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Coluna Preto no Branco: E aí, Sampaoli? Quem nasceu primeiro? O ovo ou a galinha?

Foto: Flickr oficial Atlético

 

 

Max Pereira
15/09/2020 – 04h
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Louco? Visionário? Ousado? Diferente? Revolucionário? Imprevisível? O frenético treinador argentino é tudo isso e mais alguma coisa. Mas, humano e mortal como qualquer um de nós, tem também suas as dúvidas, as suas inquietações, os seus momentos de ira, os seus medos, os seus pesadelos e comete os seus pecados.

E, seguramente, ajustar esse time do Atlético deve estar tirando o seu sono. Ele sabe, por exemplo, que, em cada jogo que a vitória escapar, o Atlético não pode e não deve se preocupar apenas em buscar uma desculpa ou, simplesmente, atribuir tudo o que de ruim tenha acontecido ao imponderável futebol clube.

Causa e efeito, uma das leis da Física, funciona à exaustão no futebol. Assim, nem tudo o que acontece dentro de campo pode ser debitado tão somente à arbitragem e, nem tampouco, “são aquelas coisas que fazem parte no futebol” e, por isso, são aceitáveis e inevitáveis.

Nem os árbitros e nem o sobrenatural de Almeida são culpados dos erros e das deficiências do time que vêm se repetindo jogo a jogo, independentemente do resultado. No máximo podem funcionar como gatilhos. Assim, os erros têm que servir de alerta, de lição de casa.

É verdade que os adversários respeitam o Atlético. Também é fato que os méritos e a capacidade de Sampaoli são indiscutíveis. Mas isso não pode esconder os problemas e as deficiências do time atleticano e não elimina a necessidade de correções táticas e de conduta dos atletas diante das dificuldades e surpresas que o jogo, por vezes, oferece.

E como o futebol é um esporte coletivo é o todo que precisa ser ajustado, a partir, é claro, da lapidação individualizada das peças, porquanto cada um é cada um e, cada qual, reage de modo pessoal às exigências táticas, às cobranças e às ciladas que o jogo pode trazer.

De que adiantariam os erros e os fracassos se não aprendermos com eles. Os jogos do Atlético vêm mostrando, à exaustão, que, apesar de uma inegável evolução, há muito que ajustar, o que corrigir e que precisa ser repensado.

Ah, claro, a proposta de volume ofensivo e asfixiante do Atlético prevê o risco do contra-ataque adversário. Isso, porém, não elimina a necessidade de se precaver contra os contragolpes dos times adversários. Ou o nocaute será inevitável como, alias, já aconteceu. É que os adversários mostram que já se aperceberam que a cozinha atleticana anda muito desarrumada e desguarnecida, às vezes letárgica, e buscam se aproveitar dessas deficiências.

A lentidão da defesa atleticana, as atuações irregulares e a cabeça ruim de alguns jogadores, o condicionamento físico e o ritmo de jogo, diferentes de jogador para jogador, continuam, sendo o calcanhar de Aquiles do time atleticano. E a bola pune.

Por sua vez, os homens de frente estão abusando do direito de pecar pela má pontaria e pelas escolhas equivocadas. O volume de escolhas erradas de alguns jogadores do Atlético tem sido tão grande que chega a assustar. Incapacidade de raciocinar? Dificuldade de entender e aplicar a ideia de jogo de Sampaoli? Inadequação técnica? Despreparo emocional? E não é apenas sob pressão que isso acontece.

O time atleticano se ressente claramente da ausência de uma cabeça que faça o diferente. Não é de se estranhar, diante disso, que ocorra esse número abusivo de escolhas equivocadas. A falta de uma articulação de qualidade torna o time previsível, facilita a marcação contrária e se reflete nos erros.

Outro destaque negativo recorrente é o excesso de passes errados. A incapacidade de pensar diferente, a overdose de escolhas equivocadas, os desajustes táticos, a irregularidade de vários jogadores e o desequilíbrio emocional decorrente dos “incidentes” de jogo que o próprio time provoca, podem explicar tantos passes errados.

Mas o “scalt” de alguns jogos por vezes não aponta exatamente isso, o que não invalida a minha crítica. É que no último ou no penúltimo passe no ataque ou na saída de bola de bola sob pressão e nos momentos de tensão a qualidade invariavelmente cai. Houve jogos que, mesmo sufocando o adversário e tendo uma esmagadora posse de bola, o time atleticano errou muito e teve menos equilíbrio emocional e tático que o rival.

Mas que chato! O time está se ajustando e a irregularidade é normal. Além disso, Nathan voltou e, sem contar Everson, mais dois reforços, pelos menos, deverão vir e, a partir de outubro, quando a janela de internacional for reaberta, o time, tão certo quanto dois mais dois é igual a quatro, certamente vai arrebentar. E, mesmo assim, esse articulista continua cobrando. Que cara mais exigente!

