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Desafio e sombras no caminho do Atlético! Como será o 2020?

Sede do Atlético em Lourdes / Foto: Fa rkasvölgyi Arquitetura

 

Max Pereira
Do Fala Galo
31/12/2019 – 06h
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Não sou e nunca fui daqueles que joga toda a responsabilidade pelos maus resultados e pelos desacertos do clube exclusivamente nas costas dos jogadores e, nem tampouco, atribui todo e qualquer fracasso apenas à deficiência de caráter dos atletas.

Entendo que o paternalismo é prejudicial, mas não há como não enxergar que os problemas do Atlético são muito mais profundos e complexos que isso.

Não sem surpresa para quem acompanha os bastidores do Atlético com olhar crítico, as entrevistas coletivas de vários jogadores e treinadores quando, em especial, falam de suas próprias saídas ou das saídas de outros profissionais do clube, não só deixam claro que nem tudo eram ou são rosas dentro do Glorioso, como também expõem as deficiências crônicas de comando.

Quantas vezes, por exemplo, foi dado a entender que havia, e parece continuar havendo ainda, descompassos graves entre a fisiologia, a preparação física, o departamento médico e a comissão técnica, o que justificaria um abusivo número de lesões que, entra ano, sai ano, vem minando o time fisicamente e comprometendo o desempenho tático da equipe e técnico de vários atletas.

E nunca se trataram de episódios isolados. Muitas vezes, inclusive, sequer foram negados pelos próprios dirigentes maiores do clube.

Várias vezes um atleta foi precipitado e estupidamente escalado em um jogo qualquer sem estar plenamente recuperado, o que agravou a sua contusão, tirando-o do time por muito tempo, como aconteceu nesse 2019 com o volante Jair e há algum tempo com Marcos Rocha, só para ficar nesses dois casos.

Tais fatos evidenciam também a necessidade da adoção de medidas específicas no sentido de erradicar de vez as possíveis cizânias existentes, garantindo a harmonia, a confiança e o trabalho coletivo e coordenado entre estes departamentos.

Porém, não são apenas a incúria, as idiossincrasias e os erros dos homens que conduzem os destinos do Atlético, independentemente do nível de poder e de decisão de cada um, que, ao longo dos tempos, vêm tumultuando a vida do clube e conspirando contra o seu futuro.

Não obstante, os grupos formados pelo Atlético exibirem em geral profissionalismo, união, bem querência entre os jogadores e um gostar do clube e da própria torcida, apesar da passionalidade e da agressividade de grande parcela da massa em suas cobranças, o ambiente interno e o vestiário por vezes azedam, visivelmente contaminados por vários fatores, em especial em razão de ações claramente intencionais e/ou deliberadas de agentes externos, cujo objetivo não é outro senão o de desestabilizar o Glorioso.

Para quem ainda duvida, renovo uma crítica que sempre faço aos comandos atleticanos: a crônica incapacidade do clube de se blindar e a seus jogadores, e a histórica deficiência de sua comunicação institucional, tradicional e intencionalmente nula e omissa, o que vem permitindo um leque excessivo de notícias falsas e de meias verdades plantadas e não desmentidas.

A vulnerabilidade do Atlético às ondas, aos boatos, às maledicências e às fake news é antiga e sobejamente conhecida por quem gosta e milita no futebol.

Isso tudo sem falar que os bastidores do esporte bretão são prenhes de ações heterodoxas e que o Atlético ainda não se mostra preparado para responder às demandas que o sistema futebol certamente lhe imporá na próxima temporada e nos anos seguintes.

2019 deixa muitas sombras no caminho do Atlético e 2020 vai começar repleto de desafios que vão muito além da resolução dos descompassos apontados entre as áreas responsáveis pela preparação físico-atlética dos jogadores.

Em qualquer pesquisa que fosse realizada nesses últimos dias sobre qual seria o primeiro e principal desafio do Atlético nesse momento, 100% dos entrevistados provavelmente escolheriam a opção “contratar o novo treinador”.

Sem deixar de reconhecer a importância e a premência de se definir o novo comandante do time, entendo que outras providências e cuidados devem ser observados antes até mesmo da tão desejada contratação de um novo treinador e não só pelo o que já foi dito acima.

Poucos são os atleticanos, e menos ainda os profissionais de imprensa, que cobram do Atlético e de seus dirigentes um projeto de futebol e um leque de ações emergenciais que possibilitem ao clube navegar em mares tranquilos, equilibrar o seu caixa e iniciar o processo de reconfiguração de seus métodos e concepções de governança, a fim de prover o clube de uma gestão transparente, eficiente e moderna.

Antes da escolha e da contratação do novo técnico, o Atlético precisaria já ter definido a identidade do clube e de sua forma de jogar. E esse projeto, por óbvio, passaria por cuidar de sua imagem, desenvolver ações de marketing e de fortalecimento da marca, construir um plano de ações emergenciais e por planejar ações de médio e longo prazo de estruturação e profissionalização. Tudo isso, claro, demandaria um novo estatuto.

Pouco ou nada nesse sentido parece ter sido cuidado. Mas, ainda não é tarde para se detonar esse processo.

Sampaoli, embora seja um técnico de ponta, cuja contratação, se tivesse sido efetivada, mudaria de fato o patamar do clube em termos de elenco e do que o próprio treinador argentino chama de projeto esportivo. A sua contratação seria garantia de novos e bons tempos para o Atlético?

Não conseguiria responder positivamente a essa pergunta com convicção. Pode ser que sim, pode ser que não.

