Dois corações e uma história

 

 

Por Ruth Martins 

Nem o frio que senti no Independência me tirava da cabeça que o Galo sairia vencedor dessa partida. Até porque estávamos invictos no Independência neste Brasileirão. Por mais incrível que pareça, para mim, os dois lances mais emocionantes do jogo não aconteceram com a bola rolando. Primeiro vivi a emoção, antes do jogo, de dar um abraço apertado na Luciene, irmã do Luciano Palhares, atleticano que foi para outro plano durante a partida contra o Cruzeiro, depois que seu coração parou bem ali no estádio, diante de 22 mil atleticanos. Depois tive a honra de ver o Adilson dar o último chute da sua carreira como jogador, carreira que foi interrompida após ele descobrir um problema no coração que o impede de continuar jogando. Dois momentos emocionantes e que me faz repensar a vida. Dois corações e uma história: o Galo. Dois corações com histórias e desfechos diferentes, mas que conectaram mais de 8 milhões de corações nos últimos dias. Para ser atleticano, meus amigos, é preciso primeiro estar com o plano de saúde em dia. Porque não há coração que aguente tanta emoção e saia ileso. Hoje comprovamos isso. Mais uma vez.

Após uma desclassificação amarga, mesmo com toda entrega dos jogadores em campo, voltamos as forças para o campeonato mais longo e difícil de se jogar do Brasil, o Campeonato Brasileiro. Quisera eu estar falando agora sobre uma vitória acachapante do Galo. Não, meus amigos. Estou rabiscando sobre um jogo para esquecer. Depois de iniciar a partida vencendo por dois a zero, com um gol contra digno do prêmio Puskás a nosso favor (logo aos quatro minutos), amargamos um empate contra o Fortaleza. Isso mesmo. Um empate contra o time do técnico Rogério Ceni, que dois dias antes havia declarado não ter esperanças de que o time dele surpreendesse o Galo no Horto.

Após o golaço contra, tivemos ainda um gol do Cazares, de pênalti, aos 13 minutos. A forma como os gols surgiram dá a entender que o Galo não merecia os dois gols, mas mereceu. Foi um bom primeiro tempo. Diria até que surpreendente. O Galo atacou bem na primeira etapa e criou boas jogadas, embora não tenha sido cirúrgico nas finalizações. Tivemos ainda os desarmes certeiros do Jair, o melhor jogador da partida.

Imagen: Bruno Cantini

O Galo começou a segunda etapa em cima do adversário, com três chances simultâneas muito boas, mas paradas em defesas espetaculares do goleiro Felipe Alves. Mas as substituições do técnico Rodrigo Santana no segundo tempo não surtiram o efeito esperado. A saída do Cazares para a entrada do Chará foi uma troca de seis por meia dúzia. Com a saída do Jair, o time do Galo perdeu de vez o meio campo e voltou a ser aquele time sem criação. Ramón Martínez não conseguiu mostrar muita coisa. Geuvânio perdeu muitos gols nessa partida, mas ainda assim se comportou melhor em campo que Luan, que mais uma vez fez um jogo medíocre.

As substituições foram ruins ao ponto de desestruturar o time quase coeso da primeira etapa e tomarmos dois gols de erros de posicionamento. Primeiro o zagueiro Réver não subiu para acompanhar a jogada do Fortaleza, que terminou com o gol do Carlinhos. Depois o Guga perdeu a bola na lateral, numa jogada que culminou no pênalti marcado a favor do Fortaleza. Dois gols resultados da falta de atenção do time alvinegro.

Imagem: Globoesporte

O engraçado é que o Galo não havia sentido tanto os gols sofridos. O que fez mesmo o time desabar foi a não conversão do penal batido primeiro pelo Alerrandro, depois pelo Luan. Esse foi o momento mais tenso da partida. Ao meu ver, Luan desrespeitou o Alerrandro ao pegar a bola e correr para a marca do pênalti. A torcida também não colaborou muito a partir desse momento. Primeiro gritou o nome do Luan para a segunda batido do penal. Depois que o Luan errou a cobrança a torcida começou a vaiar o jogador a cada toque dele na bola.

Poderíamos agora estar comemorando a terceira posição na tabela, mas futebol é bola na casinha. De nada adianta ter várias chances jogando contra um time inferior tecnicamente e em casa se não converter essa vantagem em gols. Como disse o Elias ao final da partida, “time que quer ser campeão não pode vacilar desse jeito, ainda mais dentro de casa”.

De bom mesmo desse jogo vou levar a celebração da vida, da saúde e da família. Afinal, essas são as nossas maiores fortalezas (com trocadilho). A homenagem ao Adilson, o seu choro ao dar o pontapé inicial simbólico no início da partida, e o carinho da Massa com os familiares do Luciano Palhares fora do estádio, servem para nos mostrar que o futebol é a coisa mais importante dentre as menos importantes. É isso!

 

Luciene Palhares, irmã do Luciano Palhares

Para reflexão, deixo abaixo o depoimento da Luciene Oliveira Palhares, irmã do Luciano Palhares, concedido a mim antes da partida:

“Eu quero agradecer a todos pelo carinho e pelas palavras reconfortantes. Agradeço a todas as torcidas organizadas, inclusive as do rival, que procuraram a gente pelas redes sociais para disponibilizar carinho e solidariedade à nossa família. Estava todo mundo muito sentido pelo que aconteceu com o Luciano. Isso prova que é só no campo que temos que ter rivalidade. Temos que ser todos irmãos e amigos. Eu estou muito emocionada. Meu irmão gostava do Atlético e era bem fanático. A gente vai continuar torcendo pelo Galo. Porque o que aconteceu foi uma fatalidade. Não foi por causa do Atlético. Ele morreu justamente no lugar que ele amava, que é o Independência, torcendo para o time do coração, que ele amou a vida inteira, e com a pessoa que ele mais amou, que é o filho dele. O Rafael [filho do Luciano] vai continuar vindo ao Independência, vai continuar indo à escolinha de futebol do bairro e vamos continuar fazendo com ele tudo que o Luciano fazia.”

Luciene Palhares com a camisa em homenagem ao irmão.

Um abraço, Massa!

 

JOGADORES DISPLICENTES E COVARDES – ATLÉTICO 2 X 2 FORTALEZA

 

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