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O custo de uma escolha – Por Silas Gouveia

O discurso da atual gestão do CAM é conhecido por todos os atleticanos: austeridade! E não há quem, em sã consciência, possa ir contra este discurso quando se verifica as contas e, principalmente, as dívidas e projeções de receitas do clube. Gestões anteriores deixaram o clube em situação pré-falimentar, caso fosse considerado como uma empresa privada. Como não é e contando com a fragilidade das legislações passadas, os dirigentes faziam loucuras administrativas e financeiras que certamente não fariam, caso fosse uma empresa, especialmente a sua própria empresa. Não há ainda como fazer uma avaliação mais criteriosa para podermos indicar os principais responsáveis por esta situação desastrosa que se encontra o Clube Atlético Mineiro, mas estamos juntando documentos para uma análise mais profunda.

Em qualquer empresa cuja situação financeira seja próxima a apresentada pela atual gestão, o pedido de falência já teria sido apresentado, ou um plano de ação emergencial estaria a pleno vapor para salvar a empresa ou ao menos colocá-la em condições de funcionamento. E este plano de ação, com toda certeza, passaria pela diminuição de despesas e uma tentativa de aumentar as possibilidades de receitas. Entretanto, para os clubes de futebol, infelizmente, as fontes de receitas são poucas, já conhecidas e limitadas. Das que existem, os clubes brasileiros – especialmente o CAM – parecem ignorar o que é matchday e licenciamento. Resta então cortar as despesas e pensar “fora da caixinha” para buscar novas formas de aumentar as margens das receitas e mesmo buscar formas alternativas e não convencionais de novas receitas. Infelizmente não estamos vendo nada neste sentido por parte do CAM, a não ser tímidas iniciativas de redução de custos.

Todos os clubes, em especial o CAM, se apegam em tentar fazer receitas extras com a venda de atletas. E isto deve ser buscado principalmente no caso de atletas vindos da base, ou aqueles que foram adquiridos a custos relativamente baixos ao se comparar com uma proposta de venda, como foi o caso do Emerson, nosso lateral adquirido da Ponte Preta e vendido para o Barcelona com um lucro excepcional. Mas estes casos são cada vez mais raros e trazem consigo uma frustração de não poder contar com uma possível jóia no time por tempo suficiente para gerar títulos, antes de boas receitas. Neste particular, os dirigentes atleticanos são como mercadores de barracas. Não podem ouvir um som de moedas que seus olhos brilham e não conseguem suportar às mínimas especulações de outros clubes, especialmente os europeus. Vendemos atletas cada vez mais jovens, muitas vezes sem avaliar melhor estes jogadores. Eles serão formados para o futebol europeu e podem até perder a identidade do futebol brasileiro, algo que é bom e ruim depende da forma como se avalia. Bom porque este atleta irá ser formado para um padrão de jogo coletivo e terá ensinamentos básicos de futebol sempre garantidos por esta formação. Ruim porque perde-se a essência do futebol brasileiro. Difícil saber o que é melhor ou pior nestes casos.

Voltando para a situação do CAM, ao analisarmos tão somente as escolhas para se montar os elencos de 2018 e 2019, percebemos que essas escolhas nem sempre foram as melhores ou mais sensatas. A ordem parecia ser a de cortar custos com salários mais altos. Com isso, vendemos alguns atletas com salários mais elevados – Marcos Rocha se enquadra neste caso. Não renovamos com outros, Robinho foi o exemplo maior, e entramos em acordo para a saída de mais alguns, situação em que o caso do Fred se sobressai e se torna um ícone. De qualquer forma e sob o pretexto meramente de redução de custos salariais, não há o que se discutir. Mas tecnicamente e de visibilidade para investidores poderia sim, ser altamente discutível. Mas a escolha foi feita.

A outra ordem seria para que se buscasse no mercado preferencialmente atletas jovens, sem custos e com alta probabilidade de gerar retorno financeiro ao clube. Também na teoria parecia uma fórmula perfeita, ou ao menos interessante. Na prática, como poderemos mostrar com os dados obtidos, foram escolhas no mínimo duvidosas, mal analisadas, ou pior, com um viés em que não foram levados em consideração os custos finais que envolveriam os atletas trazidos teoricamente sem custos para o clube. Sem contar que em muitos casos os clubes que emprestam seus atletas sem custos, também estão buscando uma redução de despesas para eles próprios e, não raramente, vinculam o empréstimo de um bom ou promissor jogador ao também empréstimo de outro, que no jargão do futebol são chamados de “bombas”.

