Foto: Flickr oficial do Atlético
Por Max Pereira @pretono46871088/@MaxGuaramax2012
Esquizofrênica por excelência, a relação entre o atleticano e o clube, assim como o time dentro de campo, oscila e vai do 8 aos 80 em um piscar de olhos. 2019 ficou para trás deixando no galista sentimentos controversos. De um lado, uma alegria inescondida e bastante curtida relativa ao rebaixamento do rival azul e, de outro, o gosto amargo de mais um ano de altos e baixos e sem conquistas.
Bipolar, a massa composta de otimistas, aqueles que, quando ganham de presente uma lata de esterco, saem anunciando que foram presenteados com um cavalo puro sangue, e de pessimistas, aqueles que, quando ganham uma moto de “trocentas” cilindradas, choram e já se imaginam acidentados e sequelados para o resto da vida, tinha motivos para acreditar como nunca que 2020 seria o ano da virada atleticana.
Promessas de um grande time pareciam se confirmar com as chegadas de Allan, Arana, Savarino, Rafael e Diego Tardelli. Roger Guedes parecia ser a cereja do bolo que o mês de janeiro não anunciou. Junior Chávare dava cara nova à base atleticana com uma agressiva e muito interessante politica de captação de novos valores. A nova arena saia do papel e o “Eu acredito” renascia na alma e nos corações alvinegros.
Enquanto os mecenas e o diretor Rui Costa se encontravam com Sampaoli em BH, em uma reunião misteriosa, jamais flagrada pela mídia, o presidente Sette Câmara que, curiosamente nem em Belo horizonte estava, parecia acertar com o técnico venezuelano Rafael Dudamel. As conversas com Sampaoli não foram para frente e Dudamel chegou à capital das Gerais nos braços da massa que o recebeu com festa em Confins.
Extremamente conservador, Dudamel nunca conseguiu encantar o torcedor atleticano. Ao contrário, a desconfiança e a decepção com o seu trabalho foram crescendo exponencialmente. Os fracassos retumbantes na Copa Sul-americana e na Copa do Brasil onde, diante do Afogados, o Atlético colheu talvez o maior vexame de sua história, resultaram nas quedas do treinador, do diretor Rui Costa e do gerente de futebol Marques que, de xodó da massa passou a um dos maiores vilões da historia do clube.
Afogado em Alagoas pelo time do goleiro do Boné que se tornou o símbolo da virada, só restou ao Atlético recolher o que sobrou do naufrágio e renascer nas aguas turbulentas daquele mar revolto que ele próprio se levou a atravessar. E Sampaoli desembarca na cidade do Galo depois de uma reunião, não tão escondida como a anterior, na casa de um dos mecenas e com a presença de todos os anjos da guarda alvinegros. Tal e qual uma fênix, a esperança dos atleticanos ressurgiu das cinzas. Mais e mais contratações, agora sob as bênçãos do super argentino, continuavam a chegar.
Cazares será aproveitado por Sampaoli? Esta era a pergunta que povoou o imaginário atleticano e dividiu sua massa torcedora. De repente, o vírus que já aterrorizava a China e a Europa e se alastrava de forma assustadora pela América do Norte, chegou ao Brasil. As competições foram paralisadas por tempo indeterminado e um tsunami de incertezas varreu os clubes. Brasil afora centenas e centenas de clubes médios e pequenos encerraram as suas atividades.
E, como não poderia ser diferente, o Atlético também sentiu os efeitos perversos da pandemia. Primeiro, a inevitável e natural queda de receita. O desmanche do time de transição entrou na pauta da imprensa e dos canais atleticanos. Do clube, como sempre, nunca chegava uma informação firme e definitiva a respeito.
Inicialmente formado para facilitar e qualificar a transição dos garotos da base para o profissional, o time de transição que inicialmente deveria excursionar por gramados europeus, ficou na berlinda e vários garotos ou foram emprestados, ou foram devolvidos aos seus clubes de origem com o Atlético mantendo a opção de compra de seus direitos até o fim das competições nacionais em curso, casos, por exemplo, de Guilherme Castilho e Bruno Silva.
