Ícone do site FalaGalo

Entre a expectativa e a realidade

Foto: Flickr oficial do Atlético

 

Por Max Pereira @pretono46871088 @MaxGuaramax2012

“Uma das características do Atlético, moldada ao longo dos tempos por um comando historicamente incauto e inapetente e, costurada pela passionalidade de uma torcida histriônica e, quase sempre, irracional, é o paradoxismo”. Com essa frase iniciei o artigo “NO ATLÉTICO NÃO EXISTE O MEIO TERMO. É 8 OU 80!”.

Mais uma temporada e mais uma vez a sensação de grande parte da torcida é que o time do Atlético se mostra irritantemente não confiável. Ah! Você esta falando isso em razão do pênalti perdido por Hyoran diante do Vasco da Gama. Não, não é por isso. Acontece.

Hyoran foi induzido ao erro pelo experiente Fernando Miguel. Ao ver o goleiro cruzmaltino ficar andando sobre a linha do gol de um lado para o outro, o meia atleticano tentou tocar bem no canto para evitar a defesa e chutou na trave. E ao dominar o rebote o que configurou dois toques, Hyoran cometeu o seu segundo erro. Mas não é apenas por isso que também comungo com a ideia de que o time alvinegro é de fato nada confiável.

Se foi por desconhecimento da regra, o numero 20 do Atlético evidencia má formação o que, embora não seja de responsabilidade do Atlético, também mostra pouco cuidado do clube com a orientação de seus jogadores. Na decisão do sub20, por exemplo, um dos laterais batidos pelo Atlético foi revertido porque o atleta alvinegro pisou na linha. Sempre defendi a tese que é de novo que se torce o pepino. O Galo foi campeão com todos os méritos, mas mostrou que ainda há muito trabalho para colocar aqueles garotos em condições de enfrentar, na equipe profissional, as pressões inerentes a um time do tamanho do Atlético.

Nas redes sociais um atleticano externou sentimento que vai ao encontro do que quero tratar neste ensaio ao dizer que um time campeão depende de uma série de fatores, qualidade técnica, vigor físico, posicionamento tático entre outros. No entanto, ter caráter de vencedor e a alma do campeão, é fundamental. O Galo no seu entender, porém, não tem nenhum jogador com essas qualidades. Palavras duras, é verdade, ainda mais que falar de sentimentos seja sempre uma coisa delicada e, por vezes, incompreendida. Mais uma vez dou a cara a tapa e vou em frente.

Os últimos quatro jogos do Atlético, por exemplo, desafiam a argúcia de qualquer especialista do esporte bretão. Da vitória contra o Xará Goianiense ao triunfo sobre o time reserva do Peixe, o time atleticano oscilou entre a expectativa do sublime à realidade do teatro de horrores. A melhor exibição tática e coletiva, mantida em um nível mínimo de competitividade razoável aconteceu no empate contra o Grêmio, amargado em um vacilo doído nos minutos finais do segundo tempo, quando o time atleticano já não tinha mais vitalidade para buscar o gol da vitória, conseguindo apenas resistir a duras penas às investidas do tricolor gaúcho que, com carradas de razão, ainda acreditava na virada.

Os dois gols vascaínos provenientes de falhas bizarras de jogadores atleticanos, com destaque negativo para Arana, deixaram claro que um dos problemas mais graves do Atlético e que talvez já o tenha tirado da disputa do título, é decorrente da crônica postura inadequada do time, associada à falta de espírito competitivo e a baixa intensidade da equipe.

Se de um lado o Atlético já não se expõe mais aos contra-ataques como vinha ocorrendo no inicio da competição, o time ainda não marca com a eficiência desejável. Em suas coletivas já houve adversários que deixaram transparecer que é suave jogar contra a defesa atleticana. Chico Buarque quando descreveu a famosa pedrada na Gení, disse “mirem-se nas mulheres de Atenas”. Que o Atlético mire-se no exemplo de clubes que já entenderam o quão importante é cuidar da parte psicológica em um time de futebol e, por isso, mantem profissionais em regime “full time”, inclusive no vestiário, local onde tanto o sucesso começa e o mal pode florescer.

Faço minhas estas palavras: “Jogar bem exige estar feliz e a felicidade no ambiente aparece na troca de passes, nas infiltrações, nas tabelas, nas infiltrações e nos gols de placa. Como se pode jogar bem sem segurança? Não se joga”. Times agredidos, física ou verbalmente, ou com problemas mal resolvidos quando chegam á reta final de campeonatos geralmente nunca conseguem retribuir as agressões ou superar os problemas com títulos.

