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Em tempos de onda roxa, para onde vai o barco alvinegro?

Foto: Flickr oficial do Atlético

Por: Max Pereira (@pretono46871088 @MaxGuaramax2012)

O futebol em Minas parou e com o país não é muito diferente. Tempos pandêmicos, tempos atípicos, tempos de reflexão. Em meio a esse turbilhão de acontecimentos e de prognósticos incertos, o Atlético tem diante de si mais um ano muito difícil que desafia a habilidade de seus dirigentes e de seus investidores.

A paralisação das atividades provoca automaticamente uma redução das receitas, enquanto as despesas parecem explodir e sufocar. Não atoa, o Atlético vem anunciando que está pondo um pé no freio do trem das contratações e, ao contrário, vem fazendo mudanças no clube que implicam medidas não muito simpáticas, mas, que no entender do comando, se fazem mais do que necessárias nesses tempos em que a contingência é fundamental á saúde financeira e ao futuro do clube.

A extinção do time de transição, a realocação de vários garotos e a saída do treinador Leandro Zago são os fatos mais relevantes no futebol atleticano, decorrentes dessa situação. E, não é outra a razão, que manter o clube dentro do orçamento, virou a palavra de ordem no Atlético. 

Quem acompanha o “PRETO NO BRANCO” aqui no Fala Galo, sabe que esse colunista tem buscado refletir sobre tudo o que vem acontecendo no Galo Forte Vingador nos últimos tempos e, embora, reconhecendo importantes mudanças e que o clube hoje já é bem diferente do que era há poucos anos, se mantém precavido e alerta quanto ao processo em curso e aos novos desafios que estão se impondo ao Atlético, além de muito preocupado com as possíveis tempestades que ainda podem, para não dizer devem, desabar sobre a Cidade do Galo.

No artigo, “GALO 2021, UM AMONTOADO DE SONHOS, DE DESAFIOS E, AO QUE PARECE, DE MAIS PESADELOS”, que arrancou reações dispares dos leitores, escrevi que “nada do que se fizer trará os resultados esperados enquanto o clube permanecer mergulhado no seu, já crônico, inferno astral”. E concluí: “Afinal, tudo não é difícil para o Atlético e tudo se justifica, não é mesmo?”.

Já no artigo “AFINAL, ATLÉTICO, QUE PROJETO É ESSE?”, perguntei: “afinal Atlético, o que é de fato este projeto de que tanto falam e pouco mostram? É já uma iniciativa concreta como dizem ou ainda é algo do tipo esboço, rascunhos, intenções, desejos?” E ainda reconheci “que o Atlético vive um momento impar onde a delicada situação financeira do clube demarcada por uma divida acachapante contraindica os investimentos que estão sendo feitos” e, mais uma vez, questionei: “Como o Galo é o clube dos paradoxos nada a estranhar. Mas, como defender o que racionalmente é indefensável? Ou seja, que projeto é este que pretende ter a resposta para este enigma financeiro?”.

Assim, não estranhei quando fui perguntado por um leitor se procede a sua impressão de que eu não estou muito otimista com as mudanças que estão sendo acenadas no Atlético. A resposta a essa questão me obriga a trilhar no campo do sentimento, claro, permeado pela experiência, pelo conhecimento dos intestinos do clube e por um filtro pessoal por onde passo e balizo as informações que recebo.

Entendo perfeitamente a impressão que dei. Não sou acríticamente otimista. Aliás, nunca fui em relação a nada. Sei que para muitos o tal projeto não existe, mas, para mim é um processo pelo qual o clube efetivamente está passando, cujos resultados, claro, ainda não podem ser aferidos em sua plenitude. E, como não poderia ser diferente, a sua implementação enfrenta resistências internas e externas, além de ter problemas de execução de difícil solução, evidenciados pelo conjunto de razões que levaram Sampaoli a demitir-se e, pasme, com as bênçãos e alívio da diretoria dos próprios mecenas.

Quando falo de resistências internas falo de funcionários e atletas insatisfeitos com as mudanças que o processo obrigatoriamente impõe, de conselheiros, da situação e da oposição, temerosos de perder status, privilégios, influência e poder e dos próprios dirigentes habituados ao confortável estilo de gestão cartorial que impera no clube desde sempre. O novo sempre nos leva a sair da zona de conforto e, ao romper com os paradigmas instalados, é sempre visto como algo ameaçador.

E, por incrível que possa parecer, os próprios gestores, os maiores interessados no sucesso do “projeto”, acabam se mostrando dificultadores do processo, porquanto me parecem apresentar dificuldades no trato do futebol, próprias de quem não domina o ramo. 