Em entrevista recente, Rafa Alkorta, diretor do Athetic Bilbao afirmou que “Barcelona, Real Madrid ou Bayern podem errar nas contratações, mas nós não”. Pensamento que serve para CAM. Entretanto, nossa diretoria fez algumas escolhas que podem ser consideradas equivocadas. Vamos citar algumas e seus respectivos custos finais aos cofres do clube, bem como o retorno que forneceram em campo, de acordo com informações divulgadas em algumas reportagens e postagens de redes sociais, sobre custos e salários de alguns atletas.

Martin Réa – Emprestado pelo Danúbio sem custos ao CAM. Salário US$ 35 mil. Isto, adotando o câmbio atual, gerou uma despesa de aproximadamente R$ 1.575.000,00 ao clube ao longo dos 12 meses de contrato. Ele fez 1 jogo pelo Galo (90 minutos) e foi relacionado em outros 3 jogos. Custo efetivo do atleta R$ 17.500,00/minuto jogado até a data de hoje.

Nathan – Emprestado pelo Chelsea sem custos ao CAM. Salário R$ 215.000,00. Gerou uma despesa de R$ 2.580.000,00 ao longo dos 12 meses de contrato. Ele fez 10 jogos, sendo 5 como titular e 5 como reserva. Atuou 380 minutos até aqui e custou R$ 6.790,00/minuto até o momento.

Leandrinho – Emprestado pelo Napoli sem custos ao CAM. Salário R$ 180.000,000. Gerou uma despesa de R$ 2.160.000,00 ao longo dos 12 meses de contrato. Ele fez 7 jogos sendo um como titular e os outros 6 como reserva. Atuou 211 minutos até aqui e custou R$ 10.237,00 por minuto até agora.

Denilson – Comprado junto ao Granada por R$ 1.300.000,00 e tinha salário de R$ 210.000,00. Gerou uma despesa de R$ 2.160.000 pelo tempo que ficou no Galo, pois foi emprestado em janeiro ao Al Faisaly da Arábia Saudita, sem custos ao Galo e com passe fixado. Ele fez 8 jogos, sendo 1 como titular. Atuou, então, 234 minutos e custou R$ 9.231,00 por minuto até janeiro de 2019.

Chará – Comprado junto ao Jr. Barranquilla por R$ 26.000.000 e tem salário de R$ 330.000,00. Custou até o momento, portando R$ 29.300.000. Fez 27 jogos, sendo todos eles como titular. Atuou por 2.271 minutos e custou R$ 12.902,00 por minuto jogado.

Edinho – Comprado junto ao Guarani e Fortaleza, custou aos cofres do Galo R$ 2 milhões de reais, com salários na casa dos R$ 110 mil mensais. Entrou em campo apenas seis vezes, ficando 80 minutos. Edinho ficou no Atlético sete meses, até ser emprestado ao Fortaleza nesta temporada. O atacante gerou um custo total de R$ 2.660.000,00 ao cofre do clube, ou R$ 33.250 por minuto.

Denilson e Yimmi Chará ainda podem render algum dinheiro ao clube dependendo de uma possível venda futura, o que contrabalançaria os gastos e custos envolvidos na transação do atleta. Mas sem dúvidas, também podem ser enquadrados como investimentos de risco.

Portanto, ao que se pode observar, a austeridade começa pelas avaliações criteriosas de como se fazer determinados investimentos e qual seria o grau de retorno que este investimento poderia gerar ao clube. Reduzir gastos significa, também, gastar bem e com critério. Coincidência ou não, destes atletas aqui relacionados, apenas Chará teve aprovação do técnico à época. Os demais foram indicação do diretor de futebol, aprovado pelo presidente.

Somente com os casos demonstrados acima, excluindo-se o Yimmi Chará, por estar sendo aproveitado como titular desde que chegou e porque pode ainda render bons frutos ao clube tanto técnica como financeiramente, a verdade é que o Galo gastou cerca de R$ 11.135.000,00 somente com atletas considerados como “sem custos” para o clube e com um retorno próximo a zero, tanto técnica como financeiramente falando. É o que podemos chamar de “jogar dinheiro fora”, literalmente. E isto para ficarmos apenas nestes quatro exemplos, dentre os muitos outros atletas que vieram da mesma forma e que não foram citados aqui, pois optamos por falar apenas dos casos mais gritantes.

Austeridade não vem encontrando eco nas ações que vem sendo praticadas pela atual administração, para ficarmos apenas no exemplo de contratações de alguns atletas, pois se passarmos para avaliar as questões administrativas do clube como gastos com pessoal, aquisição de veículos, o rombo provavelmente seria ainda maior. Austeridade não é um discurso, deve ser encarado como prioridade e ter ações condizentes com a real situação do clube e a transparência dos atos administrativos, um dever de todo e qualquer dirigente.

Por: Silas Gouveia

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