acordou na manha deste ultimo domingo, o atleticano teve a sua atenção chamada por uma mais matéria polêmica. Segundo o Globo Esporte, um de seus parceiros/investidores, Rubens Menin, estaria à procura de um sócio para a SAF atleticana que já seria criada ainda nesse ano de 2022. De um lado, esta noticia foi largamente comemorada por vários segmentos na massa atleticana que, com razões de sobra, tem por este investidor imenso carinho e eterna gratidão.
De outro, suscitou infinitas elucubrações e outro tanto de questionamentos. Como seria esta SAF? Quais seriam os percentuais de participação dos sócios e do clube? Independentemente de quem seja este investidor, a identidade do clube e os valores afins a este princípio seriam preservados, i.e., seriam cláusulas pétreas no acordo a ser firmado? A propalada e tão desejada por alguns venda do restante do Shopping faria parte da preparação do clube para a criação da tal SAF? Se sim, porque esta venda é tão necessária e deve anteceder à criação e à formalização da SAF? Consumada a venda dos 49,9% do Shopping e sob a égide de um novo estatuto, o Atlético já estaria suficientemente preparado para deflagrar a constituição da SAF ou seriam necessários ainda dar outros passos antes disso? Se sim, quais seriam estes passos?
O companheiro Silas Gouveia do Fala Galo conduziu em seu Twitter um interessantíssimo fio sobre estas e algumas outras questões que merece ser lido e objeto de profunda reflexão. E, ainda que para alguns ele possa não estar respondendo tudo, é um excelente ponto de partida para os debates e as discussões que os atleticanos, conselheiros ou não, devem fazer nesse momento.
Paralelamente a tudo isso, as costumeiras especulações sobre quem vem e quem vai continuam infectando o imaginário atleticano. O América, por exemplo, chegou a receber quatro atleticanos que estariam fora dos planos de El Turco, mas que nunca chegaram ao Lana Drummond e parece que nem vão chegar. Guga, que desceu aos infernos depois do pênalti perdido contra o Flamengo, foi visto de passaporte nas mãos rumo ao futebol europeu.
Vargas, que aproveitou a folga neste carnaval para ir à festa de aniversário da esposa de seu amigo e companheiro da seleção chilena Isla no Rio de Janeiro, parece que já teria assinado um pré-contrato com o Flamengo. “Ah! É melhor mesmo. Já que foi para a festa, que fique por lá mesmo”. E Zaracho já estaria de malas prontas rumo ao velho continente. E Pavón? Chega ou não chega? Vem agora ou no meio do ano? E por que diabos, Savarino também foi para o Rio de Janeiro e se deixou flagrar e fotografar jogando frescobol com um vendedor ambulante em uma das praias cariocas? Ah! E, finalmente, Diego Costa de aproxima de um gigante brasileiro. Ironias e fakenews à parte, tudo isso são coisas da vida, do mundo do futebol e, particularmente, desse nosso complicado, mas muito amado Clube Atlético Mineiro.
No próximo domingo o Atlético terá pela frente um adversário que, apesar de não ter mais o brilho de antes, desperta e muitas emoções e sentimentos especiais na sua torcida. E, claro, a recíproca é absolutamente verdadeira. Ainda que o almoço entre os dirigentes e investidores dos dois clubes proposto por Ronaldo possa ser apenas um encontro protocolar, que ele sirva de inspiração para atleticanos e cruzeirenses entenderem que a rivalidade deve ficar dentro de campo e que a violência não é e nunca foi solução para nada. E um recado para os homens do futebol atleticano que estarão ou não dentro de campo: que, ao contrário do que aconteceu diante do Pouso Alegre no último sábado, se estimulem, se motivem, que entrem em campo com sangue nos olhos e, assim, possam corresponder às melhores expectativas de sua torcida. Ah! Que time Mohamed vai mandar a campo? Zaracho volta ou não? E será que… ?