Por Betinho Marques – @rmarques13
A SeleGalo
O ano de 1994 foi das mais diversas sensações. Após um vice-campeonato para o América em 1993 e um campeonato brasileiro desastroso (com rendimento pior até que 2005 (14 J, 1 V, 2 E e 11 D), o Atlético precisava mudar tudo em 1994. O ano da Copa do Mundo do tetra se iniciou cheio de esperanças. Nunca houve tanta convicção na frase mais proferida para os atleticanos do que a expressão: “Vamos ganhar tudo este ano”.
A temporada começou com um bombardeio de contratações e muitos anúncios de “estrelas” para compor o elenco atleticano. Não havia o CT do Galo. Os treinos eram no clube social, a Vila Olímpica. Com o apoio financeiro de Newton Cardoso, o Atlético iniciou ali a tão famosa SeleGalo, que depois foi transformada na famigerada SeleGalo, e para todo o sempre, lembrada de forma pejorativa. Jogadores renomados como Luiz Carlos Winck, Darci, Neto, Gaúcho, Adílson Batista, Renato Gaúcho e Éder Aleixo fizeram dos treinos do Galo um verdadeiro evento. Diversos torcedores se espremiam, pulavam muros, desmaiavam e enchiam o ar atleticano de esperança, calor e hipérboles. Tudo era exagerado e multiplicado para aquele elenco! Os taludes (barrancos) da Vila Olímpica ficavam tomados de torcedores e da mais pura paixão atleticana. Era tudo muito louco. Em meio aos olhares atônitos de todos, até mesmo dos mais famosos jogadores, tudo era excêntrico, parecia uma turnê dos Stones, mas que não acabava.
Para o treino anterior à estreia do Campeonato Mineiro, o Atlético colocou cerca de 8.000 torcedores numa sexta-feira pela tarde para ver Renato Portaluppi e seus companheiros. No dia 30/01/94, 36.768 pagantes viram a vitória do Galo por 3 x 0 sobre o Valério de Itabira, com gols de Neto, Renato Gaúcho e Reinaldinho. Apesar da vitória inicial, o Galo tinha muito holofote e pouca coesão. Renato, hoje um treinador que está em curva ascendente no Grêmio, era o “dono do pedaço”. O fato era reconhecido até por outras estrelas, como o comentarista da Band, Neto. As variáveis eram diversas. Vantuir Galdino, campeão brasileiro de 71 era o técnico do mar de “estrelas”, mas não tinha muita experiência na função. Foi “engolido” pela turma do Renato. O atacante, famoso por fazer publicidade para uma famosa churrascaria, também “contratou” o seu amigo Valdir Espinosa, que também não durou. A SeleGalo não era uma equipe de futebol e funcionava melhor nas baladas de BH.
Neto contou ainda, que não havia noite melhor que a de BH. Contudo, o meia disse se arrepender de não ter aproveitado a chance para ser ídolo da Massa. Em outros depoimentos sobre aquela equipe, como numa matéria do competente jornalista Chico Maia, foi relatado que o lateral-direito, Luiz Carlos Winck, teve sua contratação vetada pelo departamento médico do Galo, mas que não foi obedecida. No caos total, Espinosa conseguiu a proeza de dar “treinos” por telefone, através de orientação ao seu filho, direto da Barra da Tijuca, sacou, malandro?! Para piorar a falta de conexão atleticana, Ronaldo, o fenômeno despontou no rival e liderou a conquista do estadual do time azul naquele ano. Começava a ruir a SeleGalo!
A reconstrução de Levir Culpi
Levir Culpi assumiu em junho o time do Galo pela primeira vez. Aos poucos, Culpi foi oxigenando o elenco atleticano. A disciplina e o vigor do novo técnico fez a campanha ruim do Galo mudar seus rumos no campeonato brasileiro. A equipe foi para a repescagem por ter ido mal na primeira fase. Nesse cenário o Atlético se recuperou, venceu o rival azul duas vezes e chegou às quartas-de-final, eliminando o Botafogo em uma sequência de duas partidas.
Da SeleGalo, Éder Aleixo era o destaque remanescente que fazia a diferença. Reinaldinho, que despontava como promessa de artilheiro, inclusive nas convocações para a Seleção Brasileira de base, assumia o posto que era de Renato, e o Galo, mais uma vez, trazia a esperança ao seu torcedor. O ano era controverso. O Brasil havia acabado de perder seu maior desportista, Ayrton Senna, e após 24 anos, se sagrava tetracampeão mundial de futebol com Taffarel, Dunga, Romário e Bebeto. Não bastasse isso, Renaldo, o “baiano que veio do Paraná”, como dito por Willy Gonser em suas narrações, começava inconstante, mas era outra opção que aparecia de forma nunca pensada para um ano cheio de barulhos das estrelas do futebol brasileiro. O ano de 1994 era atleticano demais. De tristezas cicatrizantes à renovação da eucaristia a cada sopro de otimismo.
Um jogo que forjou atleticanos – Atlético 3 x 2 Corinthians
Há quase 25 anos, em 07/12/1994, após eliminar o alvinegro carioca, o Atlético tinha em seu caminho o Corinthians. Numa partida que não sai da memória, o Galo recebeu o Timão no Mineirão em um jogo incomum e espetacular.
