Foto: Pedro Souza
Por Max Pereira (@pretono46871088 @MaxGuaramax2012)
Uma coisa que sempre chama a atenção de qualquer torcedor apaixonado são os rankings e, claro, a posição de seu clube de coração em cada um deles. E, ainda que desde 1971, ano em que se realizou o primeiro campeonato brasileiro oficial, curiosamente o único vencido pelo Atlético até os dias de hoje, tenham existido vários e vários regulamentos ao longo dos anos e, mesmo que nos campeonatos de pontos de corridos, fórmula que vem sendo aplicada a partir de 2003, edição ironicamente vencida pelo rival azul, sejam disputadas mais partidas que nas competições anteriores, chama a atenção a posição do Glorioso nos diversos rankings do torneio mais importante do futebol brasileiro.
Com seis títulos, o São Paulo é líder em vários critérios na história do Brasileirão e, embora, isto explique com alguma lógica esta performance, os números atleticanos nos instigam a fazer várias perguntas, entre elas, se eles em si justificam ou não esse amargo jejum de 50 anos que incomoda e, como incomoda, ao seu torcedor.
Computados os campeonatos de 1971 a 2020, o Atlético ocupa o 6.º lugar nos rankings dos times que mais pontos somaram nesta competição. E mais, o Atlético é também um dos 6 únicos times que, até então, ultrapassaram a marca dos 2000 pontos, tendo somado neste período 2014 pontos.
Se os números já são expressivos, mais impressionantes são os relativos aos pontos ganhos pelo alvinegro apenas como mandante no mesmo período (1971-2020). Os 1247 pontos totalizados pelo Galo lhe garantem o 4.º lugar neste ranking, sendo superado apenas e, tão somente, pelo tricolor paulista e pela dupla gaúcha, Grêmio e Internacional. O Atlético, vencedor de apenas um campeonato, somou, como mandante, mais pontos que o Flamengo, oficialmente considerado campeão 7 vezes, colocado em 5.º lugar neste ranking, com 1219 pontos. Ou seja, o Galo, apesar do jejum de títulos, conseguiu somar 28 pontos a mais que o campeoníssimo rubro-negro carioca em jogos cujo mando de campo era seu. Aliás, a maior goleada entre eles aconteceu em Ipatinga, quando o Galo aplicou no Urubu aqueles sonoros 6 a 1, em tarde de Márcio Mexerica e de Alex Mineiro.
Já o desempenho do Glorioso como visitante é diferente. No ranking de pontos ganhos com mando dos adversários o Atlético, tendo somado apenas 767 pontos, ocupa o 8.º lugar, sendo superado, inclusive e, dentre outros, pelo rival azul. Isso mostra que, historicamente, as campanhas do Atlético fora de casa têm sido o calcanhar de Aquiles do clube ao longo dos tempos.
De 1971 até 2020, não obstante todos os percalços havidos, seja em razão de erros e falhas de planejamento do próprio clube, seja em função do perverso extracampo que abortou várias vitórias e vários títulos, o desempenho do ataque atleticano é algo, de fato, extraordinário. O Galo ocupa o 2.º lugar no geral, tendo estufado as redes adversárias 2064 vezes. O Atlético é superado apenas pelo São Paulo, outro papa títulos ao lado do rubro negro carioca, que marcou 2167 vezes. Apenas quatro clubes superaram a marca dos 2000 gols. Além do Galo e do tricolor paulista, juntam-se nesta seleta lista, o Santos em terceiro lugar com 2055 gols e Flamengo em quarto lugar com 2025 gols. Parece mentira, mas o Atlético marcou mais gols que o Urubu.
Já o ranking dos saldos de gols escancara um fator que tem chamado a atenção de muitos torcedores. O Atlético ocupa o 5.º lugar com 404 gols de saldo, o que significa um número relativamente alto de gols sofridos. Por outro lado, o Galo é o 4.º colocado entre os clubes com mais vitórias no Brasileirão de 1971 até 2020, tendo vencido 605 vezes. Há que se lembrar, também, que até 2003, quando se iniciou a era dos pontos corridos, o Atlético era o recordista de participações nas semifinais do Brasileirão, onde várias vezes o sonho do título foi sepultado.
Se compararmos os números do Galo a partir de 2003 com os números gerais, veremos que a performance atleticana até aquele ano, não obstante ter sido coroada com apenas um título, é digna de referência e merece destaque.
Se no geral, não é um desempenho de se desprezar, outrossim, é de se considerar que, no caminho dos títulos da maior competição do país, sempre existiram pedras e obstáculos que o Atlético nunca soube superar.
De 1971 até 2002, o Atlético, via de regra, sempre pontuou bem no turno único classificatório dos campeonatos brasileiros e garantiu a sua presença nas fases de mata-mata seguintes. Curiosamente, muitos analistas que, ao longo daqueles anos defendiam a sistemática de pontos corridos em turno e returno, entendiam que o Galo era, dentre todos os clubes brasileiros, aquele que mais se beneficiaria com esse formato, em razão de sua histórica regularidade na etapa classificatória do Brasileirão daqueles tempos o que, segundo eles, era a razão do clube quase sempre ter-se classificado para as fases de mata-mata decisivas.
