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Afinal, Atlético, que projeto é esse?

Foto: Flickr oficial do Atlético

 

Por Max Pereira / @pretono46871088 @MaxGuaramax2012

Se tem algo que vale a pena sempre repetir é que o Atlético precisa passar por uma profunda reformulação de conceitos e métodos de sua gestão e, em particular, no trato do futebol profissional. Projetos exitosos, como o DNA do Atlético, devem ser continuados e potencializados. Profissionalização, transparência e compliance, o trinômio do sucesso.

O que aconteceu no Atlético no biênio 2013/14 foi fruto de um insight e não de um planejamento. Lá, faltou ao clube se estruturar e organizar para perenizar a sua passagem pela prateleira de cima. Hoje é bem diferente. O que ocorre no clube nos dias de hoje é um processo que, ainda que nebuloso para muitos, indica buscar criar condições para fazer o Atlético mudar de patamar sem o risco de retroceder. E a contratação e a passagem de Sampaoli pelo Atlético, quer queiram, quer não, simbolizou, por exemplo, esse movimento, além é claro, de ter gerado mil e uma expectativas e ter iluminado o imaginário do atleticano. Não se pode desprezar isso.

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Mas, a saída do treinador, interrompendo um contrato que vigoraria até o fim deste ano, ainda que isso agrade a muitos torcedores, deixou muita gente com a pulga atrás da orelha em relação ao propalado projeto que, segundo os próceres atleticanos, estaria em curso e teria por objetivo transformar o Atlético em uma potência do futebol mundial.

Dependendo do que acontecer daqui prá frente, a saída de Sampaoli pode gerar uma descontinuidade avassaladora no que foi construído até agora. E, independentemente do que vier, já será, em alguma medida, uma perda significativa e um desafio maior ainda para o comando atleticano que deverá se contorcer para evitar que a perda do treinador e a sua reposição não gerem um prejuízo incontornável.

Assim, da mesma forma que uma simples troca de presidente é insuficiente para mudar um clube, se não forem mudados os métodos e concepções de gestão e de trato do futebol, mudar simplesmente o treinador não será suficiente para tornar o time atleticano vencedor e campeão, mesmo porque, mais que escolher bem o nome do substituto de Sampaoli, é fundamental rever tudo o que foi feito até agora, aprender com erros que foram também dos gestores, antigos e atuais, e fazer diferente, bem diferente.

O Perfil “Galo Estatísticas” nos ensina que “o caminho de uma reconstrução e profissionalização completa do Galo, passa muito pelo rompimento de ideias arcaicas e saudosistas sobre futebol, difundidas fortemente pela velha imprensa aqui em Minas Gerais”, o que, segundo ele, nessa temporada teria atrapalhado muito, o que não deixa de ser verdade. E o perfil lembra ainda que aconteceram “muitos erros e uma reconstrução que levou o Galo para a fase de grupos da libertadores”.

E conclui afirmando que Sampaoli “quebrou uma passividade de anos. Ser simpático e agradar à arcaica imprensa mineira é fácil, difícil é aceitar as mudanças”. Eu diria que fazer qualquer mudança e vê-la concretizada não é tarefa fácil. Ao contrário, por vezes é até inglória. As resistências, até naturais, são muitas, complexas, de origens diversas e, por vezes, devastadoras.

E hoje não é de se estranhar ver atleticanos de dentro e de fora do clube e não atleticanos se unirem estrategicamente buscando fazer melar todo e qualquer processo de profissionalização e modernização da gestão do clube. Os primeiros porque ou temem o novo por não entendê-lo ou por recearem perder privilégios, status, poder de influência ou ainda por alguma rixa pessoal com algum gestor. Os segundos, não atleticanos, porque obviamente, e não preciso explicar, querem jogar o clube no buraco. E se isso já não fosse pouco, segmentos das mídias tradicional e alternativa, alguns ávidos por audiência e retorno publicitário, outros em razão de interesses heterodoxos, alimentam essas resistências despudoramente, seja de forma explicita, seja por potencializarem crises e explorarem boatos.

Para que este projeto tome corpo de vez é preciso que o clube ultrapasse essa fase que as contratações de Hulk e de Nacho sinalizam. Ou seja, não basta encorpar o elenco, mesmo porque um grupo pesado indica, de per si e dentre outras coisas, que o clube tem que, além de avaliar com cuidado extremo o nome do substituto de Sampaoli, se estruturar e organizar para que daqui pra frente o Atlético consiga resistir às intempéries, proteger com eficiência seus ativos, atingir e perenizar o nível de excelência colimado, garantir a continuidade do trabalho, deixe de gerar e recepcionar crises vindas de fora de seus muros, e ainda combater e derrotar o extracampo em todas as suas esferas, níveis e dimensões.

