Equívocos, Controvérsias e Caos: a Tempestade Alvinegra.
A passividade encontrada nas ultimas gestões do Atlético não é mais surpresa pra nenhum torcedor. Discursos programados recheados de palavras bonitas, imbecilidade e um estranho otimismo sem nenhum fundamento, são as marcas do presidente Sérgio Sette Câmara que desde que foi eleito, falou muito e pouco fez. O cenário no Atlético nunca foi tão desesperador. Pra entender melhor, vamos voltar um pouco no tempo: No período de 2012 a 2017 o Atlético levantou taça ao menos uma vez por ano, mesmo que fosse em torneios de menor expressão como foi a Florida Cup em 2016, acompanhe:
2012: Campeão Estadual
2013: Campeão Estadual e Campeão da Copa Libertadores
2014: Campeão da Recopa Continental e da Copa do Brasil
2015: Campeão Estadual
2016: Campeão da Flórida Cup
2017: Campeão Estadual
O atual presidente assumiu o clube em dezembro de 2017 e coincidentemente ou não, desde lá o Atlético coleciona apenas sucessivos vexames e eliminações (muitas vezes precoces). Ao falar pela primeira vez como presidente, Sérgio disse que trataria o Clube como uma empresa e essa filosofia se tornou um grande problema. Vejamos:
O discurso principal do presidente era embasado na filosofia de austeridade. Austeridade é um conjunto de politicas de gestão que te permitem controlar os seus gastos e cortar despesas, para que você coloque suas finanças em ordem. Naquela altura do campeonato (dezembro de 2017) o torcedor entendia que essa política seria necessária uma vez que as contas do Clube estavam altíssimas, havia sido investido muito dinheiro em elencos caros e que não renderam tanto quanto esperado (2016 e 2017) e pra completar, todo mundo estava muito animado com a ideia da construção da Arena MRV (que pela primeira vez fora apresentada como algo concreto). O torcedor atleticano estava mais empolgado com o futuro do que nunca. Infelizmente não demorou muito para a empolgação passar: A arena enfrenta problemas judicias devido ao licenciamento e não está próxima de ser concluída, somente agora — abril de 2019, que os primeiros passos práticos quanto ao início das obras foram tomados. O discurso de austeridade foi rebatido quando os balanços financeiros do clube vieram a tona: A dívida aumentou 80 milhões de reais de 2017 pra 2018. Custos de viagens foram quase que dobrados sendo que o Atlético não participou da libertadores nesse ano e ainda foi eliminado precocemente da Sul-Americana, não há nenhuma peça de peso no elenco que justificasse um salário astronômico e o clube foi incapaz de ganhar até mesmo o estadual. Porque houve aumento de gastos sendo que não houve melhora ALGUMA? Falta transparência e explicações…
O primeiro momento de desconfiança surgiu quando o presidente informou que os assuntos de futebol seriam de responsabilidade do “diretor” de futebol Alexandre Gallo e se agravou quando, após a conturbada demissão de Oswaldo de Oliveira, Sérgio simplesmente disse em rede nacional que não gostava de falar sobre futebol. Onde já se viu um presidente de um Clube de futebol não gostar do assunto? Qual a credibilidade que uma pessoa dessa passa? Algum de nós teria a audácia de responder aos nossos chefes que não gostamos/entendemos do nosso trabalho? Tinha algo muito errado ali.
Começara então a sucessão de erros da nova gestão. O então diretor montou um elenco para 2018 que não agradou a ninguém. O time perdeu algumas peças importantes e os nomes contratados para recomposição não passavam confiança a ninguém (alias eram em sua maioria, jogadores do Palmeiras que não serviam para o alviverde e jogadores do Vitória e do Bahia que não foram usados lá). No decorrer do ano a lista de dispensa foi grande e a maior perda sem dúvidas foi a de Róger Guedes para a China, mas isso ainda não vem ao caso. O despreparo do “encarregado” Alexandre Gallo ficou evidente quando a torcida saboreou a qualidade (ou falta dela) do elenco montado. Não contávamos mais com Robinho, Marcos Rocha e Otero. O time estava completamente desorganizado, não passava confiança alguma e o torcedor atleticano estava desanimado. Até que a “santíssima trindade” Thiago Larghi, Róger Guedes e Gustavo Blanco resolveu dar um pouco de esperança ao coração atleticano.