Quando falei em resistências externas me referi a um conjunto de agentes que ora de forma estratégica, ora fortuita e ora tacitamente se unem por razões e interesses diversos e, com suas ações heterodoxas, acabam por torpedear o projeto. São eles: segmentos da imprensa convencional, local e de fora do Estado, da mídia alternativa (redes sociais), os inimigos tradicionais do clube e aqueles atleticanos apegados ao passado, descrentes e desconfiados por natureza, ou que, porventura, tenham diferenças pessoais ou ideológicas com os diretores ou com os gestores, etc..

Não custa repetir que, não obstante o futebol de hoje ter-se transformado em um negócio sistêmico e multibilionário, que envolve interesses diversos, muitos aficcionados do esporte ainda o veem de forma romântica e com os olhos voltados para um passado lúdico e até ingênuo, se considerarmos a complexidade e a diversidade dos agentes que hoje, com graus diferentes de poder e influência, vão ditando a sua dinâmica.

Não é de se estranhar, pois, que parte significativa da massa atleticana esteja pouco ou nada se lixando para as questões que afligem o Atlético fora das quatro linhas. A esse torcedor pouco ou nada importa se as dividas estão asfixiando o clube e se a má gestão do futebol e os problemas de vestiário, ainda presentes, minaram o rendimento do time e inviabilizaram a conquista de títulos, teoricamente considerados fáceis. Se provocada a respeito destes temas a resposta prevalente é aquele famoso “Não sei e tenho raiva de quem sabe”.

Mesmo sabendo que esse é um tema áspero para este tipo de atleticano, insisto que agora se percebe uma gestão mais profissional e direcionada a colocar um norte empresarial ao clube. Percebe-se uma intenção. Mas, e a execução?

Muitas etapas deverão ser percorridas ainda, como muitas idas e vindas, avanços e recuos, erros e acertos.

Para muitos o Galo está caminhando para se tornar um clube com gestão empresarial. Para mim, entretanto, está rumando a passos largos para se transformar em clube empresa, o que entendo ser a meta dos gestores.

Para se ter uma gestão de excelência não é imprescindível transformar o clube em empresa. E não se pode esquecer nunca que há mais ônus que bônus sendo empresa. Mas, me parece ser esse o futuro do Atlético.

Na verdade, qualquer que seja o novo atlético, tem que se ter o cuidado de se construir uma gestão que, embora tenha contornos empresariais, considere as particularidades do futebol. Gerir um clube de futebol é diferente do que administrar qualquer outro negócio. Ignorar ou desprezar esse fato pode ser fatal para o clube.

Não bastam os aportes financeiros e os homens que hoje estão conduzindo os destinos do Atlético parecem saber disso. O futebol, entretanto, tem demandas próprias que exigem de quem o gere conhecimento, habilidade e “feeling” que nenhuma outra atividade do mundo corporativo requer de seus profissionais. O boleiro, um misto de empregado e artista, tem vocabulário e valores próprios e, só isso, já torna espinhosa a gestão par quem não conhece os meandros do futebol.

Além disso, o multiverso no qual o futebol está inserido é cada vez mais fator determinante do sucesso ou do fracasso. Quando se fala que se quer fazer do Atlético uma potência mundial no esporte é preciso saber com quais forcas e interesses, muitas vezes hostis, vai se lidar. O conhecimento e a habilidade de se transitar e se defender nos bastidores do futebol é hoje uma arma imprescindível. Não por acaso, o Atlético sempre colheu maus frutos do extracampo.

Se dentro de campo, Sampaoli indiscutivelmente acenou com outro patamar o que, inclusive, provocou um choque cultural dentro da Cidade do Galo, fora das quatro linhas não deve e nem pode ser diferente. O clube precisa ser sacudido como nunca o foi em sua história.

Assim, se o Atlético ainda não definiu o time que quer ser dentro de campo e este é o maior desafio de Cuca, fora dele ainda tem um longo caminho a percorrer. A missão de quem conduz esse projeto é garantir que tudo o que está sendo feito agora, na verdade desde meados de 2019, que, de fato, é totalmente diferente do que já vimos até então no Glorioso, não só transforme o Galo em um real e efetivo candidato ao titulo de tudo o que vier disputar, mas o torne um clube sólido, transparente, respeitado, pujante, campeão e vencedor.

Vencida esta etapa outros problemas poderão, melhor, certamente surgirão. Faz parte. Mas, falarei deles depois e de forma específica. 

Se o futuro ainda é incerto, a esperança e o cuidado do atleticano são mais do que certos. Se o Atlético tem uma meta, o atleticano tem outra: vigiar e cobrar.