É verdade que futebol não é ciência exata. É fato que no esporte bretão nem sempre dois mais dois é igual a quatro. Pode ser três, cinco ou zero. Mas isso não deve e nem pode impedir a busca do aperfeiçoamento.

Que time é esse que, durante 10 ou 15 minutos finaliza 9 ou 10 vezes, cria no mínimo 7 ou 8  chances claríssimas de gol, que  ora para no goleiro adversário que pega tudo, ora esbarra na trave, mas que, também peca imensamente nas finalizações? E que time é esse que, em um segundo, vai do céu ao inferno? E mais: não há nada que se possa fazer para minimizar riscos? Não há nada que se possa fazer para buscar mais equilíbrio e eficiência nos maus momentos?

Nathan voltou, mas … . É bom lembrar que Nathan vai precisar de um tempo para recuperar a forma e é natural que ele não vá bem nos primeiros jogos, quando terá que enfrentar a natural falta de ritmo, se readaptar ao jogo de intensidade e posse de bola de Sampaoli e conviver com as cobranças pesadas da massa. Além disso, ele vai precisar que os seus companheiros estejam bem, reativos à sua proposta de jogo.

E isso me dá o mote para, mais uma vez, defender a necessidade de que, além da parte física, do aprimoramento técnico e do ajuste tático, a cabeça e o emocional dos jogadores também deve ser objeto de um trabalho específico e bem cuidado.

A ideia de jogo de Sampaoli, por si só, já exige de qualquer atleta um preparo especial, sem o qual nenhum jogador é capaz de sustentar o ritmo, a intensidade ofensiva e a posse de bola que o esquema do argentino impõe. Então quer dizer que o jogo de Sampaoli não só exige do time adversário, mas também da própria equipe que o executa? Exatamente isso.

O técnico Lisca, respondendo a uma pergunta sobre Sampaoli, disse que o argentino tem uma missão: enlouquecer os treinadores adversários. E parece que não só estes enlouquecem. A torcida e os jogadores do próprio Atlético também. O grupo, e não apenas o time, vai sofrendo e evoluindo.

Faltou vontade, vibração, tesão, energia e determinação?  Faltou qualidade, inteligência e uma melhor organização tática? É preciso que todos entendam que o futebol de hoje exige além de ajustes táticos, condicionamento físico, potencial técnico, trabalhar bastante a cabeça dos jogadores.

E os jogadores do Atlético têm que entender que o sofrimento faz parte do aprendizado e da busca da perfeição. Um ideal que devemos todos saber que nunca será alcançado, mas sempre perseguido. Essa busca leva ao amadurecimento que é libertário e criativo. Entenderam por que a presença de um gênio criativo no time poderia simplificar esse processo?

Soma-se a isso tudo as características pessoais e emocionais de cada atleta e o fato de que eles ainda são submetidos a um nível geralmente insano de cobranças e de exigência de erro zero por parte da tresloucada massa atleticana.

Nesse espaço já sustentei a tese de que TUDO O QUE ACONTECE DENTRO DE CAMPO É CONSEQUÊNCIA DO QUE ACONTECE FORA DAS QUATRO LINHAS. E a cada dia, a cada jogo, essa máxima se ratifica.

E, por isso um alerta: nem tudo o que acontece fora de campo se refere tão somente ao trabalho de preparação do time e ao que ocorre intramuros do clube. As ingerências externas também merecem toda a nossa atenção. Assim, cobrar com inteligência e jogando limpo é uma coisa. Alimentar ondas e contribuir para plantar crises no clube é outra.

Como um atleticano já defendeu em suas redes sociais, é fundamental que o torcedor atleticano abrace o projeto Sampaoli. Primeiro, porque, apesar das idas e vindas deste início de trabalho, ele é revolucionário e promete muita coisa boa. Segundo, porque, caso contrário, aqueles tradicionais segmentos da imprensa que se acham donos do clube irão derrubar o argentino antes mesmo que ele possa completar 20 jogos no Galo.

Muitos “formadores de opinião,” só querem passe livre e que todos os seus mimos sejam atendidos, usando a torcida de escudo. Se não for do jeito deles todo dia criam uma intriga.

Ninguém me contou, mas tenho certeza de que Sampaoli sabe que, para responder à pergunta título deste artigo, ele terá que, além de sofrer junto com os seus jogadores, amadurecer a sua ideia de jogo, levando em consideração todas essas variáveis.

E aí Sampaoli? O time do Atlético carece de ajustes e vem oscilando porque vários de seus jogadores têm sido, de jogo para jogo, ou às vezes dentro do mesmo jogo, bastante irregulares? Ou são os desajustes táticos, associados ao desgaste provocado pelo volume ofensivo intenso aplicado pelo time, a causa da irregularidade de vários atletas?

E ai Sampaoli? Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?

Essa é a pergunta que você tem que responder. Aliás, essa é a pergunta que você certamente vai responder dentro de algum tempo e, por isso, muitos o querem fora do Atlético antes que isso aconteça.