Porém, outros tantos, cerca de 30 ou 35 garotos cujas idades variam de 15 a 20 anos mais ou menos, continuou treinando sob o comando de Leandro Zago. Este grupo não joga e nem disputou nenhuma competição nessa temporada, ficando de fora, inclusive e inexplicavelmente, do campeonato brasileiro de aspirantes que daria aos garotos rodagem, experiência e ritmo de jogo. Alguns foram convocados para as seleções de base, sub17 e sub20. E Sampaoli nunca os utilizou regularmente.
As atividades são retomadas e o Atlético, ainda sem encantar, sagra-se campeão mineiro de 2020. Tardeli sofre lesão grave em um jogo treino. Seu afastamento soa como uma bofetada no rosto atleticano. Cazares testa positivo e, ao mesmo tempo, torna-se pivô de uma festa extemporânea. Sampaoli capitula e se rende às forças de dentro do clube que, de há muito, desejavam ver o equatoriano fora do Atlético.
Mesmo sem um gênio criativo no time, o Atlético começa o Brasileiro de forma avassaladora e chama a atenção dos inimigos. O extracampo se faz presente e a arbitragem brasileira se mostra uma VARgonha. A ideia de jogo de Sampaoli, inicialmente revolucionária e ousada, começa a ser manjada, “surpresas” desagradáveis começam a acontecer dentro das quatro linhas e pontos tidos como certos e fáceis vão sendo jogados fora.
Enquanto o time oscila e leva o torcedor ao descredito total em relação ao título, a politica atleticana ferve nos bastidores do clube. E, se já não bastassem as disputas internas de sempre pelo poder, pelos privilégios e pela manutenção do status, as eleições municipais, que tinham como marco a candidatura à reeleição em Belo Horizonte do ex-presidente e atual prefeito Alexandre Kalil, também deixaram marcas na vida politica do clube.
E, como desgraça pouca é bobagem, o Atlético mais uma vez joga contra si. O clube falha e relaxa em relação aos protocolos do Novo Corona Vírus. Jogadores, funcionários, membros da Comissão Técnica e dirigentes, muitos flagrados em festas, eventos, passeando nos shoppings, churrascos, inaugurações, restaurantes e confraternizando com torcedores sem mascara nas saídas e nas chegadas dos hotéis, testaram positivo para o Covid e os reflexos na campanha do time perduraram até o ultimo jogo da temporada. E ainda devem fazer algum estrago nesse inicio de 2021.
Desgastados Sergio Sette Câmara e Lásaro Cândido, em nome de um consenso e da busca de uma paz insuspeita, anunciam não serem candidatos à reeleição. Presidente e vice-presidente marcam a sua despedida com uma serie de entrevistas extemporâneas e desnecessárias, onde não faltam ataques a Sampaoli. Para coroar a sua saída, premiam-se a si mesmos com o Galo de Prata.
Ungidos pelo mundo politico atleticano e abençoados pelos mecenas Sergio Coelho e José Murilo Procópio, velhas e conhecidas figuras dos bastidores do clube, são eleitos, respectivamente, Presidente e Vice-Presidente do Clube Atlético Mineiro.
Sérgio Coelho parece se contorcer entre uma visão do passado quando foi dirigente do clube e a necessidade imperiosa que o Atlético tem que é modernizar e profissionalizar a sua gestão. Ora ele fala em gestão compartilhada, profissional, reforma de estatuto. Ora ele dá a entender que quer ter maior força no futebol e coloca em dúvida a continuidade de Mattos. Estranho, não?
E desde a eleição dele vários recados curiosos, controversos e sem autores foram dados: primeiro, a volta de André Figueiredo, de imediato fortemente rejeitada pela massa. E, segundo, a definição de um homem forte e de sua confiança para comandar o futebol. Coisas do tipo “jogar o barro na parede, se colar, colou”. Nada disso colou.
2021 chega com várias interrogações, muitas duvidas e outro tanto de incertezas. Mas 2021 chega também com a esperança de que seja um ano no qual o homem conseguirá derrotar o vírus de uma vez por todas e ressurgir dessa pandemia mais digno, mais compassivo, mais empático e solidário.
E, para o atleticano, 2021 surge como ano em que finalmente o clube alcançará a sua maioridade administrativa, funcional, técnica e competitiva. Mas o galista, mesmo aquele apaixonado e irracional, sabe que essa esperança não é o mesmo que esperar pura e simplesmente, e, sim, é aquela em que todos os atleticanos, dirigentes e torcedores, deverão juntos construir esse novo Atlético. A esperança de, juntos, construírem o futuro.
Um feliz 2021.