Mas, o desempenho do Atlético a partir de 2003 não refletiu essa expectativa. O Galo, na verdade, pecou muito nos quesitos regularidade e planejamento, o que os seus números deixam claro. Diferentemente das expectativas dos observadores e muito distante dos sonhos de seus aficcionados, o Atlético ficou longe de ser aquele time campeão e vencedor.
Na era de pontos corridos o Atlético é até agora apenas o 9.º lugar no que se refere aos pontos conquistados (997), aos pontos somados como mandante (623) e aos pontos somados como visitante (374). E se formos considerar os pontos conquistados por turno, o Atlético cai para o 10.º lugar nas duas medições, com 507 pontos conquistados no 1.º turno e 490 ganhos no returno. E, com 275 triunfos o Galo figura na 10.ª posição no ranking de vitórias relativo a tão somente a era dos pontos corridos. Foi, aliás, nesta era que o Atlético viveu o seu maior inferno astral, a queda para a série B em 2005. Aqui, cabe esclarecer que os números registrados na campanha vitoriosa que garantiu a volta do glorioso à elite do futebol brasileiro não estão computados nos rankings citados neste artigo.
Porém, paradoxal como sempre, o Atlético continuou registrando um índice significativo e digno de destaque: com 981 gols o Galo aparece no 4.º lugar do ranking computado a partir de 2003, i.e., sob a égide dos pontos corridos, dos times com mais gols marcados. A irregularidade, marca registrada das campanhas do Atlético neste período, explica o fato de o clube figurar, neste mesmo período, apenas no 9.º lugar do ranking dos saldos de gols com apenas 98 a seu favor. Mais uma vez, pode se inferir que, se o time atleticano continuou marcando muitos gols, também sofreu um número significativo e preocupante deles.
E tem mais: o Atlético, com 328 gols marcados, além de ser o único clube brasileiro a ter participado de todas as edições da Copa do Brasil, 32 no total, não só figura entre os cinco times que mais marcaram gols neste torneio, como também é o terceiro colocado neste ranking, superando o Grêmio (5.º lugar com 311 gols) e o rival azul que sequer figura nesta lista, ambos recordistas de títulos desta competição. Definitivamente, de gols o atleticano não pode reclamar.
E, por falar em Copa do Brasil, a maior goleada deste torneio pertence ao Atlético, 11 a 0, com direito a 5 gols do saudoso artilheiro Gerson, aquele que, neste mesmo jogo, saiu incrivelmente vaiado e xingado pela torcida porque cometeu o “crime” de perder um gol daqueles chamados feitos. Coisas de atleticano.
Paralelamente a tudo isso, o Atlético, de certa forma, e contraditoriamente às frustrações da massa atleticana, vem refletindo o que dele efetivamente se cobrou durante todos estes anos. Se, para uma parcela significativa da massa os títulos eram desnecessários porque bastava ser atleticano, para aqueles que ao longo de todo esse tempo, comandaram os destinos do clube, também era impossível exigir algo diferente, vez que, não só pecaram profundamente no que tange ao planejamento e à blindagem dos times atleticanos, como também falharam rotundamente no jogo dos bastidores, aonde historicamente o Glorioso vem sendo goleado impiedosamente.
Nem as conquistas das duas Copas Conmebol, versão antiga da atual Copa Sul-americana, na década de 90 do século passado, foram suficientes para elevar a autoestima do atleticano que, em grande parcela, curiosa e estupidamente, se tornaram os primeiros a depreciá-las e considera-las algo de menor ou, até mesmo, de nenhuma importância.
E, se as campanhas de 2003 pra cá não foram suficientes para conquistar algum título, serviram para deixar o Atlético quase sempre na prateleira de cima do futebol brasileiro, a ponto de disputar com alguma frequência a Copa Libertadores, principal competição sul-americana, culminando com a histórica conquista de 2013. Aliás, o biênio 2013/2014, tinto de preto e branco também pelas conquistas da Recopa e da Copa do Brasil, foram o estopim para uma mudança de visão e de comportamento da torcida atleticana, em um processo ainda longe de um final feliz.
Se antes os times atleticanos abdicavam do foco do título, engolidos pelas idiossincrasias de sua torcida e pela incompetência de seus dirigentes, agora o que se vê é o time do Atlético, dentro de campo, brigar contra fantasmas e demônios que, na verdade, são produto deste Galo esquizofrênico de décadas, que hoje, ao mesmo tempo em que se contorce por mudar, ainda se divide entre o competir e o sofrer e continua sendo sacudido por terremotos que ainda insistem em sacudir os seus interiores.
Durante anos, uma visão retrógrada de se fazer e ver o futebol marcou a trajetória do clube. Hoje, o Atlético dá sinais claros de que novos tempos estão sendo construídos. E, entre tapas e beijos, muita agua vai passar por debaixo da ponte. Rankings e números sevem apenas de parâmetros. O que importa é que, de posse deles, os homens que estão à frente do clube, saibam dimensionar os desafios e descortinar os caminhos que o Atlético ainda tem que percorrer para, de uma vez por todas, se tornar aquele time campeão, vencedor e do mundo de que muito se tem falado no mundo atleticano e muito sonha cada galista apaixonado.