Um mantra está no ar: Muda Atlético, uma revolução em preto e branco. O que fazer? Como fazer?
Max Pereira
Do Fala Galo, em Belo Horizonte
03/10/2019 – 12h
No artigo de estreia dessa coluna defendi a ideia de que construir uma identidade vencedora e campeã é a missão indelegável do atleticano.
Nesse ensaio, a partir da elaboração de um diagnóstico, vou buscar avançar no que fazer e no como fazer para que esse objetivo se torne realidade.
O primeiro passo é incentivar o atleticano a fazer uma profunda reflexão sobre a tragédia atleticana.
Não, não é figura de linguagem. A palavra tragédia se aplica em sua totalidade e significado para definir o histórico de crises e insucessos que vêm marcando a vida do Atlético ao longo dos tempos, a par de alguns momentos extremamente positivos e felizes como o biênio 2013/2014.
Além de conhecer a história e entender como funciona o sistema que comanda e dá forma ao esporte bretão nessas terras tupiniquins, é fundamental saber como o Atlético vem se se organizando e sendo conduzido interna e administrativamente, ano após ano, e, também como o clube tem se relacionado com o mundo do futebol.
Se não conhecer todas essas variáveis e não conseguir entender o funcionamento desse complexo e emaranhado sistema que é o mundo do futebol, o atleticano nunca conseguirá perceber, em sua plenitude, a extensão da tragédia alvinegra e, em consequência, também jamais se tornará agente da história do clube do seu coração, porquanto manter-se-ia incapaz de promover a revolução que transformaria o Atlético no time vencedor e campeão, sonho de todos nós.
E essa é a demanda que o Atlético está impondo a cada um de seus torcedores, muitos ainda cegos e surdos aos claros sinais de erosão moral, técnica, administrativa e financeira que o clube tem exibido já há bastante tempo, cada vez mais explícitos e estridentes.
Mas não esperem uma luta fácil, simples, sem idas e vindas e sem resistência daqueles que, instalados no poder, certamente tudo farão para manter o status quo.
Não esperem, também, uma luta que não vai exigir de cada atleticano disponibilidade, denodo, perseverança, determinação e capacidade de superar os obstáculos que certamente se interporão no meio do caminho. Aquelas pedras que têm que ser removidas ou ultrapassadas ao longo do caminho.
Aqui, vale repisar a seguinte lição: se você quer transformar o Atlético é preciso que, antes, você transforme a si mesmo, exercício fundamental para que você, que já venceu o vento, possa, mais que acreditar, derrotar o tsunami que ameaça ruir de vez as estruturas atleticanas.
Ou seja, é preciso nos preparar para a luta, uma luta que vai exigir por vezes que cada um de nós deixe a sua zona de conforto, o que não é fácil e, nem sempre, prazeiroso, e que em outros momentos vai nos fazer sentir impotentes e derrotados.
Obviamente, canalizar nossas frustrações para cima dos jogadores não é a luta ideal. Cobrar e criticar pontualmente uma má atuação é aceitável e normal, mas fazer e alimentar campanhas virulentas contra A ou B, como estão fazendo agora com Cazares e Elias, tira o foco daquilo que, efetivamente, é o mais importante para o clube: buscar implantar no Atlético novos métodos e conceitos de governança e transparência.
Se existem problemas localizados e deficiências pontuais no grupo atleticano, e isso é fato, a solução está na busca de um novo modelo de gestão e planejamento de elenco. Sem isso, apenas trocar jogadores é trocar seis por meia dúzia.
No segundo ensaio dessa série do “PRETO NO BRANCO” busquei discorrer sobre o perfil da relação clube/torcedor para demonstrar que a agressividade e a rejeição à determinado tipo de jogador nada tem a ver com o desempenho dele em campo e, sim, a fatores de ordem sociológica, a fim de demonstrar que esse comportamento em nada ajuda o clube. Ao contrário, os inimigos se locupletam com esse comportamento e agradecem.