O sucesso de Sampaoli ou de qualquer outro treinador, de nome ou não, no Atlético de hoje, depende de vários fatores que vão desde a interação do profissional com o clube, aqui entendido como o conjunto formado por dirigentes, funcionários, jogadores e torcida, até a conciliação dos interesses dos investidores envolvidos com a contratação desse profissional, com os interesses da agremiação.

É preciso lembrar que estes parceiros que se disponibilizaram a investir na vinda de Sampaoli para o Atlético são, além e antes de serem atleticanos, empresários, cujos interesses como homens de negócios estarão sempre à frente dos interesses do clube, ao qual caberia, caso o projeto tivesse se concretizado, agir com firmeza, acuidade, determinação, proficiência e muita diligência para que o Glorioso tirasse o melhor proveito dessa parceria, extraindo dela elementos positivos e sólidos para o futuro.

Nesse sentido, o jornalista Léo Gomide faz uma ponderação que vale a pena transcrever:

“Já ouvi mais de uma vez de quem faz futebol: nele ninguém entra por caridade, só pela paixão pelo clube, filantropia. Cedo ou tarde cobra-se contrapartida.
O Atlético, provavelmente, daria um salto de qualidade com Sampaoli. Mas o que seria das cifras envolvidas no futuro?”

Porém, a contratação de um técnico de renome e competente tem também os seus prós.

Muita gente defende que com técnico bom o dinheiro volta, vez que, com o seu trabalho, os jogadores se valorizam e ganham valor de mercado. E eu concordo.

Um bom trabalho e um bom time lota estádios. As premiações nas competições tendem a ser cada vez melhores.

Nas redes sociais, um atleticano corrobora essa tese ao afirmar que “gastar pouco e não ganhar nada, brigar para não ser rebaixado é que é jogar dinheiro fora”. Concordo novamente.

Independentemente de quem venha, o comando atleticano, a bem do clube e considerando o momento bastante delicado que o Atlético atravessa, se obriga a considerar e colocar na balança todas essas variáveis.

Sampaoli não vem. Particularmente, acho que treinador argentino tem apenas procurado usar os interesses de alguns clubes brasileiros que têm se interessado pelo seu trabalho, o Atlético entre eles, para se jogar e se manter na mídia, esperando por algo que seja do seu real interesse e que, talvez à exceção do Flamengo, não está no Brasil.

E, da mesma forma, acho que o Atlético blefou. Na certa jogando para grande parte da sua torcida, enquanto agia nas sombras em busca do nome de sua real preferência.

Não sei quem vai ser o próximo treinador do Atlético e nem vou especular nome algum. Pode ser um estrangeiro e pode ser um brasileiro. E também não me interessam esse imenso disse me disse, essas muitas fake news envolvendo a contratação do próximo treinador. Muita pirotecnia e muita esquizofrenia.

Não acreditem em tudo o que leem, ouvem ou veem por aí. Tem muita gente jogando contra e se aproveitando da passionalidade e da facilidade com que grande parte da massa embarca em certos tipos de notícias.

O desafio de Sette Câmara e de Rui Costa é encontrar um treinador cujo perfil seja de alguém com histórico mínimo de sequelas por onde passou, que tenha traquejo, estofo e experiência de gestão de grupo, não seja desagregador, que saiba ser paizão e chefe ao mesmo tempo, que tenha ideias modernas de futebol, que tenha sede de evolução na carreira e capacidade para desenvolver novos jogadores, além, é claro, de ser um profissional que se encaixe em um projeto de futebol que, acredita-se, já deve estar pronto e em implementação.

Sei que é como procurar agulha em um palheiro. Mas não pode ser diferente disso.

Onde, como, com quem e em que condições esse treinador trabalhará? A resposta a essa questão passa pela reestruturação e qualificação da comissão técnica permanente. Ou seja, pela contratação de um coordenador técnico como Lopes no Botafogo, Espinosa no Grêmio ou como Rubens Minelli foi no São Paulo durante anos, até envelhecer e se aposentar.

Passa também pela chegada de auxiliares técnicos de campo (mais de um), como Jaime de Almeida no Flamengo e outros, i.e., que tenham visões táticas diferenciadas e possam, complementando o trabalho uns aos outros, treinar o elenco sob enfoques diferentes, o que permitiria trabalhar o grupo e o time por compartimentos, por exemplo.

Enfim, o Glorioso precisa, independente de quem venha treinar o time e antes de qualquer outra coisa, se redimensionar com planejamento, rigor e profundidade, a fim de que os erros que aconteceram em profusão durante esse ano (e em temporadas anteriores) não continuem se repetindo indefinidamente. Esse é o primeiro e decisivo passo. E, como aconselha o jornalista Leonardo Bertozzi, dos canais ESPN, “o Atlético não pode vender ilusão para o seu torcedor”.

E Bertozzi ainda faz o seguinte alerta: “O Galo precisa cortar o discurso de que pode fazer tudo acontecer com a famosa ‘ajuda de investidores’. Não existe dinheiro de graça e ninguém investe sem interesse posterior. Tal discurso serve apenas para iludir o torcedor.
O que o clube necessita é de um plano que fique dentro do orçamento possível, entregue às mãos das pessoas mais competentes que possam ser pagas sem fazer loucuras”.

ENTRE DESAFIOS E SOMBRAS NO CAMINHO DO ATLÉTICO, 2020 PODERÁ SER O ANO DA REDENÇÃO DEFINITIVA DO CLUBE OU DO FIM DE UM GIGANTE. DEPENDE DAS ESCOLHAS FEITAS.