Desde a demissão de Oswaldo, Thiago Larghi comandava o Atlético interinamente. A diretoria — completamente despreparada e insegura- manteve o técnico sem contrato definitivo por 4 meses. Após enxergar o quão promissor era o comandante, a diretoria resolveu contratar Larghi como técnico até dezembro de 2018. Róger Guedes se encontrou no Atlético e viveu a melhor fase da sua carreira no alvinegro. Jogos do Galo eram sinônimo de show do atacante que estava emprestado pelo Palmeiras, a torcida clamava por um contrato definitivo mas obviamente a diretoria dormiu no ponto e não demorou para chegar uma oferta irrecusável do mercado chinês. A impressão que ficou é que não foi feito esforço pela permanência do atacante e ainda gerou revolta na torcida pelo contrato ridículo firmado pelo Alexandre Gallo, que praticamente deixava o palmeiras livre para fazer o que quisesse com Guedes sem que o Atlético fosse realmente beneficiado. Recebemos uma parcela em dinheiro pela transferência mas isso não significou nada, já que o incompetente Alexandre Gallo não soube repor o elenco a altura. Gustavo Blanco era a alma do meio campo do Atlético, ganhou destaque rapidamente e parecia ser a chave final para resolução dos nossos problemas. Fatidicamente, Blanco sofreu uma lesão gravíssima no meio do ano e esse acidente o tirou dos gramados por tempo indeterminado (até hoje não se recuperou pois sofreu outra lesão no processo de reintegração em 2019). Havíamos perdido Róger Guedes e Gustavo Blanco (os dois pilares do time), alguns outros jogadores como Bremer (que compunha o sistema defensivo) e Otero, mas Thiago Larghi resistia em seu cargo, tentando encontrar soluções após as baixas sofridas. Parece que os “inteligentes” comandantes do Clube não perceberam que o time havia sofrido perdas e OBVIAMENTE não apresentaria o mesmo desempenho do inicio do ano, ignorou completamente os problemas no elenco, a falta de um diretor de futebol COMPETENTE, a normalidade da baixa de rendimento e foram precipitados mais uma vez: Demitiram Thiago Larghi 2 meses antes do seu contrato acabar. Boa parte da torcida não concordou com essa decisão que aliada às situações de descontentamento que haviam sido acumuladas durante o ano, foi o gatilho pra iniciar os desentendimentos entre torcida e diretoria. Pra começar, o cargo de Alexandre Gallo não agradava nenhum torcedor e não era só pelas contratações, seu trabalho na base sempre gerou desconfiança nos atleticanos e sua fama não era boa entre os jogadores. Após MUITA PRESSÃO E PROTESTOS, Alexandre Gallo foi finalmente demitido. Parecia que o presidente tinha acordado e que as coisas iam mudar, mas para surpresa de ninguém, optaram mais uma vez pelo caminho mais fácil e ao invés de se dar o mínimo trabalho para contratar um treinador promissor que faria um trabalho decente e um diretor de futebol de ofício (vale ressaltar que desde que Eduardo Maluf descobriu estar doente — e seu triste falecimento, o Clube estava sem diretor de futebol), a diretoria teve a ‘brilhante’ ideia de contratar Levir Culpi para treinar o time e jogou nas mãos do ídolo atleticano Marques a responsabilidade de ser o novo diretor de futebol. Qualquer um que parasse meia hora pra pensar, entenderia que aquela não era a decisão correta a se tomar e em condições normais (livre de pressão da torcida) não teria sido tomada.
