Por Max Pereira @Pretono46871088 @MaxGuaramax2012
O Atlético chegou a um final de temporada que, até a algum tempo, nem o seu mais otimista torcedor poderia sonhar. Após vencer de forma autoritária, inquestionável e absolutamente merecida o campeonato brasileiro desse histórico 2021, o Galo mais querido e mais famoso do mundo está a poucas horas do jogo no qual poderá selar a conquista do segundo torneio em importância do país.
Em bom “minerês”, a velha Zulmira, se ainda estivesse entre nós, estaria repetindo sem parar para si mesma e para quem lhe desse ouvidos “Que trem ‘bão’, sô!!!”
Para ela tática, esquema de jogo e estratégia eram coisas sem pé e nem cabeça. O que importava para essa apaixonada atleticana era ver a bola no fundo das redes do goleiro adversário. Se fosse chutada ou cabeceada pelo Peito de Aço ou pelo Rei, melhor ainda. Ver o Galo vencer o Brasileirão e botar a mão na taça da Copa do Brasil na mesma temporada e com dias de diferença entre a conquista do bicampeonato brasileiro e a grande final da outra competição então, seria para ela a realização suprema de sua vida. Com certeza, ao melhor estilo do Bomba de Vespasiano, Eder Aleixo, ela também estaria gritando a plenos pulmões: “Agora posso morrer em paz. Já conquistei tudo o que queria na vida”.
Mas, como qualquer outro galista apaixonado, bipolar por excelência, mesmo rouca de tanto gritar “É Campeão, É Campeão”, e sentindo a maior felicidade de sua vida, a velha Zulmira estaria, mais uma vez, experimentando aqueles momentos de expectativa que só o atleticano conhece e vivencia. Diria o repórter Álvaro Damião que as horas que antecedem qualquer final na qual o Galo é um dos litigantes, mexem, remexem, enlouquecem e estremecem qualquer torcedor alvinegro.
Se de um lado a expressiva e contundente goleada aplicada no Furacão no jogo de ida em Belo Horizonte deixam o Atlético bastante confortável e, não sem razão, indicam que só um desastre de proporções incalculáveis arrancará a taça das mãos dos atleticanos das
Gerais, de outro, o caráter exibido pelo grupo alvinegro ao longo da temporada, demarcado não só por uma resiliência e por capacidade de superação absurdas, mas também por uma vontade inquebrantável de vencer e por um querer inabalável de ser campeão, indicam que o time que entrar em campo competirá e respeitará o adversário até o fim dos noventa minutos, como tem feito até agora.
Houve no mundo preto e branco quem, antes do primeiro jogo, temesse que o time atleticano pudesse entrar em campo desfocado e em ritmo de festa. Ledo engano. O que se viu no Mineirão levou cada galista a um êxtase inenarrável. Ainda assim, entre a razão e o coração, o atleticano, como sempre, continua se contorcendo enquanto busca exorcizar seus demônios e antevê a decisão com indescritível ansiedade, já sabendo que, como sempre, viverá os mais longos e mais bipolares 90 minutos de sua vida.
Assim como a velha Zulmira que sempre antes de uma decisão se ajoelhava no chão duro e frio de cimento de seu quarto e rezava o terço fervorosamente pedindo que os seus santos devoção, Santa Rita dos Impossíveis e Santo Expedito, o santo das causas justas e urgentes, intercedessem pelo seu Galo e impedissem que o homem de preto (o árbitro), para ela filho do coisa Ruim, prejudicasse o time do seu coração, reza a lenda que muitos atleticanos, nessas horas que antecedem uma final como essa, se apegam às mais diversas e curiosas superstições, crendices e mandingas. Promessas mil são feitas.
Ariosto, por exemplo, já tirou do fundo da gaveta e vestiu aquela camisa preta e branca, bastante surrada, impregnada e manchada pelo seu suor e que ele só tirará do corpo depois de percorrer a pé os mais de 50 km que separam a sua casa do Santuário de São Judas Tadeu, o santo das causas difíceis, caso, claro, o Atlético seja campeão.
Ariosto nunca conheceu a velha Zulmira e, talvez, nunca tenha ouvido falar dela. Mas, nunca dois seres humanos tão diferentes e de gerações distintas, se mostram tão parecidos, melhor, tão iguais. Só a atleticanidade pode explicar este fenômeno.
E eu, particularmente, vivendo estes tempos incríveis e de alegria infinita, me flagro quase sempre perdido entre a razão e a emoção e, não há um minuto sequer, que não fique imaginando o Atlético em campo e, minuto a minuto, conquistando este também tão desejado bicampeonato.
Ah! E, como não poderia ser diferente, cumprirei o mesmo ritual, uma espécie de TOC em preto e branco. Afinal, “Pé de Pato, Mangalô três vezes, 1, 2, 3, Saravá, arre égua, sai de retro Satanás”, tenho que fazer a minha parte para que os deuses do futebol mais uma vez queiram que o Galo seja campeão e o abençoem nessa segunda travessia pelo Furacão da Baixada.
Enquanto isso, em bom “minerês” vou fazendo minhas as palavras da velha Zulmira: “Que trem ‘bão’, sô”, sentir tudo isso e ser atleticano.