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O périplo de Cuca: no lugar errado e na hora errada!

Foto: Flickr oficial do Atlético

 

 

Por Max Pereira / @pretono46871088 @MaxGuaramax2012

Faltou raça não gente! Faltou bola! Faltou tática, faltou transição de meio campo! Sobrou chutão e recuo esperando o adversário! Faltou futebol! ” Assim, a atleticana Carla Meireles (@carlasmeireles) iniciou um fio inteligentíssimo em seu Twitter para contar aos seus seguidores o que ela viu nesse último e trágico clássico.

Carla desmitificou aquela idiotia machista de que as mulheres não entendem de futebol. Confesso que é um prazer segui-la e ler seus comentários. Não atoa as suas observações táticas sobre o ”time” de Cuca inspiraram este artigo. Nada mais justo do que conferir-lhe os devidos e merecidos créditos.

E ela tem razão quando afirma que esse anti-futebol não aconteceu só diante do maior rival. Assim como a ela, me espantam diversas análises rasas que não enxergam a pobreza tática do Galo desde que Cuca aqui chegou e assumiu. Bizarra foi o adjetivo que a nossa atleticana encontrou para qualificar a pífia atuação do Atlético diante do time azul e, em particular, o estapafúrdio posicionamento de Nacho Fernández que, de costas para o ataque, esperava uma bola longa, espetada, seja para fazer o pivô, seja para dominá-la e fazer algum passe, o que evidenciou por parte de Cuca total desconhecimento das características do craque argentino. A defesa azul agradeceu e anulou o camisa 26 do Atlético.

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De nada adianta ter um dos melhores meias do continente se a opção for o jogo baseado no chutão. Em vários momentos, ainda que existissem jogadores livres para receber a bola e sair jogando, a preferência era sempre pelo lançamento longo. Assim como a nossa analista, muitos atleticanos já mostram em suas redes sociais que já perceberam que, neste momento, o problema do Galo é COLETIVO. Não há qualquer esquema tático, não há a mínima organização.

Abusando da ligação direta, o tradicional chutão, o Atlético reviveu os velhos tempos do Cucabol, com algumas diferenças perversas e fatais: não dispunha de jogadores com as características que esse tipo de jogo exige, não houve tempo para treinar e adaptar os atletas a essa forma de jogar e, nem tampouco, respeito ao perfil do elenco atual.

Por que Allan e outros jogadores (pq não era apenas ele) tocavam a bola excessivamente para trás ou para o lado? Qual é o esquema tático (se é que tem um) do time? Como está organizada (??!??) a saída de bola do Atlético? Por que o time abusou da ligação direta? E por que na saída de bola para o segundo tempo Igor Rabello, a lá Réver no passado, foi se meter lá na meia esquerda para fazer o pivô, função que ele jamais desempenhou? Para cabecear para trás, colocar a bola nos pés de um adversário e armar um contra-ataque do time azul que só não foi fatal graças às limitações da equipe da Toca?

A experiência com Tchê Tchê na lateral direita poderia até ser interessante se o ex-volante do São Paulo tivesse tido tempo de treinar e conhecer os seus companheiros. Do jeito que foi soou como um recado indigesto para o grupo. Da mesma maneira, fazer Nathan entrar de primeiro ou segundo volante poderia funcionar e até ser revolucionário, desde que o time estivesse treinado para isso.

O futebol apresentado pelo Atlético desde que Cuca assumiu é o retrato fiel do treinador. Mais e mais chutões, mais e mais lançamentos diretos, menos transição pelo meio. E, com isso, matou a principal qualidade do craque do time, ao fazê-lo jogar lá na frente, recebendo bola de costas e, consequentemente, o impedindo de ver o jogo e de criar alternativas. Em um raro momento em que o argentino conseguiu receber uma bola de frente para ataque e enxergar caminhos o time quase marcou.