O trabalho de Levir apesar de fraco, foi capaz de levar o Atlético até a Libertadores 2019 (onde disputaria a primeira fase) e esse foi o maior feito do time na gestão de Sette Câmara. 2019 começou agitado, apesar de Marques não ser um diretor de ofício, fez em poucos meses o que o Gallo foi incapaz em quase 1 ano: arrumou o setor defensivo do Atlético contratando peças que estavam carentes a muito tempo. O elenco está bem reduzido e existem poucas opções no banco (e as que existem passam pouca ou nenhuma confiança). Apesar disso, o time reserva do Atlético disputou a primeira fase do Campeonato Mineiro e fez a melhor campanha da competição, Alerrandro que teve um 2018 medonho, mostrou amadurecimento e foi o grande destaque do time. Ao invés de manter a dinâmica com os reservas no estadual e focar os titulares na fase preliminar da libertadores, Levir teve a brilhante ideia de tirar os reservas do mineiro (que mostraram serviço melhor que os titulares) e ir com “força total” nas fases seguintes. Como se tamanha burrice não fosse suficiente, o ultrapassado técnico mostrou aos atleticanos o quão teimoso e incompetente pode ser. Após 1 ano, o Atlético resolveu investir em um lateral direito para repor as saídas de Marcos Rocha e Emerson, contratou o promissor Guga agradando a torcida. Levir por sua vez achou que seria genial deixar o Patric responsável pela vaga titular na libertadores enquanto Guga (que mostrou qualidade técnica desde o primeiro jogo que atuou) disputava o “fantástico e importantíssimo” estadual. Isso obviamente acionou a raiva da torcida contra o técnico que parecia estar disposto a afundar o time de vez. Após jogos sofríveis na pré libertadores, o Atlético conseguiu se classificar à fase de grupos e teve a oportunidade de passar vergonha internacionalmente. A dinâmica ultrapassada de Levir Culpi levou o Atlético a derrotas consecutivas, goleada sofrida e claro, eliminação precoce e vexatória da competição. Felizmente Levir foi demitido mas isso não foi suficiente para sanar as feridas abertas por ele. A diretoria obviamente não tinha um plano B para assumir o comando técnico do time e contou com o talento de Rodrigo Santana para comandar o time interinamente até tomarem uma decisão. Apesar de ter chegado às finais do estadual sob o comando do interino, o Galo não conseguiu o título (dessa vez, surpreendentemente, mais pela interferência da arbitragem do que pelo futebol apresentado), acumulando mais um fracasso na conta da nova gestão.
O mês de abril foi marcado por protestos, cobranças, posicionamentos (e falta deles) e algumas mudanças. Apesar de ainda se encontrar sem técnico, o Atlético finalmente contratou um diretor de futebol: Rui Costa, que chegou e agradou a maioria. O diretor terá muito trabalho pela frente e sua missão é a mais importante dentro da diretoria: colocar ordem na casa, recuperar o elenco e encontrar nomes competentes para assumir a missão de reerguer o Atlético.
Independente desse acerto, na busca periódica por novos técnicos (uma média de 1 a cada 6 meses), o Atlético acaba criando uma imagem ruim no mercado da bola, demonstrando insegurança e transmitindo um cenário de instabilidade e confusão interna. Grandes profissionais costumam buscar bons locais de trabalho, onde possam crescer em seu meio profissional, criar uma imagem boa e um trabalho consistente. Infelizmente, hoje o Atlético não é esse local de trabalho e a prova disso são os repetidos “nãos” que a diretoria tem ouvido. Nenhum técnico bom e promissor vai largar um trabalho constante para assumir essa bagunça, ainda mais com a iminente chance de ver sua cabeça rolar caso as coisas não funcionem rápido. O que todos nós precisamos entender no momento é que nenhum trabalho iniciado aqui, trará frutos imediatos.
Imagine você ser responsável pela restauração de um monumento histórico que está absolutamente degradado, interna e externamente. Seu trabalho é arrumar toda a bagunça criada ali no decorrer dos anos e devolver aos fãs daquele monumento, uma obra consistente e respeitável. Quanto tempo você levaria para realizar uma tarefa tão árdua? Certamente você precisaria de uma equipe competente para realizar esse trabalho, correto? O Atlético é esse monumento. São 111 anos de histórias, glórias, memórias, conquistas e sentimentos que não podem ser descritos. Nós vimos esse monumento ser construído, sentimos um amor incondicional por ele e vê-lo nessa situação dói profundamente, afinal, quantas semanas foram estragadas pela má fase do Galo? Quantas lágrimas foram derramadas? Quantas promessas foram feitas? Quantas loucuras fizemos pelo Galo? Eu sei que não é fácil lidar com tudo isso, ver a imagem nosso monumento ser denegrida dia após dia é difícil, mas nem tudo está perdido. Será preciso um trabalho conjunto para superar esses tempos sombrios. O trabalho de restauração vai levar algum tempo, mas se for bem feito, trará novamente alegrias para a massa.