Conhecer-se a si próprio e às suas idiossincrasias é a melhor forma de alguém preparar-se interiormente para a luta que se faz necessário encampar.
Só consegue fazer uma boa luta quem estiver preparado e disponibilizado para ela.
Fazer nascer o Atlético campeão dos sonhos de todo galista vai levar tempo sim. Mas, o fundamental é saber levar o clube a dar passos seguros e concretos rumo à meta colimada.
Do ponto de vista institucional e de governança alguns clubes brasileiros estão muito à frente do Atlético, como Bahia, que vive uma revolução fantástica e é dono do melhor projeto no Brasil, Grêmio e Internacional, nessa ordem. Não à toa estes três clubes estão brigando na parte de cima da tabela do Brasileirão. E o tricolor gaúcho ainda é semifinalista da Libertadores.
Do ponto de vista financeiro, Flamengo e Palmeiras, hoje cantados em verso e prosa pelos elencos que possuem e pelo futebol mais pujante que exibem, dominam o futebol brasileiro, não obstante serem apenas subprodutos do dinheiro que está jorrando em seus cofres. O rubro-negro se mostra mais organizado e pacificado internamente que o Porco, além de exibir maior consistência administrativa que o time paulista.
Se tirarmos o dinheiro desses dois clubes eles provavelmente afundarão como pedra n’água, pois, a meu ver, falta-lhes ainda um planejamento mais consistente a longo prazo. O Palmeiras pós Parmalat nos autoriza a fazer essa ilação.
E, do ponto de vista sistêmico, Flamengo e Corinthians são o carro chefe do futebol brasileiro.
O Timão é um caso à parte. Ao mesmo tempo em que, ao lado do Flamengo, desfruta das maiores receitas televisivas, o time do Parque São Jorge se afunda em uma dívida impagável relativa à arena de Itaquera.
Cronicamente mal administrado e em crise permanente, o Timão ainda assusta qualquer adversário e é candidato a qualquer título, graças ao seu imenso poderio político e à força da camisa. Até quando?
Até que os clubes que estão se estruturando, se profissionalizando e investindo em um planejamento consistente de longo prazo, como citado acima, o superem ou, pelos menos, coloquem em xeque a sua hegemonia. Vai levar algum tempo, mas, se o Timão continuar nessa trilha em que a irregularidade e a convulsão política são uma constante, isso fatalmente acontecerá.
O Corinthians, sob esse aspecto, serve de alerta para o Atlético. Times do povo, Timão e Galo são irmãos siameses quanto ao modelo ultrapassado de governança e aos efeitos colaterais decorrentes.
Irregularidade, crises e problemas financeiros são os fantasmas que não assombram apenas ao Galo Forte Vingador, mas também à grande maioria dos clubes brasileiros.
São Paulo, Santos, Athletico PR e Vasco, por exemplo, tem projetos próprios e diferentes entre si, imperfeitos todos, e vão se sustentando aos trancos e barrancos, cada qual de acordo com suas potencialidades de momento.
O Furacão, que já consegue resultados positivos em competições de mata mata, ainda carece de estrutura para vencer competições de tiro longo como o campeonato brasileiro, problema comum à grande maioria dos clubes brasileiros, em especial, ao próprio Atlético.
O rival azul, por sua vez, vive o pior momento de sua história e vai percorrendo a sua Via Crucis. E, aqui, é necessário dizer que o calvário cruzeirense apenas exemplifica o quanto os clubes brasileiros em geral são pessimamente administrados e expõe o tanto que os dirigentes, via de regra, tratam irresponsavelmente as coisas de seus clubes.
Portanto, não sejamos inocentes em acreditar que o que está acontecendo com o time da Toca é um caso isolado. Não será surpresa nenhuma se algum outro clube, inclusive de expressão, passar a vivenciar experiências similares à do clube da Toca.
Nesse sentido, vale citar o caso de dois gigantes do Rio de de Janeiro. O Fluminense vem revelando jogadores a fórceps para sobreviver e vender mais à frente e o Botafogo vem se contorcendo ante uma insolvência eminente e o sonho de uma transformação em empresa que não decola.
