Confiança e profissionalismo, a base de tudo!

Foto: Flickr oficial do Atlético

 

Max Pereira
28/07/2020 – 09:46
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No artigo “PROJETO OU “PÔJETO”? EIS A QUESTÃO!!!” falei de figuras emblemáticas do futebol que buscaram obsessivamente a perfeição e nem sempre tiveram sucesso.

Falei de Armando Marques, ex-árbitro, já falecido, A busca pela perfeição e o exercício da autoridade imparcial e acima das emoções clubistas e regionalistas fizeram de Armando um arbitro diferenciado e que mudou definitivamente a arbitragem nessas terras tupiniquins. E lembrei que sua carreira impar e personalista, não obstante suas atuações, na maioria absoluta dos jogos que comandou, terem sido irrepreensíveis, não o impediu de cometer erros históricos.

A obsessão pela perfeição fez Armando Marques, o único árbitro até hoje que, ainda em atividade, admitiu publicamente a paixão por um clube de futebol, o Fluminense do Rio de janeiro, a ir da excelência á excrescência em um mesmo jogo.

Entre os treinadores, falei de Telê Santana que foi técnico do Atlético por mais de uma vez e levou o Galo ao seu titulo brasileiro de 71.

Personalista, disciplinador e absolutamente revel a qualquer tipo de interferência em seu trabalho, mesmo dos dirigentes, Telê foi o primeiro treinador que mostrou uma visão holística e diferenciada do futebol, buscando acompanhar, interagir e fazer um trabalho integrado com a base dos clubes por onde andou.

Mas, nem sempre as coisas correram bem e o velho comandante também colheu reveses. Genioso e inflexível quanto aos seus conceitos e decisões, Telê era visto como um treinador que queria mandar mais do que devia ou era de sua competência natural como técnico de futebol.

Reza a lenda que, nos seus tempos áureos no São Paulo, nem os dirigentes tricolores podiam sequer entrar no centro de treinamentos da Barra Funda sem a sua autorização. Exageros á parte, estórias como essa ilustram a fama de autoritário do treinador que, indiscutivelmente foi um marco na historia do futebol brasileiro, particularmente para os treinadores de futebol no Brasil que o sucederam e nele passaram a se espelhar.

A relação entre os treinadores e os clubes de futebol no Brasil, entre técnicos e jogadores e entre aqueles e a imprensa brasileira mudou radicalmente com Telê Santana, tido, com toda a justiça como um mestre do futebol.

Falei, por ultimo dei Vanderlei Luxemburgo, uma das crias mais bem sucedidas do fenômeno Telê Santana, para lembrar que foi o Profexô quem forneceu a primeira visão científica e estruturada do trabalho de um treinador, ainda que insipiente e tida, por muitos dirigentes, como ameaça à sua autoridade.

Luxemburgo foi o primeiro treinador a falar em construir e desenvolver um projeto que envolvesse uma equipe multifuncional e disciplinar, visando maximizar o rendimento e o desempenho dos atletas.

E lembrei que, Ironicamente, onde colheu um dos fracassos mais retumbantes de sua vitoriosa carreira, sinalizando para muitos que, de fato, já estava em uma descendente sem volta, foi no Atlético que Luxemburgo pôde contar com a mais estruturada comissão técnica que teve ao seu dispor em toda sua brilhante carreira.

Ao analisar o porquê do fracasso do “pôjeto” do “Profexô” no Atlético, se Luxemburgo tinha conseguido reunir em torno de si a comissão técnica mais qualificada do futebol brasileiro daquela época, atribuí o mau êxito do projeto a uma “dissonância crônica entre todos os atores internos que sempre contracenaram nos intestinos do clube de forma canhestra e desarticulada, o que, ano após ano, vinha levando o Atlético ao caos”.

E, por entender que essa dissonância entre uma forma e uma visão profissional e estruturada do trato do clube e do futebol, e a tradição feudal e fechada de governança e gestão, ainda persiste no Atlético, temo pela não continuidade tranquila e proficiente do trabalho de Jorge Sampaoli.

Alexandre Mattos tem dito em suas entrevistas que Sampaoli é um eterno insatisfeito e sempre quer mais. Tardelli se disse incomodado com as exigências táticas e de posicionamento que Sampaoli lhe estava exigindo.

Se de um lado, conforme já escrevi, nada é mais profícuo para um grupo que se sentir incomodado e provocado a sair de sua zona de conforto, o que vale para Sette Câmara, para Castelar Filho e para quem quer que seja que pretenda, um dia, dirigir os destinos do Atlético e, claro, também para Mattos, por outro se constitui um desafio complicado e perigoso manter o equilíbrio e a harmonia.

Lidar com o diferente é sempre um problema, muitas vezes incontornável para muitos.

Um discurso recorrente vem sendo repercutido por dirigentes e parceiros do clube: Lásaro Cândido diz, por exemplo que “os atleticanos devem estar todos unidos para que ocorra no Atlético uma profissionalização definitiva, de modo que o clube não sofra riscos com o Profut e possa, dentro de algum tempo, celebrar a sua redenção com a sua casa pronta”.

E Rafael Menin ainda emenda: “Esse é o caminho. Temos um caminho longo e de árduo trabalho para atingirmos a excelência em todos os setores do clube. Com união, apoio da torcida e do conselho, não tenho dúvidas de que chegarmos lá”.

Mas, não se constrói uma união verdadeira apenas com discurso. E, para se construir uma união concreta e proficiente, além do necessário e fundamental respeito ao diferente, é preciso transparência, diálogo e inspirar confiança. Apoiar por apoiar, sem que os valores desse apoio estejam, de fato, internalizados em ambas as partes e se ratifiquem nas ações, é algo efêmero que desaparece à menor dificuldade.

O apoio real é aquele que resiste ás intempéries e é mais presente nos tempos ruins. Por isso, precisa ser construído em bases sólidas.

Seja Sampaoli, seja qualquer outro treinador, o seu trabalho depende de uma interação fundada na construção de uma harmonia e de uma identidade de propósitos fincadas em um alto grau de confiança e profissionalismo.

Em recente entrevista, o vice-presidente Lásaro Candido confessou ter, há alguns anos, participado de uma tentativa de contratação pelo Atlético do técnico Marcelo Bielsa. E revelou ter-se espantado com o nível de exigências do treinador argentino. “Não era coisa para o Atlético e nem para o futebol brasileiro”, pensou ele, na época, aliviado pelo fracasso do negócio.

Hoje, ele reconhece o acerto da contratação de Sampaoli, técnico altamente profissional e que exige do clube o mesmo nível de excelência que Bielsa preconizava. Os tempos mudam e as pessoas também.

Definitivamente o Atlético está mudando. Mas esse é um processo de construção contínua, sendo proibido relaxar. E é isso que o atlético espera dos atleticanos, dirigentes e torcedores.

CONFIANÇA E PROFISSIONALISMO, A BASE DE TUDO

Para muitos Sampaoli é mais que perfeito. Para mim, perfeição é meta intangível a ser perseguida. E Sampaoli é apenas o maquinista deste trem alvinegro. Um grande maquinista.