Deixando de lado o sentimentalismo e encarando a razão, é possível entender que erros consecutivos construídos através de um cenário previsível, afundaram o Atlético na crise em que se encontra e para sair dela é preciso ter: foco, paciência e seriedade ao tomar decisões. A primeira coisa que precisamos ter em mente é que NENHUM trabalho é concreto é feito do dia pra noite. Pegando o exemplo dos times brasileiros que são mais bem sucedidos atualmente (em termos de títulos conquistados e situação financeira) podemos entender que nenhum deles foi construído trocando o comando técnico a cada seis meses, interrompendo trabalhos e mantendo os mesmos elencos por mais de 3 temporadas. Palmeiras, Grêmio e cruzeiro são os maiores exemplos de sequência de trabalhos resultando em bons frutos atualmente, veja:
No caso do Palmeiras, o fator chave é a excelente gestão. O time trocou de técnico por algumas vezes no período de 2015 a 2018, mas a diretoria teve pulso pra manter a ordem dentro da instituição e nenhum momento de crise (incluindo um quase rebaixamento) foi tratado com descaso, muito pelo contrário, assumiram e encararam o problema, implantaram uma nova filosofia e elevaram o Palmeiras a um novo patamar. Resultado? O alviverde levantou nada mais nada menos que 2 Campeonatos Brasileiros e uma Copa do Brasil num período de 4 anos e hoje conta com a melhor situação financeira dentre os clubes da série A, além de ter o elenco mais consistente e bem avaliado do país.
O Grêmio confiou o seu projeto ao ídolo Renato Gaúcho e pôs fim a um jejum de 15 anos sem levantar taça, em pouco mais de 2 anos de trabalho, Renato levou o tricolor a conquista de 1 Copa do Brasil, 1 Copa Libertadores, 1 Recopa Sul-americana, 2 Campeonatos Estaduais e 1 Recopa Gaúcha.
Já o cruzeiro teve peito para bancar a permanência do técnico Mano Menezes mesmo com alguns momentos de crise e a insistência rendeu ao clube 2 Copas do Brasil e 2 Campeonatos Estaduais.
Tais exemplos mostram ao Atlético que o problema está além do técnico e que existe toda uma estrutura que deve ser observada: Um time campeão não nasce do dia pra noite e uma equipe só é bem sucedida através de um planejamento.
É importante ressaltar que enquanto dirigentes tomarem atitudes precipitadas baseadas em momentos de raiva da torcida, o time não vai se estruturar e vai acabar sendo a arma fatal contra a própria diretoria: estão dando um tiro no próprio pé.
Como vocês perceberam, aqui eu escolhi minimizar as questões relacionadas ao fraco elenco pois acredite se quiser, pra mim esse é o menor dos nossos problemas. Já montamos elencos valiosos e os resultados alcançados não foram muito diferentes, isso prova que o problema não é tão superficial. Meu intuito com esse texto é alertar a torcida que existem problemas maiores que a inconstância do Cazares ou a falta de carrinhos do Elias, não adianta culpar quem, a gente gostando ou não, dá seu suor pelo Clube, enquanto quem estiver sentado em uma sala com ar-condicionado sair impune. É uma pirâmide e estamos olhando para o pilar errado.
O Atlético somos nós,
vamos lutar pelo nosso Clube e exigir que quem quer que esteja no comando, tenha ciência do tamanho dessa entidade e da responsabilidade que eles assumiram.
O Atlético não é escritório de advocacia e muito menos picadeiro para servir de palco para palhaços que querem apenas nos entreter, enquanto o verdadeiro show acontece nos bastidores. Muita coisa está sendo exposta e a verdade vai aparecer, não queremos novos “Zizas”, queremos novos “Kalils” que saibam o significado do Clube Atlético Mineiro e que TRABALHEM para manter o Clube no patamar elevado que ele pertence. Como atleticanos, ão admitam mais serem enganados por discursos superficiais e exijam que medidas sejam tomadas o mais rápido possível. Chega de se acomodar com o fracasso, vamos SUPERAR o passado e procurar se atentar para o futuro. As glórias de 2013 não são suficientes para o resto da vida, é preciso mais, é preciso mudança. Se quem estiver no comando não aguentar a pressão, que peça para sair, gestores vem e vão mas o Atlético sempre permanece, isso ninguém nos tira. Por fim, peço que não se esqueçam que nós temos um pacto com esse time, uma vez até morrer. Desistir do Atlético é entregá-lo nas mãos de abutres e piorar ainda mais a situação. O Galo é maior que diretores, presidentes, jogadores e técnicos, o Galo não tem culpa de ser entregue às mãos de pessoas incompetentes, nossa obrigação é lutar por aquilo que nos pertence: o nosso Clube Atlético Mineiro.
“Sempre vou te amar. Nunca abandonar, onde for jogar sempre vou estar
VAMOS MEU GALO”
Por: Tâmara Santos.
#ArquibancadaFeminina