Coluna Preto no Branco: Quem precisa de títulos?
Por Max Pereira (@Pretono46871088 @MaxGuaramax2012)
O Atlético e a sua ensandecida massa torcedora vivem um momento para lá de especial. Só quem torce pelo Galo Forte Vingador e vivencia essa paixão ímpar e avassaladora consegue entender o que se passa nos corações e mentes atleticanos.
Mais do que os quase 50 anos de jejum em relação ao título maior do esporte bretão no Brasil, uma história entrecortada de episódios de tristes lembranças nos quais várias conquistas foram frustradas por meios heterodoxos, machuca cada galista apaixonado, tendo ele vivenciado ou não cada um desses infaustos acontecimentos.
Em meio a tudo isso uma narrativa perversa vicejou no mundo atleticano e é tida por muitos como expressão absoluta da verdade: o Atlético não tem títulos, nunca ganhou nada e, portanto, não tem história e passado. Até mesmo quem elogia a massa, reconhece a sua atipicidade e admira essa paixão sem igual, se diz impressionado como um time que nunca ganhou nada pode ter sido capaz de gerar tamanha devoção.
Refém desta narrativa desconstrutiva e ardilosa muitos atleticanos buscaram sublimar a dor pelas conquistas frustradas criando um mantra segundo o qual, diferentemente de outros clubes, ao Atlético e à massa os títulos não eram necessários. Bastava ser atleticano. Afinal, não torcemos por um time de futebol e, sim, celebramos, dia após dia, um sentimento único e indescritível. Apesar da magnitude e da atipicidade desse nosso sentir e torcer pelo Atlético, nada mais falso, porém, que essa desnecessidade de títulos.
É verdade que o clube conquistou menos títulos nacionais e internacionais que alguns outros grandes clubes brasileiros. Mas, não é verdadeiro que o clube não tenha história, não tenha passado. Cada título, oficial ou não, honorífico ou não, tem a sua história, importância e significado.
O primeiro clube brasileiro a ganhar um título nacional oficial no futebol nacional foi o Atlético. O emblemático título de Campeão dos Campeões conquistado no já longínquo ano de 1937, em competição patrocinada e organizada pela extinta FBF, Federação Brasileira de Futebol, entidade que naquela época comandava o futebol no Brasil, foi esquecido, apagado da história do clube. Para muitos sequer existiu e seria apenas uma licença poética de Vicente Mota, autor do hino alvinegro.
O futebol brasileiro passava ainda por uma transformação gigantesca. Quatro anos antes, 1933 para ser mais exato, foi instituído o futebol profissional no Brasil. Quatro anos depois apenas cinco estados e a cidade do Rio de Janeiro, na época Distrito Federal, já tinham organização suficiente para realizar os seus campeonatos locais. E os seus campeões, incluindo o Atlético por Minas Gerais, participaram da primeira competição oficial a nível nacional realizada no Brasil. Os outros estados foram Rio de Janeiro, cuja capital era a cidade de Niterói, São Paulo, Espirito Santo e Bahia e, além deles, a então capital do país, a cidade do Rio de Janeiro, também enviou o seu campeão.
Também o foi o Atlético o vencedor do primeiro campeonato brasileiro disputado no país, organizado pela também extinta CBD, Confederação Brasileira de Desportos, que naquela época comandava todos os esportes praticados no país, entre eles, claro, o futebol. Tal conquista produziu em Belo Horizonte a maior festa de sua história. As pessoas saíam as ruas e confraternizavam com estranhos que não pareciam estranhos. Ou as recebiam em suas casas como amigos de muitos anos. Lembro-me que após o fim da partida no Maracanã sai de minha casa a esmo, sem destino e caminhos certos.
Percorrendo várias ruas sem saber para onde ir, ensandecido e mais feliz que um pinto no lixo, entrei e sai de varias casas onde nunca havia estado e cujos donos não conhecia e nunca soube o nome. Comi, bebi, dancei, abracei e fui abraçado, beijei e fui beijado, ora ao som do hino, hora ouvindo o gol de Dadá e os momentos finais da decisão nas vozes emblemáticas e inesquecíveis dos saudosos Jota Junior e Vilibaldo Alves.
Não me lembro de quanto tempo perambulei pelas ruas de Belo Horizonte. Mas, me lembro de uma cidade que viveu, a partir daquela noite de domingo uma semana especial, de uma alegria surreal de quem, definitivamente sabia que o seu time do coração mais uma vez fazia história.
Pioneirismo é definitivamente uma marca atleticana. O Galo foi também o primeiro clube latino americano a excursionar e a jogar em gramados europeus. Foi no pós-segunda guerra mundial, na virada dos em pelo inverno europeu. O Atlético jogou e brilhou em campos cobertos de gelo e de neve, derrotando as principais equipes do velho continente naquela época, finalizando a excursão com uma vitória de 2 x 1 sobre um selecionado francês no emblemático Parque dos Príncipes. O honorífico titulo de Campeão do Gelo outorgado pelos analistas da época e eternizado no hino atleticano, fez coro aos retumbantes elogios e reconhecimentos da mídia europeia e dá a dimensão da façanha alvinegra.
Hoje, clube e torcedores, com os pés incrivelmente fincados no chão, vivem a expectativa de mais uma vez ver o Glorioso escrever novas página que, se traçadas, certamente serão imortalizadas. O Atlético e a massa sabem que o sucesso final deve ser construído jogo a jogo, subindo cada degrau de uma vez. Devagar se vai ao longe.
E o torcedor alvinegro também vai aprendendo que mais do que precisar de títulos, um gigante como o Atlético, além de ser candidato natural a conquistar cada competição que disputar, também deve ser capaz de escrever, cada vez mais e mais, páginas gloriosas que simplesmente ratificarão a sua história e honrarão o seu passado. É esse Galo que, definitivamente, está se desenhando em um horizonte cada vez mais próximo. Quem viver verá.
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