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Reflexões em Preto e Branco

 

Por: Max Pereira / Revisado: Ruth Martins
31/03/2020 – 06h
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Confesso que nesses últimos dias ficou muito difícil escrever sobre futebol e, em especial, sobre o Atlético.

Mesmo porque falar do Atlético, ainda que nos tempos de vacas magras dentro de campo, é sempre prazeroso. Se de um lado essa pandemia em nada modificou minha atleticanidade, de outro mexeu comigo para todo o sempre.

Se a tragédia italiana, que também se prenuncia em outros países europeus e mundo afora, se materializar por aqui, como parece inevitável, o debacle econômico, moral e da saúde no Brasil será gigantesco e ímpar na história do planeta.

Em meu último artigo, “FISIOLOGIA E CASUÍSMO, O CORONA VÍRUS DO FUTEBOL”, escrevi que “independentemente do que acontecer daqui pra frente, o Brasil e o mundo nunca mais serão os mesmos. E o futebol também. Quem sobreviver verá!!!”

Foto: Galo Digital

Mais que um vaticínio, é um sentimento. Cada vez mais acredito que muitas coisas no mundo inteiro, e não só o modelo de gestão do Atlético, serão forçosamente colocadas em xeque e repensadas, à custa de muita dor e sofrimento.

Assim, convido a todos a também refletir sobre tudo isso.

O que forçosamente irá acontecer no mundo em geral, no universo do futebol e, claro, no nosso Galo merece uma reflexão sóbria e responsável, o que não nos impede de sonhar com um mundo melhor e com um Atlético campeão e vencedor.

Da mesma forma que essa pandemia, ímpar na história contemporânea desse mundo globalizado, pegou o planeta de calças curtas e totalmente despreparado para enfrentá-la, em razão do desleixo do homem com questões vitais como a saúde pública e as políticas sociais estruturantes, o futebol e o Atlético, em particular, cambaleantes faz tempo, graças aos modelos de gestão ultrapassados que ainda solapam clubes e entidades, também foram surpreendidos e irão sofrer graves consequências dessa crise monumental.

Acredito que essa tragédia que se anuncia poderá deixar no final um saldo trágico, mas, também, um legado em forma de uma sementinha que irá germinar nos corações e mentes daqueles que sobreviverem: algo precisa mudar e muita coisa precisa ser feita para construirmos uma nova e saudável realidade.

Arrisco a dizer que, na linha do há males que vêm para o bem, parece que uma sementinha começa a germinar no deserto atleticano. Se não for regada, pode secar e morrer.

Seja por razões de política interna, afinal estamos em ano de eleições no clube, seja em consequência de um objetivo legítimo de Sette Câmara de deixar no clube a sua marca pessoal, seja em razão da percepção de que se tornou necessário à sobrevivência da instituição do Atlético reformular métodos e concepções de gestão, rompendo com um modelo mofado e ultrapassado que vigora há anos no Glorioso, o fato é que neste ano de 2020 novos ventos já começaram a soprar em Lourdes e na Cidade do Galo.

Parece óbvio que o presidente se viu obrigado a desconectar de vez a sua imagem da do seu antecessor mais vitorioso, e isso talvez explique esse cada vez mais explícito racha na sua base de sustentação política.

E também parece induvidoso o fato de que a tragédia do rival deixou o comando atleticano de barbas de molho, ainda que as condições objetivas que levaram o clube azul para o fundo do poço estejam, pelo menos por enquanto, longe de serem reproduzidas no universo preto e branco.

A chegada de Júnior Chávare que, de fato, está revolucionando a base alvinegra, e as contratações, ainda que frustradas, de Rui Costa e de Dudamel, já indicavam uma mudança de rumos no Atlético.

E, se alguém ainda tinha dúvidas, as vindas de Sampaoli e Alexandre Mattos espancam qualquer especulação em contrário.

Nessa parada forçada o Atlético iniciou uma série de lives especiais pela TV Galo e, em uma ação mais que inusual dos comandos atleticanos, diria inédita nos anais do clube, a direção máxima se disponibilizou a conversar com o torcedor.

E ainda que essa conversa fosse, em quase sua totalidade amena e sem cobranças pesadas, o presidente e seu vice falaram mais do que todos os seus antecessores juntos disseram nas duas últimas décadas. Até um mea culpa de Lásaro Cândido em nome do comando aconteceu.

No programa do dia do aniversário do Atlético, Sette Câmara se fez acompanhar dos principais parceiros do clube na Arena MRV, além do próprio CEO do empreendimento.

De tudo o que foi dito nessas duas lives e no programa com o novo diretor de Futebol Alexandre Mattos, dá para perceber que existe, mais que uma mera intenção de ajudar o clube, um projeto nada modesto e que perpassa pela afirmação do gigantismo natural do Atlético.

Neste primeiro momento de muitas dúvidas, perguntas e ainda de poucas descobertas sobre o vírus por parte da própria comunidade científica, dado o ineditismo da praga, e de muitas indefinições em todos os segmentos da vida, o futebol, e não poderia ser diferente, está parado e mergulhado em incertezas.

Mesmo assim, o presidente Sette Câmara mostra otimismo, tranquilidade e, apesar de saber e reconhecer que o clube precisa se readequar à crise, informa que todos os salários estão em dia e que uma das duas folhas de direitos de imagem atrasadas deverá ser quitada nos próximos dias.

Até agora, o clube apenas concedeu férias coletivas antecipadas de 20 dias e anunciou uma redução salarial de 25% dos dirigentes remunerados, jogadores e comissão técnica, mantendo a remuneração integral dos funcionários que recebem até R$ 5 mil.

