Foto: FMF
Por: Max Pereira
21/04/2020 – 10h20
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O Covid 19 é um vírus novo, do qual os cientistas pouco sabem. Não há um medicamento para cura e nem vacina. Enquanto o mundo é paralisado, tão certo como dois mais dois é igual a quatro, a economia mundial se desacelera e o futebol, em todos os rincões do planeta, sente os efeitos perversos desse momento de interrupção de calendário, indefinições e incertezas.
Nesse cenário de crise, que afeta indistintamente qualquer tipo de empresa e instituição, vislumbrar possibilidades em curto e médio prazos e ainda fazer um planejamento seguro é impossível. Nunca o futuro foi tão incerto. E esse diagnóstico serve para clubes, parceiros, investidores e para qualquer outro segmento que, histórica e comercialmente, compõe o sistema futebol, como por exemplo, as televisões e os fornecedores de material esportivo, dentre outros.
Alguns clubes já se ressentem da perda de contratos de patrocínio, outros da falta de receita relativa às transmissões televisivas vez que, se não há jogo sendo transmitido, não há pagamento das cotas contratadas. A TV é a principal fonte de receita da maioria esmagadora dos clubes de futebol.
Em meio a tudo isso, contratos que se encerram, renovações pendentes e sem solução, dívidas que se acumulam, receitas que começam a secar, redução de salários, antecipação de férias e varias outras medidas emergenciais e ainda o que fazer com o calendário e com as competições interrompidas e com as demais programadas para a temporada, são preocupações que estão na ordem do dia dos nossos clubes.
O pano de fundo é sempre a falta de dinheiro e como sobreviver. Vários clubes pequenos e médios muito provavelmente encerrarão suas atividades e deixarão de existir.
Nestes tempos de pandemia pelo Novo Corona Vírus, outra infecção generalizada contamina a informação, multiplica as “notícias” plantadas, dissemina inverdades e faz a desinformação e a confusão se instalarem, gerando constrangimentos, conspurcando ambientes, produzindo desassossego e provocando reações por vezes destemperadas, por vezes injustas, por vezes carregadas de uma indignação despropositada e quase sempre bastante doidas.
Sempre foi prática recorrente e normalizada o plantar notinhas e “notícias” em colunas ou em falas pontuais dos diversos “formadores” de opinião que alugam suas penas e espaços.
No mundo do futebol, empresários, agentes e dirigentes são useiros dessa prática, seja para valorizar, seja para desvalorizar seus ativos, seja para mandar recados porcamente cifrados, seja para testar determinada torcida quanto à possibilidade de um negócio geralmente criticável, seja para normalizar determinada transação reprovável e/ou temerária e neutralizar resistências indesejáveis.
E não é que a mídia convencional e as redes sociais se tornaram solos férteis para que uma versão do século XXI das antigas carpideiras, florescesse e desse o tom das “notícias” que se quer veicular?
Carpideira é uma profissional feminina, das antigas, cuja função consiste em chorar para um defunto alheio, mediante um acordo monetário com os familiares do(a) falecido(a). Assim, a carpideira chorava sem nenhum sentimento, grau de parentesco ou amizade.
No contexto do Antigo Testamento, encontramos mulheres profissionais do pranto e do luto. Essas senhoras eram conhecidas pela alcunha de “carpideiras”, no hebraico lameqōnenōt – literalmente, aquelas que são como fontes de lágrimas. Essas profissionais eram contratadas para lamentar, chorar, e lamuriar nos velórios e, por esta razão, o termo hebraico é traduzido no texto bíblico por “pranteadoras profissionais”.
Esperava-se que, através da simulação de angústia e dor, manifestadas por estas mulheres, o participante do velório fosse contagiado pela tristeza e aflição. O principal objetivo era levar os presentes ao choro e lamento, mesmo que o defunto não merecesse.
A peça teatral “As Centenárias”, escrita por Newton Moreno e dirigida por Aderbal Freire-Filho, encenada pelas grandes atrizes Marieta Severo e Andréa Beltrão em 2007, descreve com humor e ironia a estória de duas carpideiras que percorrem velórios com suas lamúrias e contando causos do interior do Nordeste. Uma ficção onde qualquer semelhança com a realidade talvez não seja mera coincidência e, sim, algo bem perto da verdade.
