Um jogo no escuro: imaginação x realidade – uma análise entre aspas
Max Pereira
Do Fala Galo, em Belo Horizonte
19/08/2019 – 4h
Comentar ou fazer qualquer análise de um jogo sem tê-lo visto chega a ser leviano.
O curioso nesse duelo dos Atléticos foi a torcida ter que acompanhar um jogo apenas pelo rádio, prática incomum hoje em dia para a maioria absoluta de torcedores dos tempos modernos. A gente sempre encontra uma televisão aqui ou ali fazendo a transmissão da partida, às vezes até um site ou aplicativo que esteja disponibilizando as imagens tão cobiçadas.
Mas, desde o início, o rádio sempre esteve “mostrando” tudo o que acontece dentro de campo. Até aquela bola que na verdade ia parar nas nuvens, mas raspava as traves no vozeirão do locutor famoso e querido ainda ecoa. Era possível “ver” o seu potente som se refletir nos locais mais inusitados e nos momentos mais impróprios.

Lembro-me de um padre atleticano que celebrava um casamento com o rádio ligado dentro das suas vestes e um minúsculo fone em um dos ouvidos, o que lhe permitia acompanhar o jogo do Glorioso, que acontecia exatamente às 19h de um outro sábado qualquer.
E, precisamente, no momento em que iniciava sua prática, o Atlético fez um gol com Lucas Pratto, o inesquecível Urso argentino. E o preclaro reverendo, aos gritos, desejou aos noivos que aquele casamento fosse um “GOOOOOOOOAAALLLLLLL de placa do Galo”.
Aquela casa de Deus, por um momento, transformou-se em uma pequena, porém vibrante, extensão das cadeiras do Horto. Paixão, magia, imaginação, fantasia e sonho sempre modularam as ondas do rádio.
Em alguns estádios acanhados Brasil afora, um barranco ou telhado, estratégico e generosamente erguido do lado de fora, permitem que centenas de gente do povo possam ver o time do coração. E, muitos, só acreditam no que estão vendo ou no que querem ver se ainda estiverem com aquele velho rádio colado aos ouvidos.
Nas arquibancadas e nas gerais também não é diferente. Quantas vezes nos flagramos procurando alguém com um rádio ligado para confirmar se foi ou não pênalti, se estava ou não impedido, se a falta foi dentro ou fora da área e até mesmo para saber quem fez o gol?
E o que falar do velho Zé Higino, atleticano de quatro costados, que só assenta diante da televisão com o seu indefectível radinho ligado? “Vai que o pessoal da TV não viu o lance direito, os moços do rádio vão me ‘mostrar’ o que realmente aconteceu”, sempre diz ele para justificar o apego àquela pequena caixinha de marimbondos, como ele afetivamente apelidou seu velho e inseparável amigo, o rádio de pilhas.
Se o rádio desperta o seu imaginário no ritmo e na vibração do locutor de sua preferência, por isso mesmo também é temerário firmar qualquer posição definitiva a respeito do jogo ou da atuação de qualquer jogador, a partir do que você é estimulado a imaginar e sentir.
E nessa escuridão pontilhada de emoções, desejos e muita ansiedade, os comentaristas contribuem ainda mais para gerar mais e mais incertezas e dúvidas. Por sinal, sempre mais dúvidas do que certezas.
Nas redes sociais, nos pós-jogos e nos comentários finais, os mais diversos comentaristas, blogueiros, twitteiros e youtubers, alguns que sequer viram a partida, desfilaram as mais díspares opiniões sobre o que ocorreu na Arena do hoje xará tão somente fonético do Paraná, o tal Athletico com H.
Para um, Vinícius esteve mal, cansado, talvez desgastado pela sequência de jogos. Para outro, Vina estava bem e Rodrigo Santana errou ao substituí-lo. Cazares e Chará, entretanto, parecem ter desagrado a maioria dos “analistas”.
Acontece que o colombiano e o equatoriano geralmente são alvos de uma má vontade cruel e covarde por grande parte dos “formadores” de opinião e da própria massa.
Dessa vez, a análise sobre suas atuações teria sido feita com insuspeita isenção ou mais uma vez a intolerância prevaleceu? Como não vi o jogo, tudo o que posso fazer é um exercício de adivinhação.
Sobre Chará, um comentário maldoso indicava que o Atlético, depois de contratar o colombiano errado, iria corrigir a burrada trazendo Gonzales, hoje no Fluminense. Ainda sobre o colombiano, teve quem, ao mesmo tempo em que o criticava pelas chances de gol perdidas e pela profusão de passes errados, reconhecia suas qualidades táticas, para mim indiscutíveis.
Uma opinião lúcida e educada de quem já vestiu o manto sagrado e, portanto, tem experiência e conhecimento suficientes para perceber o que está por trás de uma atuação considerada por ele ruim, foi expressa pelo eterno capitão Paulo Roberto Prestes sobre como Guga jogou ou teria deixado de jogar: sem ritmo, o jovem lateral não entrou no jogo.
