Rejeitados aqui e desejados acolá…
Maxi Pereira
Do Fala Galo, em Belo Horizonte
03/12/2019 – 06h54
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“REJEITADOS AQUI E DESEJADOS ACOLÁ. DENTRO E FORA DO CAMPO, EIS OS HAMLETS ALVINEGROS. SER OU NÃO SER. E, 2020 PODE IR PARA O BURACO. EIS A QUESTÃO”
Está acontecendo algo de muito perigoso com o Atlético. O clube chega ao final de uma temporada muito conturbada e está deixando, nos corações e mentes de seus torcedores, muitas dúvidas e inquietações em relação ao seu futuro e, em especial como será, para o clube, o ano de 2020.
“Acaba 2019” foi o que mais se ouviu e leu por aí. O mais terrível em tudo isso é que, para que as coisas entrem nos eixos, não basta uma simples virada para o ano novo. O dia 1° de janeiro não é mágico e nada trará de novo ou de redentor sem que haja trabalho e planejamento.
Está a se iniciar o período mais chato do futebol, o final de ano e as férias dos jogadores. Especulações, notícias plantadas, listas de dispensas, pacotões de contratações, ondas e um disse me disse irritante.
É verdade que, embora o elenco venha, a meu ver, mostrando comprometimento, bem querência entre eles e vontade de acertar, o time do Atlético vem capengando nessa temporada e deixando claro em seus jogos que existem problemas internos que estão afetando o desempenho de alguns jogadores em particular e prejudicando, de modo geral, toda a equipe.
A irregularidade, tônica do Atlético nesta temporada, tem causas que precisam ser atacadas em profundidade e que estão longe de serem resolvidas apenas com a dispensa deste ou daquele jogador, com a simples troca do treinador ou até mesmo com a, tão desejada por muitos, queda do atual presidente.
Sem atacar os problemas do Atlético na raiz, qualquer dança de cadeiras ou mexida no elenco irá produzir apenas efeitos paliativos e passageiros, fazendo com que o clima de instabilidade perdure indefinidamente e comprometa os resultados do clube, em especial nas competições de tiro longo, como o Brasileiro, que exigem regularidade e planejamento.
Por que vários jogadores, ao longo da atual temporada, vêm sendo continuamente mal escalados, não obstante a péssima fase que vêm ostentando e mostrando que estão muito perturbados por algum problema? Seriam problemas de foro pessoal? Ou seriam problemas emocionais acumulados no dia a dia turbulento do clube, inflados pelas cobranças sempre passionais e perversas de grande parte da massa? E, em alguns casos, pode se afirmar com certeza que os problemas físicos recorrentes também são consequência dos desacertos internos?
Por que o time, não obstante mostrar que quer buscar o melhor resultado, mostra-se, por vezes, impotente, passivo, não reativo?
Por que, por outro lado, alguns jogadores, embora, em algum momento, estivessem jogando razoavelmente bem, com aguçado senso tático e comprometimento, seja dando fluidez à equipe, seja conferindo profundidade ao time, são, vez ou outra, misteriosamente sacados da equipe titular antes ou durante os jogos?
Por que o clube é tão vulnerável a decisões e escolhas equivocadas?
Mais que responder a estas questões, é fundamental ir até a raiz desses problemas, buscar e propor caminhos para solver tudo isso.
Não é surpresa para nenhum observador mediano que o time tenha caído vertiginosamente de produção durante o Brasileirão. Nem precisa ir a fundo nos problemas levantados acima.
Também não é segredo para ninguém que a falta de planejamento de elenco é, com certeza, um dos mais destacados calcanhares de Aquiles do Atlético. Como consequência fatídica desse problema é que jogadores, sejam egressos da base, sejam vindos de outros clubes, nacionais ou estrangeiros de qualquer porte, têm, quase sempre, seus períodos de adaptação, aclimatação e condicionamento físico atropelados ou são lançados fora de suas características e zonas de conforto, o que vem acontecendo com frequência preocupante.
Vários jogadores têm sido escalados para cumprir funções para as quais não estão preparados ou não têm condições de executar. E não apenas os garotos da base ou novos contratados têm sido submetidos a estas experiências. Jogadores importantes no grupo atleticano, e com larga rodagem no futebol, também se vêem nessa situação mais que o recomendável.
