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Time ganha jogo, elenco ganha campeonato. Mas, isso é tudo?

Foto: Pedro Souza

 

Por Max Pereira 

Eduardo Sasha, não apenas no microfone, quando a rememorou, mas, e fundamentalmente, com as chuteiras tem justificado plenamente essa máxima antiga do futebol nos poucos minutos em que pôde estar em campo em alguns jogos do Atlético nesta temporada. Os aficcionados e os analistas do esporte bretão sabem que time ganha jogo, elenco ganha campeonato.

O Atlético de hoje é bem diferente daquele clube de outros tempos. E isso não é novidade até para o mais incauto dos observadores. O nível organizacional e profissional que está sendo claramente alcançado se reflete na ousadia da gestão do futebol que buscou dar ao Glorioso um elenco qualificado e, principalmente, unido e coeso em torno de um projeto vencedor. Este é o principal diferencial do Galo dos dias atuais em relação àquele clube de até bem pouco tempo atrás.

Sasha, não só vem mostrando sua indiscutível qualidade técnica, aliada a uma extraordinária capacidade resolutiva, como também um nível absurdo de comprometimento com o projeto atleticano e respeito ao grupo do qual faz parte.

Recentemente, o grande @KleytonBorges, com a sobriedade e a serenidade costumeiras, defendeu a tese de que o Atlético possui hoje 18 titulares. Eu diria que ele, como lhe é característico, foi até modesto. Não seria exagero se ele dissesse um numero maior, 20 ou 22, por exemplo. O veterano cronista queria dar e deu com maestria um recado simples e certeiro: o atleticano precisa entender que vai jogar aquele que, bem condicionado fisicamente, possa dar a melhor resposta que cada jogo exigir. Cada jogo é um jogo.

Houve tempo em que uma crítica recorrente era repetida aqui e ali: “se o time do Atlético não mudar a sua postura em campo, e dificilmente a mudará em curto prazo e talvez nem em médio prazo, o clube e a torcida viverão pesadelos”. Mudar a postura naqueles tempos significava não só fazer os ajustes táticos que se mostravam necessários a cada jogo, como e, principalmente, adotar um espírito de competição dinâmico, competitivo, intenso e de pegada e, portanto, bem diferente da pasmaceira que costumeiramente dominava os times atleticanos.

Houve tempo em que, em meio a baixas recorrentes por contusões e a crônica falta de opções, resultante de enxugamentos de elenco inconsequentes, temerários e equivocados, os treinadores do momento se viam obrigados a buscar soluções aqui e ali, a improvisar acolá. Ora acertavam, ora erravam.

Houve tempo em que os recorrentes problemas físicos do elenco, subproduto de erros de planejamento e de sintonia no trabalho compartilhado pelas diversas áreas de preparação físico-atlética e fisiológica dos jogadores, foram determinantes de muitos insucessos do time na temporada.

Houve tempo em que o futebol atleticano era conduzido se desprezando a importância de uma variável hoje fundamental na pratica do esporte, a força mental. E quantos prejuízos o clube amealhou por não perceber o quão é importante e essencial no futebol moderno se contrapor à força mental do adversário e que isso só seria possível como muita energia mental.

E houve tempo em que o clube era absolutamente impotente para minimizar os efeitos funestos de se disputar competições de ponta, simultaneamente ou não, ainda que tivesse á sua disposição um elenco inegavelmente qualificado do ponto de vista técnico, porém desequilibrado em termos emocionais, mentais, físicos, táticos, de montagem de grupo e com vários jogadores, por razões diversas, se mostrando totalmente desfocados dos objetivos do clube.

Portanto, ao contrário do que muitos atleticanos imaginavam e cobravam a solução dos problemas do Atlético não se resumia a escalar o que para cada torcedor era o time ideal.  Na verdade, o que sempre existiu é um time ideal para cada jogo, para cada momento, para cada circunstância. Diferente disso é exigir algo impossível e intangível.

E como é o Atlético nos tempos de hoje? Surpreendendo até aos mais incrédulos, o time atleticano vem se mostrando, jogo a jogo, cada vez mais cascudo, às vezes até tranquilo demais e com pinta de campeão. Em um processo de mão dupla, elenco e treinador vão desfilando, jogo sim, o outro também, recursos táticos interessantes e variados. Mas, ainda assim, provoca críticas e deixa muitas perguntas no ar.

Bipolar por natureza o universo atleticano vem se alternando entre momentos de um otimismo incontrolável e saboroso e outros de uma também irreprimível desconfiança. As críticas e cobranças dos atleticanos, por isso, navegam entre o perverso e o racional com uma velocidade espantosa.

“Ah! O mundo viu que o Galo foi infinitamente superior. E você só faz crítica, pela crítica, pelo vil prazer de criticar”, protesta aquele torcedor que não vê concordância com o seu pensar. Mas, será que o mundo todo, à exceção de seu interlocutor perverso, viu o jogo como ele viu? Certamente que não.

Para muitos, se o time empatou ou não venceu por goleada determinado adversário pouco importam as qualidades deste e, também, não interessa analisar porque o time, não obstante ter dominado o jogo do primeiro ao último minuto da partida, não ter conseguido traduzir em gols e no resultado a sua inescondível superioridade.

