Os novos grandes – Por Denilson Rocha
Virou tradição falar que no Brasil existem 12 grandes clubes de futebol. Ninguém sabe de onde surgiu o número cabalístico, mas passou a ser tratado como uma verdade absoluta. E o número já vinha acompanhado dos nomes que ocupavam esse Olimpo sagrado: Atlético, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Inter, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco. Ou seja, os clubes das maiores metrópoles do centro-sul brasileiro. Mas continua valendo?
Ninguém questiona a história de cada um destes 12 clubes. Ao contrário, têm trajetórias ricas, repletas de conquistas e ainda têm algumas das maiores torcidas do Brasil. Estes clubes reúnem as principais conquistas do futebol brasileiro, tanto nacionalmente quanto internacionalmente. Mas é preciso ampliar o olhar quando se avalia a história do futebol brasileiro. Há diversos outros clubes que também têm histórias ricas e gloriosas. Bahia, Vitória, Sport, Santa Cruz, Náutico, Remo, Paysandu, Athlético, Coritiba, Criciúma, Juventude, Goiás, Vila Nova, CSA, CRB, América… Todos grandes clubes regionais, alguns com títulos nacionais e, principalmente, longas histórias e conquistas.
Quando se adotou o Campeonato de 1971 como o primeiro Brasileirão, não foi por acaso. Era a primeira vez que havia um campeonato que permitia, verdadeiramente, a participação de clubes de todo o Brasil. Antes, os diversos torneios regionais permitiram que vários clubes tivessem importantes vitórias. Mas o tempo mudou e clubes vencedores ficaram pelo caminho. Onde está o Siderúrgica?
O passado glorioso não garante o futuro vencedor. E essa realidade já bateu nas portas dos chamados 12 grandes.
Ao avaliar os clubes do Rio de Janeiro, Botafogo, Fluminense e Vasco lutam para sobreviver. Péssimas administrações geraram dívidas, perda de torcida e de receitas. Os títulos sumiram. Os times temidos não existem mais. Cada dia virou uma luta pela sobrevivência. Sobrou apenas o Flamengo que, aproveitando da condição diferenciada na relação com a emissora detentora dos direitos de transmissão, soube aumentar sua torcida, gerar receitas e, antes dos outros, buscou se modernizar, quitar dívidas, melhorar a estrutura e a formação de atletas. A tragédia no Ninho do Urubu vai exigir muito do clube para dar o devido suporte e as indenizações às famílias. Em outras épocas, poderia levar o clube à falência. Agora, vai adiar alguns planos. Mas o Flamengo continuará, por enquanto, sendo o único grande no Rio.
Em São Paulo, o Santos vive em meio a problemas administrativos e políticos. Se sustenta pela fábrica de talentos nas categorias de base. Resta saber até quando surgirão Neymar e Rodrygo para fechar a conta no final do ano. O Corinthians continua com a força da torcida e generosos contratos de transmissão. Mas convive com a dívida impagável de um estádio cheio de estórias mal contadas. E o “soberano” São Paulo já acumula uma década sem conquistas e o equilíbrio financeiro é perdido nas confusões políticas. Quanto ao Palmeiras, foi resgatado da segunda divisão e dos problemas financeiros por um presidente que utilizou do próprio dinheiro para colocar o clube no caminho da grandeza e das conquistas.
O Rio Grande do Sul assiste â duas histórias bastante distintas. O Grêmio se profissionalizou, organizou a casa, quitou dívidas, melhorou as categorias de base e adotou práticas de gestão modernas. Como resultado, equilíbrio financeiro e títulos em campo. Já o Internacional assiste à ex-dirigentes sendo processados por gestão temerária, acumula dívidas, foi à segunda divisão do Campeonato Brasileiro e ainda busca se salvar. A distância financeira será sentida em campo.
Em Minas, os dois grandes vêm de títulos recentes e apostaram em estratégias completamente diferentes. O Atlético, sabidamente um dos grandes devedores no Brasil, adotou a postura da “austeridade”. Reduziu investimentos, abriu mão dos “medalhões”, adotou a “austeridade”. Assumiu a linha de redução drástica nos custos. Já o outro lado da lagoa, também endividado, ampliou os investimentos em atletas consagrados e apostou na conquista de títulos para aumentar as receitas. As duas estratégias envolvem riscos e é impossível dizer quem apostou melhor. Só o futuro vai nos dizer.
Em 2009, na única vez que pude conversar com o ex-presidente Kalil, ele afirmava que poucas cidades no mundo tinham capacidade para ter dois grandes clubes de futebol. Fiquei com essa afirmação na memória. Afinal, São Paulo e Rio de Janeiro tinham, cada uma, 4 grandes clubes. Hoje, passados dez anos, já vemos o Rio com apenas um grande. São Paulo e Porto Alegre já veem distanciamento de apenas um clube em cada cidade. Ainda não temos uma certeza quanto a Belo Horizonte. Seremos Madrid ou Milão, que fogem à regra e mantêm seus grandes clubes?
Enquanto isso, podemos ver outras metrópoles dando sustentação aos novos grandes do Brasil. Salvador, Recife, Belém, Goiânia, Curitiba, Fortaleza, dentre outras, têm população, renda, interesse no futebol e clubes importantes. Aos poucos, vão conquistando e consolidando seus espaços. Assim, em breve, teremos um novo mapa do futebol no Brasil e os 12 grandes serão outros.
Por: @denilsonrocha
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