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R$ 80 milhões em novos empréstimos: Entenda esses valores que constam no orçamento do Atlético

 

Silas Gouveia e Prof Denílson Rocha
Do Fala Galo
17/12/2019 – 06h15
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No orçamento apresentado pela diretoria do CAM aos Conselheiros na semana passada, alguns fatos chamaram a atenção e um deles causou um certo desencontro de informações que talvez fosse melhor ao menos tentar uma explicação aos que não conhecem sobre o assunto.

Como novidade, o orçamento de 2020 foi apresentado com duas partes:

  1. A projeção da demonstração do resultado do exercício – o que era comum nos anos anteriores (página 3 do documento);
  2. A projeção de fluxo de caixa – o que não era publicado nos anos anteriores (página 4 do documento).

Esta projeção de fluxo de caixa foi que gerou bastante discussão e uma certa confusão. Na explicação do documento apresentado aos Conselheiros aparece a descrição de “Novos empréstimos” num valor total de R$ 80 milhões, o que não aparece na demonstração do exercício. Ou seja, planeja-se usar possivelmente empréstimos durante o ano, os quais deverão ser quitados no mesmo exercício. Desta forma, estes R$ 80 milhões não devem ser computados como receitas adicionais, nem como despesas previstas.

Talvez fique mais fácil entender se considerarmos o seguinte:

A – A projeção do resultado do exercício é um planejamento dos números que deverão ser realizados até o final do ano, 31/12/2020.

B – Esta projeção do resultado do exercício (orçamento) será comparada com o balanço patrimonial, que registra o que efetivamente ocorreu no ano.

C – A comparação entre o previsto (orçamento) e o realizado (balanço) serve para avaliar a qualidade do planejamento.

D – Os dados apresentados na demonstração de resultados são como uma “foto” do dia 31/12/2020. Portanto, mostra uma situação pontual que não traz tudo o que ocorreu durante o ano.

A previsão de receitas de TV (“transmissão de imagens”) é de R$ 78,6 milhões, o que já demonstra que o plano orçamentário é bastante próximo da arrecadação real, sem a expectativa de antecipação de receitas. Mas esse valor não entra no caixa do Clube no início do ano para que as despesas sejam pagas. A maior parte somente é paga pela TV no final do ano, depois de definida a posição no campeonato, a quantidade de partidas que serão transmitidas em TV aberta e a participação no pay per view. E como os clubes vão pagando suas contas mês a mês se o dinheiro só vai aparecer depois? Aí aparece o empréstimo para garantir o fluxo de caixa. Não por acaso, os R$ 80 milhões previstos são praticamente o mesmo valor da quota de TV.

Com isto, o valor obtido por um empréstimo desta natureza difere dos demais empréstimos que o clube tem ou teve necessidade de fazer, a começar pelas taxas de juros que devem ser consideravelmente mais baixas que as dos empréstimos normais, pelo fato de que estará lastreado a uma receita que de fato entrará nos cofres do clube durante o ano. E assim sendo, os possíveis R$ 80 milhões que entrarem de empréstimo durante o ano, deverão ser quitados durante o próprio ano em exercício (2020 no caso).

Esta é a primeira possibilidade da aplicação do tal empréstimo.

A segunda possibilidade é a substituição de empréstimos. É pegar um empréstimo para pagar outros. Mas qual a vantagem disso? É para conseguir um empréstimo novo com juros mais baixos que os aplicados nos empréstimos anteriores (e as taxas no mercado vêm sendo reduzidas) ou, ainda, para alongar o perfil da dívida (se teria que pagar R$ 80 milhões em 2020, quita esses valores com o novo empréstimo e assume prestações por um período mais longo). Em qualquer destas situações de troca de um empréstimo por outro, é uma engenharia financeira bastante inteligente e importante para viabilizar o Clube.

Voltando ao exemplo da foto, podemos dizer que em 01/01/2020 a foto tirada do caixa do Clube não terá a participação dos R$ 80 milhões nela porque o novo empréstimo só vai ser feito depois desta data. Da mesma forma, ao se tirar uma foto do caixa do clube em 31/12/2020, também não terá a participação dos R$ 80 milhões nela, visto que ele foi totalmente quitado antes deste prazo.

Portanto, ainda que toda esta movimentação financeira seja registrada e faça parte da contabilidade do Atlético, a forma correta de registro aponta que não deve ser incluído o valor de R$ 80 milhões de reais como parte da receita prevista do CAM em 2020, visto que este valor nada mais é que uma previsão de composição de fluxo de caixa para cobrir o parcelamento de uma receita, esta sim devidamente computada, de transmissão de imagens do clube ou a simples substituição de um empréstimo por outro.