Os últimos resultados do Flamengo, salvo uma exceção aqui e outra ali, goleando os seus adversários, dentro e fora de casa, tornam obrigatórias algumas comparações e, claro, algumas exigências de parte da torcida atleticana que, independentemente dos adversários e das condições objetivas de cada jogo, exige do Atlético que também goleie os seus oponentes.

Até parece que essa parcela da massa no fundo, no fundo, é apaixonada pelo rubro-negro carioca e, por isso, só consegue ver qualidades no Urubu. Comentaristas e torcedores de um modo geral e, portanto, não apenas os flamenguistas, são pródigos em elogios ao time carioca, atribuindo a ele uma letalidade ímpar.

Nas rodas atleticanas as comparações entre o Atlético e o time da Gávea muitas vezes resvalam para o reconhecimento de uns de que o rival carioca joga com sangue nos olhos. Outros colocam lenha na fogueira com uma indagação que não pode passar despercebida: “Eles não nos vencem há quase dois anos e só eles é que são bons???”

Toda e qualquer discussão calcada na emoção e na rivalidade carece de razoabilidade e, quase sempre, se apoia aspectos que não explicam e nem justificam tudo.

Se em um determinado jogo o Atlético não finalizou a gol proporcionalmente à pressão que exerceu durante quase toda a partida e à superioridade do seu time, se o time muitas vezes não buscou a linha de fundo como deveria ter feito para abrir a marcação do adversário, errou muitos passes, foi, por vezes, lento e previsível na saída de bola mais que o desejável e recomendável e mostrou problemas relacionados à questão física, se não houve algum jogador que, ao final do jogo, pudesse ser apontado como destaque positivo, se, ao contrário, alguns jogadores estiveram muito abaixo do que poderiam render e já renderam, se o gol do adversário tiver sido resultante de uma infelicidade de um jogador qualquer, se por acaso, em um dado momento o time marcou mal e deu espaços no meio de campo para ser agredido, e enfim, se o Atlético, vez ou outra, ainda passa a sensação de que fez mais espuma do que água significa apenas que o time está evoluindo em um processo normal de altos e baixos, de idas e vindas.

O que foi este jogo? É a pergunta que mais é repetida ao final de cada partida. Alguns se apegam ao scalt do confronto para normalizar o que efetivamente não pode e nem deve ser normalizado. Ora, se, por exemplo, em um jogo o time do Atlético teve 14 escanteios a seu favor e o adversário apenas 1, deu 25 chutes ao gol, contra 5 do oponente e, ainda assim, não conseguiu vencer, empatando a duras penas como ocorreu diante do Bragantino, é sinal que, a par dos méritos do time de Bragança Paulista, na equação eficiência + eficácia = efetividade, a conta atleticana ainda NÃO fechou.

Em um processo de evolução de um time de futebol durante uma temporada e em meio a uma campanha tripla, alternando jogos de duas copas diferentes entre si com os desafios de um campeonato de tiro longo que exige regularidade e cuidados específicos, as oscilações, o desgaste físico, emocional e mental, os erros, forçados e não forçados, as escolhas equivocadas e as falhas de comunicação acontecem e fazem parte do jogo.

O que parece simples para muitos pobres mortais, é mais complexo do que pode imaginar a vã filosofia de um torcedor apaixonado. Virar a chave de uma competição para a outra, mantendo o foco que cada campeonato exige, pode e é muitas vezes algo doloroso e pesado para muitos atletas.

A importância de se ter um elenco tecnicamente qualificado e equilibrado quantitativa, física, mental e taticamente torna-se um trunfo que, no frigir dos ovos, certamente vai ser o determinante da conquista dos títulos almejados, pois permite ao treinador, seja quem for explorar caminhos e fórmulas variados para buscar o lugar mais alto nos pódios de todas as competições que disputar.

De tudo isso, o importante é perceber que o Atlético, de fato, possui time e elenco que, somados à invejável estrutura profissional que o clube dispõe e a um projeto de profissionalização e excelência de gestão em curso, mostram que aquele Atlético vencedor e campeão está efetivamente saindo do forno.

E há lugar para a crítica? Ou melhor, que tipo de crítica deve ser feita neste momento? É justificável exigir do time atleticano aquele “instinto assassino”, aquela vontade de nocautear os adversários, que muitos, como o comentarista Paulo Vinicius Coelho, o PVC, têm cobrado dos jogadores alvinegros?

Toda crítica construtiva é bem-vinda e só ajuda. Nesse sentido, eu alertaria ao comando atleticano, ao técnico Cuca e aos jogadores do Atlético que não caiam na armadilha de atribuir as suas dificuldades apenas aos méritos dia adversários. É preciso saber identificar suas próprias limitações e erros e buscar melhorar. O erro é a base da evolução.

Manter o foco e objetivar o erro zero é, nesse momento, fundamental ao sucesso. Nada difícil e complicado para quem já vem lutando o tempo todo, buscando o melhor resultado, correndo e mostrando comprometimento. O erro zero, ainda que inalcançável na prática, é o objetivo a ser perseguido sempre.

Mas, lembrem-se, NEM SEMPRE QUERER É PODER. Por isso, as críticas devem buscar apontar tudo aquilo que merece ajustes e cuidados. Ganhar um campeonato é consequência da qualidade do trabalho feito.