Muitos comunicadores, comentaristas, blogueiros, twitteiros, youtuber’s, enfim, “formadores” de opinião, tanto da mídia convencional, quanto das diversas redes sociais, se converteram na versão moderna das antigas e tradicionais carpideiras, cuja missão não é a de provocar lágrimas pura e simplesmente, mas sim, a de moldar comportamentos e reações que interessem, se não a audiência deles próprios, a quem os contrata e municia.
Seja com a “notícia”, seja com o “furo”, seja com a “opinião”, geralmente bastante rasa, e não menos tendenciosa, essas “carpideiras” do século XXI, buscam, ora dar o tom do debate, ora desviar o foco do principal e mais importante e, assim, “vender” qualquer medida, decisão, ideia ou projeto que, em princípio, não sejam lá muito palatáveis.
Nesse circo das desinformações não existe plateia tradicional. Apenas o picadeiro, onde os palhaços, i.e., os consumidores das “notícias” e das “opiniões”, são conduzidos como marionetes.
Não é de se surpreender que agentes, empresários, dirigentes e seus multiplicadores sejam contraditórios ou incoerentes.
Chacrinha, o Velho Guerreiro, dizia sempre: “Eu vim para confundir e não para explicar”. Mas, enquanto o mais folclórico comunicador do Brasil, buscava provocar, divertir e ainda polemizar do seu jeito peculiar, as carpideiras de hoje usam, alguns com maestria, a arte de confundir e gerar sentimentos ambíguos sobre fatos reais e fabricados.
Assim é que, os geradores da “notícia” por vezes se desmentem com a maior cara de pau ou se mostram incoerentes e dúbios com extrema desfaçatez.
O importante é gerar dúvida, normalizar negócios normalmente criticáveis, passar recados com endereço certo.
Como explicar, por exemplo, que um dirigente do Atlético diga em um dia que o clube não vai contratar enquanto durar a pandemia e as coisas não entrarem nos eixos, mesmo porque, os parceiros e investidores, dadas as agruras da economia e a alta do dólar e do euro, também se mostram refratários a qualquer investimento, e no outro, informe que o Santos fez jogo duro quanto a uma possível negociação envolvendo o zagueiro Lucas Veríssimo?
O que há de verdade nas informações sobre a tal novela Santos-Lucas Veríssimo-Galo? A proposta de 5 milhões de euros pelo zagueiro do Peixe é real ou a quem interessa plantar essa notícia?
Qual é a verdade? O Atlético estaria, de fato, fechado para contratar ou, na verdade, continua ativo no mercado?
Em recente entrevista ao SportSCenter, da ESPN Brasil, Alexandre Mattos deu a entender que o Atlético, na verdade, ainda incursiona no mercado e, no mínimo, continua sondando possibilidades.
Ao falar sobre a relação com Sampaoli e se dizer impressionado com a agitação do treinador argentino, Mattos não nega os planos do Galo de se reforçar para a temporada, ao mesmo tempo em que ressalta as dificuldades de negociar em tempos de pandemia.
Ao. destacar que já conheceu pessoas agitadas, muito agitadas, mas nunca alguém como o treinador do Galo, ele reforçou a ideia de que a busca por reforços não está interrompida. Dizendo que o argentino liga para ele duas a três vezes todos os dias para falar de reforços, Mattos admite fazer contatos, mas reconhece que tem sido realmente difícil negociar agora, com o mundo inteiro preocupado com o Coronavírus.
Mas, antes de negociar, ressalta, “temos que definir o que queremos, e isto nós já fizemos. E temos um plano para alcançarmos nossos objetivos e os reforços estão nesses planos, mas no momento certo”, pois, segundo ele, só trabalha dentro do orçamento do clube.
Mas, que orçamento? O orçamento do clube para o atual exercício, oficialmente informado pelo próprio Atlético, já não estaria no limite ou, até mesmo estourado, com as contratações efetuadas no início da temporada? Seria, então, um novo orçamento, ajustado com a interveniência dos parceiros?