Historicamente, o Atlético não tem sido lá muito diferente da maioria absoluta de seus co-irmãos no que concerne ao acúmulo de um passivo quase impagável, contratações equivocadas, vendas temerárias e mal feitas de jogadores, falta de planejamento de longo prazo e de transparência, amadorismo na condução de seus interesses, na proteção de suas informações estratégicas, na blindagem de seus jogadores e do clube contra a ação de agentes externos nocivos, no trato das categorias de base e na transição dos garotos para o profissional, etc., etc., etc..
Desnecessário descer a detalhes sobre a conturbada e anômala relação do Atlético com os diversos atores que dividem com o Galo o palco do futebol brasileiro.
Basta relembrar, por exemplo, o seguinte: as arbitragens historicamente perversas, a relação quase sempre angustiante e desfavorável com as entidades madrastas e com a imprensa e mídia que mais desinformam do que informam, e a concorrência desleal com os rivais, demarcada, dentre outras coisas, pela ausência de play financeiro e pela falta de ética.
Soma-se a isso uma comunicação institucional absolutamente deficiente no trato das “notícias” plantadas e em oferecer a desejável e tão necessária transparência aos atos do clube, e a inexistência de uma política de marketing eficiente e dinâmica, que consiga trabalhar e cacifar a marca Atlético e também explorar a marca de seus principais ativos.
Exemplo crasso disso é o que aconteceu com R10 ou melhor, o que não foi feito em relação ao maior fenômeno mercadológico do futebol mundial dos últimos tempos, inexplicavelmente desprezado pelo clube sob o ponto de vista do marketing, quando o astro por aqui passou.
O segundo passo é saber o que fazer com todo esse conhecimento.
No terceiro artigo dessa série, falei da necessidade do Atlético e do próprio futebol brasileiro resgatarem o lúdico, a criatividade, a inventiva e a alegria, receita infalível para se criar um time campeão e vencedor.
Mas, chamei a atenção para o fato de que para se produzir esse resgate dentro de campo é fundamental que, fora dele, ocorra uma revolução. Se nada ocorrer fora dos dos gramados, nada acontecerá dentro deles.
Assim, o atleticano deve canalizar todos os seus esforços para que essa transformação ocorra de forma segura, definitiva e efetiva, identificando instrumentos e ferramentas que possam dar concretude à luta e à construção de um clube forte e do mundo.
Uma dessas ferramentas deve ser, por exemplo, a construção de um novo e moderno estatuto para o clube, vez que esse instrumento é a Constituição da entidade, a Carta Magna que regerá os princípios da boa e saudável governança.
A boa notícia é que você não está sozinho. Nas redes sociais já existem sinais muito claros de que muitos atleticanos já se aperceberam da necessidade de se mobilizar em torno das ideias defendidas nesse espaço. Por exemplo, procure estreitar laços com quem já está propondo ideias e caminhos concretos para renovar o Galo.
Lembro ainda a você, sócio-torcedor que injeta seu dinheiro no clube, que é seu dever, por princípio, justiça e direito, se fazer ouvir e participar da vida política do clube, votando e sendo votado.
E você só conseguirá fazer isso se tornar realidade se se mobilizar.
Um alerta: é preciso, também, por uma questão de justiça, amor à verdade e no interesse maior do Atlético, verificar se, em meio a tudo isso, existem iniciativas positivas no clube que devem ser mantidas e/ou protegidas e até mesmo potencializadas.
E, no que se refere à base e à transição para o profissional é preciso reconhecer que existem, de fato, sinais alvissareiros que demandam cuidados e apoio.
Renovo o convite à reflexão, à ação e, uma vez mais, lembro que essa coluna tem como objetivo basilar abrir o espaço para que você exponha as suas sugestões, critique à vontade e faça do debate a grande arma para o amadurecimento dessa ideia.
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Edição: Ruth Martins
Edição de imagem: André Cantini