O jogo contra o Atlético de Goiás, não obstante um primeiro tempo interessante, no qual o time se impôs com autoridade e uma intensidade de há muito não vista, foi coroado por um segundo tempo melancólico que gerou uma dúvida angustiante em que observou minimamente o “espetáculo”, entre aspas mesmo. É que Sampaoli, não obstante não ter feito substituições, fez o time voltar com uma importante e significativa alteração tática no meio campo, alternado o posicionamento de Hyoran, Jair e Allan. A pergunta é: o time caiu assustadoramente de produção graças a isso ou ainda que o treinador tivesse mantido o posicionamento adotado na etapa inicial a perda de intensidade e energia teria sido inevitável?

Se em São Januário o Atlético protagonizou uma atuação deprimente, diante dos garotos da Vila Famosa, o Galo fez um jogo melancólico, morno, sem vibração, onde apesar da inquestionável superioridade e de algumas surpresas positivas (a movimentação e a intensidade crescente de Nathan, a movimentação de Sasha, de Savarino e de Keno), além da estrela de Everson, ainda se permitiu correr riscos evitáveis e mostrou, uma vez mais, as suas fragilidades defensivas que vêm levando a Massa ao desespero.

A situação de Sampaoli ainda pode ficar insustentável. Alguns líderes de canais e outras figuras de muita penetração nas redes sociais atleticanas pela vez primeira começaram a ecoar o “Fora Sampaoli” sob o singelo argumento de que perderam a paciência com o argentino. Reza a lenda que teve gente séria e confiável que, ignorando sinceramente as reais razões da saída de Mattos, Domênico e de outros, estava disposto a descer a lenha em Sampaoli atribuindo a ele a “culpa” pelos desligamentos desses profissionais. “Sampaoli não é dono do Atlético”, defendiam. Alertados, talvez, sobre os riscos de aderir emocionalmente a qualquer campanha “Fora Sampaoli’ e de fazer criticas sobre o que não conheciam em detalhes, teriam refugado. Ainda bem.

De qualquer maneira, e independentemente da vitória sobre os meninos do Santos, o clima a vai continuar muito pesado. Mesmo porque parece mais do que claro que existem problemas internos graves. Sampaoli teria perdido o grupo?, perguntam alguns. O que justifica esta postura irritante de vários jogadores? O grupo está rachado?, perguntam outros.

O Atlético fala em profissionalização e modernização da gestão. Mas, com amadores nos dois maiores postos de comando, não há um contrassenso? Como cobrar de Sampaoli e como modernizar o trato do futebol do clube se há o risco de não existirem profissionais que entendam do riscado?

O futebol de hoje exige um comando profissional, antenado com os desafios que o complexo universo multibilionário do esporte exigem. Os grandes e emblemáticos diretores de futebol do passado, geralmente não remunerados, conselheiros e torcedores do clubes onde comandavam o futebol, não obstante tenham sido imensamente respeitados e ouvidos, graças ao grande conhecimento do esporte nas quatro linhas e do ambiente nos intestinos de uma agremiação, teriam espaço nos dias de hoje?

E por que os diretores de futebol de hoje fazem questão de dizer publicamente que sobre questões atinentes a contratações, escalações, formação de grupo, etc., ele não interfere porque seriam, no entender deles, assuntos da alçada exclusiva do treinador? O que parece ocorrer na verdade, e ouso provocar, é que ele, ao dar este tipo de declaração, estariam buscando ficar numa posição confortável por não ter conteúdo e conhecimento para intervir, cobrar, sugerir e até mesmo vetar alguma medida que, por ventura, pudessem considerar indevida.

Tudo isso resume o enorme leque de desafios que estão á frente do Atlético não só neste final de Brasileirão, como para daqui em diante se quiser ser, de fato, um time campeão e vencedor. É óbvio que existem e sempre existirão erros, mas, se também já existem muitos acertos, a busca da excelência é obrigação, mesmo porque o imponderável sempre vai existir e, por isso, estar preparado em relação aos seus efeitos, geralmente fatídicos, é fundamental.

Assim, persistir no projeto, se estruturando dentro e fora das quatro linhas, é o primeiro passo. E, ainda que por vezes eu próprio me exaspere com ideias de Sampaoli, entendo que a diretoria está mais do que certa. O comando atleticano precisa mesmo ter peito e bancar alguém, como fez com Cuca, senão vamos passar mais algumas décadas figurando no futebol.

Quanto à torcida, é essencial parar de acreditar que futebol é ciência exata. Não levam a nada afirmações como investiu 200 milhões tem que ser campeão, o técnico ganha milhões e, por isso, tem obrigação de ganhar o título, teve mais tempo que os outros para treinar e mesmo assim não vai ser campeão.

Depois de um início de temporada conturbado, o Atlético não só liderou o brasileirão 2020 por varias rodadas, como sempre figurou no G4, particularmente na vice-liderança ou na terceira colocação. Já é sinal que alguma coisa já está mudando no clube.

Mas, atenção: ainda há um abismo entre a expectativa e a realidade atual e aquela almejada por todos.