Teve quem acusou falha de Cleiton no gol do Furacão e ainda teve gente que malhou Papagaio.
Uma coisa parece certa: o Atlético teria abusado do direito de perder gols. Pelo menos, chances teriam sido criadas.
Pelo pouco que vi a título de “melhores” momentos, o Atlético parece, de fato, ter pecado no último passe e, com certeza, pecou nas finalizações.
Ansiedade, nervosismo, noite infeliz de Chará, apatia de Cazares, desgaste e cansaço de Vina, falta de ritmo de Guga, má pontaria e erros de passe em profusão foram alguns dos pontos negativos do time, apontados por quem viu e comentou o jogo.
Por outro lado, ficou claro também que o gol do Athletico de lá foi fruto de um chute de extrema felicidade e competência de Marcelo Cirino.
Além disso, deu para perceber que o jovem e bom goleiro Cleiton não viu a bola. Tinha três jogadores na sua frente e quando ele tentou reagir já era tarde, a bola já tinha passado.
O gramado semi-artificial da Arena da Baixada já é um dificultador natural para quem não joga ali corriqueiramente, uma vez que, naquele tipo de piso, a bola ganha muita velocidade. Molhado, então, é um palco traiçoeiro.
Não à toa, molharam bastante o gramado antes do jogo e no intervalo da partida.
O Furacão tem um time jovem, veloz, bem treinado e que sabe usar as condições especiais do seu gramado.
Se vi e ouvi críticas negativas, acima resumidas, pouco ou nada escutei e li de interessante sobre o desempenho defensivo do meio campo na etapa final com a saída de Martinez, volante com qualidades inegáveis de marcação, e a entrada em seu lugar de Nathan, meia atacante de origem e, coincidentemente, revelado pelo Furacão.
Consequentemente, imagino que coube a Elias, outro meia por excelência, desempenhar, a partir de então, as funções de primeiro volante. Se alguém criticou a atuação de Elias confesso que me passou despercebido.
Se de fato o contestado, e por muitos rejeitado, meio campista atleticano não foi atacado como de costume é de se imaginar que, mesmo fora de sua zona de conforto, não só ele não deixou a desejar, como também fez uma boa partida. Assim acho, assim quero acreditar pelas evidências.
Ainda no campo do achismo, me permito intuir que, mais uma vez, a par de alguns sustos e dos riscos absolutamente naturais e decorrentes do desenvolvimento e das características da partida, a defesa atleticana se portou bem e o Atlético não fugiu ao estilo e ao padrão de jogo que vem buscando consolidar.
Aliás, essa foi a impressão que Breno Galante deixou transparecer em suas redes sociais após o jogo, quando citou que o time, mais uma vez, se mostrou forte e estruturado defensivamente, porém, deixando a posse de bola para o adversário e saindo no contra-ataque. Tenho visto esse filme ultimamente.
Pelas poucas imagens que tive acesso, os melhores momentos do Atlético refletem um time que, de fato, teve pecados ofensivos em razão dos erros de finalização e da falta de capricho no último passe. Ansiedade? Falta de confiança? Baixa clarividência no momento fatal?
Vi, por exemplo, Papagaio arrancar em velocidade em duas oportunidades ainda no primeiro tempo. Na primeira tentativa, o centroavante galista partiu desde o círculo central e deixou os zagueiros do Furacão para trás. Na segunda, aplicou um lençol sensacional em um marcador e na sequência driblou categoricamente um segundo adversário. Mas, ao finalizar em ambas as jogadas, faltou-lhe energia, potência e/ou força física e os chutes saíram, o primeiro sem força e em cima do bom goleiro Santos, o segundo também fraco e sem direção, fora do gol. Falta de ritmo?
Dizem que o medo de perder tira a vontade de ganhar. Nessa toada, muitos acrescentam que o medo de não fazer o gol leva a perdê-lo.
As imagens pinçadas nas redes sociais permitiram também perceber que as três primeiras jogadas relevantes do Atletico no jogo, e que levaram algum perigo para adversário, saíram dos pés do “odiado” Cazares.
Se o Furacão teve ajuda dos “Santos”, que fecharam o seu gol, o Galo espiou seus pecados e viu sua série invicta ser interrompida por um adversário que foi mais que competente, foi “Cirino”, i.e., ferino.
Uma última curiosidade: parece que a arbitragem e o VAR passaram incólumes diante da cegueira de milhões e milhões de atleticanos mineiros e paranaenses.
Vi pouco, vi menos do que imaginei, senti e sonhei. Imaginação e realidade, um conflito real, natural e necessário. Ah! E não se esqueça que tudo o que foi dito aqui está colocado entre aspas.
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Revisão: Ruth Martins
Edição: André Cantini