Cuca chegou com a delicada missão de conduzir uma transição complexa de modelos táticos, vez que a sua forma de ver o jogo e de seus times tradicionalmente atuarem nada têm a ver com a filosofia de jogo de Jorge Sampaoli. E, ainda que aparentemente tenha sido mais feliz do que se imaginava à frente do Santos, substituindo coincidentemente o treinador argentino, se enganou quem pensava que a experiência no time peixeiro o levaria a conduzir a transição atleticana de forma leve, inteligente e gradual. É que o elenco do Santos e as condições objetivas no time praiano eram outros.

Quiseram os deuses do futebol, atleticanos para muitos, que o treinador interino Lucas Gonçalves e o auxiliar Éder Aleixo, o Bomba Santa de tantas memórias, começassem a realizar, de forma absolutamente insuspeita e surpreendente, uma transição leve, tranquila e, principalmente extremamente feliz, com o time alternativo. Um presente caído do céu para o novo treinador fosse ele quem fosse.

Perguntado sobre as razões do crescimento de seu futebol com Lucas Gonçalves, Zaracho sintetizou com maestria o porquê daquele futebol gostoso de jogar e de se ver jogar: estou jogando à vontade. Não atoa os jogadores do Atlético tinham voltado a sorrir em campo.

Mas, chegando ao lugar errado e na hora errada para ele e para o clube, Cuca desprezou essa dádiva dos deuses do futebol e rompeu bruscamente a transição que vinha sendo feita. E mais: o treinador, ao querer mudar radicalmente todo o trabalho feito por Sampaoli, ignorou o que de bom foi construído e tinha que ser preservado e não se limitou a consertar as falhas e a fazer os ajustes necessários, talvez até mesmo por ser incapaz de saber e dimensionar o que precisava ser feito. Cuca definitivamente e, com carradas de razão, não está com a cabeça inteiramente no clube. Melancólico e perdido, o próprio treinador joga contra o seu trabalho.

E, pior, se a insatisfação dos jogadores já salta aos olhos até do mais incauto dos observadores, Cuca também já não consegue esconder o seu desagrado com o elenco que tem em suas mãos. O Atlético tem hoje peças suficientes para qualquer treinador minimamente focado e de espirito aberto montar um time organizado. Quem vai contar para o Cuca que o elenco está totalmente insatisfeito com ele? O time é uma bagunça em todos os seus setores e o semblante dos jogadores e do treinador denuncia o crescente descontentamento de parte a parte.

Mais certo do que dois mais dois e igual a quatro, é o fato de que todo torcedor quer ver cada jogador na sua função entregando o máximo e o time atropelando todos os adversários. Mas, nenhum time chega a esse nível de excelência de uma hora para outra e, muito menos rompendo bruscamente um modelo tático já internalizado e violentando as características de seus jogadores.

O problema do Atlético hoje claramente chama-se Cuca. Na verdade, ele nem deveria ter vindo e a sua volta ao Atlético nesse momento é um dos erros mais crassos de avaliação da história do futebol. Um desastre, para o clube e para ele próprio. Não dá para passar pano. Errou o clube por convidá-lo a voltar e errou ele ao aceitar. Os dirigentes certamente por não serem do ramo e Cuca por vaidade e por negligenciar o seu momento pessoal.

Entendo os cuidados e os receios de muitos quanto aos estragos que uma demissão precipitada e intempestiva pode causar a um elenco ou a um projeto. Ocorre que, neste momento, com Cuca à frente, inexiste projeto. Aliás, inexiste sequer um arremedo de time. Cuca e este elenco nada a ver. Ele jamais fará esse elenco produzir vez que a incompatibilidade desse grupo com a sua forma de ver o jogo é gritante. Ouso afirmar que a sua permanência é prejuízo certo.

Prejuízo certo porque vai insistir na dispensa de vários jogadores e na contratação de outros. Com o comando atleticano premido pelo delicado momento financeiro do clube, sempre um péssimo conselheiro, a possibilidade de um desastre é real e iminente. Se os mecenas não querem jogar dinheiro fora, têm que buscar outra alternativa para comandar o grupo. Ou seja, um treinador de outro perfil.