Não obstante a entrega que por vezes os jogadores em geral oferecem, a inescondível percepção tática que alguns possuem, a constante movimentação que vários buscam executar, a importante recomposição que outros conseguem oferecer ao time pelos flancos e, uma ou outra boa atuação individual ou coletiva, o certo é que o Atlético não consegue ser regular e eficiente e, como não podia ser diferente, também não consegue inspirar confiança no seio de sua torcida.
Sem fazer qualquer análise tática, sem buscar conhecer os fatos e sem se perguntar porque os diversos treinadores que passaram pelo clube não conseguiram encaixar o time, porque eles insistiram em experiências sabidamente infrutíferas, porque determinados jogadores estão continuamente jogando muito mal, porque vários outros atletas se mostram sempre bastante tensos e, por vezes, impotentes dentro de campo e, porque, enfim, o Atlético tem encontrado enormes dificuldades para se impor aos seus adversários, o torcedor atleticano prefere, quase sempre, o caminho mais fácil e perverso: denegrir a imagem dos jogadores e, em especial, massacrar aqueles que têm a desventura de serem escolhidos como bodes expiatórios.
No passado, recente ou distante, vários jogadores, craques consagrados ou não, ídolos inquestionáveis ou não, viveram, cada qual, o seu inferno astral com a torcida atleticana.
Poderia citar “n” exemplos. Desde Cazares e Elias do elenco atual, passando, por exemplo, por Marcos Rocha, Rafael Carioca, André Bebezão e Aranha, até Tião Cavadinha e Djalma Dias, a história do Atlético é prenhe de alvos do ódio da massa.
Em graus e intensidade variáveis, são inúmeros o jogadores que foram massacradas pela torcida, numa espécie de exorcismo macabro de seus demônios.
Se é verdade que o time amealhou forte desconfiança por parte de seus aficcionados, também a relação histórica da torcida com o clube, permeada pelo culto do sofrimento, pela histórica baixa autoestima do atleticano e pelo tradicional complexo de vira latas do galista, que sempre o leva a considerar a grama do vizinho mais verde, a galinha mais gorda e a mulher mais gostosa, constitui fator preponderante nesse tipo de comportamento agressivo da massa para com determinados “eleitos”.
Se são rejeitados aqui, são objetos de cobiça acolá. Se são chamados de “trastes”, “carniças”, “bostas” e de toda a sorte de adjetivos desclassificantes, os “hamlets” atleticanos que calçam chuteiras são alvos de reiterados desejos de outros clubes.
Patric que, por exemplo, já foi alvo do Palmeiras em duas oportunidades, recentemente esteve na mira do São Paulo, que insistiu em sua contratação também por mais de uma vez.
Elias, objeto de desejo constante do Internacional, também despertou o interesse do mesmo São Paulo e do Flamengo. O volante/meia atleticano, assim como fez em relação ao Colorado gaúcho, rejeitou, na época, a investida do tricolor paulista. Com o rubro negro carioca o negócio também não evoluiu.
Cazares, alvo recorrente dos árabes, também já foi desejo de Flamengo e de Grêmio e hoje é fortemente especulado no São Paulo e no Corinthians, além de permanecer no radar do tricolor gaúcho.
Ricardo Oliveira, que foi objeto de desejo do Santos, hoje é especulado em outros clubes como Grêmio e Inter de Limeira. Fábio Santos e Adilson, este antes de encerrar a carreira prematuramente, estiveram na mira de Corinthians e de Grêmio, respectivamente. Ambos agradeceram o interesse e se negaram até a ouvir qualquer tipo de proposta.
O Timão sempre sonhou com Luan, que também despertou o interesse do São Paulo, e Victor, também procurado pelo tricolor do Morumbi, deixou claro que o seu desejo é encerrar a carreira no Atletico.
Igor Rabelo mal havia estreado e recebeu uma proposta do futebol europeu, prontamente recusada pelo comando atleticano. Chará foi especulado pelo seu antigo clube, o Júnior Barranquilla e, agora, é alvo do Internacional.
Guga, hoje amaldiçoado por parte da torcida, é sonho de consumo de vários clubes europeus. Marquinhos, nem bem está saindo dos cueiros, já desperta especulações no exterior.
E Alerrandro, que havia se tornado alvo de interesse de clubes europeus pelo seu concurso, acaba de ser negociado com o Red Bull Bragantino, este mesmo que ainda deseja o jovem goleiro Cleiton.
