Sofrido: Galo avança na Libertadores

Sofrido: Galo avança na Libertadores

Eu não sei que mania é essa que o Galo tem de complicar o que é simples. Às vezes me pego pensando que uma das cláusulas do contrato de cada jogador atleticano diz que ele tem a obrigação de contribuir para todo o sofrimento que nos acompanha há anos e anos.
Hoje de manhã minha rua estava pintada de preto e branco. Meus vizinhos, como bons atleticanos que são, vestiram o manto sagrado e o objetivo era exibido em uma só frase: “hoje é dia de passar por cima, hein?!”.
Quando o Galo saiu na frente já no primeiro tempo e enlargueceu o placar rapidamente, cheguei a pensar que o objetivo seria alcançado, que passaríamos mesmo por cima, que seria fácil… Acontece que o atleticano que espera facilidade sempre se decepciona no fim das contas e isso está muito longe de ser apenas “poético”.
Aos 14 minutos do primeiro tempo Luan, nosso maluco declarado, abriu o placar e fez explodir o Independência. Aos 25, Ricardo Oliveira deu bela arrancada e só foi parado por Cristóforo com pênalti. O próprio camisa 9 foi para a cobrança e fez 2×0 para o Galo. O que estava bom ainda podia melhorar, e melhorou: aos 27 minutos, o Bom Pastor deixou mais um após receber belo passe de Cazares e fintar o goleiro adversário. Galo 3×0 e classificação na mão, certo? Errado.
O Danubio não veio ao Independência para assistir ao jogo. A estratégia do treinador uruguaio, Marcelo Méndez, era colocar o seu time para frente. Com uma marcação alta, o visitante nos deu espaço para construir um belo placar e fazer um primeiro tempo quase impecável e o “quase” eu coloco na conta de Patric. Boa parte do que acontece em campo não é somente físico, mas também psicológico. Se o Danubio vai aos vestiários com a parcial derrota acachapante de 3×0, dificilmente voltaria para a etapa final com alguma esperança, mas nosso lateral direito titular absoluto fez questão de reacender o ânimo do time uruguaio em um lance totalmente desnecessário. Aos 43 minutos, Patric fez pênalti em Onetto. Grossmüller foi para a cobrança e marcou, dando uma sobrevida ao Danubio.
Por ter sido amarelado no lance do pênalti, Patric foi substituído por Guga e é exatamente aí que está o problema. Guga não deveria ser uma segunda opção, um improviso. Não deveria ter entrado em campo só porque não poderíamos correr o risco de ficar com um a menos. Guga deveria, por questões óbvias, ser o dono da lateral direita do Atlético. Levir, como todos os outros treinadores que trabalharam com Patric, erra em dar mais confiança a ele do que seu futebol merece. Insistir em Patric já nos fez passar por poucas e boas e um dia pode ser que custe caro.
O gol marcado pelo Danubio no primeiro tempo fez o Galo voltar ao jogo completamente desligado. O famoso “passar por cima” nem de longe passava pelas nossas cabeças e os gritos de “eu quero é raça do time todo” nunca fizeram tanto sentido.
O Atlético permitiu ao time uruguaio se enxergar maior do que realmente é. O Danubio acreditou numa possível reação, e já que não conseguia penetrar a área atleticana, decidiu arriscar de longe e foi aí que o sofrimento começou. Pablo Siles mandou uma bomba de fora da área e Victor não foi capaz de segurar. Mais um gol e o Danubio iria à terceira fase da Libertadores, deixando o Galo para trás.
Se não for sofrido… Você já sabe. A questão é que se o sofrimento acontece durante uma partida bem jogada, sem displicência alguma, aceitar o caminho árduo é mais fácil. Hoje o Galo fez por merecer toda a dificuldade que encontrou durante os últimos 45 minutos e por motivos que são velhos conhecidos por aqui. Temos jogadores dedicados e que vêm fazendo a diferença, como Cazares e Ricardo Oliveira. Luan também fez um ótimo primeiro tempo, contribuindo para o ritmo acelerado do time. Porém, os erros frequentes vêm sempre dos mesmos jogadores e das escolhas infelizes de Levir Culpi. Patric definitivamente não está à altura de ser o lateral direito titular do time do Atlético. Fábio Santos nunca vai se esforçar para dar o seu melhor enquanto não tiver uma sombra para ameaçar sua posição. Levir Culpi nunca fará boas escolhas enquanto se deixar levar pela teimosia de achar que substituição se faz somente no apagar das luzes, e também não terá sucesso ao substituir chamando o adversário para cima, complicando ainda mais o que já está complicado.
Hoje o Danubio não teve time para fazer o gol que lhe faltava, amanhã ou depois uma outra equipe mais qualificada pode nos tirar uma vitória, uma vaga em uma decisão, um título. O jogo dessa terça-feira não era um jogo de meio termos, o único resultado aceitável seria passar por cima. Sem falsa modéstia, o Galo tinha time para amassar o Danubio e não sofrer nem por um minuto, mas se apequenou diante de muito pouco, influenciado por más escolhas do treinador alvinegro. Elias foi substituído por Zé Welison, Luan por Maicon Bolt. Com ambas as alterações, o Galo perdeu de vez o meio de campo e nos fez sofrer cada maldito minuto até que o árbitro apitasse o fim da partida.
Um time sem grandes trunfos, sem tanta qualidade e desacreditado por seu próprio treinador foi uma pedra no sapato do Galo e isso é preocupante. Se quando tem condições de fazer um grande placar e jogar tranquilamente o Atlético passa por isso, o que acontecerá quando o time de Levir Culpi estiver frente a frente com desafios de verdade?! Ainda estamos no começo da temporada, então há tempo de separar os meninos dos homens, e isso se aplica a quem fica na beira do campo também.
Na coletiva pós-jogo o “Burro com Sorte” acusou o calendário como culpado das displicências do seu time, o que parece piada. O Atlético está disputando a pré-libertadores porque errou também na temporada passada, não conseguindo se classificar diretamente à fase de grupos. O planejamento para 2019 foi feito contando com o que o clube vive hoje, portanto, preguiça e má escalação não podem ser justificadas com calendário apertado.
Estar acostumado com sofrimento, defesas impossíveis e gols no último minuto não pode ser motivo para que o torcedor aceite jogos como o da noite passada. Nem todo caminho que é trilhado a trancos e barrancos termina com título após disputa de pênaltis. É preciso raça, comprometimento e malícia para aproveitar as oportunidades que tem e o Galo não tem feito isso. É claro, fica a alegria pela vaga na terceira fase da Copa Libertadores da América, a premiação de R$3,8 milhões de reais e o alívio de não ter que passar pelo vexame de deixar a competição antes mesmo de entrar. No mais, a preocupação acompanha a euforia de hoje. O termo “estou feliz e p*to” resume bem o que passamos para chegar até aqui. Saber que se não for sofrido não é Galo é poético, nosso lema, mas dadas as circunstâncias da última partida, foi totalmente desnecessário e assustador.
Na próxima fase, o Galo enfrenta o vencedor do duelo entre Defensor x Barcelona de Guayaquil. Por estar mais bem colocado no ranking da CONMEBOL, decidirá em casa. Mais uma chance para o Atlético mostrar serviço, jogar bola de verdade e para Levir Culpi promover mudanças no time titular, a fim de jogar com o que tem de melhor, sem dar privilégios e cadeiras cativas a quem não merece.

Sigam o @falagalo13 nas redes sociais, inscrevam-se no canal do Fala Galo no YouTube e ativem o sininho: www.youtube.com/channel/UCTvyZuW5pOsz9q5wCefRsrg