Mudanças no estatuto

 

Por Prof Denilson Rocha

No último dia 24, o Conselho Deliberativo do Atlético reuniu-se e tomou a decisão de criar uma comissão para a reforma do estatuto do clube, com o objetivo de implementar regras de governança e transparência. A iniciativa é louvável e já passava da hora de ser realizada. Mas, mais que qualquer boa intenção, é preciso ter bastante atenção às mudanças a serem propostas.

É chavão dizer que o mundo muda, as coisas se transformam e as instituições precisam se adaptar. Todo mundo diz isso, mas poucos estão dispostos a enfrentar as mudanças. No caso do futebol, sempre existe a desculpa pronta que “aqui as coisas são diferentes” ou ainda que “isso não serve para o Brasil”. Porém, hoje o futebol faz parte da milionária indústria do entretenimento. Há muitos interesses, muito dinheiro e, obviamente, muitos problemas a serem enfrentados no dia a dia. Daí, termos que já estavam sendo bastante usados no mundo empresarial também foram adotados no meio esportivo. Governança, compliance, accountability, transparência e outros passaram a compor o vocabulário dos gestores de futebol. Mas o estatuto do Atlético não está adaptado a este novo mundo, já que a última atualização foi realizada há mais de uma década.

Há várias boas iniciativas no Brasil. O Instituto Ethos, por exemplo, liderou a produção do Rating Integra, um instrumento para avaliação das práticas de gestão esportiva, a ser utilizado, inclusive, por patrocinadores. No manual do Integra, são avaliadas boas práticas relacionadas ao processo eleitoral, à atuação do Conselho Deliberativo, à gestão (planejamento, ética, dentre outros fatores), aos mecanismos de controle, comunicação e transparência. Também podem ser avaliadas as situações já implementadas em clubes brasileiros como Bahia, Grêmio e Flamengo, que tiveram atualizações recentes em seus estatutos e podem ajudar bastante. Por exemplo, a página de transparência no site do Bahia é considerada uma das (se não a) melhores no Brasil.

É importante que a comissão a ser constituída para esta revisão do estatuto tenha sempre em mente que o Atlético é uma “instituição de interesse público”. Ou seja, o Galo é uma instituição do povo, que não pode se limitar a um pequeno grupo. É essencial que busquem a participação, que aceitem sugestões e que as práticas de governança e transparência já sejam adotadas durante a elaboração das propostas de mudança do estatuto. É óbvio que, ao abrir espaço para participação, surgirão ideias inadequadas, mas também aparecerão pontos importantes para a continuidade do clube.

Quanto à governança, vários clubes já adotaram a possibilidade de o sócio-torcedor votar e ser votado. Houve acertos e erros e alguns já estão revendo a forma da participação. O mais importante é garantir a formação do Conselho Deliberativo com pessoas capazes para o papel, atuantes e, especialmente, verdadeiramente interessadas em promover o Clube Atlético Mineiro.

a transparência é um capítulo à parte: muito do que poderia ser feito independe da mudança do estatuto. A já citada página do Bahia poderia ser uma referência a ser adotada simplesmente por interesse do presidente e dos diretores executivos. A clareza nas informações do balanço patrimonial também não depende de mudança do estatuto – e o balanço do Atlético é um dos mais obscuros no Brasil. A prestação de contas trimestral, com divulgação de balancetes, como realizado no Grêmio, também não depende de mudança no estatuto e podemos buscar outros exemplos que poderiam ser implementados no Galo, mesmo sem qualquer mudança no estatuto do clube. Basta haver VONTADE.

Outras iniciativas que garantam a gestão qualificada e a sustentabilidade do clube precisam ser pensadas. O orçamento não pode ser apenas um apanhado de números, precisa vir acompanhado de planos de ação que expliquem como aqueles números serão alcançados. O endividamento precisa ser combatido com limitações à captação de recursos sem a aprovação do Conselho Deliberativo. O patrimônio (shopping, clubes, sede, CT) precisa ser protegido, com restrições à venda ou ao uso inadequado. A relação entre conselheiros e clube precisa ser pautada em padrões éticos, não sendo aceitável que quem empresta dinheiro seja o mesmo que aprove a prestação de contas. A composição do Conselho não pode ser familiar. Ou seja, há muito a ser discutido e melhorado.

Como qualquer boa intenção, as boas práticas estão aí para serem copiadas e os bons exemplos para serem seguidos. A capacidade para implementação está aí, basta ter vontade de fazer. Se a transparência não precisaria de mudança no estatuto do Atlético, governança, accountability, compliance e outras práticas de gestão devem ser descritas no estatuto para garantir que futuros gestores tenham responsabilidade na condução do Galo – e temos muitos exemplos de gestão temerária que não tiveram a devida responsabilização.

O interesse na mudança é um ótimo sinal. Mas não pode ficar só na sinalização. A transparência depende apenas de querer fazer – e já poderia ter sido feito antes. O que impede a imediata implantação de práticas de transparência? Falta interesse? Se não há interesse real na transparência, haverá na governança? Haverá no compliance ou em qualquer outra boa prática de gestão? Em qualquer mudança, não basta só boas ideias. É preciso “querência”, vontade, interesse em colocar em prática.

Assim como algumas mudanças na estrutura do futebol e na administração do Atlético, a formação da comissão para a revisão do estatuto do clube precisa ser celebrada. Nós, como meros torcedores, damos maior importância ao que acontece no campo. Nosso desejo é de vitórias e títulos, o que é natural. Mas os bastidores (do próprio clube, ou não) já nos tiraram diversas conquistas. Agora, qualificando o departamento de futebol, melhorando as práticas de gestão e atualizando o estatuto do clube, podemos ter a esperança de dias melhores. Não é uma mudança que ocorrerá em poucos dias, cujos resultados aparecerão no mês seguinte, mas são mudanças necessárias, essenciais. Assim como acompanhamos o time em campo, que também estejamos atentos ao trabalho da comissão, pois aí está o futuro do Galo.

 

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Revisado por Jéssica Silva (twitter.com.br/jeatleticana)