Dirigentes e parceiros também não são econômicos ao garantir mais contratações importantes e ao deixar claro que a ideia é montar um time forte e competitivo para fazer frente a qualquer adversário.

O banqueiro e investidor Rubens Menin foi enfático ao dizer que para a parceria do clube com as suas empresas dê os resultados que ele anseia e busca, é imprescindível construir um Atlético forte, vencedor e campeão. Claro, como uma coisa puxa outra, uma marca forte só pode fazer crescer a marca parceira.

Pelo menos, no discurso, é isso que dirigentes e parceiros estão dizendo.

É claro que todo esse otimismo vai gerar muitas e muitas especulações. Mas vou logo dizendo que, fiel à proposta dessa coluna, não entrarei no campo desse mi mi mi histriônico sobre quem vem ou deveria vir, que visa tão somente a audiência fácil e irrefletida.

Ainda assim, e considerando o que o Atlético já dispõe, vou me permitir dizer que o clube ainda precisa de, no mínimo, quatro contratações pontuais e de qualidade para, enfim, ter um elenco equilibrado, competitivo e dar a tão sonhada arrancada rumo às grandes conquistas que o gigantismo natural do Galo está a exigir.

E aqui fica um alerta: quando falo de elenco equilibrado quero dizer que o Atlético deve buscar montar um grupo físico, técnico, tático e mentalmente coeso e autossuficiente, o que permitirá ao treinador, no caso Jorge Samapaoli, formatar um conjunto (mais de um time) competitivo, eclético e apto a enfrentar os desafios que naturalmente se interporão em seu caminho.

Nesse sentido, confio, por exemplo, que Sampaoli saberá encaixar e tirar o máximo de Tardelli, sopesando a sua idade e a sua condição físico-atlética atuais.

Com esse exemplo do ídolo e artilheiro, quero mostrar o quão é interessante e fundamental para se montar um grupo equilibrado e competitivo, balizar um leque mínimo de variáveis que considerem as características e as condições individuais de cada jogador com o qual se pretende contar.

O Atlético tem um histórico ruim de desprezar esses cuidados na montagem de seus elencos. As sinalizações dos dirigentes e dos parceiros indicam que, a partir de agora, as coisas serão diferentes.

Gostaria muito de não estar enganado, mas estou gostando do que estou vendo e ouvindo sem, contudo, me deixar levar por um otimismo pueril e sem desconsiderar a gravidade do momento atual.

Se o que se prenuncia para dentro do campo parece ser muito bom, fora dele está claro que ajustes serão necessários. Mesmo porque se as coisas não fluírem e o clube se inviabilizar nada acontecerá dentro das quatro linhas.

Nunca é demais lembrar que o momento é de muita vigilância, de cobrança responsável e de muito cuidado com as ondas, com as notícias plantadas e com a indústria das fake news.

Já é percebido por muitos que esse quadro de pandemia só se instalou porque o homem tem relegado ao último plano questões de transcendental importância, não só para a sobrevivência da humanidade em quadros como esse, como também para a preservação de uma vida digna para todos, independentemente de qualquer outra coisa.

E essas questões podem ser sintetizadas em um binômio: saúde pública universal e políticas sociais estruturantes e sólidas.

Investir nesse binômio não é jogar dinheiro fora. Ao contrário, é garantia de um lucro extremamente valioso: a própria vida plena, saudável, digna e feliz.

Da mesma forma, muitos clubes sucumbirão a essa crise e outros dela sairão, cada qual de acordo com o seu histórico particular de governança e trato do futebol.

E aqueles clubes que já vinham modernizando e profissionalizando sua gestão obviamente terão condições de atravessar essa crise com mais tranquilidade e dela sair menos afetados e com poucas sequelas.

Para quem ainda duvidava, vai ficar claro que o clube que tenha adotado uma gestão calçada em métodos e concepções de governança moderna e compliance sairá muito à frente daqueles que continuarem submetidos a modelos arcaicos, feudais e ultrapassados. Sette Câmara e seus pares parecem saber disso.

“A chegada de ‘alguns reforços’ vai fazer o Atlético brigar pelo título brasileiro”, garante o presidente.

“Meu grande sonho é ganhar o Campeonato Brasileiro. Estamos há muitos anos na fila. Essa é a verdade. O trabalho do Sampaoli no ano passado pode ser similar ao do Atlético, porque o Santos foi eliminado precocemente na Sul-Americana e também da Copa do Brasil, pelo próprio Atlético, e ficou focado só no Brasileiro.”, insiste Sette Câmara.

E emenda: “Se a gente fizer a mesma coisa, com um treinador da capacidade do Sampaoli, com os reforços que ele tem pedido, o Atlético passa a ser fortíssimo candidato ao Campeonato Brasileiro.”.

Esse, presidente, será apenas um dos passos a serem seguidos. Existem outros tão importantes quanto. Eu diria vitais. E implementá-los, de modo a garantir o equilíbrio financeiro, administrativo e funcional do clube, é mais que um desafio. É obrigação. Caso contrário, o desastre será inevitável.

Em relação à pandemia, uma sementinha parece que já foi plantada. E ela pode se transformar em uma floresta que pode cobrir o planeta. No Atlético tudo indica que algo de muito bom também está sendo germinado.

Mas, assim como muita água ainda vai passar por baixo da ponte, muita dor e muito sofrimento ainda podem machucar muitos corações e espíritos, no Galo também muita coisa pode acontecer. Para o bem ou para o mal. Todo o cuidado é pouco. Toda a diligência será necessária.

O futuro? Quem sobreviver verá!!!