E mais, se o próprio clube está conversando individualmente com os seus parceiros para manter o recebimento dos R$ 26,3 milhões planejados com patrocínio e marketing em 2020, o que significa incerteza na realização dessa receita, os planos para se alcançar os objetivos colimados pela direção e contratar os reforços desejados, estariam alicerçados em que base orçamentária?
O valor projetado com patrocinadores equivale a 6,7% do previsto como receita na temporada, R$ 388,7 milhões no total. O clube informa, ainda, ter recebido parte deste montante, vez que alguns patrocinadores pagam as quantias de forma antecipada. Neste caso, as cotas são anuais e não variam.
Em contrapartida, há parceiros que fazem o pagamento parcelado em 12 vezes e é aqui que reside grande preocupação da diretoria, segundo ela própria revela.
É bom lembrar que receita é uma coisa e orçamento outra bem diferente.
Como explicar, também, que, como as coisas estão paradas em razão da pandemia, está difícil ou mesmo impossível renovar com Victor e com Cazares e que, ao mesmo tempo, seja possível negociar e liberar Patric para que este acerte com o Sport Recife, negociar com os representantes de Mariano e fazer as sondagens admitidas por Alexandre Mattos?
Ora não dá para contratar por causa da aguda desvalorização do real e nem para renovar com Cazares e Victor porque tudo está parado por causa da crise, o que fez o clube reduzir salários. Mas, ora dá para falar em repatriar um lateral de 33 anos e, agora, dá para aumentar a proposta em euros por um zagueiro. E aí ??!?!??
Ora é Cazares que quer sair. Ora a renovação depende da avaliação do treinador. Mas, Sampaoli já não teria deixado claro que quer contar com o craque?
Quem, no Atlético, quer ver Cazares fora do clube? Seguramente não é Sampaoli. E as declarações de Mattos deixam claro que não é o jogador responsável pelo imbróglio de sua renovação, conforme o clube, por meio de seus prepostos, sempre quis dar a entender. E pasmem: o próprio diretor afirmou recentemente que a renovação não garante a continuidade do equatoriano no clube. Quem? Quem? Quem quer ver Cazares longe do Atlético?
Segundo matéria do UOL, após recusar oferta do exterior, Cazares é consultado pelo Atlético para renovar com o Clube. Os deuses do futebol ajudaram. Se os árabes tivessem aceito a contraproposta do clube, ainda assim o Galo, mais uma vez, teria feito um péssimo negócio. E por que?
Quem, dentro do Atlético, que quer a saída de Cazares, é quem deveria deixar o clube. Na tática surrada e imoral dos recados para ver se cola, uma onda ressuscitou a troca absurda de Cazares por Gustavo Scarpa. E ainda há blogueiro/twitteiro atleticano que faz pesquisa. Já encheu.
E tem mais: “informações” de bastidores dão conta de que o meia Araos estaria na lista de pedidos do técnico Jorge Sampaoli. E, ao mesmo tempo, em São Paulo surge, fortuitamente, a “notícia” que o Corinthians aceitaria uma troca e poderia pedir o Cazares ao Atlético.
Brincadeira? Piada? Notícia para testar ou preparar o atleticano para a negociata? Recado? De quem pra quem? Do Galo para o Timão? Ou dos dirigentes do time paulista para os seus pares de Lourdes? Quem, dentro do Atlético, não quer ver mais Cazares vestindo o manto sagrado? Enfim, quem são os vendilhões do templo atleticano? Esta é a pergunta que não quer calar.
O afã de requentar propostas e listas de reforços de Sampaoli (são mais de uma ou, pelo menos, surge um nome novo a cada dia), e de divulgar negócios fictícios e as saídas desses ou daqueles atletas, etc., beira o mau caratismo de quem está sem pauta ou não tem o que falar e se presta a cumprir esse papel deprimente de carpideira moderna.
