O Atleticano! – Léo Siqueira
Voltemos até 25 de março de 1983, era uma sexta-feira na qual o Atlético comemorava seus 75 anos. Nesta data nascia uma criança, um garotinho e quem se atenta à data logo diz: “este não tem jeito, será atleticano!”. Filho de um pai que dividia dois amores no futebol: o Vasco, devido a influência do seu pai, avô da criança que acabara de nascer. O outro amor é exatamente o Galo, mas este pai tinha uma paixão maior pelo time carioca, justamente por causa da influência do seu pai. Essa criança iria ser vascaína ou atleticana? Só o tempo iria dizer.
O garoto foi crescendo e nesta fase de crescimento sempre viu o pai ouvindo muitos jogos pelo rádio. Seja Vasco ou Atlético, o pai estava sempre sentado ao lado do rádio, mas sua preferência era mesmo a equipe carioca. Começando a ser influenciado por tios, o garoto gritava “Galo” mesmo sem saber do que se tratava. Ele não entendia nada de futebol. Ainda aos 5 anos ganhou de seu pai um conjunto com camisa e short do Galo, juntamente com um Kichute. Foi a primeira vez que o pai demonstrou interesse em inserir o filho em meio a este mundo do futebol. O garoto ficava todo feliz e corria chutando uma bola Dente de Leite pelo terreiro da casa, mesmo sem saber nada sobre a gloriosa camisa que havia ganho.
O tempo vinha passando, o garoto crescendo e passando a entender um pouco de futebol. Seu pai se mantinha fiel no amor ao Vasco, em primeiro lugar, e depois ao Atlético. O garoto já sabia que torcia para o Galo e passou a acompanhar pelo rádio os jogos, claro, sempre que seu pai não estava ouvindo os jogos do Vasco. Ganhou um radinho de seu pai e através dele ouviu os jogos e o título da Conmebol de 1992. Em 1994, com algumas transmissões em canal aberto, viu uma semifinal do Brasileiro onde o Reinaldinho fez três gols no Corinthians na vitória por 3 a 2, e aos poucos o pai começou a observar que seu filho já não era mais um simples torcedor. Ele havia se tornado um fanático torcedor do Atlético.
Para que vocês tenham ideia de como o pai era mais vascaíno, no Campeonato Brasileiro de 1995, após uma derrota do Atlético para o Criciúma, por 2 a 0, o pai brincou com o garoto: “Você achava que o seu Galo iria ganhar do Criciúma lá?” Foi somente uma pergunta, mas o garoto, fanático que já era, ficou nervoso e engoliu seco. Rodadas depois o Vasco perdeu para o mesmo Criciúma e esse garoto foi à forra: “Lembra pai, daquela pergunta que me fez dias atrás? E você, achava que o seu Vasco iria ganhar do Criciúma?” O pai não respondeu.
Em 1997, cada qual no seu rádio, ouvindo o jogo do seu time, o pai estava na sala e ouviu o garoto comemorando um dos gols da vitória do Galo por 3 a 0 sobre Athletico-PR. O pai desligou seu rádio, foi até o quarto do filho e sentou-se ao lado dele. Ali passou a ouvir o jogo juntamente com o garoto. Comemoraram juntos os outros dois gols da vitória. O filho estava empolgado com seu pai ali ao seu lado, torcendo junto. A partir daquele dia, nasceu uma parceria.
Não eram mais somente pai e filho, eram dois atleticanos que viram juntos o bicampeonato da Copa Conmebol, que viram o vice do Campeonato Brasileiro de 1999, viram em 2001 o sonho do bi do brasileiro ir embora com aquela chuva torrencial. Viram a queda, viram a reerguida, viram o gol que o Fábio não viu por estar de costas, viram a Libertadores, viram a Copa do Brasil, e até hoje estão sempre juntos acompanhando o Galo.
Este pai, no caso é o meu pai, que era vascaíno e disse a seguinte frase para minha mãe, cerca de cinco anos atrás: “Eu sempre fui mais vascaíno que atleticano, mas vendo o fanatismo do meu filho, posso dizer que hoje sou completamente atleticano e tão fanático quanto ele”.
O “Atleticanismo” é algo surreal, inexplicável, e só sabe quem é. Você nasce, cresce e se em suas veias correm este sangue alvinegro, você tem o dom de fazer quem está ao seu redor amar o Galo, não necessariamente virar atleticano, mas viver e passar a amar este clube. Nem sempre passa de pai para filho, passa também de filho para pai. Obrigado, Clube Atlético Mineiro, por existir em nossas vidas.
Por: Léo Siqueira
Twitter: @leeosiqueira
Acessem: www.falagalo.com.br