Risco calculado: a fórmula perigosa de Rodrigo Santana
Ruth Martins
Do Fala Galo, em Belo Horizonte
28/08/2019 – 08h15
Na última rodada do Brasileirão, o técnico Rodrigo Santana decidiu poupar quase todo o time titular do Atlético (apenas o goleiro Cleiton e o zagueiro Igor Rabello jogaram) e trouxe à tona uma discussão que divide opiniões de torcedores e comentaristas esportivos. Na coletiva de imprensa após o confronto contra o Bahia, o treinador explicou que optou por utilizar um time alternativo porque não queria correr o risco de perder jogadores importantes para o jogo decisivo da Copa Sul-Americana.
Mas a pergunta que não quer calar é: qual tempo mínimo o atleta precisa para se recuperar? De acordo com a doutora em Educação Física pela UFMG, Denise Falcão, o tempo clássico de recuperação de um atleta de alto nível, e que não esteja sob risco de lesão, é de 48h. Esse é o tempo em que o organismo precisa para descansar. Falcão chama a atenção para outro ponto. Segundo ela, se o jogador não mantiver o estímulo, ou seja, se ele não retomar os treinos nesse período, fatalmente irá decair. “Hoje em dia os treinamentos são muito ativos. O jogador se recupera em atividade. Dificilmente ele para totalmente, a não ser que tenha passado por uma cirurgia.”
Se analisarmos por essa vertente, é possível que Rodrigo Santana, em consonância com toda a comissão técnica e o departamento de fisiologia do clube, tenha levado em conta outro argumento. O de que os atletas poderiam se lesionar em virtude do risco iminente da partida, ou seja, o risco de sofrerem uma falta mais violenta, por exemplo. Até porque, o risco fisiológico todo jogador tem em qualquer partida, já que ele pode, num momento de explosão nas corridas rápidas (o sprint) ou mudanças de direção durante a corrida, sentir a musculatura. Esse tipo de lesão acontece com mais frequência quando a musculatura já está desgastada e não dá conta de responder à ação.
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No caso do time titular do Atlético, três atletas corriam risco maior nesse sentido, Réver, Jair e Cazares. De acordo com fontes ouvidas pelo Fala Galo, os três jogadores estavam com alto teor de CK (Creatina-quinase) no sangue. Quando o exame mostra alto teor de CK na coleta sanguínea, significa que essa célula teve uma ruptura, aumentando a sua concentração no sangue. Isso quer dizer que o risco de lesão ao atleta é eminente. A leitura desses marcadores é feita pelo fisiologista e a decisão de liberar o atleta para jogar também é dele, mas em conjunto com preparador físico e treinador. Ao que parece, Rodrigo Santana preferiu assumir o risco da derrota no Brasileirão, que o risco de perder atletas importantes.
Em 2016 entrevistei o mestre em Fisiologia do Exercício, Ismael Porto Bonfim, e à época ele contou porque é importante o técnico ouvir o fisiologista. “A base da preparação física para qualquer prática esportiva se baseia na forma de entender como o organismo responde ao esforço e o que pode acontecer com ele ao longo do tempo. E a fisiologia prevê isso.”, explicou. Talvez o departamento de fisiologia do Atlético tenha percebido também em outros jogadores do time titular o risco de lesões ou fadiga muscular, por exemplo.
Com 52 jogos já na temporada, o técnico Rodrigo Santana está entre a cruz e a espada. Precisa do time inteiro para os jogos de maior intensidade, como é o caso dos jogos de mata-mata, e de um time coeso para se manter brigando no topo da tabela no Campeonato Brasileiro. Qual a saída para manter o rendimento? Confesso que não sei. Se soubesse, provavelmente estaria ocupando a vaga dele. Não vou aqui fazer o advogado do diabo e dizer que ele estava errado em poupar quase todo o time titular, já que ele conseguiu na Colômbia o que não fez no Horto: ganhar por um placar mais elástico e com mais facilidade. Vou ficar em cima do muro. O que posso afirmar é que, além da fisiologia, outros fatores devem se levados em conta quando o assunto é rodar ou não o elenco.
Que venha a semifinal da Sul-Americana! Em cima do muro ou não, aqui é Galo!
Números do Rodrigo Santana depois que assumiu o Galo (levantamento do Stéfano Bruno – Fala Galo)
Jogos: 30
Vitórias: 16
Empates: 5
Derrotas: 9
Gols marcados: 38
Gols sofridos: 29
Aproveitamento: 58,9%
Curiosidade: com o Rodrigo Santana, o Galo fez mais de dois gols em apenas dois jogos. Venceu o CSA por 4×0 e o La Equidad (ontem) por 3×1.
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Edição: Ruth Martins
Edição de imagem: André Cantini