Curiosamente, enquanto vários clubes vêem neles a solução para seus problemas e o reforço ideal, vários atleticanos vão se manifestando nas redes sociais favoravelmente às suas saídas do clube, pouco se preocupando com o planejamento do elenco e com as lacunas que deixariam no grupo e no time, caso o Atlético os negociasse de forma intempestiva e irrefletida.
Peças de reposição? Talvez caiam dos céus, devem imaginar essas aves agoureiras.
Entre observações e comentários estapafúrdios, entre expressões grosseiras e agressivas, muitos atleticanos, destilando ódio e intolerância, vão contribuindo, consciente ou inconscientemente, para que o clube continue nessa barafunda e, pior, fazendo negócios ruins.
Não é de se estranhar que quem se deixa levar exclusivamente pela emoção e, principalmente, se permite conduzir pela intolerância e pelo ódio, péssimos conselheiros, despreze a análise, por exemplo, da relação custo-beneficio e dos prós e contras do negócio que envolve o jogador por ele renegado.
A recente negociação de Alerrandro foi alvo mais de demonstrações de prazer e alegria com a saída do jovem atacante, do que de ponderações sobre os resultados da transação, as possíveis vantagens (se é que existem de fato) auferidas pelo Atlético e porque um grupo transnacional europeu estaria, por meio do Bragantino, investindo nesse jogador.
Quem efetivamente levou vantagem nesse negócio e por que? Ah! E por quanto e em quais condições os direitos de Alerrandro foram negociados?
E o que se sabe de concreto em relação à possível saída de Chará para o Internacional para justificar tanta euforia e tanta aprovação por parte vários torcedores?
Entre informações não confirmadas oficialmente, o negócio envolveria o perdão de uma dívida e a cessão de um jogador pelo time do sul que estaria voltando de empréstimo e não estaria nos planos.
Você que está comemorando a possível transferência do colombiano para o Colorado dos Pampas, já tomou conhecimento da lista ofertada pelo time gaúcho para que o Atlético escolha apenas um?
Em meio a tudo isso e, por mais incrível que possa parecer, vários desses indesejados aqui e cobiçados acolá, ainda resistem aos interesses de outros clubes e, manifestando publicamente o seu gostar do Atlético e da própria torcida, continuam se mostrando refratários à ideia de sair do clube.
De um lado, o clube precisa fazer os ajustes e desenvolver as ações necessárias para melhorar o ambiente interno e o vestiário, suprir as óbvias deficiências de elenco, equacionar os problemas financeiros, solver os problemas administrativos, fortalecer a marca Atlético e cuidar ainda para que o treinador, escolhido sob determinados critérios, tenha elementos para encaixar o time de vez.
De outro, a massa atleticana tem que mudar radicalmente a sua postura que oscila entre o torcer de forma raivosa e sofrida, ruminando suas frustrações e o torcer com orgulho estéril de quem, no fundo, se resigna com uma pequenez cavada no clube que contradita o gigantismo natural do Glorioso e que só subsiste no espírito amesquinhado do maltratado e catequizado torcedor.
O atleticano tem que aprender a cobrar. O atleticano tem que entender, por exemplo, que ele deve exigir e agir para que o treinador seja escolhido de acordo com uma identidade de clube que deve ser construída e potencializada. Se contratado sob esse prisma, ele dificilmente sucumbiria com facilidade às suas próprias idiossincrasias e teimosias e nem adotaria experimentos malucos como vem acontecendo com frequência indesejável.
Muito se fala entre os próprios torcedores que a massa tem que voltar a jogar junto com time, a voltar a acreditar que, se jogar com time, podemos derrotar qualquer adversário e ganhar o mundo, que o Atlético já mostrou que é imbatível quando time e torcida jogaram juntos e que os anos de 2013 e 2014 demonstraram tudo isso. É verdade.
Porém, a missão de resgate e reconstrução do Atlético é dupla. Cada um tem que fazer a sua parte, clube e torcida.
Nesse sentido, a parte da torcida começa a ser cumprida a partir do momento em que ela se concientiza e passa a cobrar e a agir para que o clube construa uma identidade vencedora e campeã.
Enquanto isso não acontecer, rejeitados aqui, desejados acolá, os “hamlets” atleticanos, sujeitos a pressões externas de toda ordem e vítimas dos desacertos internos, vão continuar tropeçando, ora jogando bem, ora jogando mal, e o Atlético, aos trancos e barrancos, cumprirá, mal e porcamente, os seus compromissos. E o futuro, quem viver verá.