A experiência nefasta do Atlético com a SELEGALO deve servir de alerta para quem comanda hoje o futebol do clube. O futebol mudou muito de lá para cá, mas algumas coisas permanecem imutáveis. E, ainda que esteja longe de ser o Atlético dos sonhos de muitos atleticanos que acalentam ver um clube profissional, viável, transparente e pujante, salta aos olhos que o glorioso de hoje, a exemplo do próprio futebol, já é muito diferente daquela agremiação daquela época.

Uma coisa que permanece inalterável, por exemplo, é que a experiência, o estofo, o background, o conhecimento da alma do boleiro e a capacidade de se fazer respeitar e gostar continuam sendo requisitos essenciais para que qualquer treinador obtenha o sucesso desejado. Um treinador sem qualquer uma dessas qualidades está fadado ao fracasso se for colocado para comandar um elenco pesado em um clube sempre tenso como o Atlético

Naquela época, além de não se ter tido o cuidado necessário na escolha de quem iria comandar a SELEGALO, a gestão do futebol e do próprio clube foi absolutamente desastrosa. O Atlético não tem o direito de repetir estes erros.

Ainda que, guardadas as características de cada época possa se dizer que o saudoso Elias Kalil tinha de fato um projeto audacioso e ousado para o clube que passava pela construção do que é hoje a Cidade do Galo que, aliás, leva o seu nome, e a formação de um time de ponta e que o também saudoso Chain Mitre e o José Roberto da Pax de Minas se somaram e desenvolveram um projeto vitorioso que resultou no maior time de Futsal do mundo de todos os tempos, também é claro que essas foram experiências pontuais que, se de um lado deixaram um legado inegável, de outro não se traduziram em mudanças perenes de qualidade e de modelo de gestão para clube.

E a conquista do primeiro campeonato brasileiro em 1971 teria sido fruto de um projeto? Entendo que não. Primeiro, porque as concepções de trato e organização do futebol da época não tinham o grau de sofisticação dos dias de hoje. Segundo porque a competição era inédita e o Atlético, que nunca foi favorito, correu por fora e surpreendeu, tal e qual um azarão nas corridas de cavalo.

Alguns saudosistas não percebem que o futebol evoluiu e hoje é um negócio sistêmico e multibilionário e que, para o Atlético competir e ser vitorioso, o clube também deve repensar suas concepções de gestão e de trato do futebol, caso contrário estará condenado a continuar um simples coadjuvante. Ou seja, um clube para se tornar vencedor e campeão precisa não só conhecer como o sistema futebol funciona, como também saber como responder as demandas que ele propõe e como enfrentar e superar os desafios que ele impõe.

Dentro de campo, por exemplo, o futebol de hoje tornou-se essencialmente físico, tático e mental em detrimento da técnica. E, fora das quatro linhas, paralelamente à evolução tecnológica e à revolução de conceitos e métodos, seja na preparação dentro de campo, seja na gestão, o sistema futebol de hoje é composto por vários agentes que, com níveis diferentes de influência e poder, interagem entre si e ditam a dinâmica do esporte.

Diante de tudo isso, a grande dúvida que paira nas mentes atleticanas e intranquiliza os corações alvinegros, deriva do não saber ao certo se o que chamam de projeto é de fato um processo minimamente organizado e estruturado para fazer surgir de vez um Atlético verdadeiramente protagonista.

Falei em processo e me lembrei de que a palavra projeto tem ainda como sinônimos planos, planeamentos, esquemas, propostas, desenhos, esboços, programas, concepções, delineamentos, rascunhos, debuxos, plantas, traçados, riscos, proposta, empreendimento, iniciativas. Pode significar também intenções, propósitos, intuitos, tenções (com ç mesmo), intentos, desígnios, desejos.

Mas, afinal Atlético, o que é de fato este projeto de que tanto falam e pouco mostram? É já uma iniciativa concreta como dizem ou ainda é algo do tipo esboço, rascunhos, intenções, desejos?

Ah! Sei que o Atlético vive um momento impar onde a delicada situação financeira do clube demarcada por uma divida acachapante contraindica os investimentos que estão sendo feitos. Como o Galo é o clube dos paradoxos nada a estranhar. Mas, como defender o que racionalmente é indefensável? Ou seja, que projeto é este que pretende ter a resposta para este enigma financeiro?