O olhar da experiência: Josué relembra a conquista da América pelo Atlético

Foto: Flickr oficial do Atlético

 

Catharina Tomazzi
24/07/2020 – 13:37
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O dia 24 de julho de 7 anos atrás não foi comum para quem veste o manto alvinegro. Para alguns que como eu, no auge dos 15 anos, enfrentavam a primeira grande final com o time, o clima era de muita apreensão, medo e nervosismo. Principalmente após a derrota no Paraguai por 2×0, com o segundo gol tomado nos acréscimos da partida, enxergar a virada era como enxergar um milagre. 

Me lembro bem de ter encontrado o Bernard em um restaurante dias antes da final: meu coração disparou, minha boca secou, comecei a tremer, mas não queria perder a chance de falar com ele. Então, as únicas palavras que consegui expressar, ao invés de desejar muita força, foram “pelo amor de Deus Bernard… Nos ajude a sermos campeões”. Sua resposta foi simpática e alegre, mas a minha tensão não diminuiu.

Em entrevista ao meio-campista Josué, que no ano do título já carregava em seu currículo finais positivas de Libertadores da América, Mundial de Clubes e 2 Campeonatos Brasileiros, a diferença de perspectiva é nítida: 

“A gente tinha certeza que venceria em casa, o importante era não tomar gols. Na viagem de volta do Paraguai, estávamos todos muito chateados, mas a nossa semana foi muito boa. O Cuca levou os treinamentos para o Mineirão, concentramos 3 dias antes e a cada hora que passava ficávamos mais confiantes. Um dia foi aberto para os familiares irem a concentração e isso foi uma injeção de ânimo para nós jogadores. Nos minutos antes da partida, claro que existia o frio na barriga e a ansiedade, mas a nossa confiança era muito grande.” 

 

O jogo 

Primeiramente, minha pergunta ao jogador não poderia ser outra: representando toda a massa atleticana, quis saber se a energia da torcida durante a partida é 100% absorvida ou se o foco é capaz de voltar toda a concentração apenas para dentro de campo e, sua resposta foi clara: sem os torcedores atleticanos a vitória e o título seriam impossíveis. Além disso, lembrou do grito histórico do “Eu acredito”. 

Confesso que foi difícil me atentar ao lances do jogo e fazer a minha análise de sempre, o nervosismo me consumia e, cada minuto do primeiro tempo que passava, era um minuto mais longe da taça. Mais uma vez, Josué se posicionou em campo de forma contrária a minha e, concordou plenamente quando mencionei sua estabilidade emocional e frieza, que nunca vistas de forma pejorativa, foram cruciais para o meio de campo do Atlético. 

A ideia do time, segundo Josué, era fazer um gol nos primeiros 45 minutos e garantir o segundo e possível terceiro depois. Porém, como já estamos cansados de saber que se não é sofrido não é Galo, o intervalo chegou sem gols. Nesse momento, a tensão em mim se converteu em lágrimas e a esperança diminuiu, nunca cessou. Afinal, o “eu acredito” não era à toa. Ao meu redor, torcedores mais calejados, que tinham os anos 70 e 80 em suas memórias, se mostravam muito confiantes, nervosos, mas claramente confiantes. Assim também foi dentro do vestiário: 

“Lógico que existiu o medo porque o pensamento durante toda semana era que tínhamos que fazer um gol no primeiro tempo. Quando ele acabou, eu pensei “nossa…”, mas no vestiário o clima era de muita alegria, muita confiança e eu lembro que no túnel nós falamos que iríamos converter no início do segundo tempo.” 

Assim foi feito. No primeiro minuto de jogo, em um cruzamento de Rosinei e falha da defesa, Jô converte e se torna o artilheiro isolado da Libertadores daquele ano. Talvez esse tenha sido o primeiro lance da partida em que eu consegui visualizar a jogada de forma clara, por essa eu não esperava. 

Poderia escrever que a minha confiança cresceu muito, para termos um texto menos melodramático, mas eu deixo aqui apenas a verdade e, a parte confortante fica sob o olhar e voz da experiência de Josué, que além de ter cumprido seu papel naquele dia de forma impecável, foi capaz de traduzir em palavras toda a sua confiança, mesmo com a substituição de Pierre, o que o deixou com maior carga de responsabilidade: 

“Eu já estava preparado para essa alteração. O Cuca a fez com um único fundamento: além da marcação, eu tinha uma saída de bola com mais qualidade. Então, foi para não perder as enfiadas de bola e chegada ao ataque com qualidade. Foi uma partida taticamente perfeita, não só eu, mas tinham outros jogadores mais experientes, como o Ronaldo, o Jô, o Réver e o Leonardo.” 

Completando, o volante revelou que enxergava o maior cansaço e preocupação no olhar dos jogadores do Olímpia durante o segundo tempo. Enquanto isso, o elenco alvinegro seguia com o sangue nos olhos, a frieza nas pernas dos mais experientes e a raça incomparável dos mais jovens. Segundo Josué, o mix entre esses dois tipos de jogadores foi essencial e perfeito para o Atlético. 

 

Agora sim, somos campeões?

“Acho que se você fizer essa pergunta para mil atleticanos, para 30 mil atleticanos, a resposta será a mesma. Quando o Ferreyra escorrega, fica no chão, perdendo o tempo da bola, sem goleiro e ele erra, ali eu vi que não só a competência, mas a sorte também estava ao nosso lado. A partir daí, as coisas foram se prolongando, foi para os pênaltis, a nossa confiança estava muito grande e víamos nos olhos paraguaios o maior nervosismo.” (Josué) 

Sorte é definitivamente uma palavra que não se encontra no vocabulário do Atlético Mineiro. Para me relembrar isso, havia um homem de seus 60 anos citando bem alto todos os momentos em que batemos na trave na conquista de grandes títulos. Ele andava de um lado para o outro e não teve escorregão de Ferreyra que o fizesse acalmar. Esse homem me contagiou, ficamos os dois andando de um lado para o outro ao final da prorrogação.  Sobre os pênaltis, não preciso nem mencionar, não é? Tensão, tensão e oração, quem era ateu, converteu-se, quem não era, ajoelhou-se. 

Nas palavras de Josué, cada título tem sua importância e diferencial, o do Atlético se resumiu ao sofrimento e a torcida. Para mim, que aos 15 anos vivi o meu primeiro grande título, a importância é imensurável, o sentimento é indescritível e a paixão se converte em lágrimas de alegria, assim como foi o meu último minuto acordada após a conquista e assim como termino esse texto. Espero que a montanha-russa de sensações, que completam nesta data 7 anos, seja revivida muitas e muitas vezes por mim e por nós, massa. Agora sim, eu posso dizer com toda certeza, eu acredito (como nunca deixei de acreditar, mas como nunca acreditei antes).