O que faz um ídolo? – Por Denilson Rocha
A maioria de nós, simples mortais, cresce com o trabalho como parte da vida. “O que você vai ser quando crescer?”, começam, logo cedo, a nos fazer escolher a profissão. Já começamos a sonhar em ser piloto, artista, médico ou jogador de futebol. Em geral, a vida nos leva para outros caminhos, mas o trabalho continua por lá.
A maioria de nós trabalha por que precisa pagar o arroz com feijão, o leitinho das crianças, o aluguel ou a prestação da casa e por aí vai. E quando falamos dos jogadores de futebol, quase todos estão nesta situação também. Das centenas de clubes “profissionais” que existem no Brasil, poucos são os que pagam salários gigantescos. Então, é normal ouvirmos, quando um atleta se transfere de um clube para outro, que está buscando a independência financeira, porque a carreira é curta, blá blá blá. Só fica estranho quando quem fala isso é um cara que já está há anos na profissão, já passou por grandes clubes nacionais e estrangeiros e continua nessa fala sem fundamento. Só para mostrar o absurdo, um jogador que ganhe um milhão de reais mensais por um ano na carreira (ou seja, R$ 13.000.000, em um ano) conseguiria receber, só em salários, o equivalente a um trabalhador que trabalhasse dos 20 aos 65 anos (ou seja, 45 anos ou 540 meses) recebendo por volta de vinte mil reais mensais. Quantos de nós recebe isso?
Como o argumento de “independência financeira” caiu por terra, a nova desculpa é do “projeto”. Em geral, não sabem o que significa projeto, mas vira uma ótima justificativa para, na verdade, ir ganhar uns trocados a mais. Projeto é quando se busca uma entrega ou um resultado único, diferenciado. Hoje fala-se muito em trabalhar por um propósito, por acreditar naquilo que se faz e daí até aceitar ganhar menos para ter satisfação com o trabalho. Mas se o “projeto” é tão importante, poderia seguir o exemplo de Jakub Blaszczykowski, conhecido como Kuba, que acertou o seu retorno ao Wisla Cracóvia, da Polônia, quase 12 anos depois da sua saída, sem receber salários e ainda vai investir no clube.
Quando criança, ao pensar em ser jogador de futebol, poucas vezes se pensa na “independência financeira” ou no “projeto”. Em geral, pensávamos no orgulho de vestir o manto sagrado do nosso time do coração, ou fazer um gol numa final de um grande torneio – ultimamente, seria um campeonato europeu – ou entrar em um estádio lotado e ouvir a torcida gritando seu nome. O grande sonho é ser ídolo, reconhecido, lembrado e valorizado. Mas quantos jogadores estão verdadeiramente preocupados com isso hoje em dia? Quantos querem ser lembrados como são Pelé, Garrincha, Reinaldo, Éder… Nos últimos anos, quantos vestiram a camisa do Galo e merecerão ser lembrados no futuro? Ronaldinho, Léo Silva, Rever, Pierre, Donizete… vamos nos lembrar dos que estiveram em nossas mais recentes e importantes conquistas.
Mas o ídolo não se constrói só com as conquistas em campo. Na verdade, muitos dos nossos ídolos sequer ganharam títulos de expressão. Luisinho, Paulo Isidoro, Éder… Mais que os títulos, eles tiveram o comportamento que se espera de pessoas decentes: orgulho por estar no Galo, honra à camisa, garra, determinação e gratidão por ter merecido estar em um clube tão grande.
Quando se faz algo por alguém, não se deveria lembra-lo do que foi feito. Mas quem estava questionado, esquecido e recebe uma oportunidade na vida deveria ter, no mínimo, gratidão. O sentimento que temos pelo Ronaldinho Gaúcho não é só pelos títulos ou por ter sido o melhor do mundo. É pela forma como reconhece que estava mal, sendo questionado e apedrejado e se recuperou por ter uma oportunidade no Atlético.
Outro que sequer merece ter o nome mencionado, esquece onde e como estava antes de encontrar o Clube Atlético Mineiro. Se esqueceu da oportunidade que outros não lhe deram. Teve a chance de encerrar a carreira como Ídolo (no maiúsculo mesmo!) e entrar para a história como um dos grandes. Mas optou por entrar na história apenas como “mais um”. Continuará na nossa história, não há como apagar o que aconteceu. Mas mostrou a verdadeira cara, apequenou-se e nada poderia apequenar mais uma pessoa que falsidade e traição… Como diz o nosso segundo hino “você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão”.
Que o Galo continue gigante e que a Massa continue reverenciando quem realmente merece – e são muitos os que entenderam o privilégio de fazer parte da galeria de ídolos do Clube Atlético Mineiro.
Por: Denilson Rocha (@denilsonrocha)
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