Insistir na permanência de Cuca por vaidade e para mostrar que não agem por pressão é jogar o ano e tudo o que foi feito até agora no lixo. Só vai acelerar a ruína definitiva do time e do tão acalentado projeto. Todo o dinheiro investido até agora irá para o ralo. A desvalorização do elenco será inevitável. Buscar soluções rápidas e eficientes começa por desfazer o erro maior que foi entregar o elenco para Cuca neste momento. Ou o Atlético vai mandar todo mundo embora e contratar jogadores afeitos ao CUCABOL?

Cuca disse na coletiva após o fiasco diante do rival que podem cobrar dele um time pronto daqui a dez dias? Ele deve estar falando de outro clube, de outro time, porque no Atlético com este elenco é simplesmente impossível. Ah! Será que chegou a hora de sair aquela lista de dispensa que alguns canais têm anunciado para dar lugar para a turma do CUCABOL?

Está claro, por outro lado, que muitos que, por razões diversas, querem a permanência de Cuca estão alimentando ataques contra o elenco. Como sempre surge nesses momentos uma aliança fortuita e covarde jogando contra o clube. Os inimigos de sempre agradecem e se locupletam, o rival comemora e os dirigentes, inapetentes, não reagem, o que acaba alimentando a insanidade de uma limpa no elenco.

É sabido e ressabido que grande parte da massa atleticana sempre atribuiu os problemas do clube à falta de raça, associada a uma falta de qualidade dos elencos atleticanos, não importa quem esteja vestindo o manto sagrado. E tudo isso apoiado em teses rasas e emocionais. A teoria de que o elenco é ruim não é de hoje e advém de um complexo de vira-latas ardilosamente alimentado pelos inimigos de sempre há décadas. E a mídia tem um papel especial nessa história.

Mais uma vez surgem aqui e ali brados cada vez mais histriônicos e sem nenhuma base empírica clamando pelo desmonte do elenco e pela contratação de outros jogadores, claro ao feitio do treinador. Mas não era este o elenco que, em 2020 tinha obrigação de ganhar o brasileiro contra Palmeiras Flamengo e Grêmio? Não era este o grupo que precisava apenas de algumas contratações pontuais para disputar e ganhar qualquer título?  E, de repente, por que este elenco, reforçado por Nacho, Hulk e Dodô, já não serve mais? E por que este Atlético de 2021 não foi suficiente para ganhar do Cruzeiro? Os únicos culpados seriam apenas os jogadores?

Há poucos meses o grande problema do Galo que para muitos atleticanos “entregou o título” ao não ser campeão por apenas 3 pontos era Sampaoli e hoje, com um elenco ainda mais encorpado e qualificado, esses mesmos torcedores pedem a cabeça de jogadores. NÃO ESTÁ FALTANDO RAÇA NÃO GENTE! ESTÁ FALTANDO FUTEBOL! ESTÁ FALTANDO ESQUEMA TÁTICO!

Responsabilizar tão somente os jogadores por tudo o que está acontecendo no Atlético neste momento significa desprezar uma série de fatores e outras tantas variáveis que estão na raiz dos problemas, entre elas a contratação equivocada de Cuca e o despreparo dos dirigentes no trato do futebol.

Gerir futebol não tem nada a ver com administrar qualquer outro tipo de negócio. O Futebol tem nuances, características e variáveis que não existem em qualquer outra seara. Assim, exige de seus gestores e próceres conhecimento que nenhum outro segmento do mundo corporativo exige.

Mas, para muitos está tudo muito bom. O treinador dá bom dia aos funcionários, dá entrevistas, dá tapinha nas costas e é amigo de todo mundo. E ainda faz rachão. Isso que é bom e dá certo.

Cuca não merece ser defendido com argumentos tão rasteiros. Ele, em razão de sua história como treinador e do delicado momento pessoal que atravessa, tem que ser respeitado e preservado. Afastá-lo significar cuidar, não só do Atlético, como dele próprio.

Gente, vamos então falar sério, enquanto ainda dá tempo de salvar o time, o clube e preservar o próprio técnico?

Por fim, toda a empatia e toda a solidariedade em relação à luta que a mãe do treinador trava contra a Covid.

Em tempo e aqui entre nós: como eu gostaria de estar errado nessa minha avaliação e que tudo estivesse no caminho certo.