O mito do clube empresa

 

 

Por Professor Denilson Rocha 

Com os muitos questionamentos quanto à péssima gestão dos clubes no Brasil, é frequente que coloquem o “clube empresa” como solução para os problemas. Em março passado, o blog do Rodrigo Mattos publicou que o Governo Federal e o Congresso retomaram a discussão sobre um projeto para induzir os clubes de futebol a se transformarem em empresas com a possibilidade de terem donos. Mas é preciso compreender que “clube empresa” não será uma solução milagrosa para o caos instalado nos clubes brasileiros.

Tradicionalmente, os clubes de futebol surgem com atividade amadora com função social. Por isso, os clubes brasileiros se organizaram como instituições sem finalidades econômicas (ou lucrativas), mesmo nos casos de clubes ligados a empresas, como o Siderúrgica, bicampeão mineiro, e vinculado à Siderúrgica Belgo-Mineira. Atualmente, há muitos clubes empresa no Brasil. O mais conhecido é o Red Bull Brasil/Bragantino, mas há vários outros exemplos, como o Coimbra (que disputará a próxima edição do Campeonato Mineiro), o Tombense, o Botafogo/SP, Audax, dentre muitos outros. Ou seja, clube empresa no Brasil e no mundo já existe há muito tempo.

Então, qual a diferença? Empresa tem por objetivo obter lucro, clube social, não – o que não quer dizer que deva ter prejuízo. Empresa pode ter ações negociadas em bolsa de valores, clube social, não. E, especialmente para esses casos, o rigor na fiscalização e na transparência é muito maior.

E por que precisa mudar a legislação se já é possível ser clube empresa? Porque os clubes sociais têm benefícios tributários (pagam menos impostos) e as empresas não têm esse privilégio. E qualquer empresário no Brasil sabe que a carga de impostos é alta, o que dificulta bastante ter qualquer negócio no país.

Todos vamos concordar que a gestão dos clubes esportivos no Brasil é péssima, com raras exceções. Isso quer dizer que transformá-los em empresa fará milagrosamente com que sejam bem administrados, com responsabilidade, transparência, qualidade e tudo mais que sabemos que é essencial? Não!

Rui Costa, Diretor Executivo do Atlético

Mudar a constituição jurídica não leva necessariamente à correção dos erros de gestão. Pior, quase 25% das empresas no Brasil fecham antes de completar 2 anos de existência (são dados do SEBRAE). Reforçando, 1 de cada 4 não sobrevivem por 2 anos. E sejamos sinceros, a condição da maioria dos grandes clubes de futebol é de falência! Se fossem tratados como empresas, já teríamos fechado as portas. Botafogo, Fluminense e Vasco, como exemplo, estão em situação de calamidade. Se fossem empresas já teriam sido alvo de diversos pedidos de falência.

Em sentido contrário, há diversas instituições sem finalidade econômica (ou seja, não são empresas) que são administradas com a mais absoluta competência. Instituto Ayrton Senna ou  Médicos sem Fronteiras não são empresas, mas tem uma gestão exemplar, profissional, qualificada e que dá resultados. No campo esportivo, basta avaliar a gestão do Minas Tênis Clube para observar como é possível ter um clube social gerido de forma profissional.

Então vamos ser contrários ao clube empresa? Claro que não! Só estamos dizendo que isso não é a solução mágica para os problemas que afligem o futebol no Brasil.

A questão é a profissionalização da gestão. Os clubes sociais têm sido administrados por pessoas absolutamente incompetentes – e nem precisamos citar nomes porque vários surgem facilmente em nossa memória – e descompromissadas. Poucos são os que se dedicam aos interesses dos clubes, enquanto a maior parte está defendendo os próprios interesses. Estão ali pelo status de ser dirigente de clube ou, quando falta a honestidade, por negócios escusos. A profissionalização aponta que é necessário ter pessoas qualificadas, com formação, experiência, conhecimento, comportamentos, habilidades e atitudes adequadas ao cargo que vão exercer. Pessoas que se dedicam integralmente ao seu trabalho e à sua profissão, e são remuneradas por isso. Profissionais! Simples assim.

Nos últimos meses, começamos a ver esse processo de profissionalização no Galo. Dirigentes profissionais, experientes e conhecedores dos cargos que ocupam passaram a estar à frente do Clube. Não é só o futebol. Outras funções também passaram por mudanças e, ao que parece, para melhor. Nada importa se Rui Costa ou Júnior Chávare nasceram ou se tornaram torcedores do Atlético, importa se realizam seus trabalhos corretamente e geram resultados para o clube. O torcedor e sua paixão devem estar na arquibancada, na gestão do clube é preciso ter profissionalismo, racionalidade e práticas que deem resultados esportivos e econômicos. E que sejam responsabilizados por suas ações.

Júnior Chávare, Gerente das categorias de base do Atlético

A proposta de modernização no estatuto do Atlético deve ter como foco a profissionalização do clube. Ali devem estar as regras para captação e uso dos recursos, para exigência de competências profissionais para ocupar cargos na direção do clube, para prestação de contas, transparência e responsabilização dos gestores, para organizar e direcionar os esforços do Galo. É preciso garantir a sustentabilidade, a sobrevivência em longo prazo e a grandeza do Atlético.

Ser clube empresa ou ser clube social? Tanto faz, desde que sejam competentes no que façam.

 

PROFISSIONALIZAÇÃO DO ATLÉTICO:

 

ENTREVISTA EXCLUSIVA COM RUBENS MENIN, PRESIDENTE DA MRV, CONSELHEIRO DO ATLÉTICO E GRANDE IDEALIZADOR DA ARENA MRV:

 

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