Por: Mateus Walace
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Certa vez, sentado na calçada, na rua escura e deserta da minha casa, um dia após o Galo ter sofrido uma derrota de 4 x 0 para o Internacional, na Arena do Jacaré, em 2011, estava eu a pensar por quais motivos, ou circunstâncias, o Atleticano ainda insiste em acreditar no Galo. Um povo muitas das vezes sofrido, calejado e até injustiçado. Que tinha nas suas histórias os mesmos finais, ano após ano.
O Atleticano, que mesmo depois de um ano sem ganhar nem um título e brigando pra não cair todo o campeonato, tem a audácia de, mais uma vez, ter fé no Galo e dizer: “Esse ano vamos ganhar tudo.” Se você não disse essa frase quando o Galo montou um time com Berola, Jobson, Mancini e Renan Oliveira, certamente você não é um Atleticano de verdade. Ou se você não gritou em 2007: “Levir, não vai embora não, ano que vem nós vamos pro Japão”, após um ano na série B, você com certeza não deve ser um bom Atleticano.
Naquela mesma rua, eu pude ver um senhor, que deveria ter por volta dos seus 75 anos, sentado também na calçada de sua casa, que tinha barro ao invés de cimento, com a fumaça do fogão a lenha saindo pelo telhado e com a camisa do Galo já quase toda desbotada e imaginei se ele estaria a pensar o mesmo que eu.
Me levantei e me direcionei a ele. Percebendo a minha aproximação, ele se ajeita no banquinho, puxa a camisa do Galo pra baixo, pro símbolo ficar mais exposto e diz: “E o Galo, hein?!”. Eu, sem saber muito o que dizer, repeti a suas palavras: “E o Galo, hein?’”.
Sentei ao seu lado, na calçada, onde eu tinha a sua visão de baixo pra cima, ficamos cerca de 3 minutos sem dizer nada e, logo, eu perguntei: “O Atleticano sempre foi assim? Sempre teve essa estranha mania de ter fé no Galo?”
Ele respira aliviado, como se estivesse esperando que eu fizesse aquela pergunta, se ajeita novamente no banquinho, me olha por trás dos óculos e diz: “Meu filho, o Atleticano é diferente de todos os outros torcedores. Você conhece algum torcedor que sorri nas derrotas e chora nas vitórias? Por um acaso você já viu alguém que dorme com a camisa do seu time, depois de uma derrota humilhante e no outro dia pega outra camisa do seu time e bota essa pra lavar, pra poder usar no outro dia de novo? O Atleticano nasceu apenas pra uma cosia: amar o Galo independente de qualquer coisa, amar o preto e o branco acima de todas as cores e torcer contra o vento se tiver uma camisa do Galo na varal durante uma tempestade. Nas suas mais dolorosas derrotas, no ápice da sua tristeza, nas suas noites sem dormir, no seu maior fracasso, o Atleticano gritou dentro da lágrima que seria Galo sempre.”
Sem saber o que dizer, porém com uma vontade enorme de sair gritando “Galooo” pela rua inteira, eu logo o perguntei: “Mas os times, os torcedores, não são movidos a títulos? Há anos não ganhamos um Brasileiro…” e antes que eu terminasse a frase ele me interrompeu, como se já tivesse escutado aquilo diversas vezes e já estava esperando que eu dissesse aquela frase. “Aaahhh, mas o atleticano não é diferente de os outros torcedores?”, disse ele. “Não somos movidos a títulos não. O Atleticano se sustenta com amor, um amor tão certo como esse chão que pisamos, tão certo como o amanhã que se levanta, tão certo como eu te falo e podes me ouvir”, continuou.
Aquelas palavras me ardiam na alma, e eu fiquei ainda mais surpreendido quando ele me disse: “Mas tem um porém, filho… Eu não fumo, não bebo, não mato ninguém, o único segmento, a não ser Deus, capaz de me matar, é o Galo. Mas eu prometi a mim mesmo que não morreria enquanto eu não tivesse a oportunidade de ver o Galo Campeão Brasileiro novamente ao lado dos meus netos. Por que quando, na verdade, eu nunca vi o Galo Campeão Brasileiro”. Se eu soubesse o mínimo de matemática eu saberia que em 71 ele já era nascido e o perguntei: “Mas como não? O Senhor já não era nascido?”. “Sim”, ele disse. “Mas no dia do título eu me encontrava numa cama de hospital é só pude escutar fogos daquela noite, que por trauma, eu nunca procurei saber sobre”.
Aquilo ficou na minha mente durante muito tempo. Até os dias de hoje eu não consigo entender o porquê daquele senhor não procurar saber os detalhes daquele título, que por sinal, é o único que temos. Mesmo assim eu não quis perguntar, mas ficou dentro de mim a promessa feita pra mim mesmo que antes que aquele senhor morresse, eu iria levar ele ao jogo do título do Campeonato Brasileiro. Na partida contra o La Calera, na última terça, esse senhor, com seus 82 anos, deu entrada no hospital, com um problema grave no coração, direto pro CTI. Um dia antes, eu tinha me encontrado com esse senhor na rua, e como forma de cumprimento ele disse: “E o Galo, hein?!”. Eu respondi: “E o Galo, hein?!”. Não perdi a oportunidade de perguntar a ele: “Você ainda tem fé que seremos campeões?”. Com uma gargalhada, acompanhada por uma tosse, ele continuou seu caminho sem se despedir.
Fiquei a pensar se aquele senhor morreria sem ver o Galo Campeão Brasileiro, e ao mesmo tempo imaginei se mesmo depois daquela derrota para o Grêmio ele ainda teria fé no Galo.
Sabe qual é a parte mais engraçada dessa história? É que hoje esse senhor ligou pra mim e disse: “Meu neto, vamos ao jogo contra o CSA?”