O que está em jogo é muito mais do que uma simples limpa de indesejados, o que, aliás, não tem o menor sentido organizacional e profissional. Todo e qualquer clube que simplesmente se orientar pelo emocional de sua torcida estará fadado ao fracasso e até mesmo à insolvência.
Comecei dizendo que o Atlético chega ao final dessa temporada tão conturbado ou mais do que foi ela própria. O clube, enfim, fugiu do rebaixamento. Não caiu este ano.
Mas, certamente, entrará em 2020 extremamente debilitado financeiramente, com riscos de contar um elenco ainda mais fragilizado e com os problemas desse ano potencializados.
Podem ter certeza de que, em 2020, a luta contra o rebaixamento será muita mais sofrida e pesada. Isso, se nada for feito em direção a uma mudança de conceitos e métodos quanto à gestão.
Dois recados que confirmam os temores de que 2020 pode e deve ser muito pior que 2019 já foram dados pela diretoria aos torcedores e, óbvio, ao mercado. O primeiro é que o Atlético deve negociar neste final de ano, no mínimo, dois jogadores de seu elenco para fechar as contas. E o segundo é que, em 2020, o Atlético deverá ter um elenco mais barato e, em nome da austeridade, reduzir a sua folha de pagamentos.
O problema é que não se ouve e nem se vê nada que indique preocupação com o planejamento, com a qualidade e o potencial do elenco a ser formado para a próxima temporada. O binômio qualidade de quem entra X qualidade de quem sai, dentro de um planejamento de time e de elenco, a partir de uma identidade de clube, é mera peça de ficção. E mais: nada que se fala dos negócios atleticanos indica, pelo menos até agora, que eles levem em consideração a diferença entre investimento e despesa, tal a linearidade das justificativas despejadas aqui e ali.
Não obstante algumas sinalizações ainda embrionárias na direção de dar ao clube um matiz profissional, conforme os recentes cuidados com a base em especial revelam, não se pode afirmar com segurança que o Atlético trilhará caminhos mais sóbrios e equilibrados no próximo ano.
Nada contra o clube anunciar e se planejar para uma temporada sem grandes anseios, porém equilibrada, conduzida com os pés no chão e responsabilidade, sem pensar pequeno jamais. Ao contrário, pensando no futuro. E, nesse aspecto, não existe melhor exemplo no futebol brasileiro que o Flamengo.
O Atlético não é um clube transparente e isso não é novidade para ninguém. Antes de comemorar qualquer negócio devemos destrincha-lo, analisá-lo com rigor e mensurar os prós e contras.
Um final de ano conturbado e uma possível limpa no elenco sem planejamento e cuidados, estimulada pelos problemas financeiros do clube, cronicamente mal administrados, pela recorrente incúria do comando central e pela tradicional intolerância doentia da massa com certos jogadores, coloca em risco máximo a temporada de 2020.
E, para quem ainda duvida disso, lembro que as receitas do Atlético já são insuficientes hoje para fazer frente aos compromissos do clube, que, sem projetos e sem planejamento, não há como ampliar suas receitas, que as cotas de televisão já foram adiantadas e gastas, que a marca Atlético está enfraquecida e que o Marketing do clube é brincadeira de mau gosto.
O Atlético precisa hoje, não só de um planejamento a longo prazo, como de ações emergenciais para evitar uma catástrofe de proporções incalculáveis e talvez sem saída nos próximos 50 anos no mínimo.
MAIS DO QUE DESEJAR QUE 2019 ACABE OU LEVAR ALGUM JOGADOR INDESEJADO ATÉ CONFINS, O ATLETICANO DEVE SE PREOCUPAR COM 2020, COM O QUE ESTÁ SENDO DESENHADO PARA O ATLÉTICO.
SER OU NÃO SER. Não é só um desafio dos “hamlets” alvinegros que calçam chuteiras e vestem o manto sagrado. É também o desafio de como ser atleticano, de como saber torcer e cobrar. O Atleticano birrento e bipolar também é um Hamlet na tragédia que ele próprio ajuda compor. EIS A QUESTÃO.
“Deixe o Uber por minha conta”, bradam muitos. Mas, na conta de quem vamos deixar o Atlético?
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Edição: Ruth Martins
Edição de imagem: André Cantini
Edição de texto: Angel Baldo