Mais de 82.000 pagantes, com números questionáveis, fizeram o Mineirão torcer para o Atlético, literalmente. Um concreto sem juntas, torna-se uma estrutura monolítica, muito rígida, portanto, inapropriado para as movimentações e vibrações de um estádio de futebol. Pois é, o Mineirão que foi muito bem projetado, possui juntas, ou espaços para acomodações das vibrações, o que é plenamente normal. Contudo, naquele dia vi minha irmã e tias quererem ir embora porque o Mineirão pulava junto com a Galoucura.
Na minha memória de 12 anos, lembro da minha irmã, loirinha, desesperada com as juntas subindo e descendo. As cabines de rádio sacudiam, era tudo muito acima do normal da loucura atleticana. Neste cenário, Reinaldinho fez o primeiro gol. A BAND tinha Juarez Soares e Luciano do Valle. O primeiro foi “homenageado” pela Massa que estava chateada com seus comentários que “favoritavam” o time paulista. Logo em seguida, Paulo Roberto acertou a trave o que evitou o segundo gol do Galo. A sorte em 94, mais uma vez mudava de lado. Branco, numa cobrança de Marcelinho, aproveitou o rebote de Humberto e empatou o jogo aos 43 minutos do primeiro tempo. Até aí, uma certa normalidade no tumulto!
No segundo tempo o time de Branco, Marcelinho e Marques, ele mesmo, o Olê Marques, aproveitou de um erro individual do zagueiro Luiz Eduardo, que errou o passe e entregou nos pés do “Pé de Anjo” corintiano. Marcelinho viu Humberto adiantado e marcou um golaço. As juntas do Mineirão se entristeceram, e momentaneamente, se recolheram. Porém, naquele dia, mesmo que o Galo não passasse às finais na sequência, a torcida não podia sair triste dali. Até o concreto, duro, rígido, se aproveitava das juntas, se aproveitava da Massa e balançava sem cessar.
A memória daquele dia registrou um Éder Lopes incansável, brigando por todas as bolas, a luta talentosa do “Bomba”, a força de Dinho, que fora trocado por Neto junto ao Santos e um garoto sedento por gols. Reinaldinho a cada bola que saia pulava as placas de publicidade atrás do gol e mal esperava a reposição dos gandulas. Ele queria empatar e virar o jogo. Mas o Juarez Soares estava vencendo.
Foi assim, empurrado pela força do concreto e da torcida, que numa jogada linda de Éder Lopes, o “Chitão”, que o Galo empatou o jogo. O concreto aumentava sua frequência de vibração! Não bastava o empate, Reinaldo queria a vitória e seguia a pular as placas de publicidade para pegar as bolas que saiam, até colocava a bola na marca para a reposição do tiro de meta do goleiro adversário.
Foi aí que o folclórico Dinho avançou pela direita e encontrou o dono do jogo. Reinaldo estava ali, no momento certo, no local ideal, e assim foi feito. Na chegada da bola, de “bate-pronto” (www.youtube.com/watch?v=INtBGBtt3Qw), o menino de 18 anos, fez o concreto judiar dos sonhos da minha irmã. Ela ainda não entendia que o concreto também foi feito para dilatar e favorecer sua natureza, e naquela noite, ele não queria rigidez, queria pular conforme projetado. O Mineirão foi feito para acomodar o povo de branco e preto. Ah, concreto armado, eu te amo!
No jogo seguinte, o de volta, o Galo perdeu por 1×0 para o Corinthians e terminou sua participação em quarto lugar no Brasileiro de 94. Dali surgiu Levir Culpi para o futebol nacional. Provou-se que para o Atlético quanto mais “mineiro” for a chegada dos seus craques, mais eles foram ao longe. Festas de aeroporto cheio nunca foram o seu caminhar! Quem começou o ano com Renato (10 gols) em uma passagem pífia, terminou com Reinaldinho artilheiro da temporada com 27 gols. Do jogo contra o Corinthians, uma certeza:
Todos, em algum momento querem gritar e pulsar Galo. Naquele dia, até o concreto armado se curvou e, naquele dia, muito atleticano mais que resiliente se forjou!
Ficha Técnica
Jogo: Atlético 3 x 2 Corinthians – 21:40 – 07/12/1994
Motivo: Campeonato Brasileiro 1994 – semi-finais
Público: 82.938 – Renda: CR$458.507,50
Juiz: Wilson de Souza Mendonça (PE) ; Auxiliares: Valdemiro Mathias Silva Filho e José Marcelino Tavares (PE)
Reservas: Marco Antônio da Cunha, Lincoln Bicalho e Evaristo F. Souza
Atlético: Humberto, Dinho, Luiz Eduardo, Adilson e Paulo Roberto Prestes; Valdir, Éder Lopes, Zé Carlos (Clayton – 18′ 2) e Darci (Gaúcho -‘ 30’ 2), Éder Aleixo e Reinaldo. Técnico: Levir Culpi
Corinthians: Ronaldo, Paulo Roberto Costa, Pinga, Henrique e Branco; Zé Elias, Luizinho (Wilson Mano – 44′ 2) e Boiadeiro; Marcelinho Paulista (Souza – 28′ 2), Marques e Marcelinho Carioca. Técnico: Jair Pereira
Hoje é Dia de Galo, hoje é dia de história!
Galo, som, sol e sal é fundamental!
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Revisado por Jéssica Silva (twitter.com.br/jeatleticana)