No artigo “Fake news e o momento do Galo: com o mercado da bola parado, torcedores sofrem com as especulações”, publicado aqui no Fala Galo, Caio Ribeiro, Ángel Baldo e Samuel Resende alertam que muitas “notícias” surgem como uma necessidade de alguns veículos obterem cliques e acessos no atual contexto, em que existem poucas informações verdadeiras e confiáveis.
Assim, negócios que não têm, pelo menos nesse momento, nenhuma possibilidade de concretização, por envolverem jogadores famosos e cifras significativas, acabam sendo noticiados, desviando o foco o torcedor para aquilo que é realmente importante e merece atenção.
O cenário mudou pra todo mundo. Os clubes europeus, por exemplo, não vão sair comprando jogadores a torto e a direito ou, pelo menos, com a frequência e a intensidade de antes. É bom lembrar que o Atlético orçou mais de R$ 50 milhões em vendas, um patamar que dificilmente será atingido nessa temporada. A prudência recomenda aos dirigentes pés no chão porque os clubes viverão dias difíceis.
E prudência aqui não se refere apenas a não fazer contratações irresponsáveis, mas também a não ceder jogadores de forma temerária simplesmente para fazer caixa a qualquer preço.
Com o mercado parado, lembram os articulistas citados acima, que “as fontes de receitas dos clubes estão quase secando” e, com isso, “é improvável que tenhamos notícias positivas nesse período, exceto se uma oportunidade irrecusável de mercado surgir. Isso se reflete em todos os clubes do Brasil, que desde a parada não anunciaram novos reforços”.
As pouquíssimas exceções ficam por conta de negócios sem custo e que já estavam alinhavados como a transferência de Patric para o Sport.
Na contramão desse ufanismo fabricado em relação a reforços e às “bombas” anunciadas, as dívidas explodem, as cobranças pipocam e a realidade dura se impõe.
O Departamento Jurídico do Atlético anuncia que já prepara um recurso para enviar a Fifa para prorrogar o prazo de pagamenta do multa com a Udinese pelo Maicosuel. O clube já tinha informado que o dinheiro, anteriormente separado para quitar essa dívida, teve que ser usado para pagar as férias coletivas aos jogadores.
Vender o jantar para garantir o almoço do dia seguinte. A política do cobertor curto. O que você quer cobrir? A cabeça ou os pés? Se ficar o bicho come, se correr o bicho pega. Anos e anos de gestões temerárias não podiam resultar em uma situação diferente. Até quando?
Mas nem tudo são cravos. O Atlético também informa ter vencido, de forma definitiva, a pendenga relativa a Otero.
Tenho muitas críticas à gestão de Sette Câmara que, ao meu ver, errou muito. Mas achei ótimo ele ter dito o que disse em entrevista recente: “O rival foi exaltado por muita gente, inclusive pela mídia, pelos times que montou sem pagar ninguém e pelos títulos que conquistou em decorrência. Pagar dívidas não dá IBOPE”.
De fato pagar dívidas não dá IBOPE e grande parte da torcida não reconhece a importância de um passivo bem administrado. Ainda bem que o presidente atleticano tem essa preocupação.
Em recente matéria, o jornal O Tempo avalia que o Coronavírus freia adesão de sócio-torcedores dos clubes mineiros. Ou seja, mais uma queda de receita a vista.
Criatividade é a alma do negócio nesse momento. E é essa a resposta que se exige do Atlético e não esse disse me disse desenfreado e contraproducente que o clube, por vezes, alimenta na mídia convencional e nas redes sociais.
O COVID-19 é apenas o pano de fundo do debacle, de há muito anunciado, dos pequenos e médios clubes brasileiros, sempre jogados à sua própria sorte e esmagados por uma política que privilegia a poucos. E muitos, entre os grandes, se o futebol não for repensado e se novos métodos e concepções de como o esporte deve funcionar sistemicamente não forem implementados, também poderão sucumbir.
Reestruturar o futebol tornou-se hoje imperativo para a sobrevivência do esporte. E é aqui que o debate responsável deve focar e onde os dirigentes atleticanos e os parceiros do clube devem concentrar energia, esforços e muita criatividade.